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A cela emanava um frio mais intenso do que as baixas temperaturas do inverno de dezembro. Jimin, encolhido em um canto, se encontrava imerso em um turbilhão de pensamentos desconexos. Sentia-se pequeno e desamparado, carregando o peso de uma injustiça que o aprisionava. A lembrança do olhar assustado de seus filhos ao momento da prisão jamais se dissiparia de sua mente. Justo agora que começara a compreender as crianças, elas precisaram testemunhar aquela cena.
Inconformado com sua prisão, ciente de que o verdadeiro assassino desfrutava de sua liberdade, Jimin se via mergulhado em um mar de arrependimentos. Não foi ele quem tirou a vida de Mina, mas carregava consigo o peso de escolhas amargas, sendo a primeira delas ter dado abertura àquela mulher no dia de seu falecimento, não deveria ter respondido o seu pedido de ajuda. Mina, com suas mentiras e manipulações, o havia usado, resultando em sua atual situação. Pela primeira vez desde a morte de Mina, Jimin experimentava o sentimento de ódio em relação à falecida.
O som de passos se aproximando alcançou seus ouvidos, porém ele evitou encarar quem quer que fosse. A vergonha de sua condição o consumia, permitindo apenas que se sentisse mal consigo mesmo naquela cela. Imaginava que se tratava de um policial pronto para proferir acusações. No entanto, a voz que se fez presente o surpreendeu, forçando-o a olhar:
— Oi Jimin. — Jungkook manteve-se à distância da cela, suas mãos repousavam nos bolsos da jaqueta e seu olhar era analítico.
— Kookie, vocês cometeram um erro! Não fui eu... eu juro, não fui eu. — O desespero de Jimin transparecia claramente, quanto mais ficava naquela cela, mais parecia desamparado.
— Jimin, preciso te perguntar e espero sinceridade de sua parte. Se tentar me enrolar, irei embora e eu não vou mais me prejudicar para te ajudar, ok? — Jungkook manteve sua expressão impassível enquanto Jimin o encarava ansioso. — Por que mentiu sobre os horários do seu álibi? Você tem consciência da gravidade disso? O que se passa em sua mente?
A boca de Jimin se abriu e fechou diversas vezes, envolto em confusão, tentando rapidamente rememorar os eventos do dia da morte de Mina. Ele compreendia a importância da situação, o que tornava ainda mais desafiador pensar com clareza.
— Cheguei à Herman's Lab às seis da tarde, mas...
— Mas?
— Mas fiquei no carro.
— Por que permaneceu no carro, Jimin?
— Lembra quando comentei que passei a tarde ocupado com alguém? Pois bem... essa pessoa era um dos diretores da Herman's Lab. Tínhamos um caso, entende? Mas era segredo por motivos óbvios. Naquele dia, chegamos ao estacionamento e ficamos no carro conversando até tarde. — Jimin sentiu-se envergonhado ao revelar aquilo, enquanto Jungkook permanecia inexpressivo, sem demonstrar emoção.
— Ele pode confirmar sua história?
— Poder ele pode, mas duvido que ele faria isso. Não arriscaria sua reputação para me inocentar.
Jungkook assentiu e seu celular vibrou, indicando que era hora de partir. Ele encarou os olhos de Jimin e se aproximou das celas:
— Preciso ir, você passará por outro interrogatório. Mantenha a calma, evite se comprometer e chame seu advogado. A melhor coisa que você pode fazer agora é se manter calado.
Jungkook não se despediu, apenas virou as costas e começou a caminhar em direção à porta.
— Você não vai se encrencar por ter vindo aqui? — Jimin perguntou.
Jungkook, ainda de costas, sorriu de forma irônica e continuou andando. Jimin não sabia que ele tinha sido suspenso e Jungkook não via necessidade de contar. Seu celular continuava vibrando, com mensagens de Jisoo. Ele se dirigiu à área de medicina legal e lá encontrou a médica legista e Boram. Fechou a porta e se aproximou delas:
— Desculpe a demora. Fui falar com o Jimin.
— Por que você fez isso? — Boram perguntou, um tanto chocada pela insistência do amigo em ficar perto do suspeito.
— Não faz diferença, fui suspenso. Precisava ouvir de sua boca por que mentiu em seu álibi.
— E por que ele mentiu? — Jisoo quis saber.
— Porque ele é um safado que não perde a oportunidade de sentar num pau — Ele disse de uma vez, nem escondendo o incômodo de Jimin ter mentido por causa de um relacionamento e as duas mulheres o olharam chocadas — Desculpe.
Boram piscou algumas vezes e mexeu em sua bolsa dizendo:
— Eu fiz o que me pediu, Kookie, e espero que você tenha certeza de que Seokjin é corrupto, senão acabo com você.
