ℜ𝔢𝔭𝔢𝔱𝔦𝔡𝔞𝔰 𝔳𝔢𝔷𝔢𝔰 𝔬 𝔳𝔢𝔫𝔱𝔬 𝔢𝔫𝔠𝔥𝔦𝔞 𝔞𝔰 𝔰𝔲𝔞𝔰 𝔪ã𝔬𝔰 𝔠𝔬𝔪 𝔬 𝔠𝔥𝔢𝔦𝔯𝔬 𝔡𝔢𝔩𝔞, 𝔢 𝔢𝔩𝔢 𝔰𝔢 𝔟𝔞𝔫𝔥𝔞𝔳𝔞 𝔰𝔢𝔪 𝔭𝔢𝔫𝔰𝔞𝔯 𝔢𝔪 𝔫𝔞𝔡𝔞. 𝔖𝔢𝔲𝔰 𝔬𝔩𝔥𝔬𝔰 𝔡𝔬𝔲𝔯𝔞𝔡𝔬𝔰 𝔟𝔲𝔰𝔠𝔞𝔳𝔞𝔪 𝔞 𝔯𝔢𝔰𝔭𝔬𝔰𝔱𝔞 𝔳𝔦𝔫𝔡𝔞 𝔡𝔞 𝔡𝔢𝔲𝔰𝔞 𝔏𝔲𝔞, 𝔪𝔞𝔰 𝔞𝔭𝔢𝔫𝔞𝔰 𝔬 𝔰𝔦𝔩ê𝔫𝔠𝔦𝔬 𝔢𝔯𝔞 𝔞 𝔯𝔢𝔰𝔭𝔬𝔰𝔱𝔞 𝔬𝔟𝔱𝔦𝔡𝔞. 𝔒𝔰 𝔰𝔬𝔫𝔥𝔬𝔰 𝔰ó 𝔞𝔲𝔪𝔢𝔫𝔱𝔞𝔪 𝔬 𝔰𝔢𝔲 𝔡𝔢𝔰𝔢𝔧𝔬 𝔰𝔢𝔠𝔯𝔢𝔱𝔬 𝔡𝔢 𝔱𝔢𝔯 𝔲𝔪𝔞 𝔰𝔢𝔤𝔲𝔫𝔡𝔞 𝔠𝔥𝔞𝔫𝔠𝔢. 𝔈 𝔣𝔬𝔦 𝔞𝔰𝔰𝔦𝔪 𝔞 𝔠𝔞𝔡𝔞 𝔭𝔯𝔦𝔪𝔞𝔳𝔢𝔯𝔞 𝔮𝔲𝔢 𝔭𝔞𝔰𝔰𝔬𝔲 𝔰𝔬𝔩𝔦𝔱á𝔯𝔦𝔬 𝔠𝔬𝔫𝔱𝔢𝔪𝔭𝔩𝔞𝔫𝔡𝔬 𝔞 𝔣𝔞𝔰𝔢 𝔩𝔲𝔫𝔞𝔯.

E atirou-se na cama, meio soluçando e meio rindo, dividida entre a auto-acusação e a exaltação. Não conseguia sequer imaginar como deixara o Alpha beijá-la e acariciá-la de modo tão abrasador! Em um determinado momento estavam discutindo e no momento seguinte ela se encontrava em seus braços!

E a expressão do rosto de Esme? pensou, cobrindo os olhos com as mãos, constrangida. O que será que ela haveria de pensar daquilo tudo?

Depois de seus protestos, depois de declarar o quanto o Alpha a irritava, encontrava-se em seus braços quando Esmeraude entrou na sala e devia ter ficado evidente o fato de que nem sequer se debatia. Como também ficara óbvio que ela sequer fora uma vítima passiva, entregando-se ao prazer a cada beijo, a cada nova carícia...

Levou algum tempo antes de sair da cama, despindo-se a fim de tomar banho. Relaxou dentro da água quente e perfumada, com os olhos fechados, tentando esquecer aqueles momentos passados nos Abraços do Alpha Lightwood, mas ciente de que toda vez que afrouxava o controle da mente, as recordações voltavam. Jamais havia experimentado um prazer assim e por mais que tentasse negar o fato, sabia que ansiava por outras demonstrações da capacidade do Lycan de lhe proporcionar prazer.

