Nix
Lorena trabalhava em um café, dentro de uma escola de música no centro da cidade. Adorava os sons que saíam das salas. Adorava também uma aluna, que fazia aula de guitarra lá, sempre passava atrasada no café pedia um biscoito de queijo e um café sem açúcar e entrava correndo na sala. Lorena não sabia seu nome, nem onde morava, só sabia das aulas de guitarra porque ela entrava todo dia com o case do instrumento e a vira ensaiando, por uma fresta da porta, certa vez.
A aluna vivia trocando a cor do cabelo curto e naquela manhã ele estava azul. Chegou ao café, pediu o de sempre e entrou correndo. A operadora de caixa olhou para Lorena e sorriu.
— A Biscoito de Queijo sempre correndo, acho que até pra dormir ela tem pressa!
— Boba! — Lorena disse, rindo, ao se lembrar que a colega colocara aquele apelido na musicista porque ela fazia aquele ritual todo santo dia, e Lorena não sabia seu nome, nem nada a seu respeito além de saber que era aluna dali. Suspirava pela musicista, desde que começou a trabalhar naquele café três meses antes.
— Você é boba, eu já teria perguntado.
— Com que cara eu vou chegar e perguntar qual é o nome dela? Você é atirada demais, Edna, não consigo. Se ela achar horrível e me der o maior fora do mundo?
— Vai ser melhor que ficar assim amando de longe e só vendo por sessenta segundos, porque os encontros de vocês sempre foram assim...
— E se ela me disser seu nome e começar uma amizade comigo?
— Pra tudo tem jeito, Lorena.
Duas horas depois, Lorena fitava a porta e como a moça não saiu ela pegava uma vassoura e foi limpar perto da saída. Foi usando essa tática que a viu ensaiando sozinha no palco da escola vazia.
Edna sempre observava a colega, sorria quando a musicista saía e Lorena suspirava com um sorriso no rosto.
— Acho que esse é o amor mais puro que existe porque você não sabe nada dela e ainda fica com esse brilho nos olhos. Ela paga o lanche com dinheiro, parece que é flanelinha, só paga com moedas. — Edna brincou, arrancando uma risada de Lorena. — Se não fosse isso daria para saber o nome pelo cartão.
O estabelecimento era pequeno, no balcão ficava apenas Lorena. Tinha duas cozinheiras que ficavam na cozinha, entregavam os pedidos por uma janela e eram pegos por Lorena que disponibilizava no balcão e quem pediu buscava depois de escutar a senha gritada por ela; operadores de caixa havia dois, Edna ficava de seis às quinze horas e de quinze a meia-noite Plínio, dono do local assumia o posto. Plínio ajudava no atendimento também quando precisava.
Lorena atendia no balcão e cuidava da limpeza do lugar, com exceção dos banheiros, pois faziam parte da administração da escola.
Plínio chegou e chamou Lorena para passar umas tarefas extras.
— Você pode ir ao banco comigo na hora do seu almoço? Eu te libero mais cedo se quiser ou pago a hora extra. O Rafael fica no seu lugar aqui até voltarmos de lá. Se recusou a ir comigo, então vai ficar atendendo aqui.
— Claro que posso, seu Plínio.
— Ok, eu preciso sacar um dinheiro com meu gerente e como já peguei dinheiro essa semana, não vou poder sacar tudo então vou fazer um cheque pra você e você vai descontar. Está com seus documentos certinhos aí?
— Sim, senhor, estão no meu armário. Em meia hora eu saio para o meu almoço.
— Ah, sim, claro. Eu vou buscar umas coisas lá em cima e já desço e vamos lá. — avisou e subiu a escada em espiral que havia ao lado dos caixas.
— Será que seu Plínio tá metido com coisa errada e não quer que a família saiba? — indagou Edna, num sussurro, desconfiada.
— Sei lá... — Lorena deu de ombros e viu Rafael, filho de Plínio, entrar. Avisou à amiga com os olhos.
