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Planos


Briana andava por uma superfície gramada. Conseguia sentir a relva macia sob os pés descalços. A paz que aquela sensação causava fazia com que ela esquecesse todos os problemas que aquele mundo ainda lhe proporcionava.

Fechou os olhos e refletiu sobre tudo o que passara. Sentiu um leve toque em seu ombro e abriu os olhos sorrindo ao ver quem chegara.

— Meu amor! Que bom que veio.

— Eu conto as horas para te encontrar. — confessou Letícia, enquanto segurava o rosto da amada entre as mãos e a beijava com ternura.

— Preciso te mostrar uma coisa. — Puxou-a pela mão e saíram correndo pela vasta plantação de trigo.

O sol mostrava seus primeiros raios. Albano, pai de Briana, observava a filha com a namorada, pela janela de sua casa. Ele tinha um sorriso perdido no rosto, vendo-as correndo pelo mar dourado em direção ao mirante da fazenda.

— Você precisa conversar com elas. — alertou Maria, sua esposa.

Albano suspirou profundamente e segurou a mão da mulher, pousando um suave beijo nela.

— Eu sei. É tão bom vê-las assim que acabo esquecendo que isso as fará sofrer demais, se eu não contar a verdade.

— Eu sei que nossa filha já sofreu muito, merece essa felicidade, mas Letícia não é exatamente a pessoa certa para isso. Então não espere mais.

Albano assentiu e se virou para observar as duas, conseguia ver exatamente onde estavam.

Briana apontou uma árvore no outro lado da plantação de trigo.

— Está vendo? Meu pai disse que quem conseguir comer o fruto daquela árvore consegue voar.

tá brincando, ? — Sorriu olhando para a namorada que tinha dezenove anos, mas às vezes agia como se fosse uma criança.

— Estou falando sério. Você não acredita?

Letícia meneou a cabeça negativamente e começou a descer os pequenos degraus.

— Então vamos lá, eu quero voar. — Desafiou.

Briana olhou na direção de sua casa e avistou o pai na janela. Sabia que ele não a queria ultrapassando os limites da fazenda.

— Eu não posso. — disse ao descer a escada e encarar a cética Letícia.

— Você não pode nada. — falou sorrindo e começou a correr.

Magoada, Briana a seguiu. Olhou para o pai e passou a correr também.

A jovem se mantinha atrás da namorada que ora ou outra corria de costas sorrindo para ela em desafio para ir com ela à tal árvore mágica.

Lembrou-se que o dia mais feliz de sua vida foi quando a encontrou ali naquele mesmo lugar.

Briana observava o sol nascendo quando viu a jovem se aproximando. Semicerrou os olhos e continuou ali. Letícia sumiu na plantação de trigo. A filha de Albano correu até o mirante e subiu correndo. Ao chegar no parapeito, olhou em volta, à procura de Letícia. Seu coração estava disparado quando soltou a respiração e viu a jovem entrando na fazenda de sua família.

Deve ser nova na cidade. Nunca a vi por aqui. — pensou, apoiando os cotovelos no parapeito de madeira envernizada.

O contato que tinha com vizinhos ou outras pessoas acontecia sempre na escola ou nos eventos da colônia. Nunca tinha visto aquela jovem que invadia sua terra. Desceu rapidamente e se escondeu atrás de uma árvore para observar melhor, sem ser vista.

Letícia se aproximou mais e sentiu Briana escondida.

— Tem alguém aí? — indagou, olhando em volta, e parou quando viu a jovem sair do esconderijo.

— Quem é você? O que faz aqui?

— Eu sou a Letícia. Estava na praia e acho que me perdi.

— Praia? Você vem de muito longe então. Como chegou aqui?

— Não sei. Só quero voltar pra casa. — disse confusa, olhando em volta.

Briana fechou os olhos e sentiu a energia dela, estava realmente preocupada e não fazia ideia de como chegara ali.

— Eu ajudo você. Vem comigo. — Estendeu a mão e se aproximaram do mirante.

