I. Alana
Estava entardecendo na cidade, e algumas luzes começavam a se acender pelas ruas. O sol se despedia dos habitantes daquele lado do hemisfério, para dizer 'olá' aos do outro lado, e de dentro de uma movimentada delegacia de polícia em Pinewood, Distrito Noroeste, Alana Winsdarth - oficial de policiamento e patrulha - se perdia em pensamentos ao observar o fim do dia pelas janelas do setor de documentação, onde cuidam de papéis e da burocracia no geral. Seus cabelos loiros e lisos estavam bem presos e amarrados, como norma da corporação, e tinha alta estatura, passando de um metro e oitenta - fruto de suas raízes escocesas. Tinha um corpo forte e seu rosto tinha curvas naturalmente acentuadas.
— Ainda tem uns documentos te esperando, sabia? — Comentou sua colega de trabalho
— Ahn...? Violet? — Livrando-se dos devaneios, ela volta a si. — Acho que eu tava um pouco...
— Perdida? É, eu notei. Só não esquece que o Sargento quer aqueles documentos pra hoje.
— Puxa, nem me fale. — Comentou com um desânimo inicial, mas logo retornou com alegria em seu rosto e prosseguiu para o computador, que tinha pilhas de documentos em ambos os lados. Sempre estava bem disposta para trabalhar, gostava de dar apoio aos seus colegas policiais e sempre era gentil com todos. Seu trabalho agora seria encontrar alguns documentos referentes a dezembro do ano passado, separar e digitalizar. Eram termos, fichas criminais e inventários, que seriam usados em um processo jurídico. Ela estava curiosa sobre oque seria, para exigir tantos documentos específicos, então perguntou à sua colega.
— Violy, você sabe pra quê exatamente eles estão querendo isso?
— Não faço nem ideia. Pode ser tanto pelo réu quanto pela vítima. — Respondeu.
Intrigada, Alana tomou um bom gole de café que havia no seu copo de plástico, e então deu tudo de si no trabalho. Usou a copiadora para alguns, e em outros, que estavam menos legíveis, utilizou ferramentas do próprio computador, graças ao avançado sistema da delegacia.
Seu copo já estava vazio, o dia já tinha acabado e era noite, mas os papéis pareciam não ter fim, quando sua amiga se aproximou.
— Alie, o Sargento disse pra você se encontrar com ele lá na frente. Eu cuido disso agora, pode deixar!
Alana agradeceu e logo se levantou. Seguindo até a saída do setor, ela se vê com o Sargento Howard Sullivan, alto, forte, de cabelo calvo raspado e com seu típico cheiro de cravos. Estava a aguardando do lado da porta com um envelope laranja.
— Preciso de você em um caso, Winsdarth. São assassinatos em série. Ele começou no Sul, com duas vítimas em Saint John, depois uma testemunha disse ter ouvido algo em Liberty Square, mas quando chegou só haviam os corpos. Depois, ele conseguiu passar pelos Ceifadores em Westbrook... — Ele tira do envelope algumas fotos das cenas do crime, entregando elas para a policial. Pessoas com seus rostos mutilados, completamente irreconhecíveis, e corpos totalmente destroçados, com sangue para todos os lados.
— Um total de nove mortes. E a menos que ele faça uma curva para o Centro, ou retorne ao Sul, ele vai estar em algum lugar daqui, no Distrito Noroeste. — Continuou ele, enquanto Alana observava as fotos, sentindo fortes náuseas com aquele conteúdo brutal. Foi treinada para ter uma alta resistência emocional, mas apesar disso, ela sempre foi uma pessoa bem mais sensível que as demais.
— E oque eu devo fazer, senhor...? — Disse, com um nó de marinheiro no estômago.
— Você e Saito vão sair para fazer uma patrulha em North Haven, e amanhã, uma tocaia na saída para o Centro, na quarta avenida. Se ver algo suspeito, faça um relatório completo.
— Sim, senhor. Vou chamar ele. — Entregou as fotos, já se recuperando daquilo.
Saiu para procurar por Jake pela delegacia, encontrando ele em frente á viatura usada pelos dois, um Chevrolet Impala de 1998. Estava encostado no capô ao lado de uma caixa com quatro cafés e algumas guloseimas que havia comprado.
— Você demorou, garota. — Saito estava tranquilo.
