one : the first day
Quando eu tinha 10 anos eu comecei a jogar no time de vôlei da minha escola, era muito legal, eu tinha muitas amigas e era muito boa naquilo. Alguns meses depois, em um jogo com a escola rival eu acabei me desequilibrando e machucando meu tornozelo quando fui dar impulso pra pular, na hora doeu muito e eu sabia que tinha algo de errado.
Mas minha mãe, que no dia tinha me levado, me pegou pelo pulso e saiu me puxando para fora da quadra, mesmo eu chorando e mancando reclamando muito de dor ela disse que não tínhamos dinheiro para ir a um hospital e prometeu que ela mesma daria um jeito na dor. Bom, ela não deu. Quando chegamos em casa ela me disse para eu ir para meu quarto que logo logo ela levaria um remédio para dor, eu esperei, esperei e esperei, até que percebi que já era noite e todos já estavam dormindo.
No outro dia, quando eu acordei com a mesma roupa do dia anterior e com o rosto inchado de chorar e fui para sala, eu vi minha irmã mais velha Jade sorrindo alegremente enquanto vestia um lindo vestido rodado e roxo, com muito glitter e babados, como uma verdadeira princesa. No primeiro momento eu não entendi muito bem o que estava acontecendo mas depois de dar mais alguns passos e ver uma grande mesa com doces e um bolo de três andares com velinhas no topo eu percebi que era uma festa de aniversário.
Quando mamãe finalmente percebeu minha presença ali, ela me disse que hoje era aniversário da minha irmã e que para não atrapalhar eu deveria subir para o quarto e só sair de lá quando ela mandasse. E eu fui, por que eu era só uma criança boba procurando sempre obedecer os mais velhos, como fui ensinada na escola.
Ainda com meu pé latejando eu caminhei como consegui até o meu quarto e fiquei lá por um bom tempo, talvez por umas 5 horas. Eu ouvi as amigas da minha irmã chegando, as risadas alegres e fofas, os rangidos que as molas da cama elástica, que minha mãe tinha alugado, faziam quando elas pulavam nela brincando de pega-pega ou qualquer outra coisa.
Eu fiquei muito feliz pela Jade, afinal era seu aniversário e ela estava feliz e se divertindo.
Teve uma hora que os barulhos pararam, não de repente, mas aos poucos parecia que as crianças iam indo embora, os adultos também, e no final, pela fresta da janela eu consigui ver algumas pessoas desmontando a cama elástica e arrumando o quintal.
Eu esperei minha mãe me chamar e falar que eu poderia sair, mas isso não aconteceu, não naquele dia. Eu me sentia suja por conta do suor que ainda estava em mim desde do dia do jogo, e sentia fome por ter ficado tanto tempo sem comer, mas mamãe ainda não tinha me chamado então eu deitei na minha cama e acabei dormindo a espera dela.
Naquela época eu era ingênua demais pra perceber mas caso moça que limpava nossa casa não tivesse entrado para limpar meu quarto na tarde do dia seguinte, eu ficaria ali por muito tempo esperando ela me autorizar sair do quarto.
Para minha mãe eu não fazia diferença, se eu estava lá com ela era um problema, e se eu não estava ela se sentia aliviada.
Hoje, depois de quase 8 anos eu ainda sinto dor no tornozelo quando o forço demais no chão ou faço algum movimento brusco, por que até hoje minha mãe não cuidou de mim como prometeu.
[...]
Sentada na grande mesa retangular eu encarava o prato de panquecas na minha frente, com um olhar perdido e distante com minha consciência me mostrando vários motivos para não comer aquele prato que tinha três panquecas com mel. Minha mente gritava que caso eu comesse iria engordar e não conseguiria mais vestir minha roupas favoritas e que os moletons largos e masculinos seriam a minha única opção.
— Você não vai comer, Luna? — a mais nova pergunta me encarando, e só daí eu percebo que fiquei uns 5 minutos nessa de encarar e que todas já tinham acabado
— Acho que não, não estou com fome. — tento dar um sorriso, falhando miseravelmente — Eu como algo no intervalo do colégio, tenho que ir.
— Não deveria ter colocado no prato se não iria comer, você o sujou atoa, era mais fácil simplesmente não ter pego. — minha mãe diz, sem nem fazer questão de olhar para mim.
— Deixa ela mãe, não seja chata. Boa aula Luna, espero que se de bem na nova escola! — Jade diz com um sorriso radiante no rosto, eu apenas agradeço baixo e me levanto.
Pego minha mochila ao lado da porta e em seguida passo pela mesma seguindo o caminho para minha nova escola. Não é tão perto, mas a van não é inclusa na bolsa que ganhei e minha mãe não quis pagar, por como ela disse, fui eu quem escolhi estudar lá, e bom, errada ela não tá.
Depois de quase 30 minutos andando eu finalmente chego, estou um pouco ofegante e sinto a parte de trás do meu cabelo suando mas apenas ignoro. Sigo para dentro do grande prédio, com uma estrutura muito bonita e alunos entrando e saindo. Era estranho estar em uma nova escola depois de tanto tempo na mesma, não que seja ruim, esse é um dos melhores institutos educacionais da cidade e isso pode ser bom para minha faculdade e recomendações para trabalhos.