Mais cedo, Jungkook contou tudo o que descobriu a Boram, e ela concordou em ajudá-lo a desmascarar Seokjin. A investigadora não gostava de tocar no assunto, mas era filha de um importante juiz de Seul. Jungkook sabia disso e insistiu para que ela usasse sua posição para descobrir os nomes envolvidos no escândalo que resultou na reestruturação de todos os departamentos de polícia.
Oito meses atrás, um mega esquema de corrupção na polícia veio à tona, envolvendo policiais, investigadores e promotores que lucravam modificando casos ou ignorando crimes. A situação se tornou pública após um escândalo em uma boate, que incluía até celebridades.
Muitos nomes precisaram entrar no programa de proteção a testemunhas do governo depois que o pai de uma jovem brutalmente abusada e assassinada, matou um dos responsáveis por adulterar as provas, uma vez que o verdadeiro criminoso era um homem influente na Coreia. A jovem, de apenas 23 anos, foi uma das várias vítimas de um grande escândalo que o governo tentou encobrir com grupos de K-pop.
Boram entregou a Jungkook a lista impressa com vários nomes, fazendo-o sorrir:
— Se eu gostasse um pouquinho mais, poderia até te dar um beijo. — Ele disse animado ao ler os nomes.
— Como assim? — Ela o olhou, corando.
Jisoo segurou o riso enquanto Jungkook observava Boram. Já lhe disseram que ela estava interessada nele, mas ele não levara a sério. Agora, ao vê-la tímida diante de sua brincadeira, começou a ter dúvidas:
— Eu sou gay, Boram. — Ele revelou, sem problemas — Pensei que você soubesse, afinal, é por isso que me envolvi tanto no caso do Jimin, que é meu ex. Você não sabia?
O rosto de Boram ficou mais vermelho que pimenta, enquanto Jisoo continuava se segurando para não rir da situação. A investigadora mexeu nos cabelos, um tanto envergonhada e assentiu olhando para o chão.
— Me disseram que era seu amigo. Nossa, não sei nem o que dizer. — A garota disse sem graça, fazendo Jisoo rir ainda mais.
— Isso que dá ter essa pose de bad boy. Se fosse afeminado, não passaria por esses constrangimentos. — Jisoo provocou.
Jungkook a olhou com deboche e guardou a lista no bolso de sua jaqueta.
— Tchau, "amiga". — Jungkook tentou deixar sua voz mais feminina, mas Jisoo negou com a cabeça.
— Palhaço! — Foi tudo o que a legista disse.
Jungkook conteve o riso e observou Boram, ainda tímida com toda a conversa:
— Obrigada pela ajuda. Vou nessa, tenho nomes para investigar.
Quando Jungkook já estava saindo pela porta, Jisoo resolveu questionar:
— Uma última pergunta, se você não pode investigar usando o sistema do DP, o que vai fazer?
Ele apenas sorriu de lado e voltou a caminhar. Estava na hora de usar seus contatos nos servidores do Google.
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Jimin perdeu a noção do tempo naquele lugar. A escassa iluminação deixava tudo ainda mais misterioso, e ninguém havia aparecido desde que ele pedira para contatar seu advogado. Sentado no chão frio, ele tentava refletir sobre as palavras de Jungkook, que o aconselhou a manter a calma e não se deixar levar pelos policiais, pois era evidente que tentariam fazê-lo confessar o suposto crime. O barulho da porta se abrindo o tirou de seus devaneios e ele observou na direção da porta.
Hoseok adentrou no local com passos firmes, trajando roupas sociais e cabelos recém-cortados. Ele colocou sua pasta em um canto e observou o amigo, notando sua aparência desgastada. Apesar de não ter passado tanto tempo desde sua prisão, Jimin exibia cabelos em desalinho e roupas amassadas, transmitindo um ar de desespero.
— Ainda acho arriscado me escolher como seu defensor, Jimin. Não sou especializado em direito criminal, mas sim em questões trabalhistas. Há uma grande diferença aí. — Ele expressou sua surpresa. Quando recebeu a ligação de Jimin pedindo sua ajuda, ficou intrigado com a situação.
— Não há ninguém melhor do que você para me representar, Hope. — Jimin se levantou, segurando as grades e observando seu amigo com ansiedade.
— Muito bem, então é imprescindível que me conte todos os detalhes do que aconteceu, sem omitir nada, por mais insignificante que pareça. Cada informação pode fazer a diferença.
