6 - Me Chame De "Ninguém" (D)
Donovan Batchelor
Havia uma grande parte de mim que sempre se questionara sobre a vida além da floresta. Os Apagões eram considerados como os inimigos, aqueles que se opunham à ordem estabelecida. Mas eu me perguntava o que os motivava a desafiar o sistema, a viver em um mundo primitivo e hostil. Havia algo de intrigante nisso, algo que despertava minha curiosidade. E eu sabia que era perigoso me envolver com eles, e que isso poderia colocar em risco minha posição. Mas afinal, alguém já havia chegado a tentar entendê-los de fato?
Talvez fosse pretencioso da minha parte acreditar ser a pessoa a conseguir as respostas, mas não é como se eu tivesse muito a perder.
Mertiz havia mesmo deixado as roupas no hall assim como pedi que fizesse, mas antes de partir eu precisava baixar alguns Guias de Sobrevivência e pegar as armas, por precaução.
Quando entrei na sala as luzes se acenderam e minha assistente veio em minha direção com os olhos azuis semicerrados.
- Mudou de ideia, sr. Batchelor? - Seu tom era formal, mas era possível notar a desaprovação no ar.
- Ainda não, Tiz.
Dei dois tapinhas em seu ombro me dirigindo à biblioteca. Seus passos soaram logo atrás. Ela não desistiria.
- Como seu robô assistente, gostaria de compartilhar algumas informações importantes sobre os riscos de se aventurar em uma floresta sozinho. - Esbocei um sorriso de "lá vamos nós" sem olhar pra trás. - Embora seja compreensível que você possa estar curioso e animado com a ideia de explorar o Vale da Escuridão, é essencial considerar alguns fatores antes de tomar essa decisão. - Começou a dizer sem pausas.
- Já tomei essa decisão. - Cantarolei - Baixe um manual para mim, por favor.
- Manual de Segurança pessoal: A floresta é um ambiente natural que pode apresentar diversos perigos, como animais selvagens, terrenos acidentados e plantas venenosas. Ir sozinho significa que você não terá apoio ou assistência imediata em caso de emergência, o que ocasionaria sua morte prematura.
- Muito direta... - Resmunguei retirando uma bolsa pesada com armamento de dentro do cofre. - Que tal ser otimista? Sei que está preocupada, mas olha só, vou levar algumas armas pequenas, e um pacote de biscoitos.
- Bem, biscoitos são importantes, não posso negar. Mas e se você se perder? O Vale da Escuridão tem caminhos sinuosos e pode ser fácil se desorientar. Um companheiro de aventura poderia ser útil para ajudá-lo a encontrar o caminho de volta.
- Boa tentativa, mas não posso levá-la comigo. O seu sistema operacional não é programado para funcionar longe das mediações.
- Sr. Batchelor, perdão, não estava falando sobre mim. Deveria ir com algum amigo humano.
A encarei por alguns segundos com cara amarrada. Não era hora para o já tão conhecido papo sobre a importância de criar laços com pessoas de carne e osso.
- Você é uma amiga robótica incrível, Tiz.
E minha única família, pensei.
- E você, senhor Batchelor, é o melhor amigo humano que eu poderia ter. - Sorri como resposta. - Arquivos baixados com sucesso.
Assim que me entregou um pequeno chip retirado do abdômen metálico, minha ficha caiu. Aquilo era real. Eu atravessaria a floresta como havia planejado desde criança. Desde que tinha encontrado a garota selvagem em cima da árvore.
Às vezes, eu me pegava pensando nela, e nessas ocasiões, me sentia um tolo. Não havia tido a chance de perguntar seu nome, tampouco revelar o meu, mas seu rosto permanecia em minha memória. Havia um temor mútuo refletido em seus olhos e nos meus, porém o que a distinguia era sua resiliência. Ela me fitou diretamente, estendendo a mão com uma serenidade que me assustou ainda mais. Contudo, ao notar seus dedos trêmulos, percebi sua tentativa de ocultar seus próprios sentimentos, e imediatamente aceitei a mão estendida, a fim de evitar que ela percebesse que havia sido descoberta.
Para quem cresceu acreditando que os Apagões eram rebeldes impiedosos e destituídos de humanidade, a reação daquela garota me fez questionar a veracidade de tudo o que sempre me ensinaram.