Trinta minutos depois os dois foram ao banco, Lorena ficou na fila com uma senha e Plínio foi conversar com o gerente. Havia sete pessoas para serem atendidas antes dela. Quando estava faltando apenas duas pessoas para chegar sua vez, a morena viu um homem sair da ala dos caixas com uma sacola preta, pesada e entregar a Plínio, que sorrindo apertou a mão dele.
O número da senha de Lorena foi chamado e ela sacou o dinheiro. Saiu do caixa e passou o olhar pelo local, não viu Plínio. Guardou o dinheiro dentro de sua bolsa — uma tiracolo simples — e foi até a vitrine do banco, viu o patrão no outro lado da rua, falando ao celular.
Passou pela porta giratória e ficou esperando o sinal fechar para que pudesse atravessar a rua. Ouviu as vozes de alguns vendedores ambulantes oferecendo seus produtos. Recusou, sorrindo, seguido de um "obrigada" um que lhe abordara diretamente. O sinal fechou e ela se preparou para atravessar a rua, viu 'Biscoito de Queijo' também falando ao celular e sendo assaltada logo depois na esquina oposta de onde ela chegaria, o ladrãozinho, que parecia pré-adolescente, levou a bolsa e o celular dela, fazendo-a gritar, desesperada.
Plínio acenou para avisar onde estava a Lorena e ela pensou por dois segundos no que faria naquele momento, pois viu para onde o pivete correu.
Lorena olhou para Plínio e correu, atravessou a rua em disparada e alcançou o moleque que tentou entrar em uma loja para despistar a dona dos objetos roubados.
Plínio arregalou os olhos e correu por entre os carros também, temendo que Lorena fugisse com seu dinheiro, parou quando a viu derrubar o menino puxando-o o pela roupa.
Ele puxou a funcionaria pelo ombro e disse ofegante, cheio de raiva:
— Está louca? Queria fugir com o meu dinheiro, é isso mesmo?
— Claro que não, seu Plínio. — avisou e entregou a bolsa da guitarrista a ela, que chegava também ofegando, causando um tumulto dentro da loja e dando espaço para o assaltante fugir.
— Não apareça mais na minha empresa, sua louca. Quase me matou de susto. — proferiu, ofegando, saindo do local.
— Seu Plínio, por favor, jamais quis roubar o senhor. Eu preciso desse emprego. — suplicou, quase chorando, seguindo o chefe.
Plínio chegou ao seu carro com Lorena atrás implorando por nova chance.
— Pelo amor de Deus, seu Plínio, eu só vi a moça sendo assaltada.
— Aí, Plínio, ela só quis me ajudar, cara, eu sou cliente do teu café. — explicou a voz atrás de Lorena, que se virou e viu a musicista ao seu lado.
— Nunca te vi lá, está com ela nisso?
— Nisso o quê? Ficou louco? Eu sempre passo lá todo dia. Ela só quis ajudar, acho que quis ajudar o senhor também.
O celular de Plínio tocou e ele respirou fundo, pareceu aborrecido, mas atendeu:
— Estou indo! — Desligou, olhou para Lorena e para a guitarrista. — Tudo bem, desculpa, eu me precipitei. Tenho prazo para pagar um negócio e fiquei com medo. Você vai precisar voltar de ônibus, Lorena. Eu tenho que resolver um assunto importante agora. — avisou e entrou em seu carro, saindo em seguida.
Lorena respirou fundo e passou as mãos no rosto suado, olhou nos olhos da menina ao seu lado e notou que ela sorria.
— Que foi?
— Obrigada, você foi melhor que qualquer herói dos quadrinhos. — brincou ao ver uma tatuagem na parte interna do bíceps de Lorena fazendo menção à Mulher-Maravilha. — Nix! — estendeu a mão se apresentando.
— Lorena!
— É, eu sei. Vi no seu crachá. Já almoçou, Lorena?
— Não. — Olhou o relógio no pulso. — Tenho quarenta minutos para voltar para o café.
