Capítulo 11
Acordo de repente, como se tivesse sido puxada de um abismo profundo. Meu peito arfa em busca de ar, mas o quarto ao meu redor está abafado, quente, sufocante. Meu coração martela contra minhas costelas, e por um instante, não consigo distinguir sonho de realidade.
A sensação de algo me sacudindo me traz de volta. Tate está ali, ao meu lado, sua mão firme, mas cuidadosa, balançando meu ombro. Seus olhos estão arregalados, a preocupação transbordando neles como uma tempestade silenciosa.
— Carly! — sua voz me chama, e o som é como uma âncora, algo real para me agarrar nesse mar turbulento em que me encontro.
Sento-me em um salto, ainda sem ar. Meus pulmões queimam, como se o cheiro de enxofre do pesadelo ainda estivesse preso ali. E antes que eu perceba o que estou fazendo, passo meus braços em volta dele e o abraço. Meu rosto colado em seu peito firme. É um gesto desesperado, quase irracional, mas preciso de algo — alguém — que me traga à realidade.
Ele endurece por um momento, como se não esperasse minha súbita proximidade. Sinto os músculos de seu corpo se enrijecerem, e por um segundo, temo que ele vá me afastar. Mas então, com um suspiro quase imperceptível, ele me envolve com os braços.
Seu abraço é algo que eu não sabia que precisava. É forte, mas delicado, como se ele estivesse segurando algo prestes a se quebrar. E talvez ele esteja.
Minha cabeça ainda repousa contra seu peito, e por um momento, eu apenas ouço. Ouço o som de seu coração batendo em um ritmo constante, uma melodia simples, mas que tem o poder de acalmar a tempestade dentro de mim. É um contraste gritante com o caos que sinto — ele é quente, sólido, enquanto eu sou fria, fragmentada.
— Foi só um pesadelo, Carly — ele sussurra, sua voz baixa, mas carregada de uma ternura que eu não esperava. Sua mão desliza pelo meu cabelo, um toque hesitante, mas reconfortante. — Estou aqui com você.
Eu deveria dizer algo, mas minha garganta está apertada, como se palavras fossem presas que não consigo libertar. Tudo o que consigo fazer é apertá-lo um pouco mais, como se soltar fosse me fazer desmoronar.
— Tudo parecia tão real — murmuro contra seu peito, minha voz embargada pelas lágrimas que ainda não derramei. — A dor... os gritos...
Minha confissão soa pequena, vulnerável, e me sinto ainda mais exposta.
— Você sonhou com eles? — ele pergunta, sua voz agora mais cuidadosa, quase temendo a resposta.
Fecho os olhos com força. Não quero responder. Não quero voltar àquele lugar, àquele momento. Acho que ele percebe, porque não insiste.
— Eu sei como é — ele continua, sua voz tingida com algo que não consigo decifrar completamente. Dor? Empatia? Talvez os dois. — No início, é difícil. As lembranças vêm como ondas, e a saudade... é como um peso que você acha que nunca vai sair. Mas melhora, Carly. Um dia, melhora.
Ele sabe. Tate sabe como é. Ele também perdeu os pais. Ele conhece essa dor que me corrói, essa sensação de ser arrancada de um mundo que antes parecia seguro. Ele sofreu, assim como eu estou sofrendo agora. Mas ele está aqui, e isso me dá uma fagulha de esperança, ainda que frágil.
Levanto meu rosto para olhá-lo. Seus olhos estão fixos nos meus, serenos, mas cheios de preocupação. Há algo reconfortante ali, algo que me faz acreditar, mesmo que por um momento, que talvez eu não esteja tão sozinha quanto penso.
Sou grata por ele.
Mas ao mesmo tempo, há uma parte de mim que hesita. Uma parte que sente culpa por encontrar conforto em seus braços quando a dor deveria ser minha e apenas minha. É como se eu estivesse roubando algo que não me pertence — um consolo que não mereço.
— Obrigada — murmuro, mas a palavra parece insuficiente.
Tate apenas sorri, um sorriso pequeno, quase imperceptível, mas sincero.