Jimin concordou e narrou sua versão dos eventos com o máximo de detalhes possíveis, buscando ser minucioso. Na ocasião da morte de Mina, ele simplesmente acreditara na teoria do suicídio, assim como todos afirmavam. Ele foi desleixado, e se arrependeu amargamente por isso.
Após um tempo de conversa, a porta se abriu novamente e dois policiais vieram buscá-lo para o interrogatório. Jimin lançou um olhar incerto a seu amigo, enquanto Hope tentava transmitir confiança. Juntos, dirigiram-se à sala de interrogatório.
Sentado em uma cadeira, Jimin fitou as algemas em seu pulso, relembrando o conselho de Kookie sobre manter a calma para provar sua inocência. Sem demora, a porta se abriu mais uma vez e dois homens adentraram a sala. Jimin examinou cada um deles, reconhecendo Seokjin, o policial que esteve em sua casa para prendê-lo. O outro homem, alto e jovem, permanecia em pé junto à porta, com cabelos impecavelmente arrumados e trajes elegantes, exibindo seu distintivo no cinto. Ao seu lado, dois policiais ficaram a postos e assim fecharam a sala. Seokjin se sentou, enquanto o outro permaneceu em pé.
— Olá, Jimin. Espero que tenha se acomodado bem em nossas instalações. — Seokjin iniciou a conversa, arrancando um leve sorriso do suspeito. — Sou Kim Seokjin, já nos conhecemos. Este é Park Hanbin, delegado do DP. Faremos algumas perguntas e espero que seja o mais sincero possível, mesmo que pareça ser um desafio para você.
Jimin sorriu fraco, observando o delegado com cautela. Ele assentiu, e Seokjin prosseguiu:
— Poderia nos explicar por que não foi completamente honesto em seu álibi?
— Meu cliente não achou necessário ser preciso nos detalhes. É importante ressaltar que, desde o momento em que Mina foi encontrada sem vida em seu apartamento, todos presumiram que se tratava de um suicídio. Jimin foi descuidado, assim como vocês em suas conclusões iniciais. — Hoseok respondeu, como se já tivesse planejado suas palavras.
Seokjin dirigiu seu olhar primeiro para o advogado e depois para o suspeito, que exibia um sorrisinho no rosto.
— Ah, então agora o gato comeu sua língua? Bem diferente daquele Jimin que estava gritando para todo mundo ouvir que não matou a ex-mulher.
— Eu conheço os meus direitos e posso permanecer calado, mas, já que parece ser tão importante para você que eu diga algo, é isso mesmo. Me disseram desde o início que se tratava de um suicídio e se a falha primeiro veio de vocês, por que me julgarem por não ter sido tão sincero?
— Porque a sua falta de sinceridade pode te levar para a cadeia, Park Jimin. — Dessa vez foi o delegado que disse, e Hoseok cutucou Jimin, pedindo-lhe que se mantivesse em silêncio.
— Você não respondeu minha pergunta. — Seokjin continuou incisivo.
— Meu cliente chegou pontualmente às 18h na empresa. Porém, ficou no estacionamento, ocupado com alguns assuntos. — Hope disse, mas Seokjin não parecia convencido.
— Hmmmm, entendi. Vamos ser sinceros, Jimin, você queria sua ex-morta, não queria? Afinal, ela podia contar para seus pais que o filhinho deles gostava de outra coisa e isso te incomodou. O que você fez? A drogou para facilitar o trabalho?
Jimin manteve seu silêncio, mas sua vontade era de socar a cara de Seokjin. Ele não teria coragem de machucar Mina, mesmo que ela quisesse expor quem ele era de verdade. Hoseok negou com a cabeça e disse:
— Ele não é obrigado a responder isso. Você está apenas o induzindo a responder algo, mas diga-me, que provas concretas você tem sobre essas alegações? Encontrou pinos de droga na banheira? Mas como isso ligaria Jimin? Tentaram rastrear os pinos para saber de qual laboratório vieram? Para mim, Seokjin, o senhor está apenas sendo tendencioso.
Por alguns segundos, Seokjin ficou sem palavras, enquanto Jimin mantinha aquele olhar presunçoso sobre ele. O loiro se lembrou do dia em que esteve na presença da médica legista em sua casa para uma simulação em uma boneca. Naquele dia, ela citou: "Quero muito ver Seokjin se ferrando". Uma luz brilhou na cabeça de Jimin; ele não sabe como, mas o homem ali na frente estava tentando provar que ele matou Mina, mas tem algum envolvimento nisso. Nesse mesmo dia, Jungkook disse que sua ajuda não era por sua causa... aquilo só fez seu sorriso aumentar.
— Por que está sorrindo, Park Jimin? Eu vou te colocar na cadeia pela morte de Mina, pode ficar se achando o quanto quiser, mas eu vou te pegar.