Não queria nem pensar na fúria do diretor quando notasse minha ausência, e também não queria pensar o que faria caso não aceitassem uma conversa amistosa.
Parando pra pensar depois que o surto de adrenalina cessara, realmente parecia muito estúpida a ideia de ir até a floresta, mas parecia mais estúpido ainda me acovardar agora...
Ainda me questionava sobre minha decisão quando Mertiz emitiu um comando de emergência "Alerta de Invasão".
A primeira coisa que me veio à mente foi vários seguranças do departamento armados até os dentes. Eu seria pego e condenado como traidor. Nem sequer me ouviriam.
- Bloqueie as portas do segundo andar, Mertiz. - Ordenei atravessando o cômodo de uma ponta a outra.
Precisava sair dali, porque quando me apresentasse novamente ao departamento teria comigo a prova da minha fidelidade, mas não era algo que conseguiria agora.
Retirei um Disruptor Eletrocinético a laser da parede móvel do escritório, era um modelo LTX 21, fazia muito tempo desde a última vez que tinha usado alguma daquele porte, porém não acreditava que fosse algo que se esquecesse facilmente.
Meus pais sempre diziam que a defesa era nosso bem mais precioso, um bordão totalmente válido para dois paraclítos armamentistas.
Me dirigi ao elevador da biblioteca. No terceiro andar haveria uma porta de emergência, e precisava chegar lá antes dos agentes.
Tentei evitar pensar sobre a magnitude do problema que eu estava criando e como escapar apenas agravaria minha situação, tornando a tarefa de reparar as consequências ainda mais desafiadora.
No entanto, o que me fez congelar no elevador não foi o medo do que iria enfrentar no Departamento, mas sim a imagem exibida pelas câmeras de segurança através do SmartWatch.
Não eram os seguranças do Oraclum atrás de mim. Era muito pior, mil vezes pior. Talvez eu não precisasse me preocupar em ir atrás dos Apagões, porque eles já tinham vindo atrás de mim.
Uma mensagem de Mertiz me atingiu no estômago "Segurança violada. Sistema de travas violado".
As portas do elevador se abriram com um chiado surdo, e observei o espaço à minha volta. As luzes de LED emitiam um brilho suave e azulado, destacando os contornos dos móveis. Painéis de controle táteis alinhados nas paredes, acima eram exibidas imagens da câmera de segurança em hologramas tridimensionais.
No entanto, meus olhos rapidamente se fixaram na figura que emergiu das sombras do outro lado do corredor. Um rebelde exageradamente alto, vestido em um traje escuro, me encarava com as mãos fechadas em punho ao lado do corpo.
Retirei a arma das costas e disparei. Feixes de energia brilhante cortaram o ar, e ele desviou revidando com outro tiro. Os disparos ecoavam pelo ambiente, acompanhados por lampejos de luz e faíscas eletrônicas. Em um momento de distração, corri.
Precisava chegar à janela.
A cada esquina, minha respiração se tornava mais intensa, enquanto os sons distantes de passos pesados e vozes me perseguiam. Minha mente lutava para encontrar uma solução, mas as paredes inteligentes pareciam fechar-se ao meu redor, tornando minha fuga ainda mais desesperada.
No momento em que finalmente avisei a janela e senti a esperança se inflar dentro de mim como um balão, notei a silhueta feminina sentada no parapeito com um sorriso vitorioso.
- Olá de novo. - Ela disse.
Lembro de ter disparado a arma em sua direção, e com um último olhar de derrota, senti a eletricidade pulsar através do meu corpo, a escuridão me envolvendo enquanto eu caía impotente nas mãos daqueles que um dia chamei de inimigos.
***
Uma dor pulsante envolvia todas as camadas do meu cérebro. Abri os olhos para uma vista ampla de árvores.
Não era daquela forma que pretendia chegar até a floresta mas ali estava eu, amarrado a uma viga de ferro do que me parecia ser uma cidade abandonada, que permanecia como um testemunho silencioso do tempo passado.
Os prédios corroídos e enferrujados emergiam das sombras da vegetação exuberante, erguendo-se como sentinelas desgastadas pelo abandono. A natureza reivindicava seus direitos, com videiras enroscadas ao redor das estruturas de concreto e árvores majestosas que pareciam nascer de dentro das ruínas.
