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O Primeiro

Vinícius acordou atrasado e pulou da cama. Tomou um banho rápido e entrou numa roupa. Passou a mão sobre a mesa empurrando todos os objetos de cima dela dentro de sua bolsa, pegou os projetos e saiu correndo, finalizando o pedido de um carro por um aplicativo de celular.

Entrou no veículo e seguiu para o prédio onde trabalhava. Precisava apresentar aquele projeto ou perderia o emprego.

Ao se sentar no banco traseiro do carro, Vinicius suspirou profundamente, passou as mãos no rosto, sentia os olhos arderem, pois dormira muito pouco. Ainda estava abalado com o fim do conturbado relacionamento de dois anos que tivera. Nas últimas semanas aquela inconsistência em sua vida pessoal estava afetando seu trabalho, pois ele estava atrasando a entrega do maior projeto da empresa por não poder se concentrar para executar seu ofício.

Jogou uma nota de cinquenta para o motorista e saiu correndo do veículo para entrar no grande edifício onde já o esperavam havia mais de dez minutos.

Vinicius apresentou o projeto depois de se desculpar com os chefes. Os homens acreditaram na desculpa de que o funcionário havia passado mal na noite anterior devido ao seu rosto abatido.

Vinicius chorara a noite toda, mas ninguém saberia daquilo, pois decidiu dentre lágrimas, que jamais deixaria nada nem ninguém dominar sua vida daquela forma novamente. A relação abusiva era silenciosa de ambas as partes, pois quem visse de fora os achava o casal perfeito. Quando não se sentiam enclausurados dentro daquele mundo criado pelos dois.

O suspiro de alívio que Vinicius deu o fez encher os olhos ao receber os aplausos daqueles homens depois de sua belíssima apresentação. Apertou todas as mãos que o parabenizaram e ouviu elogios seguidos de promessas de uma promoção.

Os chefes deixaram a sala e ele arrumou tudo para sair para almoçar. Elise, a secretária, entrou sorrindo e o cumprimentou:

— Vi, lembra de mim? — indagou a morena, sorrindo, referindo-se ao amigo passar correndo e não falar com ela ao chegar na empresa.

— Desculpa, Elise. Eu estava muito atrasado mesmo. Como está? — Deu um beijo na cabeça da colega.

— Ótima. E você vai sair pra almoçar ou vai comer uma bobagem qualquer por aqui?

— Eu vou sair. Não como nada desde ontem, nem bobagem. — Fechou a bolsa e saiu da sala junto com a colega, que o conduziu involuntariamente ao restaurante mais próximo.

Elise era amiga de Vinicius desde a adolescência, indicou os serviços dele naquela empresa há cinco anos e ambos trabalhavam juntos desde então.

Foram conduzidos a uma mesa e enquanto esperavam seus pedidos, Elise quis saber:

— Como está? Digo, por dentro, porque por fora está visível até para os habitantes do Camboja que você está péssimo.

— Estou com um misto de sensações. Chorei muito noite passada, mas eu queria lavar tudo, sabe? Eu terminei o projeto quase quatro da manhã, depois de gritar e botar pra fora o que estava engasgado. Levei uma multa também... acabei de receber o e-mail do síndico.

Ela riu e meneou a cabeça:

— Você foi multado por sofrer? Você já perdeu a sua carteira de motorista, Vinicius, não seja expulso do prédio — disse, rindo.

— Fui multado por sofrer, mas ao abrir os olhos hoje eu era outra pessoa. Eu sou um novo homem.

— Eu fico feliz em ouvir isso, Vi! Muito. Quando quiser conversar me chama para tomarmos um vinho na varanda do seu apartamento. — sugeriu analisando o amigo ao notar que ele estava tentando parecer forte e evitando falar do ocorrido.

— Pode ser no fim de semana. Essa semana eu quero produzir. Já perdi muito tempo.

— Ok, mas saiba que se fingir de forte pode até te fazer bem, mas fugir do assunto que o levou a isso é escalar uma montanha de cartas.