Claro que ele sabia como seduzir uma fêmea... Pois então não tinha muita prática? Sabia exatamente como devia proceder. Aqueles lábios tão sensuais eram hipnóticos exatamente porque ele havia tido muitas fêmeas em seus braços. Tratava-se de um verdadeiro especialista nesse campo e uma vez que obtivesse aquilo que queria dela, ele a abandonaria, completamente saciado, esquecendo-a. Scar queria o prazer que ele lhe poderia proporcionar, mas sabia que morreria devido à dor que se seguiria.

Seria mortal se ela se permitisse amá-lo e ele se entediasse com ela.

Mas afinal de contas o que ele lhe dissera? Prometera lhe ensinar como aproveitar a vida, como relaxar, mas Scar sabia que seria impossível mudar a natureza. Pode-se viver experiências vitais somente a partir do ângulo de visão que cada um possui. Toda sua existência ensinara-lhe lições muito diversas daquelas que o regente do reino de Vasty aprendera. Talvez para ele a vida fosse um espaço agradável e divertido. Para Scar não passava de um lugar frio, cinzento e vazio.

Era exatamente o sonho que a perturbava toda vez que se encontrava sob tensão. Nesse sonho via-se perdida e sozinha em um túnel escuro, sabendo que em algum lugar existia uma paisagem mais risonha. No entanto, jamais conseguiria chegar até ela. Não sonhava com monstros ou com perigos ameaçadores. Não sonhava com nada, a não ser um vazio frio e mortal e acordava tremendo, necessitada de luz, música, vozes que preenchessem aquele vazio dolorido.

Saiu do banheiro, enxugou-se distraída e enrolou a toalha em torno do corpo. Ao abrir a porta, viu-se diante de um espelho que lhe devolveu uma imagem familiar, mas que lhe mostrou igualmente a curva trêmula de seus lábios e seus olhos perturbados e febris. O impacto que o Alpha Alev provocara nela revelava-se em sua carne e isso a enfurecia. Ele havia chegado perto demais e era excessivamente perigoso ela permitir a aproximação de alguém.

Vestiu-se e sentou-se diante da penteadeira, pintando-se, quando ouviu o barulho de um carro que se afastava. Suas mãos tremeram.

O Alpha Alev tinha ido embora, o que era um alívio, e ela decidiu tomar todas as atitudes que a levassem a eliminá-lo de sua vida. Naquele dia ficara seriamente alarmada. Não precisava de modo algum que o fato se repetisse.

Oliver aparentava um ar de felicidade quando Scar foi ao seu encontro, uns dez minutos mais tarde. Ele dirigiu-lhe um sorriso protetor.

— Como é que foram os ensaios de suas novas canções?

— Não me pergunte. O que o Alpha Alev Lightwood veio fazer aqui?

— Estávamos discutindo seu contrato de sangue. Por falar nisso, ele conseguiu fazer com que seu ponto de vista prevalecesse, em uma reunião com o seu clã e prometeu que quando voltar de seus domínios, dentro de algumas semanas, levará em consideração a possibilidade de lhe proporcionar novas e melhores condições de trabalho. Gostou da notícia?

— Ele está indo para o reino de Vasty?

— Sim, pelo visto viaja hoje à noite, mas garantiu-me que estará de regresso dentro de pouco tempo. Ele vai comunicar que adquiriru novas propriedades e que eu serei o beta que cuidará delas daqui por diante. Isso não é fantástico?

— E ele não perguntou mais nada?

Scar sentiu-se profundamente aliviada por saber que Alev estava deixando os dosi reinos gêmeos. Sua presença não mais a perturbaria. Aquilo a fazia sentir-se muito melhor, tirava um peso de suas costas e ela iria esquecê-lo. Aqueles pensamentos deveriam proporcionar-lhe grande tranquilidade, mas não conseguia imaginar porque se sentia ligeiramente deprimida.