As ruas, que provavelmente um dia haviam sido movimentadas e pulsantes, agora estavam tomadas pelo mato alto, que dançava ao ritmo suave da brisa. Janelas quebradas e uma porta rangendo ao longe ecoavam pela cidade fantasma, emitindo um lamento melancólico. O silêncio era interrompido apenas pelo ocasional farfalhar das folhas e pelos sussurros do vento entre as fachadas decadentes.
As cores desbotadas das fachadas e dos cartazes publicitários revelavam um passado efêmero, onde a vida fluía e o comércio prosperava. Agora, apenas memórias fragmentadas permaneciam, ecoando em cada esquina deserta. A cidade abandonada carregava a aura misteriosa do desconhecido, onde histórias passadas e sonhos abandonados se fundiam em um tecido de nostalgia e desolação.
- Vejo que acordou. - Uma voz masculina me atingiu.
Virei a cabeça observando enquanto o homem de cabelos longos caminhava em minha direção acompanhado pela garota que insistia em permanecer nos meus pensamentos por todos esse anos.
Ambos usavam calça de couro e botas. E tenho que confessar, o visual era bem bacana, e me fazia parecer ainda mais tosco em minhas vestes pálidas. Me sentia novamente como o garotinho de costas no chão da floresta.
Eles tinham ido até mim. Mas por quê?
Quando os dois Apagões pararam à minha frente, engoli em seco. Busquei exalar algum tipo de autoridade, embora tivesse minhas dúvidas sobre o sucesso dessa abordagem.
- Quero propor um acordo a vocês - Minha voz saiu consideravelmente controlada.
Esperei que rissem mas felizmente não o fizeram.
- E por quê aceitariamos um acordo com você? - O homem de cabelos longos insultou deixando o desdém bem evidente.
A mulher me fitava de uma forma complexa. Não consegui decifrar se sentia ódio ou curiosidade. Ela chegou mais perto, nossos narizes quase se tocando, as íris queimavam. Com certeza era fúria. Definindo o rosto com uma expressão ameaçadora, ela soltou palavras carregadas de veneno.
- Agora nos diga, Donovan Batchelor... O que vocês estão planejando? - Seu tom de voz revelava uma mistura de desdém e raiva contida.
Franzi a testa. Do que lá estava falando? Confuso, tentei recuperar o fôlego e pensar em algo coerente. Sem sucesso.
- N-não sei o que quer dizer. - Afastei o rosto apesar de assumir mentalmente que por trás de toda a imundice de terra, lama, suor e folhas ela era incrivelmente atraente.
- Nos diga por quê as pessoas estão morrendo em Dawn Village. Por quê matam umas às outras?
Novamente franzi a testa.
- Matando umas às outras?
Enquanto eu lutava para encontrar uma resposta, ela bufou pesadamente, afastando-se de mim com um gesto de desprezo. Meu coração acelerou, um sentimento de urgência tomando conta de mim. Sabia que era importante esclarecer as acusações e entender o que havia acontecido em Dawn Village.
Ela andava em círculos enquanto passava a mão pelos cabelos.
- Permissão para afogá-lo no riacho, Walter? - Postulou me fuzilado com os olhos. - É visível que está nos enrolando!
Walter ergueu a palma da mão para que se aquietasse, o que não a deixou contente, no entanto a deteve. O homem, um pouco mais baixo do que o meu perseguidor do terceiro andar, agachou diante de mim e desamarrou meus pulsos passando os dedos por meu Essencial.
- O que significa esses números?
Não pude evitar espiar meu tempo limitado. Pouco menos de cinco dias.
- São segundos. - Engoli em seco. - Quando se esgotarem, morreremos. Não faria sentido invadirmos nosso próprio sistema. Seria um suicídio coletivo.
A mulher revirou os olhos. Eram tão cinza quanto eu me lembrava, e queimavam sob a luz da tocha.
- Está nos enrolando. Seus números são fachada. Sei que está com eles! Está do lado do "Grande Líder" . - Senti as aspas no ar enquanto ele pronunciava.
Puxando meu pulso da pegada de Walter me afastei o máximo que imaginei ser aceitável para que não me impedissem.