Vinicius coçou a cabeça evitando os olhos da amiga e viu o garçom se aproximar com os pedidos deles.

Conversaram sobre assuntos aleatórios enquanto comiam. Elise falou do namorado atual, contou o quão grudento ele era. Comentou que se surpreendeu quando começaram a namorar, pois ele não parecia ser daquele jeito e que já começava a pensar em mandar andar. Vinicius deu boas risadas ouvindo as histórias da seca amiga.

— Amo te ver assim, com os olhos cheios de rir. Por isso você vai pagar o almoço. Eu vou ao banheiro, pois já estou atrasada.

— Justo. — concordou e pediu a conta vendo a amiga pegar sua bolsa e se dirigir ao cômodo.

Pagou tudo e resolveu esperar Elise do lado de fora do local enquanto respondia mensagens. Levou um esbarrão de um homem que estava na mesma situação que ele: escrevendo mensagens no celular distraidamente.

— Opa, irmão! Desculpa. — pediu o homem e fitou os olhos dele. — Vinicius?

— Murilo! — Engoliu saliva e guardou o celular no bolso, olhou na direção do restaurante suplicando que a amiga saísse logo. — Tudo bem, cara? — indagou sentindo leve pressão na garganta.

— Sim. E você? Trabalha aqui perto?

— Sim. Na Zeta Engenharia.

— Bacana. — Calou-se e fixou os olhos nos do interlocutor a sua frente.

— E você? Mora por aqui? Trabalha por perto? — Vinicius quebrou o silêncio interessado na vida do outro.

— Eu vim trazer a minha mãe para uma consulta e vim almoçar. Você está saindo ou chegando?

— Saindo. É... sua mãe está bem?

— Sim. Rotina. — Outro momento de silêncio. — Você não mudou nada...

— Você que pensa, cara. Eu mudei muito, não sou mais aquele moleque sonhador e deslumbrado de dez anos atrás.

Murilo olhou para o chão e para além do rosto de Vinicius e depois o encarou.

— Desculpa.

— Não. Não estou falando isso para que se sinta culpado. Só comentando que mudei. Você era muito novo, não conseguia viver sem a ajuda dos seus pais e blá, eu sei dessa história como se tivesse acontecido ontem.

— Eu me casei com a Ana Maria.

— Legal. — falou e pressionou a mandíbula no maxilar se lembrando de Ana Maria, a patricinha que ameaçou contar sobre o relacionamento dos dois para os pais de Murilo.

— Foi a pior coisa que eu fiz na minha vida. — confessou por entre os dentes e chamou a atenção do ex.

— Ela é mesmo chata como falavam? — perguntou em tom de brincadeira não levando a sério aquele assunto mesmo sentindo o coração acelerado e notando que ainda guardava mágoas do ex.

— Não estou falando só disso, Vinicius. Mas me fala de você.

— Estou bem. Me casei também, separei. Casei de novo. Eu não me privo de nada, você sabe. Mas sofri muito naquela época. Nunca nos falamos e não acho que devamos falar, mas gostaria de poder conversar com você depois. Sem pressa. Se quiser, claro.

— Claro. — A rapidez com que a resposta de Murilo saiu foi como uma injeção de ânimo em Vinicius. — Eu gostaria muito. Vamos marcar.

— Pode ser hoje no meu apartamento. Me dá teu número e te mando a localização.

Murilo pegou o celular e entregou o aparelho a Vinicius, que anotou seu número e entregou o objeto ao ex.

— Então, hoje não vai dar, cara. Mas vamos ver outro dia.

— Claro. — falou, frustrado, e sentiu seu celular vibrar no bolso. — Tudo bem, eu preciso ir. — Deu dois passos e passou por ele.

— Vinicius! — Fez o ex parar para ouvi-lo. — É sério, cara. Eu não posso hoje porque a babá da minha filha está doente e não tenho com quem deixá-la.