— Eu já devia imaginar que tinha ido comprar comida. Acho que nunca te vi fazer trabalho de campo sem pelo menos uma barra de cereal na mão. — Logo os dois entram no veículo, com a escocesa dando partida.
— Você não mandou ela pro polimento, né? — Comentou ela.
— Não. Mas se quer saber, uns arranhões aqui e ali são só parte do charme.
O veículo sai da delegacia pelo portão da frente, e parte em direção ao bairro de North Haven, onde passariam o resto da noite em claro. Alie passou por uma lavanderia e estacionou em um beco, que ficava entre ela e um fast food. Era um ponto estratégico, onde teriam a visão de uma intersecção de ruas, por onde passavam toda a sorte de indivíduos, sejam moradores ou apenas transeuntes do Distrito. Alie desliga o carro, e as sombras encobrem todo o veículo, tornando a dupla praticamente invisível, ela mantém o rádio-comunicador ligado para ouvir os chamados da Central, e fica a observar a passagem.
— Temos uma descrição do cara? — Pergunta Saito.
— Nenhuma. Mas pra conseguir passar daqueles motoqueiros em Westbrook, deve ser bem alto e forte, com um casaco grande pra esconder algumas armas, talvez. — Comentou, pensando nas prováveis características do criminoso.
— Ou ele pode ser ágil e rápido. Igual um ginasta ou um cara de circo.
— E ser mais rápido que uma moto? Não sei, não... — Haviam muitas dúvidas, ninguém havia certeza sobre sua descrição física.
Permaneceram conversando, entre risos modestos, goles de um morno café expresso e mordidas em sanduíches de atum e em barras de cereal, até que os ponteiros do relógio batiam em meia noite e quarenta e nove minutos. Quase na primeira hora do dia, avistaram um jovem de pele morena caminhando sozinho na rua, usava tênis, jeans e uma camisa polo branca com uma caneta no bolso, e carregava uma mochila grande nas costas.
— Ele vai ser assaltado... — Disse Saito.
— Realmente. Oque ele está fazendo aqui, numa hora dessas?
— Perdido, talvez. Olha ali! — Jake apontou para um trio de rapazes que abordaram o menino.
Pelas roupas, certamente eram marginais de rua, sem ligação com alguma facção da cidade. Faziam brincadeiras com o garoto, para o deixar ainda mais desconfortável, e quando se cansaram, pediram pela mochila, mas ele se recusava a entregar. Percebendo como a situação estava escalando rápido, Alana decide fazer o seu dever.
— A coisa vai ficar feia, vamos dar um susto neles. Talvez possam saber de algo sobre o assassino. — Disse Winsdarth, logo saindo do veículo com seu parceiro.
Os três insistiam em roubar a mochila, puxando ela das costas do rapaz, que fazia grande esforço para se manter com ela.
— Por favor, eu só quero voltar pra casa...
— Blá, blá, blá. Dá isso pra gente! — Disse o do meio, segurando seu braço direito, quando finalmente conseguiram tirar sua bolsa.
— Parados aí! Polícia! — Exclamou Jake.
— É os cana! Vam'bora! — Disse o rapaz com a bolsa, saindo o mais rápido possível. Os demais o seguiram
— Eu pego a bolsa! — Jake correu na frente.
Alana pegou as algemas na cintura, e sem muita dificuldade, colocou no braço esquerdo do primeiro menino, e rapidamente aplicou o mesmo movimento no segundo, prendendo-os um ao outro. Os dois, incomodados com os pulsos, tentaram se soltar, mas sem sucesso. Alana os colocou no chão, para que não escapassem.
Jake estava no encalço do terceiro. Rapidamente encontrou um beco e subiu pelas escadas laterais de incêndio, quando foi surpreendido ao ver que o policial subiu uma lata de lixo e num único salto alcançou a varanda das escadas, e trepando nas grades, o alcançou. Tentou voltar pelo mesmo caminho, mas Jake o segurou pela camisa.
— Tu é algum tipo de ciborgue, cana? — Disse ele, impressionado.
— Exercícios, garoto. — Respondeu.
Antes de entrar para a polícia, Jake sonhava em ser dançarino, de diversos estilos, desde contemporânea até o balé. Para isso, treinou seu corpo para ser o mais ágil possível, mas isso não é tudo.