As duas subiram. Letícia sentia seu medo sumindo aos poucos. Gostava da sensação que o toque da mão de Briana lhe causava.

Ao atingir o topo do mirante e olhar em volta, Letícia emudeceu, preocupada, até que sentiu a mão quente de Briana sobre a sua e conseguiu emitir:

— Co-como não consigo avistar a praia? Eu não andei tanto...

— Calma. De repente você só entrou numa direção diferente. Eu moro aqui perto, se quiser, o meu pai pode te levar de volta para casa.

— Tá bom, obrigada!

Passaram um tempo ali conversando sobre os acontecimentos da pequena cidade de Briana. A jovem ficou encantada enquanto Letícia contava que morava numa cidade próxima ao litoral de São Paulo e estava finalizando o ensino médio.

— Meus pais são ótimos, mas eu me sinto mal.

— Como assim? Está enferma? Parece ótima.

— Não estou enferma fisicamente. — respondeu sorrindo. — Você fala de um jeito engraçado. — suspirou e continuou: — Eu tenho depressão, já fui a inúmeros profissionais, mas ninguém acha a cura e preciso tomar muitos remédios para ficar bem. Esse fim de semana eu resolvi viajar com meus colegas da escola, foi ideia dos meus pais. É a primeira vez que viajo sem eles. E já me perdi... — disse e riu da situação.

— Eu te achei. — Sorriu — Estou feliz, Letícia. É a sua primeira viagem e você já vem aqui, isso é maravilhoso.

Briana tinha consciência de que sua cidade ficava próxima a São Paulo, mas algo em Letícia a fazia querer ficar perto dela, protegê-la, pois sentia que ela era de longe e precisava de apoio, pois estava confusa com aquela viagem.

Quando Letícia se despediu de Briana e entrou no carro de Albano para ir embora, sentiu uma imensa vontade de ficar ali. Mas sabia que precisava voltar para casa ou seus amigos ficariam preocupados e acionariam seus pais. Não queria aquilo de jeito nenhum. Albano a deixou na frente da casa.

— Deus a ilumine! — proferiu e esperou a jovem entrar na casa e retornou à fazenda.

Briana pensava muito em Letícia, queria muito vê-la novamente. Pensou em procurá-la. Levantou o rosto à mesa de café da manhã e viu o olhar bondoso de seu pai a observá-la. Maria olhou para o marido e depois para a filha.

— Apresse-se, Briana, ou vai se atrasar para a escola.

A menina deixou a sala de jantar, e Maria encarou o marido:

— Quem é essa menina, Albano?

— É uma amiga... — respondeu calmamente.

— Uma amiga que chega sozinha... — falou quase si em tom de censura.

Preocupada, Maria não questionou o marido sobre aquela amizade, mas ficaria de olhos bem abertos sobre a filha.

Letícia passou a visitar Briana sempre que podia. Tornaram-se muito amigas, até que numa tarde de sol no mirante, Briana cobriu os lábios da jovem com os seus em um beijo tímido, mas cheio de sentimento.

Briana sentiu seu corpo flutuar quando foi correspondida pela visitante, que a envolveu com os braços.

Naquele momento, já iniciaram um relacionamento escondido. Passaram muito tempo se encontrando no mesmo lugar e explorando a fazenda onde Briana morava. A jovem voltava do colégio e corria até o mirante para esperar a amada, que sempre chagava no mesmo horário. Quando não conseguia ir, Letícia deixava a filha de Maria triste e frustrada.

A mulher observava a filha e lançava olhares cúmplices ao marido. No oitavo dia sem que Letícia fosse visitar Briana, Albano, a mando da esposa, chamou a filha para conversar.

— Por que essa tristeza, filha? — indagou para ouvir a menina dizer, mas sabia exatamente o motivo.

— Perdão, papai. Eu sei que não devo esconder nada do senhor, mas escondi. Estou apaixonada por Letícia.

— Eu sei, filha. E essa tristeza é porque ela não vem aqui há oito dias?