- Claro que estou do lado do Oraclum! - Exclamei. - E é exatamente por isso que garanto a vocês : não tivemos nada a ver com essa situação! As únicas pessoas que ganhariam algo nos matando seriam vcs
Aquele lugar não me fazia bem. Era carregado de uma espécie de energia negativa e pesada.
- Insinua que nós invadimos seu maldito Sistema? - Ela soltou uma risada de desprezo. - Pode ter certeza que se fôssemos nós, vocês já saberiam. Não fazemos nada por baixo dos panos.
Foi minha vez de rir.
- Invadiram minha casa! - Balancei a cabeça procurando me recompor. - Digam o que querem, podemos dar a vocês. - Olhei em volta. - Esse lugar... Tenho certeza que posso recriá-lo. Prometo planejar da forma que me pedirem. Basta que removam o vírus que jog...
O homem explodiu em uma risada esganiçada me dando tapinhas no ombro. Me esquivei.
- Você é engraçado, cara. - Ainda em tom de brincadeira levantou a sobrancelha para a mulher que continuava a me encarar. - Querem nos transformar no projetinho deles! - Existia uma frieza diferente em seu olhar, algo que me dava medo. - Depois de tanto tempo ainda não entendem porquê estamos aqui! - Seu tom aumentou conforme ia terminando a frase.
Suas mãos estavam em meu pescoço antes que eu pudesse formar um pensamento coerente.
Senti meus pés deixarem o chão e minha garganta se fechar.
- Walter... - A mulher falou em inflexão de aviso.
- Não queremos seus favores, tampouco sua piedade! Não se pode jogar o miserável na lama e depois estender-lhe a mão! - Eu abria e fechava a boca procurando ar. - Há um século tiraram tudo o que tínhamos e nos deixaram aqui! Às margens da sociedade por não concordarmos com essa prisão que é a vida de vocês!
- Ele morto não nos serve de nada, Walter! - Dessa vez ela veio em nossa direção como se fosse finalmente me tirar de perto do brutamontes.
Ele me colocou no chão apenas para me imobilizar com uma chave de braço.
Apertou meu maxilar mirando a mulher que o encarava como se fosse a própria tempestade de inverno que refletia em sua íris.
- Qual é, Bree - Ele me analisou com desprezo, retorcendo os lábios enquanto continuava. - Olhe bem pra ele, veja se não é a projeção perfeita. Parece tão alinhado... Tão certinho, me dá noj...
Foi então que Bree partiu para o ataque.
Aquela cena foi a mais sinistra que já presenciei na vida. Em um instante, seus pés estavam firmemente plantados no chão, e no próximo, ela saltava com uma agilidade surpreendente. Empurrou o peito de Walter, fazendo-o me soltar e me jogar ao chão. Naquele momento, eu teria a chance de correr para longe, adentrar a floresta e buscar a civilização. No entanto, quando ergui os olhos para presenciar a batalha em curso, fiquei fascinado por uma dança sinuosa de movimentos precisos e perfeitos.
Meus olhos não conseguiam se desviar da elegância com que o cabelo de Bree e sua cintura se moviam em um ritmo hipnotizante, ou quando ela ergueu uma das pernas e habilmente se esquivou de um golpe. Minha boca se abriu involuntariamente em um "O" patético, enquanto ela continuava a gingar com destreza. Parecia que a cada acerto em Walter, sua empolgação só aumentava. Embora ele também fosse habilidoso, ela era excepcional. Aquele embate parecia ser um desafio divertido para ambos, e provavelmente era mesmo.
No momento em que Walter caiu no chão, recuperei a consciência, levantando-me rapidamente e comecei a correr.
Não sabia para onde ir, corri em direção a floresta entrando em meio às árvores.
Minha visão não estava habituada àquela escuridão. Sentia falta das luzes dos prédios, das calçadas e dos carros.
Os galhos retorcidos das árvores batiam contra meu rosto, arranhando minha pele e deixando rastros de sangue. O ar úmido e pesado dificultava minha respiração, mas eu não podia parar. As sombras da noite pareciam se contorcer ao meu redor, brincando com a minha mente e tornando a floresta ainda mais ameaçadora.
Corri às cegas pelo que pareceram horas. Só podia torcer para que não fosse atacado por nenhum animal selvagem, apesar de querer muito saber como eram de perto...