— Sabe o que eu acho? Que você não tem provas suficientes contra mim. — Jimin disse de uma vez e Hoseok logo pegou o fio da meada.
— Até agora você só fez suposições e não mostrou nenhuma prova concreta. Isso está certo, delegado? — O advogado observou ao outro homem que se mantinha de pé.
O delegado, que até então estava calado e observando tudo, deu alguns passos adiante e disse:
— De fato, houve uma investigação mal feita na época em que Mina morreu, e agora estamos colocando tudo a limpo. Entretanto, Park Jimin, se não puder provar seu álibi, continuará preso pela acusação da morte de Lee Mina. De acordo com os novos laudos feitos no corpo da vítima, ficou bem claro que ela foi assassinada. Ainda não podemos provar que foi você, mas isso não te coloca menos suspeito. O bom de você estar preso é que, sempre que surgirem dúvidas, sabemos onde te procurar. — Ele olhou para os dois policiais que estavam de tocaia na sala e continuou — Podem levá-lo.
Os policiais levaram Jimin, que foi acompanhado pelo seu advogado. Enquanto isso, Seokjin se sentia frustrado, apertando os punhos contra sua perna, sem acreditar que não conseguiu nada.
— Olha, esse foi o pior interrogatório que eu vi na minha vida. Você não pode induzir coisas sem provas concretas. — Park Hanbin disse, se aproximando de Seokjin.
— Ah, me poupe, foi ele que matou a ex-esposa. Não me diga que acredita nele?
— Para mim, todos são culpados até que se prove o contrário. A questão aqui é que deveria ser você a deixá-lo nervoso a ponto de se entregar. Porque me pareceu o contrário?
— Não foi bem assim, veja bem...
— Não, Seokjin, está claro, bem claro para mim. As evidências vão te levar ao verdadeiro culpado, mas onde estão as evidências? Eu li o relatório do caso, não é suspeito que tenha poucas provas coletadas? Não deveria estar trabalhando nisso?
Seokjin engoliu em seco e apenas assentiu.
— Então vá trabalhar. Eu escutei você e isso me fez afastar um dos nossos melhores investigadores do caso. Ele me disse uma coisa interessante sobre você... — Hanbin se aproximou ainda mais de Seokjin, que lutava em seu interior para se manter calmo. — Eu acho bom você voltar a trabalhar e encontrar mais provas, caso contrário, terei que tomar providências e eu sei que você não vai gostar.
O investigador não respondeu nada. Não havia o que dizer, apenas sentiu mais ódio. Jungkook deve ter contado algo a Jimin, pois ele não parecia nada assustado como antes. O ódio pelo seu "amigo" só aumentou. Desde os tempos da academia de polícia, Jungkook sempre recebia muita atenção, enquanto Seokjin era visto como uma sombra. Era sempre o mesmo papo: "Você é bom, mas você viu o que o Jungkook fez?". Ele deu passos para trás e saiu da sala de interrogatório, pois agora, mais do que nunca, ele precisava prender Jimin.
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Depois de horas perdido em sua pesquisa, Jungkook finalmente tinha um nome: Kang In-soo. Este homem era um dos principais promotores de justiça na época do escândalo que parou a Coreia. Kang In-soo mantinha uma vida movimentada, recheada de prostitutas e drogas. Na época em que seu nome caiu na investigação, estava casado com Kang Joo-a. A mulher passava pano para as traições do marido, afinal, ele mantinha seu alto padrão de vida. Mas tudo ruiu quando ele teve que entrar no programa de proteção à testemunha e tanto ele como sua mulher tiveram que sumir do mapa.
De todos os nomes responsáveis pelo caso de Lee Mina, apenas Kang In-soo tem ligação direta com o escândalo de corrupção. E se sua teoria estivesse errada, ele ainda poderia ir atrás dos primeiros investigadores do caso. Entretanto, algo lhe dizia que isso teria que ter vindo de um peixe grande como Kang In-soo. Por isso, pegou sua moto e uma mochila, partindo em direção a Daegu.
Fazia muito tempo desde que pegou sua moto e caiu na estrada. Por mais que os motivos não fossem os melhores, ele apreciava a liberdade que conseguia ter dirigindo em alta velocidade.
Jungkook sempre gostou de motos. Quando criança, colecionava motos em miniatura e, quando finalmente teve dinheiro suficiente, comprou sua primeira moto. Em Chicago, ele também teve uma moto, uma Kawasaki Z 750. Ele nunca se esquecerá de quando pegou quinze dias de folga e percorreu a histórica rota 66 de Chicago até o Santa Monica Pier, avistou o mar e se sentiu o dono do mundo. Ele nunca se esquecerá das baladas em Oklahoma, os bares countrys do Texas, os museus e festivais em New Mexico, do calor do Arizona e o deserto pintado, do desvio que fez para ver as luzes de Vegas e os famosos cassinos, terminando sua aventura solitária no pacífico.