— Sim. Estou começando a cultivar pensamentos ruins, mas sei que não devo, pois não quero atrair coisas ruins para mim novamente.

Albano meneou a cabeça em concordância. Briana tinha lágrimas nos olhos.

— Preciso vê-la, papai. Fale com a mamãe... sei que minha preparação não permite relacionamento afetivo dessa forma. Peço perdão por isso, mas preciso vê-la.

Albano fitou o horizonte por uns segundos e voltou a encarar a filha. Sabia da rigidez de Maria e de seu sacrifício em formar Briana.

— Vou fazer o seguinte: vou à casa dela e vejo como ela está, ok? Não precisa se preocupar.

— Tudo bem, papai. Muito obrigada! — Abraçou o pai radiante com a possibilidade de rever a amada.

Letícia voltou para casa e a viu escura, vazia. Nem seu gato estava por ali. Foi direto para o quarto e se deitou, pois precisava acordar em poucos minutos para ir para a escola. Sentia-se frustrada por precisar voltar para casa.

Acordou poucas horas depois com seu despertador tocando. Desativou o aparelho e tentou ouvir a movimentação comum da casa. Ouviu vozes no jardim. Barulhos de pássaros. Esticou a mão e pegou seu diário. — Começou a escrever naquele pequeno caderno, azul, no dia que conheceu Briana. — Escreveu os detalhes do dia anterior com a amada. Desenhou com lápis o rosto dela na folha branca, enaltecendo seu sorriso encantador. Pousou um beijo no desenho e fechou o objeto. Pulou da cama, arrumou sua mochila e correu para tomar banho. Iria ver Briana quando voltasse da escola. Desceu a escada correndo e já viu os pais à mesa de café da manhã.

— Bom dia, filha! Está com uma aparência ótima. — disse Danásia sorrindo e olhou para o marido, que lia notícias em um tablet.

A mulher se preocupava com a filha, então quando a via com um semblante pleno daquele jeito era motivo para comemoração. Sentiu-se culpada quando a filha foi diagnosticada com depressão unipolar na pré-adolescência. Não entendia os motivos de uma menina tão bem cuidada, de uma família abastada, que tinha tudo o que quisesse e amor presente dos pais ter doença tão grave e traiçoeira como aquela.

— Obrigada, mãe. Eu me sinto bem melhor, sim.

Danásia era arquiteta bem-sucedida. Depois de vários abortos espontâneos, vibrou de felicidade quando conseguiu levar a gravidez até o final e dar à luz a filha Letícia.

— Isso é maravilhoso, filha. Hoje você tem consulta com o psiquiatra, não se atrase. —avisou Luciano, pai da jovem. — Sua mãe vai passar na escola e buscar você.

— Tá bom. — respondeu frustrada, pois aquilo acabou com seu plano de visitar Briana.

Aquele dia se arrastou. Letícia saiu da escola e almoçou com a mãe em um restaurante próximo ao prédio do consultório do doutor Frank Martins.

— Já decidiu o que pretende fazer depois que terminar o ensino médio?

Letícia não pensara naquilo ainda. Nem achava que conseguiria chegar ao fim do ensino médio, pois mesmo com a medicação que tomava todo dia, sua vontade de viver era mínima.

Mas começou a querer viver, começou a querer ser livre depois que conheceu Briana. Sabia que não podia ficar para sempre vivendo de mesada e queria viver um relacionamento de verdade com a jovem, que também vivia sob cuidados dos pais.

— Eu vou pensar com calma. — respondeu e terminou seu almoço, limpou a boca e olhou para fora do local, fugindo do olhar da mãe.

Danásia pediu a conta. Depois de pagar, levantou-se, pegou sua bolsa e dobrou o braço, para que a filha encaixasse o dela. Em seguida, saíram do restaurante.

— Notei que você anda suspirando pelos cantos esses dias. É algum menino da escola que está causando isso?

