Segundo encontro
Desde que parti de Serena era como se uma parte minha tivesse sido deixada em outro lugar. Não é exagero dizer que me sentia incompleto. Diferente do que me diziam sobre namorar a distância na adolescência, eu não esqueci de Marina... Quem me dera! Cada minuto, cada semana me tinha um efeito dúbio: mais tempo longe dela e menos tempo até nosso próximo encontro. Essa matemática não era lógica para os outros, só para mim, e fazia todo o sentido para Marina também.
O primeiro ano distantes foi o mais difícil, não apenas pelo afastamento físico, mas por estarmos no início de uma relação. Foi difícil conhecer Marina e descobrir os detalhes de sua personalidade através de cartas e de telefonemas. Uma vez que nós superamos isso após os primeiros meses, ela era a pessoa de quem eu me sentia mais próximo no mundo. Mesmo estando tão longe.
Naquela época o meu som preferido era o barulho ensurdecedor do telefone. Eu sabia que tinha que ser ela querendo falar comigo!
Mas nem sempre era e nem sempre eu era rápido o suficiente para atender a chamada. Meu irmão mais velho, Marcelo, vivia competindo comigo pelo controle do telefone de casa. E como só tínhamos um aparelho, de vez em quando eu perdia uma batalha.
Ele chegou antes de mim e estendeu a mão para atender a chamada antes do terceiro toque. Sorriu, vitorioso e murmurou um "babaca" sem deixar o som sair da sua boca.
Eu era o babaca. Eu, cuja namorada morava em outra cidade. Ele, que namorava uma garota que vivia no mesmo bairro e poderia muito bem vê-la todos os dias era o quê, então?
Porém o sorriso de Marcelo não se manteve constante por muito tempo. Tão logo ouviu a voz do outro lado da linha fez um muxoxo e seus ombros caíram, com desânimo.
— Vou passar o telefone pra ele, Marina. Só um momento. — ele tinha alguma educação guardada. Não que ele a usasse comigo ou com nossos pais, mas ao menos a minha namorada tinha esse privilégio. — Boa noite!
Ele estendeu o aparelho para mim e estreitou os olhos, esperando qual seria minha reação ao vê-lo derrotado pelas circunstâncias. Caminhei até ele e peguei-o, não tomei qualquer atitude. O que com certeza o surpreendeu porque quando ele me entregou o telefone e deu alguns passos para fora da sala eu tapei o bocal com as mãos e disse um sonoro "idiota" e vi a surpresa na sua expressão.
Amor fraterno é isso!
— Alô?
A voz que saía do aparelho me fez esquecer meu irmão e focar no que interessava.
— Marina? Oi! — respondi o mais rápido que pude.
— Achei que não ia te encontrar em casa hoje, Gu. Por falar nisso, porque você está em casa mesmo?
Ela se referia a uma festa que eu havia sido convidado. Marina, por incrível que pareça, não era o tipo de namorada ciumenta e insegura, pelo contrário. Ela me incentivava a sair e aproveitar a presença dos meus amigos, afinal quando estávamos juntos, ela me queria só para ela.
Eu entendia, juro que adorava a maturidade que ela tinha. Mas eu não era igual. Festas não eram meu forte e muito menos festas em que meus amigos iam exclusivamente para paquerar garotas. Eu já tinha a minha garota, para quê eu iria?
Além disso, não me agradava a ideia de Marina indo ao mesmo tipo de festa, então eu não ia. Sempre fui adepto ao ditado "não faça com os outros o que não quer que façam com você".
Até então estava funcionando.
— Eu estou em casa porque estava desanimado para sair e também tô sem grana. — menti. As vezes a verdade nem sempre é a melhor saída. E se eu fosse analisar a fundo, nem era tão mentira assim. Eu até tinha algum dinheiro, mas estava realmente desanimado. Então eu disse uma meia verdade, não é?
— Huhum, sei. Vou tomar sua palavra como verdadeira, Gu. Agora quero saber como estão os preparativos da viagem, que dia mesmo vocês chegam?
Gastamos a próxima meia hora falando sobre a viagem que eu faria em breve e nos reuniria. Marina era detalhista, gostava de saber de tudo, organizar tudo. As vezes era até estranho que duas pessoas tão diferentes estivessem juntas. Eu era do tipo desorganizado, que deixava tudo para última hora e contava com a sorte para resolver as pontas soltas que meus problemas deixavam. Para ela era impensável agir assim.
Marina Rossi não era de deixar problemas para depois e eu a admirava por isso.
— Chega de detalhes... Eu só tô louco pra chegar aí! — reclamei com a única pessoa que entenderia o que eu sentia, pois ela se sentia da mesma forma.
Do outro lado da linha ouvi sua respiração pesada, podia imaginar seu rosto desanimado e os lábios contraídos, desejava estar ao seu lado e beijá-la até que todas as preocupações dela fossem embora.
— Eu sei. Eu tô louca para que você chegue... Não é possível que o tempo demore tanto assim para passar!
— Em breve, Nina, em breve eu estarei aí.
— As vezes eu acho que a saudade vai me matar
— Eu também, mas temos que ficar firmes. Só faltam dez dias.
— Ainda faltam dez dias!
— Apressadinha!
— Chato!
— Você sabe que e-eu... eu te amo, não é?