Não, não, eu não queria saber. Mandei uma mensagem para o meu cérebro a fim de que continuasse a enviar epinefrina.
Ofegante me inclinei para retomar o fôlego mas algo se chocou contra meu corpo fazendo com que eu caísse de costas em meio às folhas e lama. Um leão da montanha?! Questionei mentalmente.
Afastei meus cabelos da testa e forcei os olhos para por fim enxergar olhos cinza nem um pouco simpáticos me fuzilado.
- Te defendi apenas porque precisamos de você. Não sou sua amiga e não pretendo permonitr que fuja novamente. - Disse com firmeza ainda em cima de mim.
Parecendo ter tomado ciência da nossa proximidade, ela se levantou em um salto, e me estendeu a mão.
Fui atingido por uma espécie de Djavu, mas permaneci calado a respeito disso. Tinha muitas outras perguntas e por alguma razão sentia mais vontade de fazê-las à ela do que ao Apagão que quase me matara enforcado há poucos minutos.
Aceitei sua ajuda, e já de pé dei batidinhas em minha roupa imunda na tentiva falha de limpá-la. Depois de perceber que aquilo realmente não daria certo, a fitei com curiosidade :
- Em momento nenhum te despistei?
Percebi que lutava muito para não exibir um sorriso presunçoso mas nessa batalha ela fracassou.
- Nem por um milésimo de segundos. Você é péssimo... Péssimo mesmo. - Estalou a língua me seguindo de perto enquanto retornavamos.
Dei de ombros como se me desculpasse por não correr como um guepardo.
- E não poderia ao menos fingir? pelo bem do meu ego. - Negou com a cabeça, um ar que dizia "absolutamente não". - Me pegou de surpresa. Não a ouvi chegando...
Ela afastava os galhos para abrir passagem em meio às folhagens.
- Não costumo andar na superfície. - O que isso queria di...Ah! Ergui o pescoço olhando para as enormes árvores. Uma pergunta silenciosa se formando nas entrelinhas do V de minha testa. - Isso mesmo. - Respondeu sem que eu precisasse pronunciar as palavras.
Eu sabia que era possível escalar uma árvore, mas saltitar de uma pra outra como um animal?
- Foi uma corrida injusta. - Impliquei desviando de um galho que passou bem perto de bater na minha cara.
- Quase esqueço que não está acostumado com injustiças. - Ela ironizou revirando os olhos de uma forma que fez com que eu me sentisse um idiota.
- Na verdade está equivocada... Bree? - Não sabia se era realmente seu nome.
Ela porém, parou por dois segundos me olhando com indiferença.
- Pra você eu sou Ninguém. - retomou a caminhada. - E me diga, senhor intercessor dos "oprimidos" , qual sua triste história de injustiça?
Ela me acharia ainda mais patético e infantil. Cocei a cabeça tentando pensar em uma forma de mudar o assunto.
- Está hesitando... - Cantarolou.
Aumentei o passo para acompanhá-la.
- Costumavam me deixar de fora dos grandes projetos do trabalho. Creio que só me mantenho no cargo em nome da influência que meus pais tinham... - Chutei uma pedrinha refletindo a respeito dessa constatação. - Por isso havia decidido vir até aqui falar com vocês... Queria fazer algo significativo.
Me analisou com escárnio novamente.
- Decisão estúpida. - Comentou. - Não disseram que poderia ser morto?
Parecia uma ironia gigantesca. Acabei deixando escapar uma risada. Claro que haviam dito...
Espera um segundo...
- Poderia? Quer dizer que vocês não pretendem me matar?
No momento em que vislumbrei as estruturas de concreto da cidade abandonada foi que percebi que realmente não tinha ido tão longe em minha fuga.
- Nunca disse isso. - Ela respondeu - Tudo vai depender da sua cooperação. Dependendo do resultado você vira nossa refeição da semana.
Não sabia se ela estava brincando já que a expressão se manteve tranquila porém com um Q de seriedade. E já tinha ouvido lendas de canibalismo entre Apagões.
- Ah, pelos Céus, Batchelor! Está mesmo considerando isso? - Perguntou como se tivesse lido meus pensamentos.
- Claro que não. - Mas eu tinha minhas dúvidas. - Agora me responda, por quê estou aqui?
- Porque preciso de respostas.
E em silêncio retornamos à cidade fantasma.
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