Letícia engoliu saliva e olhou para a mãe, que a fitava com um sorriso malicioso nos lábios. Apesar de ciumenta e superprotetora, Danásia não deixava de apoiar a filha, fazia parte do tratamento dela. Jamais permitiria que sua filhinha se relacionasse com qualquer um, mas precisava conquistar a confiança dela para que contasse se estava namorando algum colega.

Sem saber até que ponto poderia confiar na mãe, Letícia omitiu a verdade.

— Tem alguém, sim, mãe, mas não quero falar sobre isso agora. Eu estou gostando muito de uma pessoa. É recente ainda, mas...

— Mas está apaixonada. — A mulher sorriu e se colocou na frente da filha, segurou suas mãos e fitou seus olhos. — Pode confiar em mim, meu anjo. Só quero o seu bem. Vou apoiá-la em qualquer decisão. O que eu mais quero nessa vida é que você seja plenamente feliz.

Letícia sorriu e recebeu um abraço apertado da mãe. Depois do ato, entraram no prédio para ir à consulta.

Mesmo reticente, Letícia estava feliz com o apoio da mãe. A angústia, sua companheira constante, não tinha tanta força naquele momento, e ela sabia que se devia ao fato de ter Briana ao seu lado também.

A jovem entrou na sala do médico e ouviu sua mãe contar como estavam sendo os últimos dias. Até que o homem de barba grisalha e olhos negros brilhantes se virou para ela e sorriu.

— E então, Letícia, o que me diz? Quer conversar comigo sozinha?

Letícia sorriu envergonhada. Queria falar de Briana com alguém além de seu diário, mas notou que não confiava no médico. Aliás nunca se abriu de fato para ninguém, nem para a psicóloga, que a acompanhava desde que iniciou tratamento, e nem com o psiquiatra que, demonstrou ser de confiança.

Tinha consciência de que todos os profissionais estavam presos à ética, mas ela não confiava que eles não fossem contar aos seus pais sobre o que pudesse confidenciar.

Omitiu as vontades inúmeras que sentiu de tirar a própria vida. Omitiu os reais sentimentos para com eles sem motivo aparente. Letícia era uma menina perfeita aos olhos de todos que a conheciam, mas guardava uma mágoa indefinida dos pais. Não sabia explicar de onde vinha aquele sentimento, mas sentia vontade de ficar longe deles.

Superprotetores, os dois apenas permitiram que ela viajasse sozinha quando fez dezoito anos, e foi nessa liberdade temporária que conheceu Briana, por isso, temia que os sentimentos de posse deles a impedissem de visitar a amada na fazenda. Achava melhor esconder tudo.

— Não precisa. Não escondo nada dela. Eu estou ficando com uma pessoa... e... — engoliu saliva. — estou muito feliz com isso.

— Sério? Conte-me mais, de onde ele é?

Desviou o olhar do médico e fitou uma réplica de cérebro humano sobre a mesa dele. Por segundos, saiu dali e se viu envolta em pensamentos que a protegiam daquele tipo de pergunta invasiva. Pensou em Briana e fechou os olhos. Sentiu seu toque, conseguiu sentir o que ela lhe causava com sua simples presença.

Danásia observava a filha sorrindo de olhos fechados. Olhou para o médico e o viu na mesma situação, observando também. A mulher abriu a boca para interromper a fuga da filha e foi impedida pelo psiquiatra, que levantou a mão.

Continuaram analisando por alguns minutos. A jovem abriu os olhos e olhou em volta. Precisava sair dali o mais rápido possível, precisava abraçar Briana. Dizer que a amava.

— Vamos embora, mãe?

— O que aconteceu, amor?

— Nada. Só preciso fazer uns trabalhos da escola. — disse se levantando.

— Ok, por favor, me espere lá fora, vou pegar a receita médica com o doutor Frank...

A jovem saiu. Danásia a viu fechar a porta atrás de si e olhou para o médico.

— O que houve aqui, doutor?

— Isso é normal, ela não quer responder, para não se indispor com nenhum de nós. Observe-a, mas sem invadir seu espaço.