— Você pode levar ela. — Desafiou com um sorriso irônico no rosto.

— Ok. Me manda a localização e horário que estarei lá.

Elise chegou perto dos dois e envolveu o amigo com o braço pelo ombro.

— Vamos, Vi. — Notou o ex do amigo ali. — Oi... Murilo?

— Vocês estão juntos?

— Sim. Trabalhamos aqui perto. — Vinicius respondeu.

— Oi, Elise. Tudo bem?

— Ótima, Murilo. Aparece.

— Até mais, Murilo. Estamos atrasados mesmo.

— Até. — Murilo falou quase para si e acenou para os dois se distanciando e entrou no restaurante.

Murilo estava com vinte e oito anos de idade. Cuidava da empresa da família desde que se formara na faculdade para onde foi logo que fez dezessete anos ao terminar o ensino e abandonar o grande amor de sua vida no interior do estado: Vinicius.

Os dois se conheceram aos quatorze anos, quando Vinicius foi morar perto da casa de Murilo com a família. Tornaram-se amigos e logo notaram que sentiam algo muito além do que só amizade. O primeiro beijo de ambos foi um no outro. Ficaram apavorados com o que estavam sentindo, mas a força do amor que nascera entre eles era tão intensa que descobriram que era amor apenas experimentando. Tiveram sua iniciação sexual juntos e escondidos, pois o pai de Murilo era extremamente machista e homofóbico. Bradava para quem quisesse ouvir que preferia filho bandido ou morto a gay.

Vinicius e Murilo ficaram juntos por três anos, numa relação que, apesar de escondida, era intensa e cheia de um sentimento puro. Os dois eram apaixonados, mas amar Vinicius não era suficiente para Murilo enfrentar a própria família. O jovem terminou o relacionamento deles quando terminou o primeiro semestre do curso de administração de empresas, imposto pelo pai.

— Não faz isso comigo, Murilo, por favor. Eu amo você. — suplicou, com a voz embargada, anunciando o pranto iminente.

— Não dá mais, Vinicius! Desculpa. Eu não vou conseguir namorar à distância.

— Você é um covarde, Murilo. Não estamos namorando à distância. Você está arrumando desculpa para terminar. — ralhou em lágrimas.

— Não posso ficar contra o meu pai e ele está me pressionando para parar de vir aqui. Me perdoa. Eu também amo você, mas não vou pedir que me espere...

— E nem eu faria isso. Vai embora, Murilo. Não precisa me procurar nunca mais.

— Eu não consigo me manter sozinho, ainda. Procura entender isso.

— Eu entendo, Murilo. Vai embora, cara. Por favor.

O jovem deixou a casa do amado completamente devastado. Naquele dia bebeu demais e voltou para casa com Ana Maria, para a felicidade de seu pai, que fazia muito gosto naquele relacionamento inexistente.

Murilo sofreu pelo ex-namorado por dois anos. Sabia que precisava entregar um diploma para o pai, por isso tinha que concluir o curso na faculdade. Não sabia o que queria de verdade, mas com certeza não era nada aquilo.

— Eu quero ser arquiteto! — confessara Vinicius, olhando para o horizonte quando falaram sobre futuro. — E você?

— Ainda não sei. Mas acho que o meu pai vai querer que eu faça economia ou algo que eu possa seguir cuidando das empresas dele. — falou, sem ânimo.

— Você vai deixar o seu pai decidir o seu futuro?

— Não tenho muita escolha, Vinicius.

— Você é medroso. Só isso. Escolha sempre tem.

— Para você é muito fácil. Tua família te aceita, cara. Teus pais me recebem muito bem aqui, mas se você for à minha casa, com certeza, será ignorado ou expulso e isso me deixa muito triste. Infelizmente é a minha vida.

— Minha família me ama, mas se fosse contra minha sexualidade, eu só sairia de casa e iria viver a minha vida.

— É muito fácil falar, cara.