Ele nunca se sentiu tão pleno desde que terminou com Jimin; a viagem acalmou a tempestade insistente que caía dentro do investigador, deixando-o menos confuso e perplexo diante de suas novas oportunidades. Pilotando sua moto esportiva, ele recordava vividamente a sensação ao percorrer a rota 66, mesmo que aquela estrada fosse completamente diferente da rota histórica.
Levaria pouco mais de três horas para chegar em Daegu, mas Jungkook permitiu-se ultrapassar os limites de velocidade. Estava ansioso, com pressa e com muita raiva acumulada dentro de si. Passou pelo distrito industrial e seguiu rumo ao hotel onde reservou um quarto para apenas uma noite.
Ao chegar na suíte, tirou toda a sua roupa e foi direto para o banho, onde lavou seus cabelos e relaxou o corpo. Em seguida, envolveu-se em um roupão e foi buscar seu laptop na mochila. Ao ligá-lo, focou-se diretamente em seu objetivo: as informações cedidas por seu amigo que trabalhava no servidor do Google. Teoricamente, aquilo era contra as regras, mas estava sozinho na busca por desvendar o mistério; este era um caso onde ele teria que ignorar os meios para atingir o fim.
Acessou os arquivos do celular de Kang Joo-a, ex-esposa do promotor. O investigador sabia que seria perda de tempo procurar Kang In-soo, pois ele não se entregaria facilmente; no entanto, a mulher traída e forçada a abandonar seu estilo de vida luxuoso sim.
Com as informações obtidas, ele soube que ela estaria num jantar à noite, num restaurante italiano chamado Galilei, acompanhada de um novo namorado. O restaurante só permitia a entrada perante uma reserva, mas isso não o impediria de agir.
Dirigiu-se a uma loja onde adquiriu um terno elegante e sapatos combinando, jogou os cabelos para trás e chamou um táxi para levá-lo até o restaurante. O local estava lotado e todo o ambiente era tão sofisticado que ele teve a certeza de que apenas pessoas muito influentes frequentavam ali. Encontrou o acesso para funcionários e não precisou de muito esforço para conseguir entrar, questionando a segurança ineficiente do local.
Alguns funcionários até o observaram, mas ele se manteve calmo e discreto, como se fosse mais um deles e conseguiu chegar a área dos clientes, caminhando sem chamar a atenção entre as mesas em busca de seu alvo, mas não precisou andar muito.
Kang Joo-a estava logo à frente, usando um vestido preto e longo que realçava suas curvas. Seus cabelos estavam presos em um coque, os brincos repletos de brilhantes junto ao colar dourado indicavam sua riqueza. Aliada à sua maquiagem impecável e postura perfeita, ela era uma mulher de classe. Não estava sozinha, acompanhada de um homem de cabelos grisalhos, óculos de grau e sorriso gentil. Era hora de obter suas respostas.
Ele se aproximou e, sem pedir licença, puxou a cadeira e sentou-se junto ao casal, que o olhou espantado. Jungkook sorriu e disse primeiro:
— Boa noite, eu preciso ter uma palavrinha com você. — Olhou para a mulher, que ficou ainda mais confusa.
— Hey cara, dá o fora antes que eu chame os seguranças!
— Vá em frente. — Disse, colocando seu distintivo na mesa, e o casal se entreolhou.
— Amor, se puder nos dar licença, acho que ele quer falar comigo. — A mulher sorriu e, mesmo contrariado, o homem se levantou e saiu.
— Obrigado pela gentileza — Jungkook começou — Kang Joo-a, eu tenho algumas perguntas e ficaria muito grato se pudesse cooperar.
— Escuta aqui, policial. Eu já prestei meu depoimento sobre meu ex-marido. Não temos mais nada, então não tenho nada a declarar. — Ela respondeu rispidamente e tomou um bom gole de seu vinho.
— Seu ex-marido alterou vários casos, favorecendo os verdadeiros culpados. Sei que ele ganhou dinheiro com isso, mas havia mais motivos para isso? O que um promotor tão rico ganharia alterando o caso de suicídio de uma moça pobre, com três filhos e vivendo num apartamento pequeno, que não valia nem um terço da mansão em que vocês viviam? Qual seria a ligação?
A mulher bufou e bebeu mais antes de responder:
— Deveria estar perguntando isso a ele, não a mim.