— Minha filha é uma bomba-relógio, doutor. Eu não sei o que fazer, ela tem tudo, tudo o que o dinheiro pode comprar e o que não pode também. Amamos nossa menina, nunca a deixamos sozinha. Onde erramos tanto, doutor? Por favor, me diga.

— Vou fazer novos exames, Danásia. Não a aborde, ela precisa de espaço. Na próxima consulta preciso conversar com ela a sós.

— O senhor acha que a estamos sufocando com tanta proteção?

— Não, mas ela pode estar se sentindo presa a algo. Hoje foi o primeiro dia que ela simplesmente nos deixou sozinhos sem sair da sala. — constatou enquanto prescrevia os medicamentos e abriu a agenda. — Vou marcar a próxima consulta para a quinta-feira. Vou receitar um medicamento novo, mas vou fazer novos exames antes de saber o resultado do novo tratamento.

— O senhor acha que ela tem outro problema? — indagou preocupada, de cenho franzido.

— Preciso dos exames, Danásia. Não vou falar de suspeitas e deixá-la mais preocupada ainda. Traga-a na quinta-feira, mas hoje faça-a tomar esse medicamento novo. Anote seu comportamento de amanhã e depois e traga para mim na próxima consulta, por favor.

— Ah, muito obrigada, doutor. Quanto mais rápido esses exames forem feitos, melhor. — disse anotando o dia que precisaria levar a filha ao consultório novamente.

Pegou a receita, apertou a mão do médico e saiu. Viu a filha sentada, observando o jardim pela janela.

Cada vez mais distante! — pensou a arquiteta e se aproximou devagar da filha.

— Vamos, meu amor?

— Ah, vamos sim.

Danásia sorriu, mas estava muito preocupada com a filha, que estava com o olhar perdido e um sorriso constante nos lábios. Não que achasse aquilo ruim, mas seu comportamento de minutos antes a fazia pensar no pior. Passou em uma farmácia e comprou os medicamentos que o médico havia receitado.

Letícia cantarolou uma música que passava no rádio enquanto batucava com dedos na perna. Danásia olhou para a filha e a viu distraída.

— Você quer que eu te deixe em algum lugar ou quer ir pra casa?

— Quero ir pra casa, vou terminar um dever e vou sair, tá? Mas volto logo...

— Tá bom. — respondeu depois de hesitar por uns segundos.

Danásia estacionou na garagem de casa e entrou junto com a filha. Deu o remédio a ela e deu um beijo carinhoso na bochecha da menina.

— Eu vou buscar um projeto e volto logo, tá bom? Pode ir onde você precisa, e se quiser eu busco você.

— Tá bom. Obrigada, mãe!

A mulher saiu sem vontade de deixar a filha sozinha, mas precisava seguir o conselho do médico.

Em poucos minutos estudando a jovem ficou sonolenta e começou a sentir raiva da mãe.

— Me deu calmante para que eu não pudesse sair. — ralhou em lágrimas.

Estava com raiva, mas não tinha a menor condição de sair nem de estudar. Deitou-se na cama de qualquer jeito e dormiu. Quando acordou, já era noite. Mesmo zonza e um tanto desorientada, resolveu procurar Briana.

Perdeu-se e acabou chegando a uma zona periférica. Viu várias pessoas pelas calçadas. Crianças malvestidas, animais sujos e esgoto exposto. Temendo ser hostilizada, entrou em desespero e começou a correr.

Passou dias perdida naquele lugar horrível. Correu até sangrar os pés e desmaiou, quando acordou, uma semana depois, estava em uma cama de hospital. Abriu os olhos devagar e viu a mãe sentada numa cadeira, lendo uma revista.

Tentou falar e notou que estava intubada. Desesperou-se e viu a movimentação de Danásia chamando um médico, que chegou segundos depois.

— Acalme-se. — pediu e retirou o tubo, fazendo-a ter ânsia de vômito.

Uma enfermeira prontamente chegou perto com uma vasilha de alumínio para que ela liberasse aquela sensação horrível. Passou alguns segundos ofegando para se recuperar.

