Aquela tinha sido minha primeira e até agora única viagem à Avilan, passaríamos nesse reino e de lá iríamos para a divisa do reino. A propriedade do meu avô ficava numa área privilegiada, pois era uma propriedade enorme dentro da Zona Proibida. Uma área de mata verde e de gigantescos castelos de pedra rústica que pertencia aos originais sobrenaturais que criaram os demais reinos.

Fiquei sabendo também pelas investigações feitas pelos caçadores de elite do império que a anciã Tila da cidadela tinha retomado contato com o Alpha Magno que de vez em quando me mandava alguma lembrancinha boba, ele aceitou me conhecer pessoalmente, disse que aceitaria nossa família se eu voltasse ao nosso território, por isso fui visita-lo, então naquele bendito dia descobri que ele havia conseguido a minha guarda definitiva e tudo aconteceu.

Tento mudar os meus pensamentos, mas ao olhar a paisagem desértica, voltou ao dia do ataque.

Pedi as bruxas Carmesim que desbloqueassem ou pelo menos tentassem ativar as minhas lembranças. Mas o que as minhas recordações revelaram foram que o impacto do ataque tive traumas graves nas tubas uterinas ficando estéreo, além de meus pais mais dois seres sobrenaturais que descobriram ser de clãs importantes que estavam no vilarejo faleceram. Poucas Lycans e meia dúzia de filhotes foram menos atingidos porém suas sequelas foram emocionais.

O que me lembro com mais exatidão foi da sensação de estar me afogando, pois a força do Lycan que atacou a minha mãe que fugia comigo em seus braços foi implacável, suas garras afiadas atravessaram o seu corpo frágil me atingido no processo. Consigo me lembrar que o meu corpo todo doía, a cabeça zonza, um zumbido estridente lá dentro. Conseguia ver as chamas e fogo lá em baixo, coisas queimavam perto de mim.

Eu me debatia apavoradamente, o ar faltava em meus pulmões, eu abria a boca e engolia aquela fumaça amarga, sentia lágrimas salgadas caírem sobre meu rosto. Ardia meu peito como em chamas, a sensação de desespero até ser resgatada entre as chamas altas.

Por um milagre, um caçador vampiro que percebeu o ataque dos Lycans Renegados me salvou daquela imensidão ardente, daqueles monstros que traziam.

Por isso tenho pavor das chamas, na verdade é uma fobia real, não gosto de vê-lo nem de longe e só o fato de estar nesse jipe cortando essa imensidão arenosa, me causa calafrios, minhas mãos estão suando, sinto que se não focar em meus pensamentos posso desmaiar a qualquer momento só de olhar essa floresta toda queimada pelo último conflito entre caçadores e Lycans Renegados, que tragou todas as minhas possibilidades de uma vida normal e feliz.

Por que eles tinham que marcar o encontro justo em seu clã na divisa entre os reinos? Qual o problema realizar esse acordo dentro de um território neutro? Por isso odeio esse lugar, esse país, onde só há sol, calor e areia para todo lado. Florestas destruídas... O reino de Marlóvia e Morlóva combinam muito mais comigo, cinzenta, chuvosa, nublada, cheia de diversos seres sobrenaturais.

E agora ainda mais pelo que entendi, o Alpha Magno culpa o clã Lightwood pelo ataque dos Renegados. Pelo visto nunca se obteve provas, mas ele os acusou claramente ontem durante a nossa "conversa". Eu nunca tinha racionalizado sobre a questão que a expansão do território deles estavam fazendo os Renegados e Proscritos invadirem outros vilarejos menores dentro dos demais reinos.

Por falta de detalhes que não sabia, por falta de idade para entender, por falta de fontes ou alguém para perguntar A única coisa que o inquérito realizado pelos anciões disse foi que a causa do ataque, provavelmente uma mudança, migração. Isso foi a única coisa que consegui tirar de informação deles que também nunca poderão buscar por mais detalhes já que nunca mais voltamos ao vilarejo que houve o ataque apesar de usar o nome dele.

Agora sabendo o responsável, tendo sido esse clã capaz de tentar matar a mim e a minha família, conseguiu tirar a vida dos meus pais... Nunca vou conseguir sentir outro sentimento por esse clã que não seja ódio! Ele acabou com a minha vida. Odeio tanto ele quanto o Alpha Magno, o reino de Vasty e também o regente Supremo Alev Lightwood que quer se unir comigo através desse contrato.