— É verdade. Você tem grana e não quer ficar sem isso. Sem a boa vida. Na minha casa é matar um leão por dia, então é fácil decidir entre o dinheiro e a própria vida.

— Você é muito irônico, sabia? Mas eu te amo tanto que não quero nem pensar em ficar sem você. — declarou e puxou o namorado para um beijo apaixonado.

Depois de um relacionamento morno e forçado por parte de Ana Maria, Murilo aceitou se casar com ela deixando o pai eufórico.

— Tanto faz. — Era a resposta dele para tudo o que ela falava sobre a festa de casamento. E depois sobre o destino da lua-de-mel e nos anos seguintes, sobre qualquer assunto.

Questionava-se com frequência os motivos pelos quais não seguiu com a própria vida sem o aval do pai, pois virara um fantoche nas mãos dele e da esposa, que o infernizava o tempo todo, jogava na cara dele que Vinicius não era fraco como ele e que com certeza já estava com outro enquanto ele vivia chorando pelos cantos.

Ana Maria o fez se livrar de seus videogames, suas coleções de action figures, jogos antigos, camisetas de times — ele não torcia para um time específico, mas gostava das camisetas oficiais.

— Você não é mais criança, Murilo. Acorda! — ralhou no auge de seus quatro meses de gravidez. — Cresce.

No segundo ano de casamento dos dois, Murilo saía do trabalho na empresa do pai e ia para bares com amigos e sempre acabava na cama de algum desconhecido. Voltava para casa sempre com desculpas convincentes para a esposa.

— Fechei um ótimo negócio. Estou morto de cansado. — E dormia profundamente.

Murilo terminou de almoçar e verificou as horas no relógio de pulso. Apressou-se para buscar a mãe. Falou com a filha enquanto se dirigia à clínica. Entrou no prédio pensando em Vinicius e junto com aquele pensamento, chegou a localização do apartamento do ex, com o número vinte logo abaixo.

O administrador estava radiante, pois sabia que aquela alegria excessiva tinha a ver com aquela mensagem. O arquiteto estava mais bonito, mais maduro. Mesmo ostentando olheiras que ele desconhecia, era inegável sua beleza que se aprimorou ao longo dos anos. Seu sentimento adormecido acordava disposto e destemido, mesmo sem saber quase nada da vida do outro.

Eveline estava falando ao celular quando avistou o filho chegar.

— Almoçou direitinho, filho?

— Almocei. — disse um tanto ofegante, pois subira de escada.

Sorrindo, ele pegou a bolsa da mãe e a conduziu ao elevador.

— O que houve, filho? — Eveline perguntou olhando-o de lado. — Parece que viu um passarinho verde.

— Posso ter visto mesmo, mamãe.

Deixou a mãe em casa e foi embora.

Vinicius se afastou de Murilo completamente trêmulo praticamente sendo guiado pela amiga.

— Que é isso, Vinicius? Que amor é esse? Ainda assim, depois de tanto tempo? Não vai morrer agora, por favor. — pediu, rindo.

— Elise, eu quase infartei. Para de brincar.

— Desculpa. Mas conta, o que conversaram?

Vinicius contou tudo enquanto tomava um copo d'água e recebeu as expressões do rosto da amiga.

— Eita, então hoje vocês lavam roupa?

— Claro que não, Elise. Ele já arrumou desculpas para não ir. E depois eu vou produzir, lembra? Eu apenas o desafiei e com certeza não ele não vai. Mas não estou preocupado com isso, mas sim com isso. — Colocou a mão da amiga sobre seu peito. — Ele não quieta mais.

— Awn! Que coisa linda. Quero isso. Ou não. Acho que não é pra mim, mas que lindinho, Vi. Você ainda o ama, isso é fato.

Mesmo convicto de que Murilo não iria ao seu apartamento, Vinicius trabalhou o resto do dia completamente apreensivo e ansioso.

Chegou em casa e precisou arrumar tudo, pois estava depressiva, como ele mesmo a intitulou. Fez um lanche e foi trabalhar. Precisava finalizar uma maquete que ele se dispôs a fazer.