— Eu considerei muito ir até ele, mas pense comigo; uma mulher rica e influente como você, acostumada a ter tudo do bom e do melhor, de repente ter que mudar todo seu estilo de vida pelo erro de um homem que se casou com você, mas te traía com várias mulheres. E talvez, você até não gostasse dele de fato, mas gostava da vida de rainha que tinha. E olhe só para você agora. — A mulher ficou em silêncio, remoendo as palavras de Jungkook, mas ele ainda não havia terminado. — É um brinco muito bonito, quase perfeito para imitações de diamante. — A mulher levou a mão direita ao brinco no mesmo instante e o investigador explicou — Enquanto estava longe, a luz local fazia com que as pedras brilhassem, dando a ilusão de serem diamantes, mas aqui do seu lado, as luzes não refletem. Diamantes reais brilham intensamente sob qualquer distância e direção. Eu diria que é uma imitação muito boa ou um diamante de baixa qualidade.
— E daí? Agora é crime usar bijuteria? — Ela respondeu ofendida.
— Não, claro que não. Mas o tom de ofensa em sua voz confirma minha suposição. Posso continuar se você quiser, por exemplo, seu vestido. Um vestido muito bonito, o que é, Versace? — A mulher não respondeu, mas olhou de forma fulminante para Jungkook — é uma réplica de primeira linha, quase imperceptível, mas veja o tecido, como o brilho dele é meio suspeito, o que é? Poliéster? Alta costura nunca usa um tecido tão inferior como poliéster. Além disso, as costuras da barra estão mal feitas, notei quando me aproximava. É uma imitação muito boa.
— Policial, eu já entendi seu jogo. Mas eu não posso te ajudar. Se essa garota não tiver sido uma das prostitutas que ele comeu, eu não sei por que teria alterado o caso. Ele não me contava, só agia. — Ela disse, terminando seu vinho e encarando o investigador nos olhos.
— O nome dela era Lee Mina. Isso lhe é familiar?
— Tem foto dela?
Jungkook pegou seu celular e acessou o antigo Instagram de Lee Mina. Não havia muitas fotos, mas ainda assim decidiu mostrar para Kang Yoo-a. A mulher examinou o perfil e negou com a cabeça:
— Ela não se encaixa no tipo de mulher do meu ex-marido. Ele gostava de mulheres com uma beleza extravagante, em sua maioria prostitutas de luxo. Até mesmo idols de grupos fracassados e subcelebridades. Quando nos conhecemos, eu estava começando minha carreira na mídia. Tirava várias fotos, fazia muitos comerciais e ele me ofereceu um estilo de vida que eu desejava muito.
— Então desistiu de sua carreira para se tornar uma mulher da elite.
— E olhe onde estou agora, não é mesmo, investigador? Aquele desgraçado acabou comigo. Arruinou minha reputação e agora me vejo presa nesta cidade, escondendo minha verdadeira identidade.
— Bem, a senhora foi complacente as ações dele, então essa conversa não me sensibiliza. De qualquer forma, agradeço pelo seu tempo, suas informações foram valiosas. — Jungkook se levantou e guardou o distintivo.
— Valiosas? Não lhe contei nada preciso. Conseguiu entender alguma coisa com informações vagas? — A mulher o olhou curiosa e Jungkook sorriu.
— Como dizia o homem que dá nome a este restaurante: "Todas as verdades são fáceis de entender uma vez que são descobertas; o objetivo é descobri-las." Agora só preciso encontrar a conexão que une seu ex marido e Lee Mina.
Ele se virou e saiu em direção à saída. Para ele, não havia dúvidas de que o promotor foi quem mandou adulterar as provas do caso. Mas ainda não sabia exatamente por quê. Teria que encontrar o elo entre Mina e o promotor de justiça. Avistou um táxi parado do outro lado da rua e se dirigiu até lá. Quando estava bem próximo, seu telefone tocou e ele atendeu imediatamente:
— Investigador Jeon Jungkook.
— Oi... — Uma voz masculina falou do outro lado da linha.
— Quem está falando?
— É o Lee Minho! Acho que sei o que aconteceu com minha irmã.
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Han estava chocado. Justo quando parecia que as coisas finalmente iam se acalmar, a polícia prendeu Jimin. As crianças estavam assustadas, Sunmin ficou amuado o dia todo e as gêmeas estavam confusas e seu marido abatido. Em apenas uma semana, seu lar parecia destruído. Jimin foi preso pela manhã e agora já era início da noite. Tudo ainda parecia errado.
Durante a tarde, ele tentou acalmar as gêmeas. Felizmente, as meninas estavam muito felizes com o retorno do tio, e passaram o tempo juntos, brincando e se distraindo do momento tenso da manhã. Minho não teve escolha senão ir trabalhar, já fazia três dias que não comparecia e, mesmo não querendo se afastar das crianças, precisava assumir suas responsabilidades.