Os odeio com todas as minhas forças, se não fosse uma questão de sobrevivência e principalmente por meu sonho, meus amigos já teria sumido daqui. Mas vou entrar de cabeça nessa situação, só permanecerei até que tudo se estabilize e então eu fujo, sumo, desapareço e ninguém nunca mais irá me encontrar e muito menos poder me usar. E se o regente de Vasty pensa que vai ser fácil ficar unido comigo, ele que aguarde, pois conhecerá a verdadeira Escarlate Liophyta depois do ritual e adeus esse papel de Lycan engessada.

Meses antes de tudo ser descoberto...

— Ancião Walker, Alpha Lightwood, pai... eu não vejo a hora que eles aceitem se encontrar conosco, estou tão curioso! Essa neta do Alpha do clã Lycoris Radiata deve ser muito feia, louca, ou ter alguma doença perigosa para transmitir para os meus herdeiros, já que aceitar um acordo assim hoje em dia não é nada normal. Nunca a vi em nenhum encontro entre os lideres, fiz uma pesquisa dentro e fora dos reinos e não achei nada atual dela, somente as notícias da época do ataque que consegui arrancar pouca coisa das bruxas marrons. O que nem é grande coisa, já que aquele velho Lycan fez com que tudo fosse abafado ao máximo possível... também ele ficou inconsolável com a morte do filho, único herdeiro... — Alev faz uma pausa um pouco pensativo, passando a mão em meu rosto, afinal foi algo trágico. Que o seu clã foi acusado, mas o mesmo provou perante aos líderes e aos anciões de sua inocência.

— Depois disso essa Lycan simplesmente sumiu do mapa! — Alev fala com uma ansiedade que confessou há tempos não sentia, ele e seu pai estavam sentados na varanda do seu castelo em seu clã, em frente à floresta que estava sendo recuperada aos poucos esperando os caçadores chegarem para do treinamento.

O ancião Walker está achando hilário Lightwood, seu herdeiro aceitar esse encontro depois de ter visto a herdeira do clã Lycoris Radiata num show no reino de Marlóvia, já que nunca o viu tão interessado em uma Lycan antes.

As más línguas estão comentando que não é pela Lycan, mas é pelas propriedade!... E ao mesmo tempo demonstra preocupação desde a descoberta que o seu atual regente ficou várias semanas perseguindo a loba Scar, ele nunca pensou que esse acerto de contas um dia fosse realmente se realizar. E nem que a cantora de mitos e lendas, Scar Amestris seria a neta do Alpha Magno.

O Alpha Wlaker sorri para o filho enquanto o olha com carinho. Pois está ainda na sua lembrança o quanto o filho negou qualquer tipo de acordo de união anteriormente.

— Meu regente tenha calma, está quase pulando da cadeira enquanto fala, nunca te vi assim Alev. Outra coisa não é cortês de sua parte só pensar na aparência da garota loba e além do mais serão herdeiros dela também, para que ela prejudicaria os próprios filhos? — Disse o pai na época o repreendendo com o olhar também.

— Não estou pensando só na aparência. Algo errado deve haver com ela, vai ver é uma sequelada ou tem dupla personalidade, aliás, depois que entender de verdade as intenções do Alpha Magno Liophyta e ver qual é dessa neta sumida dele não vou perder a oportunidade de ter as suas propriedades de volta meu pai. — Alev falou seguro de que seria capaz de entender se fosse um golpe, afinal seu governo está no auge.

O Supremo regente do reino de Vasty, o Alpha Alev Lightwood é considerado o líder mais bem sucedido dentro de todos os reinos vigentes, não tem quem não conheça ou tema Alev Lightwood. Um Lycan implacável nos negócios, seu clã é o maior tanto de guerreiros, como na área de telecomunicações e tecnologia de ponta, seu clã continua crescendo por causa dos conflitos e alianças com os clãs menores e agora está entre os maiores do mundo sobrenatural.

Alev Lightwood conseguiu fazer um império do que restou da fortuna do seu pai, já que ele foi roubado por seu beta Magno Liophyta que o traiu no passado. Ele é conhecido por ser impiedoso e frio, mas não pode negar que as fêmeas de inúmeros clãs sobrenaturais vivem caindo aos seus pés. No entanto seus casos são rasos e rápidos, não conseguindo se apegar a ninguém. A única que tem uns remembers de vez em quando é Tayvya, que morreu anos atrás.