— Mãe, o que aconteceu? Por que estou aqui? Preciso sair, preciso ver a...

— Briana?

Letícia pressionou o maxilar na mandíbula e esperou que ela concluísse.

— Oh, meu amor, não precisava esconder que estava apaixonada por uma menina. Jamais a julgaria por isso. O amor é o sentimento mais lindo desse mundo e não importa por quem o dispomos.

Os olhos de Letícia encheram. Sentiu a mão da mãe na sua.

— Me perdoa, mas seu diário estava aberto sobre o criado...

— Tudo bem. O que aconteceu?

— Você teve uma reação alérgica ao novo medicamento prescrito pelo doutor Frank. — avisou e beijou a mão da filha. — Quase a perdemos. Eu quase enlouqueci. — confessou em lágrimas.

— Já me sinto bem, mãe. Fica tranquila. Faz quanto tempo que estou aqui?

— Alguns dias. Tentei encontrar a Briana, mas não achei nada que pudesse ajudar no seu diário. Eu sei que invadi sua intimidade, peço perdão por isso, mas precisei. Eu estava desesperada.

Letícia sentia a cabeça dolorida. Não sabia como explicar o caminho da casa da namorada e nem diria à mãe que ela não tinha telefone.

— Quando vou para casa?

— O médico vai dizer daqui a pouco.

Letícia ficou aquela noite em observação e foi liberada no final do dia seguinte. Sua ânsia maior era encontrar Briana e explicar sua ausência.

Preocupada, Danásia só aceitou que a filha saísse no dia seguinte, assim se certificaria que ela estava bem.

Briana chorava no mirante, olhando para a vereda que Letícia usava para ultrapassar o limite da fazenda. Não recebeu permissão da mãe para visitar a namorada. Era ótima aluna, mas ainda não estava preparada para tamanha dádiva. Só lhe restava esperar.

No dia seguinte, desceu do ônibus escolar em frente à sua casa e caminhou até a porta. Olhou para o horizonte e viu a silhueta de Letícia contra o sol. Sentiu o coração acelerar de tal modo que achou que ele fosse sair do peito e correr antes dela.

Letícia se aproximava da casa, sorriu quando viu a amada correndo em sua direção e a recebeu de braços abertos. Beijaram-se apaixonadamente. Ficaram abraçadas por longos minutos.

Maria estava de pé, perto da porta, observando as duas. Albano chegava com alguns legumes nas mãos e parou para espiar também. Os dois estavam aliviados por Letícia ter sumido e não terem que conversar com a filha sobre o relacionamento das duas, mas a jovem voltou e demonstrava tanta saudade quanto a filha do casal de camponeses.

— Senti tanta saudade de você! — confessou ofegando enquanto beijava sua boca, bochechas.

— Eu também quase enlouqueci. Eu fiquei doente e não pude vir.

Briana puxou a jovem pela mão e a levou para longe dos olhares dos pais. Como se fosse possível se esconder dos dois.

Letícia abraçou a namorada com força e fitou seus olhos.

— Eu amo você, Briana!

— Eu também te amo! Não sai de perto de mim, por favor.

— Nunca mais.

Letícia fechou os olhos ao ouvir um barulho ensurdecedor e levou as mãos aos ouvidos. Começou a ofegar de medo. Ajoelhou-se no chão em desespero dando bruscos espasmos a cada intensidade do barulho que ouvia.

Aquela atitude chamou a atenção de Maria e Albano, os dois correram até onde elas estavam.

— Letícia, fala comigo! — Briana gritou e foi segurada pela mãe.

Letícia estava no chão se contorcendo, ouvindo aquele barulho.

Briana gritou desesperada quando viu ali na sua frente a menina se desintegrar e sumir como fumaça no ar.

Maria tocou na testa da filha e a fez dormir ao vê-la desesperada. Levou-a para dentro da casa no colo.

