✞︎31-O plano
12 de Maio.
Tamar.
Laura andava de um lado para o outro, enquanto Lúcifer e eu planejavamos como iríamos agir.
— Se fizermos isso, a probabilidade dele nos matar é muito grande, esqueceu que somos humanas? — Protestei contra sua armadilha mal elaborada e perigosa.
— Pare de fazer drama, conseguiu bater em Azazel e está viva, pode fazer mais contra o bastardo — falou, revirando os olhos negros.
Continuei me colocando contra aquela ideia estúpida.
— Estamos perdendo tempo! — Espalmei a mesa velha de madeira do casarão abandonado aonde estávamos.
Ouvi Laura gritar quando um rato passou por ela.
— Que ideia genial você tem? Não se esqueça que agora, Azazel também está querendo apertar seu pescoço, você o fez se sentir tão fraco quando um rato insignificante, arque com as consequências! — redarguiu, se inclinando sobre a mesa.
— Ele me quer de outra maneira e sabe disso, eu jamais vou permitir que aquele maldito demônio encoste um dedo sequer em mim! — O lembrei, controlando a vontade de extravasar minha raiva ao pressionar os dentes com força
— Nem que ele quisesse, isso seria impossível — disse, dando um sorrisinho sarcástico.
— O que? — Aquilo fez um nó dentro do meu cérebro.
— Azazel é um demônio poderoso demais, assim como o bastardo de Lilith, nem que quisessem, poderia tê-la para si, isso acabaria te matando, humanas são frágeis demais para usufruir de relações carnais com demônios, existem os succubus e inccubus que podem fazer isso, mas são exceção e eles também causam estrago — explicou, mexendo nos fios escuros feito carvão que caiam em seus ombros.
— Quer dizer que enquanto minha irmã está lá com aquele desgraçado, vocês estão discutindo e literalmente ela pode morrer por trepar com ele? — berrou a irmã mais nova da mulher que tentariamos salvar.
Lúcifer soltou uma gargalhada estranhamente sensual.
— Para mim isso é coisa de filme de terror, tipo um demônio que gosta de transar com gente dormindo? Que porra de feitiche estranho é esse? — Interpôs a garota.
— Taissa não irá morrer, se não aconteceu da primeira vez, não vai acontecer futuramente, até porque, o corpo humano precisa da capacidade de fazer isso sem feri-la, o que irá acontecer provavelmente é: ele drenar tudo de bom que ele tem a ofertar — Gesticulou, simulando um copo cheio graças a líquido do outro.
— Como sabe disso? — indaguei, curiosa. Ele me lançou um olhar sério e se aproximou deliberadamente, parando na direção oposta e falando no meu ouvido:
— Talvez eu tenha desejado sentir naquele dia, mas sabia o que aconteceria se tentasse, eu sei do passado e do futuro Tamar — A ponta de seu nariz roçou o lóbulo da minha orelha.
— Eu não ia trepar com alguém que fede a coisa queimada, sem ofensa — murmurou a garota, do outro lado da sala.
— Ainda cheiro melhor que o seu namorado, se decompondo e sendo devorado pelos vermes debaixo da terra — Lançou um olhar cruel a garota que o xingou de vários nomes ao escutar aquilo.
— Estou lidando com dois adultos ou não? Foi o que pensei — falei, sem paciência para aquele tipo de coisa logo cedo. Lúcifer suspirou, entediado.
Iríamos surpreender o usurpador, porque ele não sabia aonde nós estávamos, estaria desprevenido, sem saber onde e quando seria atacado.
— O punhal, precisamos pegar — Alertou Lúcifer.
— Que punhal? Um punhal idiota vai nos proteger dele? — Questionou Laura, cruzando os braços.
— Nada pode proteger vocês dele, porém o punhal é a única arma capaz de separar o corpo do Rubens do corpo de Bas... portanto, temos que pegá-lo, você fará isso — elucidou, admirando as próprias unhas.
— Por que eu? A morte aqui vai ser por ordem de idade ou o que? Tamar deveria ir, quem foi possuído foi o tapado do irmão dela! — Protestou feito uma criança mimada.
— Sua irmã é a pessoa mais perto dele agora, então também corre risco, ele pode ser muita coisa, mas não é burro Laura, se estiver perto de Taissa, se tornará uma ameaça, mas também a garantia de que não te atacará diante dela — expliquei, ajeitando a manga da minha camiseta preta.
— Ela tem razão, ele se importa demais com ela para te machucar, pelo menos quando estiver perto — Foi bem especifido ao dizer.
Estava decidido, Laura seria a isca, embora isso a fizesse bater o pé.
Meus pais estavam num estado que podia se chamar de coma espiritual, os encontramos guardados em caixões feito dois mortos vivos dentro da casa em que meu irmão e eu morávamos, não sabia dizer como o usurpador havia feito aquilo, mas de acordo com Lúcifer, era um mal sinal, pois tal alto significava que o poder do demônio havia aumentado, tornando-o mais difícil de deter a cada dia que passava.
Seria arriscado demais sair, porém eu precisava ir ao confessionário.
Pedi ao padre que pudesse me receber fora do horário, quando a lua já tinha subido ao céu.
— Quero me confessar padre — disse, segurando meu terço em mãos.
— Sim, filha — Respondeu, entrando do lado de dentro e fechando a porta de madeira do local apertado. Sentei no banco sem encosto e tomei força para começar.
— O que quer confessar filha? — Perguntou, a voz mansa e acolhedora.
Meu coração acelerou dentro do peito.
— Eu pequei padre... — Comecei
— Qual o seu pecado? — indagou, sendo tão bom ouvinte quanto um pai.
— A malícia padre, eu quis me deitar com ele, o fruto do pecado — Continuei, segurando o terço com tanta força que quase o arrebentei.
Havia demorado para entender certas coisas, não era uma devota fervorosa do catolicismo, porém tinha conhecimento sobre a origem do pecado e uma interpretação igual a das outras pessoas, porém ao conhecer a face do mal, meus pensamentos mudaram completamente a respeito do que aconteceu no Éden.
— E eu não me sinto culpada por isso, não consigo sentir culpa por querer isso — Confessei, arracando o peso do peito.
O padre permaneceu em silêncio por alguns minutos, até dizer:
— Reze dez aves marias e dez pai nosso, é a sua penitência — Havia uma pontada de decepção na sua voz falha.
Engoli a seco.
— Não padre, minha alma já está condenada, pelo que estou prestes a fazer — Levantei, sentindo o peso daquelas palavras atingir o estômago e causar desconforto.
O padre tentou me alcançar e vir atrás, talvez para perguntar se eu me referia a entregar a castidade ao fruto do pecado, mas não, eu me referia à matar o usurpador que havia destruído minha família.
— Não se entregue ao mal filha, o profano espera que caia nas ciladas dele, ele não vem com chifres, um tridente e a face de uma besta, ele é um anjo caído, o mais belo dos anjos, pode assumir qualquer forma para engana-la — disse o velho padre, de longe, sua voz ecoava pelas paredes antigas da igreja.
— O diabo é real padre, e nem imagina o quão perto estou dele — Foi a última coisa que falei, saindo dali.
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