Com a mochila recuperada, e o último delinquente capturado, Alana deixou o trio com Jake para chamar por reforços no rádio da viatura, e comunicou a Central sobre a situação. Não podiam deixar seu ponto de tocaia, pois ainda não haviam terminado o seu turno ali.
— Vocês estão sabendo de algum serial killer aqui no Distrito? Ele começou no Sul, depois passou pelo Oeste e agora dizem que pode estar aqui. — perguntou Saito.
Porém, nenhum deles soube responder. E não estavam se omitindo, realmente não sabiam de nada sobre o cara.
— A gente não sabe dele. Ninguém sabe, é um cara estranho todo cheio de segredos.
A mochila foi devolvida, e os garotos foram colocados numa viatura um pouco maior que o Impala usado pela dupla. O homem atrás do volante tinha um cabelo castanho escuro, com visíveis entradas na frente.
— Pegando adolescentes na rua? Acho que você tá amolecendo, Saito... — Disse o homem no carro em tom de sarcasmo. Era um velho amigo de Jake, Detetive Valmore Travis, da Delegacia de Narcóticos da zona norte.
— Só o básico de sempre, Travis. Sabe se alguma coisa daquele serial de Saint John?
— O Denver investigou algumas cenas. Disse que encontrou uns fios bem estranhos. Ou ele tem um baita cabelo, ou pode estar usando uns cachorros dos grandes. Provavelmente a segunda opção, pra conseguir fazer aquilo com a vítimas... — Respondeu o detetive. Denver Collins é um perito criminal que trabalha na Delegacia do Oeste.
— É, já é alguma coisa. Valeu, Travis!
— E você, garoto? Tá bem tarde pra ir à escola, não acha? — Perguntou o Detetive à vítima, que já estava quase indo embora.
— D-desculpa senhor, é que... Eu... — disse o menino, nervoso.
— Tranquilo. Você é filho da Samantha, não é? Ela é minha vizinha, eu te levo até lá.
Valmore abriu a porta para o garoto entrar, e assim o levou em segurança para casa, depois de deixar os delinquentes na delegacia.
Com tudo resolvido, a dupla retorna para o veículo no beco.
— Travis soube de algumas coisas sobre o assassino. Ele deve ser cabeludo, ou deve estar com algum cão bem grande. — Comentou Jake
— Alto, muito cabelo, jeito selvagem de agir... É impressão minha, ou estamos procurando pelo Conan? — Jake riu do sarcasmo de sua companheira, pegou um segundo copo de café e voltou a observar a rua.
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Permaneceram a conversar noite à dentro, com a Central comunicando no rádio algumas ocorrências que surgiam. Ficaram ali até o início da manhã, às cinco em ponto, quando saíram de lá com nada além de uma tentativa de assalto para relatar ao Sargento. Ao se encontrarem com ele em seu escritório, disseram aquilo que o Detetive do sul conseguiu em uma investigação, e isso lhe trouxe algum alívio. Pediu para anotarem e repassarem ao departamento de inventário, que iria conferir, entre as muitas fichas de criminosos da cidade, qual deles teria características semelhantes.
— Ainda pensando no nosso Conan? — Perguntou o policial asiático, que já estava vestido com suas roupas de civil, e com a bolsa em ombros para voltar pra casa.
— Sim. Não me lembro de ter visto algo assim antes. Digo, ninguém é capaz de aparecer e desaparecer para tantas pessoas. Ainda mais matando várias delas no processo... — Comentou sua parceira, também com roupas de civil e a caminho da saída da delegacia.
Estava com seus longos e loiros cabelos soltos e ao vento. Livres como sempre deveriam estar. Os dois passam por uma porta lateral, onde policiais saem de seus turnos de forma sigilosa, para que suspeitos curiosos não os vejam.
— Bem, nunca descobriram quem era o Jack Estripador, não é?
— Jake, Londres daquela época não tinha a mesma tecnologia que temos hoje. Se fosse hoje, ele seria pego em alguns dias!
— Bem, seja como for... A gente já pegou assassinos antes, esse aí só teve um pouco mais de sorte. — Disse com entusiasmo.
— É isso aí! — Disse ela, transbordando do mesmo sentimento. Despedindo-se, os dois tomaram caminhos opostos para casa.
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