As vinte em ponto a campainha tocou. Ele passou as mãos no rosto, pois se distraiu colocando as peças sobre a base.

Quase enfartou mesmo quando abriu a porta e deu de cara com Murilo e uma menininha portando uma mochila rosa.

— Oi...

Vinicius engoliu saliva, surpreso, pois jamais imaginou de fato que ele fosse.

— Ah... oi. Entra... eu vou colocar uma roupa. — explicou, pois usava apenas uma cueca samba-canção e camiseta básica.

Os dois entraram e Vinicius sumiu por um corredor, voltando poucos segundos depois ajeitando o cordão de calça de moletom.

— Desculpa. Eu me distraí com o trabalho.

Cumprimentou o ex e se agachou para falar com a filha dele.

— Oi, princesa...

— Essa é a Maya. Esse é o Vinicius, filha.

Os dois se cumprimentaram. Maya era muito simpática e sorridente.

— Você é linda demais, Maya.

— Obrigada.

— Quanto anos você tem?

— Cinco.

— Quase seis, né filha? — Murilo comentou e fitou os olhos de Vinicius, que se levantou.

— Vocês bebem alguma coisa? Quer dizer... — passou as mãos nos cabelos.

Murilo tocou no ombro dele.

— Vinicius, relaxa. Eu sei que você não acreditava que eu viesse, mas estou aqui. Fica tranquilo. Podemos fazer algo para comer e para beber. Ou pedimos alguma coisa.

Vinicius suspirou profundamente assimilando a situação toda.

— Cadê a Elise?

— Só vou encontrar com ela no fim de semana. Não... esperava ninguém até lá. Enfim, desculpa. Eu tenho comida para fazer, mas...

— Eu faço. Será um prazer.

— Você vai gostar da comida do meu pai, tio. Eu sempre falo que ele tem que abrir um restaurante. — Maya interrompeu e colocou a própria mochila no sofá. Pegou o controle remoto da TV e a ligou, rapidamente chegou ao YouTube e ficou alheia aos dois que apenas a observavam.

— Minha mãe a chama de espaçosa. — Murilo entregou e olhou em volta.

Ainda sem ação, Vinicius apenas apontou o corredor e os dois seguiram para a cozinha.

— Com licença. — pediu e foi à geladeira abrindo-a para verificar o que tinha lá.

Colocou algumas coisas sobre uma bancada de mármore.

— Vou fazer esse camarão, ok?

— Tudo bem. Fica à vontade. Precisa que eu faça alguma coisa?

— Corta cebolas e tomate. Vou fazer um macarrão.

Vinicius pegou tudo e ficou cortando no lado oposto da bancada.

— Eu amo cozinhar. Como era de se esperar, meu pai vivia dizendo que isso não era coisa de homem.

— Você ainda mora com eles?

— Não. Depois que me casei, saí de casa, mesmo Ana Maria querendo ficar lá para fugir da responsabilidade, eu fiz questão. Era uma espécie de libertação. — Colocou água em uma panela e ligou o fogo.

— E foi?

— Não.

— E onde sua esposa está?

— Eu me separei da Ana Maria quando a Maya fez três anos. Já não éramos mais um casal. Na verdade, nunca fomos, mas tanto fazia.

— Se libertou?

— Sim, em partes sim. Ela foi embora deixando a Maya comigo. Não quis levar a menina, falou que ia atrapalhar a vida dela e eu não me impus. Cuidei da minha filha, acompanhei tudo dela e quero continuar acompanhando, sabe? — contou fazendo uma mistura de temperos em uma pequena tigela depois de cheirar todos.

— O que seus pais disseram quando você se separou?

— Meu pai morreu poucas semanas antes da nossa decisão. Eu conversei com a minha mãe e recebi o apoio dela para cuidar da Maya, pois a Ana Maria já havia deixado claro que se eu achava que ficaria livre para ficar com qualquer homem já que eu estava querendo me separar para isso, eu estava enganado, pois eu teria que cuidar da nossa filha.