Han havia terminado de esquentar o jantar e colocado as meninas para comer. Em seguida, dirigiu-se ao quarto de Sunmin e bateu na porta. Sem obter resposta, bateu novamente. Preocupado, abriu a porta e deparou-se com o garoto em prantos na cama. Nunca antes Han tinha visto Sunmin tão fragilizado, sabia que algo precisava ser feito. Aproximou-se, porém, ao notar a presença de Han, a criança encolheu-se, deixando claro que não desejava conversa:
— Sunmin, venha, o jantar já está quente e te esperando.
O garoto não respondeu, limitando-se a virar o rosto para o travesseiro.
— Sunmin, suas irmãs estão te esperando.
— Vai embora... — disse o garoto, com a voz abafada pelo travesseiro.
— Sunmin, sei que está chateado, mas você precisa comer. — Han aproximou-se ainda mais, colocando a mão no ombro da criança.
De imediato, Sunmin virou-se e retirou bruscamente a mão do tio de seu ombro. Surpreso com a atitude, Han foi pego de surpresa e Sunmin não parou:
— VAI EMBORA DAQUI, EU NÃO QUERO OLHAR PARA VOCÊ! — gritou a criança.
— Sunmin, você precisa se acalmar... — disse Han, respirando fundo. Ele havia prometido a Minho que lidaria com a criação do garoto com a maior paciência possível.
— VAI EMBORAAAAA! — Num impulso, Sunmin agarrou seu Gameboy e o arremessou com toda força na direção de Han, que conseguiu desviar.
Han encarou o garoto assustado, nunca antes havia presenciado Sunmin tão violento. A criança não cessou, continuou a atirar tudo o que encontrava em direção a Han. O homem sabia que precisava agir, afinal, ver seu pai sendo preso sob a acusação de matar sua mãe era algo que, com certeza, Sunmin não deveria enfrentar. Han continuou a se aproximar, mesmo com os gritos de Sunmin para se afastar. Com determinação, puxou o garoto pelo braço e o envolveu em um abraço.
Sunmin continuava a gritar, debatendo-se e agredindo Han, que ignorava os arranhões e socos que recebia.
— ME SOLTA! ME SOLTA AGORA! — dizia o garoto entre lágrimas.
— Shhhhhhh, calma... você precisa respirar fundo, está bem? — Han falou, ignorando as agressões do garoto.
Ao fundo, as gêmeas choravam, observando a cena e assustadas com a situação. Sunmin começou a tremer, sua respiração acelerada agravava a crise.
— Vamos, Sunmin, respire fundo e conte até três, sei que você consegue fazer isso.
Levou um tempo, mas o garoto ouviu e começou a tentar respirar mais devagar. Han acariciou os cabelos da criança, incentivando-a a respirar fundo para superar o ataque de pânico.
— Sei que está sendo difícil lidar com tudo isso, mas vou protegê-lo, Sunmin. Não permitirei que nada de mal aconteça a você e suas irmãs, certo? Meninas, respirem fundo também, vamos parar de chorar, está bem? Quero todos neste quarto respirando fundo e contando até três.
Han fez caretas para as gêmeas, que aos poucos substituíram as lágrimas por sorrisos, imitando o tio enquanto respiravam fundo. Sunmin, por outro lado, achou toda aquela situação patética, detestando ser tratado como um bebê. No entanto, de certa forma, estar nos braços de Han trouxe-lhe conforto, então juntou-se ao tio e começou a respirar profundamente, contando até três.
Após um tempo, Sunmin parou de tremer e Han sentiu alívio ao ver que aquele estado de pânico do garoto passou. Sunmin se soltou e limpou as lágrimas. Han segurou em seu ombro e disse:
— Está tudo bem chorar. Deve estar sendo difícil demais lidar com tudo isso. Mas tenha certeza de que eu e seu tio Minho vamos cuidar de vocês, está bem? Vamos lá comer alguma coisa? Ou pelo menos beber uma água?
Sunmin concordou e foi para a cozinha junto com suas irmãs e Han. Ele não comeu nada, mas bebeu água e ficou ali por um tempo. Quando sentiu sono, anunciou que iria dormir e Han o acompanhou até o quarto, por preocupação.
O garoto não disse mais nada, apenas deitou na cama e, sem demora, adormeceu. Já era bem tarde da noite e Minho ainda não havia chegado; Han precisava ligar para ele, mas primeiro colocar as gêmeas na cama. As duas assistiam TV quando ele disse:
— Hora de dormir meninas.
