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A fuga

Quando estávamos saindo vimos uma sombra próxima a escola primária, andamos para o lado contrário observando seus mortos sem nunca chegar a ver a criatura, quando meus olhos se depararam com uma criança abaixada no chão, assim que mirei em sua direção paralisei  e Pedro notando me segurou pelo braço imaginando que eu faria algo estúpido. O garoto estava tremendo, Perto gesticulou para que ele fizesse silêncio, porém assim que a sombra se aproximou ele gritou com todas as suas forças. Assim que ele fez isso eu tentei correr em sua direção, Pedro me manteve presa segurando meus braços atrás de meu corpo, Diego vendo a cena se aproximou tapando minha boca e me abraçando.
Ele tentou sussurrar palavras mas eu não conseguia tomar meu controle, a criança estava se perdendo nas sombras e não havia nada que pudesse ser feito.
O pânico se apossou do meu corpo de forma avassaladora.
    Não sei ainda como resistir ao ímpeto de gritar essa hora, só sei que quando me dei conta eles estavam tentando tirar no meu estado de estupor.
    Sei que o mundo estava um caos e que a probabilidade de cenas como essa se repetirem seriam grandes mas ainda assim era uma vida, não somente uma vida, mas uma criança e eu não tinha forças para ver isso.
Abaixei minha cabeça então abraçando Diego que estava na minha frente, Nicole me ofereceu uma garrafa com água que eu tentei beber sem muito sucesso.
-Vamos lá - disse assim que me recuperei.
- Aonde? - perguntou Pedro.
- A escola, esse garoto estava lá, talvez ainda tenham crianças lá, não podemos deixar que fiquem lá por conta própria, são crianças.
Este garoto provavelmente teria no máximo seus sete anos, não mais do que isso, deveria estar assustado e com fome. Era nossa obrigação ter certeza que não tinha ninguém mais ali, se houvesse poderíamos ajudar.
Será que isso é realmente uma boa ideia? - perguntou Diego.
    - Tudo bem até agora.Vamos apenas para uma pequena vistoria no local. Vale a pena tentar - respondeu Pedro.
Pedro e Diego apenas se entreolharam antes de concordarem com a cabeça, Nicole assumiu a frente e fomos à escola, nos separamos e procuramos em seus dois andares por mais crianças, mas aparentemente não haveria mais crianças aqui, talvez se houver mais alguma eles teriam ficado juntos.
Saí com Nicole e ficamos esperando um tempo os outros do lado de fora até que Maria apareceu com um garoto no colo, ele estava abraçado a ela e não queria virar seu rosto para nos ver.
-Encontramos ele, mas ele não diz uma palavra, não sabemos seu nome, mas ele quer ser nosso amigo e vai ficar quietinho junto com a gente certo? - ela perguntou tentando amenizar a situação do garoto que concordou com a cabeça e abriu um pequeno sorriso.
Ele era pequeno e adorável. Com um pequeno sorriso no rosto. Aparentava por volta dos 5 anos de idade. Com sua pele clara e cabelo castanho escuro ele me lembrava um pouco de Pedro quando ele era pequeno.
Fomos então segundo nosso caminho para perto de alguma estrada, nós tentamos primeiramente os limites da cidade, se nada de melhor fosse encontrado seguiríamos em direção ao Sul procurando encontrar as fronteiras do país. Não era certo que iríamos estar vivos todo esse tempo, mas ao menos já era algum plano.
Primeiramente seguimos diretamente em direção ao sul, seguindo a nossa esquerda, onde pegaríamos a estrada em pouco tempo, andamos durante o dia, pensamos em tentar nos locomover em veículos mas não sabíamos sobre os barulhos que poderiam alertar nossa presença. Chegamos à extremidade urbana da cidade pela tarde, onde havia mais sombras que em qualquer outro lugar.
-Aqui está deserto e há mais deles, como faremos na estrada? Pode ser que esteja pior - disse Alex.
Ninguém respondeu mas todos ficamos em silêncio pensando, decidimos entrar em uma casa para passar a noite e decidir o que faríamos no dia seguinte. Preparamos uma refeição que não passaria de comida enlatada e algumas bebidas que encontramos na casa. Não havia mais energia para tentarmos nos comunicar por mensagens, a tv não voltou mais ao ar, estávamos sem nenhum sinal de vida.
-Podemos voltar e tentar contornar ou ir para o Norte - Maria comentou.
- Será que eles tinham razão em ter ficado.
- Não creio Simone, eles podem ter ficado bem, mas terão que sair de lá - respondeu Diego.
- Então como fazemos para fugir?
- E se ficássemos parados um tempo como eles? - Nicole sugeriu.
- Teria que ter alguma maneira de parar longe daqui sem ter que passar por eles.
- Aparentemente para isso precisaríamos de um avião e pelo que ouvimos no jornal os últimos que estavam voando caíram - Pedro respondeu.