Alev tem fêmeas a sua disposição, mas é só pela comodidade de poder fode-las quando quiser. Ele sabe que por onde passa a sua aparência chama atenção.

Um Lycan de 1,99 m de altura, gosta de praticar esportes e seus treinos de luta com seus Deltas, os gêmeos Coix e Cocus lhe desenvolveram músculos por todo corpo, além do esporte ser uma forma de escape para ele também que prática BDSM há anos.

Alev se tornou um Dom Lycan e ama isso. Mas ninguém sabe, ele é um Lycan muito discreto quanto a sua vida privada e nunca trouxe uma fêmea para apresentar a sua família e nem ao seu clã. O mesmo acredita que essa situação apesar de estranha de alguma forma também tenha acalmado seu papai. Pois significava que o mesmo almejava alcançar o que os anciões profetizavam sobre ele, um regente predestinado deveria encontrar uma Lycan enviada pela deusa Lua.

— Eu entendo que você sempre quis recuperar o território que um dia nos pertenceu. Eu me sinto até mesmo culpado por ter demonstrado demais a minha raiva e amargura com relação ao Alpha Magno ao longo de todos esses anos, vocês cresceram vendo este rancor em mim e isso não é bom, te fez ficar assim duro demais com os negócios da nosso alcateia. — O pai interrompe seus devaneios, e o olha com atenção, também vendo a sombra da culpa em seus olhos. — Mas você não pode se unir com alguém somente por esse motivo, uma união predestinada precisa de sentimentos fortes e puros. — Alev olha nos olhos de seu pai, um Lycan Alpha que por seus serviços dentro do clã foi escolhido para ser um dos anciões da alcateia, para ele não pode deixar de sorrir, na verdade acaba soltando uma gargalhada e então junta as suas sobrancelhas de forma séria e acabou revelando.

— O ancião Walker não deve se culpar de nada e sim aquele velho beta asqueroso! Estou muito bem assim, fui muito bem criado papai. E sentimentos são o de menos, uma união Lycan precisa de confiança e respeito. Como deve saber uniões que se mantêm por amor são raros demais, você e mamãe são o único exemplo real que conheço. Fora outros sobrenaturais de raças diferentes! Olha só o Prumus acabou sendo traído e deixado pela companheira. — Observou o caso do seu irmão mais velho com pena, ele sempre foi um Lycan livre, mas depois que conheceu Nigra se apaixonou e aquietou o facho. Se uniram em um mês e não durou seis meses. O que não deixou de ser um recorde para o mesmo. Primus é um guerreiro bem sucedido, tem um coração de ouro, é seu melhor amigo só não tem jeito com as fêmeas.

— Seu irmão foi inconsequente Alev, ele sempre foi irresponsável quando se trata das fêmeas seja do nosso clã ou dos outros. Já era de se esperar que aquela relação não fosse dar certo. Seja mais cauteloso meu filho, uma união Lycan é coisa séria. — Ele entorta a boca enquanto fala num tom de desgosto, Alev encara a praia recém construída já ficando impaciente e olha que são 11:00 horas agora.

— Sim, mas eu quero ter filhotes. Preciso de herdeiros para nosso clã se fortalecer ainda mais, principalmente depois que foi escolhido como regente Supremo. Não construí tudo atoa, logo não deixa de ser uma vantagem me unir atrás desse acordo. Estou em uma idade boa para começar a minha prole e sinceramente por amor não me uniria com ninguém mesmo, nunca conheci uma fêmea que me despertasse a vontade do acasalamento definitivo e também não acreditava em uniões assim. O meu dinheiro, status e poder só atraíram aproveitadoras. Já essa loba platinada agora não precisa do meu dinheiro, o que fará do nosso acordo um negócio equilibrado e sem mentiras das duas partes. — Diz com convicção enquanto vejo Rubus, outro beta se aproximar.

As lembranças dos dois Alphas se misturavam enquanto aguardavam a chegada de seus convidados.

Alev preferiu não revelar a verdade a sua família, conhecer uma certa Loba platinada no reino de Marlóvia lhe trouxe inúmeras dúvidas sobre o seu destino. E ao descobrir que a mesma era a neta de seu inimigo lhe trouxe mais questionamentos ainda. Mas de uma coisa ele tinha certeza, essa era a oportunidade perfeita para ter Escarlate.

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