— Que egoísta! E como ficou a relação das duas depois disso?

— Abaladíssima. Elas mal se veem. Maya não faz a mínima questão de ficar com a mãe. Eu tento dar muito amor, carinho e atenção a ela para que não sinta tanta a falta dela. — Colocou o macarrão na água já fervendo e diminuiu o fogo. Em outra panela, começou a fazer o molho de camarão.

O coração inquieto de Vinicius estava prestes a pular para fora do peito.

— Eu saía com alguns caras, mas nunca foi nada sério. Era só sexo mesmo, mas depois da separação eu parei. Não por causa da Maya, mas por mim. Eu estava finalmente livre, sabe? Eu não precisava mais sair e transar com alguém só para mostrar algo para mim.

— Depois que se separou não teve mais ninguém.

— Até tentei um relacionamento com um conhecido, mas não tinha nada a ver comigo. Me dediquei a cuidar da minha filha e apoiar a minha mãe, que ficou abalada com a morte do meu pai. Te reencontrar foi como acordar o Murilo feliz que dormia dentro de mim. — confessou e pegou a faca e os vegetais das mãos do anfitrião. Finalizou rapidamente e colocou na panela para refogar, fazendo sair aquele delicioso cheiro característico.

— Eu me separei, de fato, há dois dias. Falo desse modo porque essa foi a terceira tentativa. E última.

— Alguém pode chegar a qualquer momento?

— Não. Fica tranquilo. Foi ótimo e péssimo ao mesmo tempo, mas já foi. Colocamos um ponto final definitivo.

— Eu achei que você fosse casado com a Elise.

Vinicius riu de súbito. Foi ao armário pegou duas taças e colocou sobre a bancada.

— Aceita um vinho ou está dirigindo?

— Aceito. — assentiu e se virou para a panela.

— A Elise é minha amiga desde àquela época. — garantiu e abriu a geladeira retirando uma garrafa de vinho em seguida. — Segurou minha onda quando você foi embora. Trabalhamos na mesma empresa porque ela me indicou. Antes eu fazia apenas freelas. São Paulo é enorme e cheia de oportunidades, mas infelizmente precisa de alguém para ajudar nessas horas.

Serviu as duas taças e entregou uma ao ex.

— E seus pais?

Tocaram suas taças sem dedicar a nada.

— Ficaram lá. Eu os visito sempre. — Tomou um grande gole da bebida. — Não querem morar aqui de jeito nenhum. Meu pai continua plantando seus orgânicos e vendendo por lá mesmo. Quando eu vou lá volto cheio de coisas que a minha mãe faz questão que eu traga. Eu amo.

Murilo levou a taça à boca e sugou o líquido.

— E essa pessoa recente?

— Ficamos juntos por pouco tempo, mas acabou, para o nosso bem. É uma ótima pessoa, mas precisávamos viver longe um do outro. Nos beijamos anteontem em um bar e ao chegarmos aqui brigamos por bobagem. Eu estava cansado e só pedi que fosse embora. Quero trabalhar e deixar para me relacionar de novo quando me sentir preparado para ter uma vida individual e, junto com alguém.

— Não entendi.

— O que desgasta os relacionamentos é isso, cara. As pessoas se casam, namoram e acham que o mundo sozinho acabou e não é assim. Não falo de desrespeito, mas de respeito no sentindo mais cru da palavra. Não é porque você se casou que vai parar de gostar de tal coisa. É natural gostar de ficar sozinho de vez em quando sem acharem estranho.

Murilo engoliu o resto de vinho de sua taça num gole só e olhou para o relógio.

— Acho que entendi. Inclui coisas pessoais também...

— Isso. — Serviu as taças novamente. — É normal fazermos as coisas juntos, é saudável, mas não é obrigação, sabe? Se um quiser viajar sozinho, não tem problema nenhum nisso. Respeito antes de tudo, sem quebra de acordos. O Beto era assim e me ensinou a ser assim, o nosso problema foi o método.