— Sim, tocou no assunto de suas férias. Disse que a vila Amestris está à sua disposição e achou que já é mais do que tempo de você tirar alguns dias de descanso.

— Mas que intrometido! Ele mudou o nome da propriedade.

— A propriedade é dele afinal. O regente pode fazer o que quiser dela agora. Até mesmo mudar o nome dela. Explicou Oliver sem entender a irritação de Scar. — Pois acho que devemos aceitar o oferecimento. Ele tem razão, você precisa descansar. Jarret disse que sua voz está péssima!

— Ah, é mesmo?

— Ele acha que você não está conseguindo se concentrar no que faz. Além disso, erra os compassos e não alcança determinadas notas. Jarred comunicou isso ao /alpha Lightwood também.

— Aquele tritão fala um bocado, não é mesmo? Por que não me disse tudo isso hoje?

— Ele está preocupado com você, como, aliás, todos nós. Fique deitada ao sol durante algumas semanas, sem fazer nada e voltará a cantar como um passarinho. Vamos, Scar, você deve saber que está perdendo combustível e que não está em seus melhores momentos, ultimamente. Deu tudo o que tinha de si no último show e isso a deixou exausta. Desde então você se movimenta pela vida como se fosse um fantasma.

Scar sentia vontade de proclamar em altos brados que tudo aquilo era culpa do regente de Vasty, mas desviou o olhar, mordendo irada o lábio inferior. Admitiu para si mesma que seria bom afastar-se durante algumas semanas. Qualquer que fosse a verdadeira razão, sentia-se estranha. Na verdade, isso acontecia a partir do último show. Quem sabe Oliver tivesse razão, quem sabe gastara suas últimas energias naquela noite... Talvez precisasse mesmo parar durante algum tempo e não fazer absolutamente nada.

— E então, concorda?

— Concordo, sim... — Respondeu Escarlate.

— Gostei de ver! Não se preocupe com os compromissos já assumidos. Posso cancelá-los e marcar novas datas. De qualquer maneira, não há nada urgente em perspectiva e ainda falta recebermos algumas canções de Vasty agora, e isso pode esperar também.

Esmeraude demonstrou muito tato em relação à cena que presenciara. Scar esperou algum comentário irônico, mas isso não aconteceu. Tudo o que a preocupava naquele momento era a perspectiva de passar férias em um lugar ensolarado. Adorava o sol e costumava dizer que imaginava o paraíso designado aos sobrenaturais como um lugar onde não era preciso fazer absolutamente nada durante o dia, a não ser ficar tomando sol. Isto fazia Scar rir, pois a primeira coisa que chamava atenção em Esme era sua energia e seus movimentos rápidos, que a levavam a dar conta das tarefas na metade do tempo que qualquer outra Lycan empregaria.

No entanto, quando relaxava, fazia-o com a mesma determinação que colocava em tudo mais.

Deveriam viajar para o vilarejo entre a divisa do reino de Vasty na manhã do próximo domingo e Ravenna passou o sábado inteiro arrumando as malas. Tinha um talento especial para aquilo. Conseguia acomodar em uma mala muito mais do que seria possível acreditar. Dizia que isso se devia a anos e anos de experiência. Fizera-o tantas vezes que, mesmo dormindo, conseguiria dar conta daquelas tarefas. Mesmo sendo uma humana!...

— Scar, faça o possível para descansar bastante durante essas férias, está me ouvindo?

— Sim, Ravenna, pode ficar sossegada. E você, para onde é que vai?

— Para o lugar de sempre.

— De novo para Barkana?

— O que há de errado nisso? Gosto de paz e silêncio quando entro em férias. Além disso, o reino das bruxas é o melhor lugar para humanos velhos como eu. As águas termais e as ervas talvez possam me ajudar a rejuvenescer uns vinte anos.

— Scar, você e Esmeraude terão de viajar sem mim amanhã. — Declarou Oliver, com ar preocupado, entrando no quarto. — Terei de ficar em Marlóvia durante dois dias a fim de ver o tritão Alaistair.