— Com licença, eu sou aluna novo e vim buscar meus horários. — digo assim que chego na secretaria, a mulher de cabelos cacheados me olha e sorri minimamente.
— Claro, aqui está! Você tem aula na sala G14 agora, ela fica no quarto andar então é melhor que se apresse, caso tiver alguma dúvida pode me perguntar, me chamo Mila. — ela me entrega o papel e alguns livros, agradeço silenciosamente com um aceno de cabeça, e me apresso a ir para o quarto andar.
A escola é gigante e isso me faz perder cinco minutos de aula, mesmo quase correndo para subir todos aqueles degraus. Quando finalmente avisto a porta de madeira com uma plaquinha escrito “G14” presa bem ao seu lado, respiro fundo e dou uma leve batidinha na madeira antes de abri-la, quando coloco meu corpo para dentro da sala vejo primeiramente vários pares de olhos adolescentes me olhando e ofego, querendo sair correndo dali e voltar para o conforto da escola pública e da minha antiga classe. Olhando para mesa grande que pertence ao professor vejo um senhor de idade que aparenta ser muito simpático com um sorriso pequeno direcionado a mim.
— Você deve ser a senhorita Cooper, por favor entre e pode se sentar. — ando rapidamente até qualquer carteira que esteja vazia e me sento logo pegando um caderno qualquer na mochila e abaixando minha cabeça, numa tentativa falha de tirar um cochilo.
[...]
É fácil diferenciar grupos de adolescentes quando se observa bem eles. Eles podem andar em bandos, mas nem sempre fazem parte desses, não são como os animais que estão sempre com companheiros da mesma espécie, eles se misturam e tentam se enturmar. As vezes para não sofrerem bullying, as vezes para não ficarem sozinhos e bem raramente por se sentirem pressionados a ter uma vida social muito ativa, e pública (ironia).
Eu não sei de qual bando faço parte, mas meu grupo talvez seja dos que preferem ficar lendo um livro do que enrolando meu cabelo preso a um rabo de cavalo com um laço enorme nas cores do time da escola, enquanto encara fixamente o melhor jogador do time de futebol americano. Apolo Leblanc.
Não queria o encontrar aqui, mas parece que sempre voltamos a nós ver. Ele continua me ligando e parece não querer deixar o que tivemos para trás, é tão estranho que alguém como ele se interesse por mim, mas ao mesmo tempo é tão bom.
Ele faz eu me sentir bem, e ao mesmo tempo culpada por não poder retribuir tudo o que ele me oferece. Meu telefone apita no bolso do moletom e não preciso olhar o ecrã para saber quem é quando ele me encara quase que fixamente do outro lado do refeitório.
Apolo <3 :
Você deveria e avisar que estaria na minha escola esse ano, senti sua falta. Podemos conversar? Me encontra no terceiro andar em 5 minutos?
Eu :
Ok
E eu realmente vou, na última sala do corredor 3 do terceiro andar eu o vejo entrar quase correndo e vir na minha direção, e ele me abraça e de repente é como se tudo de ruim fosse embora.
As brigas desnecessárias com minha mãe
A saudade do meu pai.
Os choros silenciosos da madrugada.
A insegura com o meu todo.
As lembranças ruins da infância.
Tudo vai embora e o que fica é somente um sentimento bom de acolhimento e segurança. É bom estar com ele.
— Meu Deus, eu senti tanta sua falta — ele da um cheiro no meu pescoço — Luna, você me faz tão bem, porra... — e de repente sinto meu coração acelerado — Por que não me falou que iria vir pra cá? — ele parece feliz, quando se afasta procura por meus olhos e da um sorriso fofinho, típico dele que me deixa de pernas bambas, mas não vamos falar sobre isso.
— Apolo... — respiro profundamente, não querendo ter que falar o que tenho que falar.
Eu o encaro por um tempo sem coragem para tomar a atitude que devo, nunca fui uma pessoa muito pra frente, mas ele parece entender e se afasta, seu olhar mudando rapidamente de um olhar que irradia felicidade para um que exala confusão.
— Sabe que não quero isso Apolo, me desculpa vir aqui e te dar esperança novamente, sei que não deveria ter muito menos me mudado pra sua escola ... Mas sabe que não quero nada com você, o que tivemos já foi — e quem me dera se eu pudesse seguir em frente.
— Luna, por favor só me explica o porque, você saiu correndo aquele dia mas eu sei que ainda pensa em mim, que ainda gosta de mim como eu gosto de você.
— Apolo, pela última vez... Eu não gosto de você, foi muito bom e muito legal o que a gente teve, mas não tem mais sentimento, então não vai dar certo. — ele passa as mãos no cabelo e da alguns passos pela sala, e eu tento transparecer que estou certa da minha decisão — Eu me mudei para essa escola para me focar no meu sucesso, não tem nada a ver com você, e eu espero muito mesmo, que você deixe tudo para trás, porque tudo que eu mais quero é não ter que me frustrar com essas conversas que não vão nós levar a lugar algum.
Acho que assim é melhor, mesmo que eu tenha que ficar distante do que me faz bem.
— 1817 palavras.
Espero que tenham gostado, xoxo Lia!
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