Letícia acordou em seu quarto com uma tempestade de raios e trovões caindo. Gritou assustada. Olhou em volta e não viu Briana e nem sinal de sua fazenda ensolarada, apenas a sensação de impotência.

A porta de seu quarto abriu e Danásia entrou amarrando um robe. Acendeu a luz.

— Calma, foi só um raio! — garantiu e abraçou a filha, que ofegava aos prantos, sentada na cama. — Passou, meu anjo! Mamãe está aqui. — garantiu acalmando a filha que sempre teve pavor de raios e trovões.

— Eu estava com a Briana, mãe. — disse soluçando. — O que aconteceu?

— Calma, filha, foi só um sonho. Pesadelo é assim...

— Não foi um sonho, mãe! Não pode ter sido só um sonho. Não pode.

— Filha, olhe para mim. — pediu e segurou o seu rosto encharcado de lágrimas. — Acalme-se, amanhã você fala com ela, ok? Fique tranquila, foi só um sonho.

Letícia ficou ali no colo da mãe até dormir novamente. Saiu do quarto correndo e atravessou a rua, entrando na floresta que havia a poucos metros de sua casa. Quando ultrapassou os limites da fazenda de Briana, sentiu água sob os pés. Parou subitamente e olhou para trás, não viu nada, apenas a escuridão da floresta. Começou a tremer de medo daquela situação. Lá não estava chovendo, mas na sua cidade sim, porém a sensação de estar longe de casa a impediam de pensar que a água escoava para aquela região. Mesmo sem entender o que estava acontecendo, ela continuou andando para encontrar Briana.

Foi recebida por Maria logo que saiu da plantação de trigo.

— Venha comigo, Letícia.

— Onde está a Briana? Preciso falar com ela.

— Briana está um tanto abalada, mas você a verá em breve.

Albano estava sentado numa cadeira embaixo de uma árvore enquanto cortava uns legumes. Levantou-se e se aproximou da jovem.

Letícia ficou nervosa com aquela abordagem.

— Onde está a Briana? O que aconteceu?

— Acalme-se. Briana está descansando. Logo você poderá vê-la para se despedir.

— Não. Eu a amo. Não vou me despedir.

— Letícia, vocês não podem mais se encontrar. Aqui não é o seu lugar. Não somos quem você pensa que somos. — Albano disse com sua voz suave.

Maria tocou de leve na testa da filha de Danásia e a menina fechou os olhos. Quando os abriu, estava em seu quarto, vendo-se na cama junto com a mãe, que dormia ao seu lado naquela noite de tempestade.

— O que está acontecendo? — perguntou com a voz embargada.

— Vocês estão em planos diferentes, é impossível levar esse relacionamento adiante. Erramos ao permitir, mas vocês precisavam dessa felicidade.

— Isso não é possível. Como assim? — Tremia ofegando, desesperada com aquela possibilidade.

— Letícia, lá é uma colônia espiritual. Somos mentores da Briana. Assim como a Danásia é sua mentora física. Confie nela. Nossa filha cometeu alguns erros enquanto esteve encarnada e ainda precisará de muito tempo para se redimir até poder reencarnar novamente. — Maria explicou com paciência e serenidade.

— Você ainda precisa cumprir sua missão aqui na terra também, Letícia. — Albano disse fitando os olhos molhados da jovem.

— Eu a amo tanto, por que isso teve que acontecer?

— O amor sempre acontece, precisa acontecer. As circunstâncias nem sempre são favoráveis para que o valorizemos.

— Não acredito nisso. Eu a toquei. Nós fizemos amor. Eu a senti de todas as formas. Não pode não ter existido.

— Existiu, Letícia. Mas não é possível continuar. Para o bem das duas...

Letícia tremia quando Maria tocou em sua testa de novo e a acalmou para que voltasse ao corpo que logo despertaria. Deixou o quarto levando o companheiro.

Quando Letícia acordou, viu a mãe a observando ainda deitada com ela. Foi às lágrimas ao se lembrar do que aconteceu e se dar conta do que viveu.