Murilo franziu as sobrancelhas e mexeu a panela de molho. Não sabia se perguntava sobre o tal método, apesar da curiosidade.

— Éramos os dois muito metódicos e fomos soltando as nossas mãos, esquecendo dos acordos que tínhamos. E resultou na quebra por ele e depois por mim.

— Então o individualismo foi ruim pra vocês?

— Não, não fomos assim sempre. Passamos a ser depois da primeira quebra dele.

— Essa quebra de acordo você se refere a que, exatamente?

— Traição. Tínhamos uma relação monogâmica, então tínhamos um acordo, certo?

Murilo assentiu com a cabeça e serviu o jantar numa travessa sobre a mesa com quatro lugares no outro lado da bancada.

— Depois dessa quebra, vocês abriram o relacionamento? — indagou e digitou algo no celular.

— Não. Ele alegou que havia vacilado por estar se sentindo sufocado e conversamos por horas, choramos muito, pois eu queria que ele fosse embora, mas também queria que ficasse, pois me senti culpado.

— Culpado por ser traído?

— Pois é. Loucura, né? Enfim... melhoramos muito como casal, mas ele quebrou de novo e acabamos de vez. Ele se mudou, tivemos recaídas e estou aqui te contando como se fôssemos grandes amigos. — concluiu num riso contido ao ver Maya entrar.

A menina sorria ao sentar-se à mesa. Murilo serviu a filha e esperou que Vinicius provasse.

O arquiteto gemeu se deleitando com o sabor.

— Meu Deus, que maravilhoso!

— Eu falei. — Maya disse, sorrindo, já devorando o conteúdo de seu prato.

Murilo ficou feliz ao vê-lo repetir três vezes sempre explanando seu prazer nas expressões.

— Maravilhoso!

— E então pode ou não montar um restaurante? — questionou Maya esperando apoio do amigo do pai.

— Seria um restaurante só com macarrão ao molho de camarão? — Vinicius perguntou para a menina, ignorando a presença de Murilo à mesa.

— Não. Você precisa cozinhar de novo pra ele, papai. Ele não acredita em você.

— É verdade, filha. — Fitou os olhos do ex. — Mas ele tem razão em duvidar, afinal é o primeiro prato meu que prova.

— Três.

— Três o quê? — perguntou Murilo.

— Preciso provar três para me certificar que pode abrir mesmo um restaurante e deixar aberto por muitas gerações.

Murilo sorriu, pois aquilo nunca passou por sua cabeça. Mas aquele convite velado o encheu de uma felicidade, que sentira na adolescência quando namorava aquele homem.

— Filha, dente.

— Tá bom. Onde é o banheiro, tio Vinicius?

— Primeira porta a esquerda. Tem toalha no armário ao lado da pia. — avisou, recolhendo a louça da mesa.

— Ela é muito inteligente e independente. — Murilo comentou quando a filha deixou a sala de jantar. — Quando fizer sete anos vou botar para cozinhar. Por enquanto só me ajuda e lava louça que não quebra. Quando fizer dezoito se quiser morar sozinha, terá meu apoio e vai saber se virar sem comer bobagem nem deixar a casa imunda.

Vinicius limpou a mesa e chegou à pia, pegou um avental num armário e teve o objeto retirado de suas mãos pelo administrador.

— Eu vou lavar, já que você cozinhou.

— Não precisa. Eu gosto.

— O quê? — perguntou num quase grito de olhos arregalados. — Quem gosta de lavar louça?

— Eu. — Sorriu. — Amo fazer serviços de casa, uso diarista por falta de tempo mesmo, mas me relaxa. — Lavou a esponja e a deixou cheia de espuma para usar na louça.

— Casa comigo? — Vinicius bradou, em êxtase, com as duas mãos na cabeça.