— Tio, o Sunmin te machucou? — Sunne perguntou, fazendo Han olhar para os arranhões em sua pele além os roxos e outras marcas vermelhas espalhadas pelo braço.
— Ele estava com problemas e eu fui ajudá-lo. Isso aqui não foi nada, agora vamos pra cama.
— Mas a gente não está com sono. — Sunhee falou e Sunne concordou.
— Vão dormir rapidinho. Vamos logo.
Ele desligou a TV, pegou nas mãozinhas das garotas e caminhou com elas até o quarto. O local possuía duas camas berço lado a lado, uma caixa de brinquedos além dos que já estavam espalhados e muitos desenhos colados na parede. Desenhos estes que Han ajudou a fazer. O quarto exalava um delicioso cheiro de camomila, graças à essência que Han sempre colocava em uma prateleira junto aos ursinhos de pelúcia.
Quando assumiu a responsabilidade das crianças, as três não o respeitavam. As meninas choravam o tempo todo, não conversavam com Han e faziam birra constantemente. Bang Chan o aconselhou a colocar cheiro de camomila no quarto, pois o aroma age como calmante, assim como seu chá. Além disso, ele costumava preparar o banho com água morna e essência de camomila, e não é que funcionou? Ele tentou colocar essência de camomila no quarto de Sunmin, mas ele sempre tirava, alegando odiar o cheiro.
Han cobriu primeiro Sunne e, ao cobrir Sunhee, notou um pequeno caderno de capa dura azul, quase debaixo do travesseiro da garota:
— O que é isso, meu bem? — Ele disse, puxando o caderno, mas foi impedido por Sunhee.
— É o caderno da mamãe!
— Não pode mexer nele! — Sunne protestou.
— Oh, me desculpe. — Ele soltou o caderno, e Sunhee o colocou atrás do travesseiro. — O que tem no caderno? Eu posso saber?
— A mamãe anotava tudo nesse caderno, ela nunca saía sem ele. — Sunne disse.
— É, e ela não gostava que mexessem nele. Nem a gente! — Sunhee continuou.
— Quando o papai foi com a gente na nossa antiga casa pegar as nossas coisas, eu vi que a mamãe esqueceu. — O tom de voz de Sunne ficou preocupado.
— Esqueceu? — Han arqueou a sobrancelha, já pensando que aquele caderno deveria ser uma espécie de planner, e se questionou por que a polícia não o levou.
— É! O papai disse que a mamãe teve que ir para o céu, virar uma estrelinha. E que um dia a gente iria se reencontrar.
— Então a gente decidiu guardá-lo para ela, para quando a gente se ver de novo...
— Entregá-lo. — As duas disseram juntas, e o olhar de Han ficou pensativo ao perceber que as duas não tinham noção total do que aconteceu à mãe e o que era a morte.
— Claro! Desculpe a intromissão, querem ouvir uma história?
As duas fizeram que sim e ele começou a contar uma história boba que inventara na hora, mas cumpriu com seu papel, pois as crianças começaram a bocejar e logo adormeceram. Han observou Sunhee dormindo, odiava ter que fazer aquilo, mas com delicadeza para não acordá-la, pegou o caderno e foi para a bancada da cozinha.
Primeiro pensou em como as gêmeas esconderam aquele caderno por tanto tempo sem ser notado. As duas devem ter se ajudado, pois estavam determinadas a não deixar ninguém tocar nele. Não perdeu mais tempo e o abriu, tendo a certeza de que se tratava de um planner onde Mina anotava seus afazeres, números de telefone, contas da casa e até sentimentos. Ele saltou para as últimas folhas escritas, onde encontrou algo, algo que o fez ficar atônito, além de um cheque de cinquenta mil dólares no nome de uma pessoa que deixou Han ainda mais atordoado.
Minho abriu a porta do apartamento quase que se arrastando. Estava tão cansado, o dia fora muito puxado. As luzes estavam acesas e ele localizou Han na cozinha. Caminhou até lá e disse:
— Amor, desculpe o atraso. Tive um dia e tanto, eu te mandei mensagem. As crianças estão bem?
— Minho... — Han disse ainda olhando para o caderno. — Chama a polícia agora.
— O que aconteceu, Han? — Ele se aproximou e notou os arranhões junto a alguns hematomas pelo braço do namorado. — Meu Deus, Han, o que aconteceu?
— Eu sei quem matou a Mina.
Estamos chegando na reta final da fanfic, e agora o Bicho vai pegar. Prometo não demorar com o próximo capítulo.
Eu imaginei a Kang Joo-A assim o:
Bonita né? Eu sei rsrsrs
Obrigada por estarem acompanhando essa história e até a próxima. ❤️
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