— Shi! — Danásia abraçou a filha. — A chuva parou. Vamos descer. Vou passar o dia com você, tá bom? Se quiser vou com você à casa da Briana. Assim já a conheço. — disse sorrindo, tentando animar a filha. — O que acha?

— Só quero dormir, mãe! — disse aquilo na intenção de encontrar a namorada no outro plano.

Danásia ficou triste, mas tomou café com a filha, ajudou-a com alguns trabalhos da escola e a deixou descansar.

Exausta, Letícia se deitou na cama. Sabia que precisava se despedir de Briana e sabia também que aquilo era a coisa mais difícil de sua vida. Dormiu profundamente e encontrou a namorada sorrindo para recebê-la do outro lado.

Briana segurou-a pela mão e a impediu de chegar à árvore mágica, pois sabia que não poderia sair da fazenda sozinha.

— Por favor...

— Estou brincando com você. Se você não pode, não fazemos, ok? Vem cá... — Beijou-a com ternura e a abraçou com força, de olhos fechados, para senti-la o máximo possível.

Quando abriu os olhos, avistou Albano as observando e as trazendo para a realidade. O homem acenou e as duas se aproximaram da casa.

Depois de todas as explicações, mesmo chorando, as duas se separaram. Briana recebeu tratamento e apoio dos colegas e espíritos superiores. Errara, mas queria se redimir.

Letícia não teve a mesma sorte. Tomada por grande ilusão e ignorando todo tipo de ajuda, fez o que achava certo.

Briana estava aceitando sua vida sem ela quando ela apareceu na fazenda novamente. Sua silhueta estava densa, seu rosto exibia instabilidade.

Albano correu desesperadamente pelo campo quando viu um exército de criaturas inferiores seguindo a jovem encarnada. Afastou a filha de lá e criou uma barreira de luz para afastar aqueles seres indesejáveis. Muitos deles não aguentaram a intensidade da claridade e sumiram.

— O que está acontecendo, papai? — Briana gritou quando dois homens grandes seguraram Letícia pelos bíceps e a contiveram antes de se aproximar deles.

— Ela é uma criminosa. E será condenada a passar setenta anos presa no corpo que ela renegou. Ou passará o resto da vida nas zonas de sofrimento com os iguais a ela se conseguir de novo. — explicou um dos homens que seguravam a jovem, que apenas chorava, dando a entender que ela era reincidente naquele ato.

— Papai, me ajuda. Você não pode deixar isso acontecer. Por favor, por mim.

— Infelizmente eu não decido nada, Briana. Essa foi uma escolha dela. Ela não pensou em nada quando decidiu se tornar uma criminosa.

— Isso é verdade, Letícia? — Briana estava prestes a ter um ataque de pânico com aquela possibilidade.

Letícia baixou a cabeça incapaz de fitar aqueles olhos que tanto amava.

— Responde. Você escolheu isso? — gritou, mas não obteve uma resposta.

— Me perdoa! Eu só queria poder ficar com você completamente. E para sempre! Lá não faz nenhum sentido

— Eu achei que você me amasse... — Soluçou e foi tirada de lá pela mãe, que já não aguentava mais ver a filha sofrer tanto.

Foi por amor! — Letícia pensou sabendo que Briana ouviria.

Albano diminuiu a redoma de luz quando as criaturas se afastaram levando Letícia dali. No meio daquela confusão, o homem conseguiu ver dois seres de auras claras volitando ao lado da jovem que era levada pelos homens. O maior castigo de Letícia seria se lembrar do olhar de decepção de Briana. A jovem estava arrasada.

Tentou suicídio ao tomar todo o estoque do mês de medicamentos na intenção de ir ficar de vez com seu grande amor.

Danásia ficou desolada quando a filha tentou se matar. Não sabia a origem daquela depressão. Sempre fora presente, nunca deixou que nada faltasse à menina. Nenhum tratamento ajudava em sua recuperação. Então pararia de trabalhar fora para cuidar da filha. Ficar ainda mais perto dela.

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