— Vamos almoçar, então. Eu levo você ao café, é o mínimo que eu posso fazer depois de quase ter salvado a minha vida, né? Vou só levar isso para o meu gerente. — avisou e entrou no banco, saindo depois de cinco minutos.
Foram a um restaurante perto do café, Nix comentou que gostava da comida de lá. Lorena também gostou, fazia tempo que não comia arroz e feijão; ultimamente comprava um lanche no café mesmo e comia numa pracinha que tinha em frente à escola.
— Você estuda, Lorena?
— Não. Eu precisei parar... — disse, reticente, não devia contar por que parou de estudar. Na verdade, não devia falar muito sobre sua vida, não podia.
— Que pena! Você estudava o quê?
— Ciências da computação. Eu queria ser programadora de jogos... — respondeu com um fio de tristeza.
— Lorena, você ficou triste, posso saber por quê? Por que precisou parar de estudar?
— Ah... — olhou em volta e olhou para o relógio. — É que era meu sonho e não pude concluir. Estou com 25 anos e... enfim, eu preciso ir. — disse, levantando-se. — Adorei almoçar com você, Nix. Adorei saber o seu nome, eu sabia que tinha a ver com algo muito forte, mas nunca tive coragem de perguntar — sorriu —, nem tempo. Obrigada.
Nix franziu o cenho, com um sorriso perdido.
— Eu que agradeço, Lorena. A gente se fala?
— Acho que não, né? A não ser que você resolva ser assaltada e eu esteja por perto. — brincou e Nix sorriu de súbito.
— Eu conheço um barzinho legal por aqui. Posso passar no café no final do seu expediente e conversamos mais. O que acha?
— Não posso. Obrigada mesmo, eu vou indo. Como você só passa correndo no café, até lá então. — saiu e atravessou a rua. Sentia um enorme nó na garganta. Edna estava em seu posto, acabara de voltar do almoço e viu a colega chegando, cabisbaixa.
— O que houve?
Rafael serviu o lanche de um cliente e acenou para Lorena, que entrou para guardar sua bolsa. Trocou de roupa e voltou ao trabalho. Quando Rafael saiu, Lorena olhou para Edna.
— Depois te conto. — avisou e começou a arrumar a bagunça que Rafael deixou. Hora de almoço o movimento de lá era bem calmo, pois não serviam refeições, então Lorena lavou a louça que havia na pia, serviu os poucos pedidos que havia lá e limpou o chão. Faltando poucos minutos para o final de seu expediente, Edna a abordou dentro do banheiro quando a atendente saía do chuveiro.
— O que aconteceu? Seu Plínio ligou aqui e xingou o Rafael todo porque ele ficou perguntando a que horas você voltaria. Ele disse que você ia voltar de ônibus... aí você me chega com aquela cara de quem comeu e estava ruim...
— Eu almocei com a Nix, ou Biscoito de Queijo como você diz.
— O quê? — indagou com os olhos arregalados. — Você não vai sair daqui sem me contar essa história direitinho, Lorena.
Lorena contou tudo o que aconteceu, deixando Edna de boca aberta.
— Seu Plínio, hein? Agora tenho mais certeza que está metido com coisa errada. — comentou e sorriu cutucando a colega. — E tu, hein? Nix parece nome de TV fechada, né?
Lorena riu e meneou a cabeça, pegou seu uniforme e colocou dentro de uma sacola e enfiou no armário, fechou o zíper de sua bolsa e se notou observada por Edna.
— Se eu soubesse que você ficaria tão triste assim por se aproximar da Biscoito, eu não teria torcido tanto por vocês...
— Tudo bem, Edna. Eu vou indo. — mencionou sair e se virou encarando a amiga novamente. — Ela me chamou para ir a um barzinho que tem aqui perto.
— Oh, minha amiga! Daqui a pouco você poderá fazer isso. — disse e deu um abraço na colega. — Vai lá senão você perde o ônibus. Até amanhã...
Lorena saiu, ainda muito triste, até chorou dentro do veículo, que uma hora depois parou no seu destino.