— Alaistair? Mas por quê? Você mesmo disse que nunca mais voltaria a lhe dirigir a palavra, depois da atitude que ele tomou, quando foi para Avilan seu sua autorização...

— Posso mudar de ideia, não é mesmo? Acaba de me telefonar. Brigou com seu agente e perguntou-me se não aceito trabalhar com ele. Há muita coisa a ser acertada. Não posso viajar e deixar que tudo se resolva quando eu voltar. Até lá talvez seja tarde demais. Prometo que assim que resolver o assunto irei ao encontro de vocês. Com certeza ele ficou sabendo que o Alpha Lightwood tem o controle de tudo agora. Todos os artistas dos reinos vizinhos vão querer firmar um contrato de sangue com o regente de Vasty. Sua proteção é considerada a amis forte e influente depois do imperador Dimitrescu.

— Já comunicou a Esme?

— Sim, acabo de lhe falar. Ela chegou a ficar pálida...

— Isto não me surpreende nem um pouco!

— Scar, Alaistair é uma verdadeira mina e não posso dar as costas à oportunidade de tê-lo de volta. Você sabe muito bem que em meu negócio é preciso ficar atento e aproveitar o que aparece. Esmeraude também sabe disso com o nascimento do filhote, vamos precisar de todo o dinheiro que pudermos conseguir. Mesmo estando sobre a proteção do Alpha Lightwood, eu quero e desejo ser independente.

— Este abençoado filhote já vai nascer de costas largas... E se for um Alpha então, poderá até formar o seu próprio clã. Pois terá dinheiro suficiente para manter outros Lycans sobre a sua proteção. — Murmurou Ravenna, sarcástica,

— Cale-se, sua bruxa humana! Não entendo como Scar consegue suportá-la. No lugar dela eu a punha no olho da rua.

— Não punha, não, pois não trabalharia para você mesmo que me pagasse dez vezes mais do que recebo agora. O problema é que Esmeraude tem paciência demais com você. É um beta mimado e sem noção alguma das coisas. Algumas fêmeas jamais o suportariam.

— Isso inclui você, imagino?

— Exatamente...

Scar ouvia sorrindo aquela pequena cena, que se repetia com frequência. Ambos gostavam de discutir, de trocar insultos, dava um certo encanto a sua convivência. Oliver resmungava e rosnava sem parar e Ravenna o ameaça com a vassoura, o chamando de cão pulguento ou sarnento. Oliver conhecia Ravenna há muitos anos. Tinham sido criados no mesmo clã e frequentavam os mesmos círculos, no mundo dos espetáculos, pois Ravenna trabalhara para diversas estrelas famosas desde de criança. Aquelas disputas encarniçadas entre os dois faziam parte da atmosfera familiar, que a levava a sentir-se tão segura durante os últimos cinco anos. Desde o início, ouvindo-os, Scar percebera como devia ser uma família de verdade, algo que jamais conhecera, uma experiência que sentia muita vontade de viver.

Oliver saiu, seguido por Ravenna que carregava um balde de água fria e o ameaçava constantemente. Todos os dias era assim, as brigas iam de um nível sarcástico ou irônico em segundos. Ravenna fazia questão de não o deixar em paz e Scar fitou o teto.

Ficava preocupada ao perceber o quanto as coisas estavam mudando à sua volta. A vida lhe parecia tão sólida, calma e segura até a noite daquele show... Agora sentia como se o tempo tivesse dado um giro no caleidoscópio da existência, modificando completamente seu desenho. A influência que o Alpha exercia sobre ela era apenas parte de todo aquele processo. Esmeraude também havia se transformado. O filhote que iria nascer havia atuado sobre ela de várias maneiras. Sua personalidade suavizara-se, o cinismo e a ironia haviam ficado menos evidentes ultimamente. Scar conseguia perceber que Esme, naqueles últimos tempos, estava menos debruçada sobre ela ou Oliver. Sua pequena família alterava-se, o eixo mudava de posição. Até agora aquela casa havia girado em torno da existência de Scar. Ali todos viviam absorvidos por sua carreira, mas as coisas não voltariam a ser as mesmas.

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