—Como você consegue sempre terminar as frases com uma pergunta, Gustavo? Sempre parece que você não sabe o que tá falando.
Ela riu e eu fiquei ainda mais nervoso. Era a primeira vez que eu diria a palavra com "A", eu a considerava tão importante e tão temida igual em todas as comédias românticas que Marina me forçou a assistir. Aos 17 anos eu não sabia de muitas coisas da vida, mas sabia que era um passo importante e eu não diria aquilo se não sentisse.
Marina também sabia e por isso ela fazia piada com isso.
—Você sabe que "I just called to say I love you And I mean it from the bottom of my heart" — recitei os versos de uma das músicas preferidas da dona Marta, minha mãe. Minha recompensa foi a gargalhada que Marina soltou.
— Na verdade fui eu quem ligou, Gustavo. Mas tudo bem, eu aceito sua declaração e o plágio do Stevie Wonder. Se você ainda não sabe: I just called to say I love you to. Boa noite!
E simplesmente assim ela desligou o telefone.
Como se, ainda que ela tivesse escrito várias vezes em cartas, não fosse a primeira vez que eu a ouvia dizer oficialmente que me amava.
Ok, ela disse em inglês e usando um verso do Stevie Wonder, mas ainda assim, para mim havia um grande significado.
Eu me senti nas nuvens, só quem já amou e foi amado de volta sabe o que é sentir isso. Não havia nada além de nós dois. Não havia dor e nem preocupação.
Dez dias eram nada, Marina me amava e esse detalhe era o único importante para mim.
Eu não consegui dormir durante as 12 horas de viagem até Serena. Chame ansiedade, espera ou tudo isso junto e misturado. A tensão me dominava como nunca antes, o que era engraçado. Passar seis meses longe de Marina fora tarefa fácil em comparação às horas finais, o momento em que toda minha ansiedade está fora de controle e tudo o que eu gostaria era ter o poder de me teletransportar.
A senhora ao meu lado continuava falando sobre sua vida. Por sorte ela não é uma conhecida da minha avó, pelo que contou está visitando uma amiga antiga na cidade. Tento não ser mal educado, no entanto meu interesse sobre sua vida e seus netos é nulo. Não que eu seja mal educado, eu só realmente não ligo. Só me interessa ver minha namorada e retomar tudo de onde paramos.
Acho que esse é o grande problema de um namoro à distância: a falta de continuidade. Conversas, momentos, tudo é finito. Diferente do namoro do meu irmão, por exemplo, em que as coisas não tinham fim – inclusive as brigas – com a gente não era assim. Tudo tinha tempo contato e qualquer tempo era pouco tempo para viver juntos e descobrir as torturas e delícias do primeiro amor.
Éramos afobados e impacientes porque não sabíamos o que estávamos fazendo e nossa inexperiência só piora os efeitos da distância.
Ignorei a conversa da senhora por longos 30 minutos, quando ela finalmente se calou pude olhar e sua direção e vislumbrar a entrada da cidade. Em pouco tempo eu estaria na rodoviária e depois...
Ah, depois eu tinha tantos planos.
Porém, todos eles se mostraram errados quando cheguei na rodoviária.
De costas para mim e com os cabelos médios balançados pelo vento, Marina esperava. As vezes eu achava que o que ela fazia melhor era esperar. Não que eu achasse que ela deveria me esperar, mas ela tinha uma paciência estoica que qualquer um invejaria.
Ao vê-la tudo mudou. O mundo tinha novas cores, o dia estava mais quente e a vida parecia mais acolhedora também. Ela finalmente virou-se em minha direção e pude ver o vestido florido até os joelhos que ela usava, tão simples e tão linda. Fazia jus a imagem de menina do interior: doce e linda. Ainda bem que Marina sempre ultrapassava estereótipos e tinha uma personalidade vibrante, que me cativou de imediato.
Perdido em reflexões notei que ela sorria para mim e sorri de volta. Tínhamos um segredo só nosso, uma piada que só fazia sentido para nós dois. Era assim que eu sempre me sentia com ela.
Me apressei e finalmente a alcancei. Seu sorriso se mantinha firme, tentei falar algo para acalmar nossos corações e "quebrar o gelo". Não foi preciso.
Mais uma vez Marina tomou a frente e me beijou. Simples assim.
Ignoramos minha mochila pesada e os passantes da rodoviária. Nada importava além do nosso encontro.
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Olá, pessoas que não sei se estão aqui lendo, quanto tempo! Quero agradecer novamente (e sempre) à minha beta querida: Verê maravilhosa, melhor pessoa. Inclusive ela em breve vai postar um livro ótimo aqui chamado "Os homens dos meus sonhos" e terminou de postar "Sacerdotisa da Landar" um livro de fantasia muito bom. Quem gostar do gênero leia e morra de amores!
Espero que vocês gostem de Gustavo e Marina tanto quanto eu e que, caso existam, apareçam nos comentários. Amo interações humanas.
Um beijo pro Marcelo, nosso querido irmão mais velho pentelho, super empata-namoro porém de bom coração. E um agradecimento às músicas old-school que combinam com esse namoro lindo, essa música do capítulo é uma das minhas preferidas e eu choro de lembrar de "Meu primeiro amor".
Beijos!
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