Nix acordou cedo, morava numa espécie de galpão no centro da cidade, havia algumas obras de arte moderna nas paredes, uma cama de casal no centro do enorme cômodo.
Ali funcionou um ateliê de arte de seu pai, um pintor, que morrera três anos antes, deixando o prédio pra ela. Nix alugou os demais imóveis com exceção da cobertura onde passou a morar e uma loja que ficava no térreo onde ela montou sua oficina de arte em madeira. Nix era escultora junto com a mãe, uma engenheira que também esculpia.
— Filha, você quer que eu contrate uma empresa para fazer as divisórias aqui, mando fazer com gesso, coloco um balcão aqui e faço uma cozinha americana pra você. Faço um quarto aqui e uma sala nessa parte. — Planejou tudo apontando os espaços.
— Não. Eu quero assim, mãe. Obrigada. E não vou vender nenhuma arte do papai, vou ficar com todas aqui... — avisou ao ver todas as telas empilhadas num canto empoeirado do local.
No dia que levou sua mãe ao local onde iria morar, Nix visualizou seu lar naquele lugar da forma que estava. Comprou os moveis, e instalou pias na cozinha e no banheiro. Montou sua 'banda' ao fundo; tocava alguns instrumentos e estava se aperfeiçoando em guitarra, pois queria gravar um solo com a Idílio, sua banda, formada com dois amigos e sua namorada, Brenda. Brenda era vocalista junto com Nix.
— Somos uma banda de YouTube, Nix, para de sonhar tanto. — repreendeu Brenda, quando Nix pegou uma grande quantia em dinheiro para comprar os instrumentos próprios.
— Brenda, eu estou apenas investindo, estamos com muitos acessos, daqui a pouco vamos fazer show com nossas próprias composições precisamos ter nossas coisas, o Deco tocava um contrabaixo emprestado...
— Deco que se virasse, Nix. Você gastou a maior grana com tudo isso.
Aquilo deixava Nix triste, mas não a abalava. Brenda dormia em sua casa uma vez por semana, pois a guitarrista não deixava passar disso, uma noite apenas.
— Por que não posso dormir aqui de novo, Nix?
— Porque eu não quero casar, Brenda. Não agora.
Brenda era geniosa e Nix tinha a personalidade muito forte e esse afastamento, mesmo que temporário, fazia bem para as duas, pois ainda estavam juntas por isso.
Apesar de todas as aversões as duas formavam um casal bonito, se gostavam.
Nix chegou em casa na noite daquele dia lembrando do susto que sofrera ao ser assaltada, mas sorriu ao se lembrar de Lorena.
— Misteriosa demais pro meu gosto. Gostei! — disse para si e sorriu. Olhou-se no espelho e resolveu mudar a cor do cabelo de novo.
LORENA estava distraída secando alguns copos enquanto ouvia uma musica suave que Edna colocara para tocar, quando Nix disse sorrindo quase se debruçando sobre o balcão:
— Oi, Lorena! Bom dia! — cumprimentou e notou o olhar de surpresa da atendente ao ver o seu cabelo rosa.
— Bom dia, Nix! Adorei o cabelo! Chegou cedo... O de sempre?
— Como não estou correndo, me surpreenda. — pediu e procurou uma mesa para esperar o café da manhã.
Lorena engoliu em seco, olhou para Edna e a colega sorriu dando de ombros. A atendente semicerrou os olhos e fez um pedido para a cozinheira.
Preparou um café especial e se aproximou da moça que mexia no celular.
— Com licença. — pediu e serviu a bebida, saindo em seguida.
Nix sorriu e fotografou o café. Provou e soltou um gemido.
— Meu Deus, que delícia!
Nix estava terminando de tomar o delicioso café quando Lorena chegou com uma omelete, muito elogiada pelos clientes.
— Se não gostar é por minha conta!
— Obrigada.
A morena chegou perto de Edna tremendo, a operadora sorriu e apertou o braço dela.
— Ela gosta de você!