Por um momento, sinto que é só isso que existe: o calor reconfortante de seus braços e o som distante de sua respiração. Não quero que ele vá. Porque quando ele for, o vazio volta.
Mas um pensamento atravessa a bolha que criamos. Algo prático, quase banal, mas que exige minha atenção.
— Hm, Tate?
— Sim? — ele afrouxa um pouco mais o abraço enquanto ainda me olha.
— Como você entrou aqui? — pergunto, tentando dar leveza à minha voz. — Tenho quase certeza de que tranquei a porta antes de dormir. E, pelo que sei, vocês não podem entrar no lado feminino.
Ele hesita por um segundo, como se avaliasse se deveria responder ou não, mas acaba cedendo.
— Sou o monitor de corredor esta noite. Em breve será você. Aqui no instituto a gente reveza. Amanhã pode ser o Leonard ou a Tiny... Mas você não precisa se preocupar com isso agora — ele explica, seus ombros relaxando enquanto fala. — Enquanto fazia minha ronda, ouvi você gritando. Achei que algo grave pudesse estar acontecendo... — Ele faz uma pausa, olhando para o chão por um instante antes de voltar a me encarar. — Uma invasão, talvez. Então usei magia para abrir a porta.
Levanto uma sobrancelha, tentando não rir da justificativa.
— Então você arrombou meu quarto? — provoco, cruzando os braços, tentando a todo custo afastar o turbilhão emocional que me fez ficar nesse estado. — Por acaso já houve alguma invasão aqui?
— Claro que não! — Ele responde rápido demais, e percebo sua expressão se contrair por um breve instante.
— Então, mesmo não havendo nenhum risco, você entrou. Por quê? — Meu sorriso cresce, um traço de diversão substituindo o peso do meu peito. De repente, ele é tudo em que consigo me concentrar, afastando os resquícios do pesadelo. Sinceramente, eu meio que sei a resposta, mas quero ouvir da boca dele.
Tate solta um suspiro, resignado, e finalmente admite:
— Fiquei preocupado com você.
Há uma certa honestidade estampada em sua voz que me pega de surpresa. O pequeno sorriso que ele dá é para si mesmo, mas faz com que aquelas covinhas apareçam em seu rosto. O detalhe me faz desviar o olhar.
— Acho melhor você ir — digo, finalmente, com um tom mais calmo. Não quero que ele vá, mas sei que deve. — O susto já passou.
Ele me observa por um momento, como se estivesse avaliando a sinceridade das minhas palavras.
— Tem certeza?
— Sim. Estou bem agora.
Ele hesita antes de se levantar.
— Tudo bem, mas se precisar de qualquer coisa, me chama.
Inesperadamente, vejo Tate se inclinar até seus lábios depositam um beijo leve e reconfortante na minha testa. Sinto uma onda de calor subir pelo meu rosto.
— Boa noite, Carly — ele diz, sua voz baixa e suave, como se as palavras carregassem mais do que o desejo de uma noite tranquila.
— Boa noite — murmuro de volta.
Tate se afasta lentamente, caminhando até a porta. Quando a abre, ele para, olhando para mim uma última vez, seu sorriso discreto e enigmático ainda presente. Então, sem dizer mais nada, fecha a porta atrás de si.
O silêncio que se instala no quarto não é mais opressor, mas reconfortante. O calor sufocante de antes desapareceu, e agora o ambiente carrega o leve aroma de limão misturado com amaciante, uma lembrança sutil de Tate que parece persistir.
Deito-me novamente, minha mente vagando para o pesadelo que tive. Por mais que queira esquecê-lo, sei que preciso encará-lo. Foi tão real... real demais.
"Eles estavam sendo perseguidos. Foram mortos... não foi acidente, foi?"
A ideia me consome, uma onda de perguntas que não consigo calar. Amanhã, vou à biblioteca. Sei que este lugar deve ter as respostas de que preciso, mesmo que eu ainda não saiba por onde começar.
Fecho os olhos e tento me preparar para o sono. Desta vez, rezo para que os sonhos me poupem. No fundo, sei que não estou pronta para o que eles possam revelar.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro