Sombras de um Sol
Eu apenas queria sair para esfriar a cabeça; acalmar a mente. Era pra ser somente isso. Deveria ser somente isso. Mas não foi.
Tinha acabado de discutir com minha esposa. Coisas do trabalho. Não. Culpa do trabalho. Eles sempre fazem isso conosco, não é mesmo?
Nascemos diante da dor, crescemos sabendo da morte, amadurecemos tentando evitá-la e no final ela é a única que nos abraça na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. E o trabalho o que tem com isso? Descartando a dádiva do nascimento e o aval da morte, o que sobra entre eles pode-se resumir a trabalho.
Buscamos o conhecimento com o propósito de nos estabelecer da melhor forma no mundo - resistir à morte. Fazemos o bem - ou pelo menos tentamos. Somos cobrados, chantageados pelo sistema da sobrevivência. Isso é desgastante e nenhum pouco empolgante. Talvez até seja, mas com certeza é apenas uma máscara, já que não dura para sempre.
Isso é trabalhoso. Muito, muito mesmo.
Era só não ter socado o seu chefe, ela disse. Simples não é? Será que o simples também é fácil? Viver é fácil também. Aprenda, se alimente, se encaixe, estude, trabalhe. Simples, não?
Quantos abandonaram tudo? Fácil?
Para onde vai, ela perguntou.
Maldita hora!
A noite estava mais fria do que o normal. Peguei o casaco jogado no sofá e me dirigi para aquele breu, assim como gostaria de deixar a minha mente, em um vazio.
Parei em uma árvore com o tronco gigantesco. Sentei sobre o que durante o dia seria sua sombra. Lá, refleti por horas - pelo menos eu acho.
Cheguei a conclusão de que minha inquietude não era algo fácil de resolver, porém, se eu entrasse na jornada de tentar compreendê-la, afetaria outras pessoas.
Voltei para casa, a porta escancarada. Lembrei de ter fechado então não entendi muito bem. Rastros de sangue sob os meus pés. Minha cabeça explodiu.
Atravessei o corredor rapidamente, cheguei à cozinha e o corpo dela estava lá, estendido no chão com profundos cortes em várias partes do corpo. Sua roupa rasgada, suas unhas danificadas.
Não derramei sequer uma gota de lágrima. Entender a situação poderia ser simples, porém não merecia meu tempo.
Com o ombro esguio e olhar insignificante, caminhei para o conjunto de facas que estava estendido ao chão. Puxei uma e cravei-a em meu peito.
Naquele momento, viver foi fácil.
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