— Não pira, Edna. Para com isso. Tô pé no chão. — disse num sussurro por entre os dentes e foi atender os clientes que chegaram.
Lorena ficava muito feliz toda vez que 'ganhava' um bom-dia de Nix, até que um dia a viu com Brenda quando saía do trabalho. Perdeu o horário do ônibus e foi atrás ao vê-lo dobrando a esquina, não pôde entrar no veículo, correu de volta ao café e pediu um vale a Plínio.
— Eu perdi o ônibus, seu Plínio!
— Ih, menina, espera. — disse e abriu a gaveta retirando dinheiro e entregando a ela.
Lorena pegou um táxi, em lágrimas. E decidiu não deixar mais seu sentimento por Nix atrapalhar sua vida.
No dia seguinte, Edna segurou a amiga quando ela estava saindo para almoçar.
— Oh, minha amiga, você vivia dizendo pra eu não pirar por achar que ela estava gostando de você e que você não estava iludida, de pé no chão.
— Edna, a gente começa a se iludir quando começa a amar, não tem jeito. Idealizamos, sonhamos, imaginamos tudo o que faríamos se fosse possível! Você não tem culpa de nada. Nem se eu pudesse ficar com ela, daria certo. Ela tem namorada. A menina é linda, pelo jeito se amam. Eu continuaria amando em silêncio da forma que estou. — disse e respirou fundo. — Vou comer alguma coisa. — avisou e saiu.
Lorena tomou um refrigerante e comeu um sanduíche enquanto observava a movimentação da praça. Cabeça cheia de lembranças, pensamentos que quase nunca a abandonavam. Como sempre fazia, resolveu deitar no banco de concreto, e colocou o casaco sobre os olhos tapando a luz do sol que atravessava as folhas das árvores.
Pensava em muitas coisas quando sentiu um beijo no rosto, um cheiro doce e ouviu uma risada; tirou o casaco e se sentou no banco. Sorriu, Nix estava ao seu lado.
— Vim te acordar mesmo, não me xingue. Tudo bem?
— Sim, eu não dormia. Você trabalha aqui perto?
— Eu moro ali... trabalho lá também... — disse e apontou o prédio antigo a poucos metros.
— Sério? Que legal.
— Sabe que eu cheguei a pensar que você gostasse de mim, tipo: gostasse mesmo. Mas você é tão fechada, fica tão triste quando chego perto que acho que eu estava enganada...
— Eu sou assim mesmo, Nix. Mas você está muito certa. — disse e sorriu tentando disfarçar, pois sentiu seu rosto arder. Levantou-se e viu Nix meneando a cabeça.
— Você já vai fugir de mim, Lorena? Um dia eu te sequestro, você vai ver. — avisou, sorrindo.
A atendente franziu o queixo num sorriso fechado e apontou o relógio.
— Tá bom. Preciso voltar ao trabalho. Tchau! — despediu-se e se dirigiu ao café. Riu quando olhou para trás e viu Nix fazendo um drama mímico para que ela não fosse embora.
Lorena voltou para o café e passou o resto do dia feliz por ter ganhado um beijo de Nix. Guardaria aquela sensação para sempre. Esquivou-se das perguntas de Edna, que notou o sorriso perdido no rosto da amiga. Foi para o ponto de ônibus e não viu quando a musicista entrou no estabelecimento.
— Oi, tudo bem? A Lorena está? — indagou a Edna que estava de saída também.
— Já foi. — disse e sorriu, notou a frustração da menina. — Nix, né?
— Isso. Que pena, eu queria levá-la num lugar...
— Então, Nix... — Edna começou a falar enquanto saía do local e induzia a musicista a sair também para ouvi-la. — Lorena é minha amiga, diferente de todas essas meninas que você conhece.
— Que bom... — disse com um fio de dúvida e franziu o queixo arqueando as sobrancelhas.
— Pois é, ela é apaixonada por você desde sempre. Esses dias têm me cortado o coração vê-la tão triste por sua causa e você sem saber de nada. Sei que ela vai me matar quando souber que falei com você, mas eu sou muito direta quando o assunto é esse... — Ao ver que Nix ficou em silêncio, Edna continuou. — Ela viu você com sua namorada e depois disso o castelo dela desmoronou mesmo sabendo que vocês jamais ficariam juntas.
— Eu não sabia de nada disso. Mas senti algo, apesar de ela ser fechada, tão misteriosa é muito doce. — disse quase gaguejando, coçou a nuca e parou. — Onde ela mora? Preciso me desculpar com ela. Não posso correspondê-la, mas se quiser uma amiga, terá.
— Nix, é melhor você parar com esse negócio de querer levá-la a lugares ou se desculpar por não poder correspondê-la. Quando a gente gosta, só em saber que a pessoa está viva já é suficiente. Se ouvirmos um "desculpa, mas não posso corresponder ao que sente por mim" é o fim do mundo, é melhor um fora direto...
— Vocês já tiveram algo, é isso?
— Não. Eu sou muito bem casada com um bombeiro muito gato. A Lorena é minha amiga. E ela gosta muito de você, deixa como tá, para de forçar a barra com ela, por favor.
— Ok! — Nix respondeu e ficou onde estava observando a operadora de caixa se dirigir ao ponto de ônibus.
Lorena chegou ao café e notou que a colega estava calada, colocara a música no ambiente porque Plínio gostava, mas parecia longe. Resolveu deixá-la quieta. Plínio passou o dia com ela no balcão. O movimento foi intenso devido a final de curso na escola. Com certeza, naquele dia Edna faria hora extra.
— Tchau! — Lorena disse para Edna e saiu, Edna respondeu, mas não esboçou sentimento nenhum.
Edna era o tipo de pessoa transparente demais e que odiava injustiça, não gostou de ver o sofrimento estampado no rosto da amiga, mas sabia que tinha feito errado interferindo na vida da colega daquele jeito. Aquele silêncio era por culpa, conversaria com Lorena no dia seguinte e contaria tudo o que fizera e se desculparia.
A atendente estava no ponto de ônibus esperando, quando foi puxada por Nix que puxou sua bolsa e a induziu a entrar em seu carro ao jogar o objeto dentro do automóvel.
— Não, Nix. Para! Me deixa sair. — disse, aborrecida, tentando sair do veículo, que teve as portas travadas pela musicista.
— Calma, Lorena! — pediu dando partida e saindo em alta velocidade. — Vamos só dar uma volta, ok? Só quero conversar com você... relaxa. Juro te deixar onde você quiser, depois.
Lorena não queria demonstrar, mas chorava ainda tentando abrir a porta como se sobrevivesse se pulasse do carro em movimento daquele jeito.
— Calma, Lorena. Poxa... só quero conversar com você. Te conhecer melhor, juro que depois deixo você em casa. Ou no seu outro emprego, né? Fala de mim, mas anda correndo. Acho que você tem dois empregos.
Lorena engoliu saliva e limpou o rosto, resolveu parar de resistir. Passou um tempo ainda tentando digerir aquela situação e talvez curtir a companhia de Nix, pela última vez. Respirou fundo várias vezes e notou que já haviam saído da cidade, pois estavam numa rodovia.
— Pra onde estamos indo?
— Já, já você vai saber... — limitou-se a dizer e ligou o som do carro.
Lorena estava com as mãos geladas, sentia-se trêmula. Engoliu saliva, tentando se conter. Nix a levou num mirante que dava para ver a cidade inteira de lá. O lugar ficava belíssimo daquele local, suas luzes, sua arquitetura. Com o som do carro baixinho somente para as duas, Nix pegou uma garrafa de vodca gelada do porta-malas.
— Eu não bebo. Obrigada.
— Sério? Vai me deixar beber tudo isso sozinha? — provocou, sorrindo.
Lorena tomou alguns goles apenas, resolveu curtir aquela noite, fazia tempo que não se sentia bem como naquele momento, apesar de tudo. Nix só estava fazendo com que ela se apaixonasse mais ainda.