Murilo olhou nos olhos dele e, sério, respondeu:

— Caso!

O segundo de silêncio de olho no olho serviu apenas para que o coração inquieto de Vinicius começasse a pular e surrar seu peito. Murilo o pegou pela nuca e o beijou com força.

O arquiteto sentiu a pia em suas nádegas enquanto correspondia àquele beijo nostálgico, acordando todos os sentimentos adormecidos por tantos anos. Depois do ósculo apaixonado, Vinicius falou ainda na boca do amado:

— A Maya pode voltar.

— Ela sabe. Conversei com ela antes de sair de casa. Mas você tem razão, ela não precisa nos ver assim hoje. — Afastou-se e lavou a louça.

Vinicius engoliu saliva, coçou a nuca e a sentiu molhada, naquele momento se lembrou que a mão de Murilo estava cheia de espuma quando o puxou. Sorriu e começou a secar os objetos que recebia das dele. Quando finalizaram, foram à sala e Maya estava dormindo.

— Se quiser colocá-la na cama — sugeriu.

Murilo levou a filha ao quarto de Vinicius e arrumou suas coisas na mochila. Voltou à sala e passava clipes do YouTube na TV. Havia outra garrafa de vinho na mesinha de centro e duas taças servidas. Vinicius digitava no celular, em pé perto da varanda. Sentiu a mão grande e forte de Murilo em seu ombro e costas, guardou o aparelho e se virou, recebendo-o com um beijo tão apaixonado quanto o anterior.

Vinicius se afastou quando sentiu a excitação de Murilo competindo com a sua. Jamais faria nada com Maya a poucos metros deles e presumia que Murilo também não, mas o desejo crescia a centímetro de aproximação dos dois.

— Vinho?

O administrador recebeu a taça e repetiu o gesto do amado, sentando-se no tapete.

— Aquela história de restaurante é séria mesmo? — Puxou um assunto para recuperar o fôlego perdido momentos antes.

— Claro que não. Maya que brinca com isso.

— Se eu aprovar os três pratos que me propus a provar, eu acredito que seja um sucesso. Apesar de achar que já poderia abrir mesmo só com o macarrão ao molho de camarão.

Murilo riu e bebeu um grande gole do vinho.

— Eu nunca sonhei com isso.

— Você precisa se permitir sonhar, Murilo. — proferiu e virou sua taça na boca, servindo-a novamente junto com a do amado. — Os sonhos são nosso combustível para lutar por algo. Se quer cozinhar dessa forma, sonhe com isso e busque realizar. Nada te impede. — Colocou a garrafa já vazia ao lado de uma poltrona.

Naquele momento, Murilo passou a cogitar aquela possibilidade. Aproximou-se e beijou Vinicius novamente.

E de novo, Vinicius se conteve, pois involuntariamente tocou no sexo de Murilo. Levantou-se e foi buscar mais vinho na cozinha. Foi seguido pelo administrador.

Iniciaram um beijo quente demais encostados na bancada de mármore. Murilo apertou as nádegas de Vinicius, sem parar o beijo, sentindo sua excitação e movimentando o quadril. Vinicius explorava aquele corpo com força, como se quisesse se fundir a ele e arrancar pedaços sem desgrudar as bocas.

O arquiteto sentiu os dedos do ex segurando seus cabelos com força enquanto o beijava. Ouviu um gemido rouco sair de sua boca. Apertou-o em si, pois notou que ele havia chegado ao orgasmo ali mesmo, de jeans. Ambos ofegavam, mas Murilo estava em êxtase. Seu coração era ouvido pelos dois. Fitou os olhos do amado ali, colado em seu corpo ainda estremecendo de prazer.

— Eu ainda te amo, Vinicius! — sussurrou.

Vinicius ofegava vendo os olhos dele brilharem de uma emoção impossível de fingir.

— Eu... — gaguejou.

— Não precisa dizer nada. Foi tudo muito rápido, eu entendo que...

— Eu também te amo!

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