A musicista acabou falando mais de si mesma do que ouvindo Lorena, pois a jovem se esquivou de todas as formas.
Passava pouco da meia-noite quando entraram no apartamento de Nix.
— Aqui é meu lar.
— Achei que fosse do tipo patricinha que morava num apartamento normalzão... digno de Pinterest — disse, olhando ao redor, e vendo tudo do fogão à banda em lados opostos.
— Dorme aqui. Eu bebi demais e acho que não vai dar pra te levar você em casa.
Lorena sorriu e olhou nos olhos dela. A musicista dirigiu a viagem inteira alcoolizada e agora estava falando aquilo.
— Melhor ficarmos por aqui. — O sorriso de Nix ali tão próxima causou um arrepio intenso em Lorena.
A atendente puxou a artista e a beijou com força, apertando-a pela cintura, foi correspondida pela musicista que se entregou àquele beijo como nunca o fizera. Lorena se sentiu conduzida à cama pelo corpo de Nix sem parar o beijo, demonstrando o desejo que exalava das duas. Despiram-se com pressa. Ao vê-la nua ali na sua frente, Lorena sorriu ofegando, passou os dedos pela pele branca de Nix.
Lorena beijou seus lábios novamente, agora com mais calma, queria deixar aquele momento gravado pra sempre. Fez um caminho de beijos pelo corpo da amada, que soltava suspiros pesados e gemidos contidos. Sentiu os dedos de Lorena em seu sexo quando a recebeu em sua boca de novo, parou o beijo para soltar um gemido, que se intensificou quando se sentiu sendo penetrada. Lorena gemeu ao sentir a umidade quente de Nix, sugou seus seios com força, sem parar os movimentos com a mão dentro da artesã, a jovem entrelaçou os dedos nos cabelos da atendente. A morena passava a língua nos mamilos e sugava.
Lorena soltou um gemido por entre os dentes quando Nix a puxou pelo cabelo e procurou sua boca para um beijo, sugado, quente. A atendente colou seu corpo no da amada e a beijou apaixonada.
Pensar que aquilo não haveria amanhã, fez Lorena saborear cada pedaço daquele corpo macio, como nos sonhos. Sentir o gosto de sua amada, seu cheiro, suas sensações e conhecer um pouco de tudo aquilo, era como recompensa por tudo o que passara e que ainda passaria.
Os gemidos de Nix ecoavam em sua cabeça como música boa. Sem parar seu trabalho com a língua e lábios, apertou o seio esquerdo da amada e sentiu a mão dela sobre a sua, enquanto a outra a conduzia segurando pelos cabelos.
Nix passou a mover o quadril, emitindo gemido roucos e chegou ao orgasmo na boca de Lorena que apertou suas coxas como se quisesse contê-la.
A guitarrista ofegava, quando puxou a balconista para um beijo cheio de desejo. Sentiu o corpo suado da desconhecida no seu e sugou sua língua. Desceu pelo pescoço, colo, seios, barriga induzindo Lorena a se ajoelhar sobre ela para o melhor oral de sua vida.
MARCADA, dolorida, exausta e muito feliz, foi assim que Lorena acordou no dia seguinte, olhou para o lado e viu Nix dormindo profundamente.
A jovem saiu da cama, vestiu-se e deu um beijo no rosto da guitarrista.
— Adeus! — Pegou sua bolsa e saiu. Passou no café e entregou sua carteira a Plinio que estava aborrecido, pois precisava sair e a funcionária não chegou no horário. O homem suspirou profundamente e meneou a cabeça olhando para o documento, sem dizer nada.
Lorena deu um abraço, em silêncio, em Edna, ignorando suas perguntas e foi para o ponto de ônibus, acenou e entrou no veículo.
Uma hora depois desceu em frente ao presídio feminino municipal da cidade.
Piscou fazendo descer uma lágrima de cada olho, ao ouvir aquele barulho metálico e familiar da porta de ferro sendo fechada atrás si.
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