Interrompi minha parte do discurso quando o garoto começou a puxar minha blusa querendo atenção. Eu desci até onde ele estava e ele me entregou um desenho.
-Pode ficar desenhando nós vamos cuidar de tudo - disse tentando deixá-lo calmo, mas ele parecia inquieto e continuava puxando minha blusa.
Eu olhei então para seu desenho e tentei entender, então ouvi suas primeiras palavras.
-Pra baixo, tem que descer - ele disse e eu não conseguia entender suas palavras.
- Quer dizer que você fala então - disse Maria rindo para ele, fazendo com que ele abrisse um pequeno sorriso em seu rosto também - Como é seu nome?
- Eu sou Thomas.
- E o que você estava mostrando - Maria disse a ele fazendo com que todos prestassem atenção na conversa entre eles.
- Para baixo, a gente tem que ir pra baixo - ele continuou.
- Pra onde você quer ir?
- Lá embaixo eles não conseguiam me pegar, eles não vão pra baixo, a gente tem que descer - ele repetiu e eu olhei novamente seu desenho, reconhecendo agora algumas sombras e uma casa, e havia uma menino desenhado embaixo da casa.
- Onde você estava ? - Pedro perguntou pra ele.
- Eu estava na escola, quando todo mundo começou a correr e ficou escuro eu fiquei com medo e corri pro porão, lá embaixo eu sabia que tinha lanterna, a gente usava pra brincar e eu fui pegar uma, eu gritei quando todo mundo gritou mas quando chegaram perto eles não entraram - ele disse em um único fôlego tentando nos fazer entender tudo.
- Você fez barulho lá dentro? - Diego perguntou.
- Sim, eu chorei e gritei quando meus amigos foram pegos, os professores tentaram fugir mas não conseguiram, eu entrei nessa sala, eles sabiam que eu estava lá, foram atrás e ficaram me observando mas não entravam - ele respondeu.
- Você sabe o que são? Conseguiu ver? - perguntei.
- Eles ficam mexendo demais e vão se mudando quando andam, não dá pra desenhar certo.
- A linha férrea - disse Maria.
-Há uma linha férrea aqui perto?
- Temos algumas, a mais próxima nos levaria até o sul, provavelmente sairíamos próximos a Manhattan, mas eu não me lembro qual caminho devemos pegar - Pedro disse.
- Estamos próximos a Westwood, Manhattan estaria muito distante, mesmo sendo um caminho único, temos algumas bifurcações no caminho, podemos seguir esse caminho e depois tentar ir para Long Beach - Diego disse.
- Acho que é nossa melhor opção, vai ser um longo caminho - Pedro concordou com ele.
- Eu nem ao menos conheço os caminhos por aqui pra poder ajudar - respondi.
- Podemos usar os antigos caminhos que as pessoas usaram na febre do ouro, quem sabe ainda tem alguma coisa por lá? - Nicole disse rindo.
- Acho que estamos meio longe do local, e de qualquer forma foi há mais de duzentos anos, ninguém deixaria sobrar ouro, devem ter explorado o caminho ao máximo - Sam respondeu.
-Então nosso plano volta às linhas férreas, está se tornando um verdadeiro filme de terror, falta um louco correndo atrás de nós com uma serra.
- A Simone vê muitos filmes de terror, apenas ignorem - Pedro disse rindo.
- Claro, porque entrar numa linha férrea subterrânea que deixou de funcionar parece uma ótima ideia.
- Isso ou às sombras, você escolhe - Pedro perguntou.
- Ok, vamos lá.
- Como se você pudesse escolher, eu te arrastaria de qualquer maneira - Pedro respondeu piscando para mim - Vamos pra lá assim que amanhecer então.
Ainda é cedo, em torno de oito horas da noite quando não temos muito o que fazer.
Thomas então se levanta e começa a fazer gestos, ao princípio não sabíamos do que se tratava e ficamos olhando tentando entender.
-O que você quer mostrar Thomas? - perguntou Alex.
- Gente, por favor, um filme, três palavras, vocês não tiveram infância não? - perguntou Nicole indignada.
Depois disso então fomos e tivemos um momento alegre nos últimos dias, passamos quase 1 hora jogando, Nicole venceu como era esperado, e todos seguimos em nossos lugares para dormir.
Apesar da casa ter dois andares, preferimos nos manter no primeiro e dormir espalhados na sala, não sabíamos quando precisaríamos correr, seria melhor estar perto da porta caso necessário.
Abrimos os sofás e pegamos algumas cobertas espalhando para dormirmos no chão, Thomas se deitou abraçado em Maria, ela já era quase como uma irmã mais velha. Pedro procurava estar perto deles. Alex ficou no sofá da direita e Nicole pegou uma poltrona do outro lado da sala.
Eu me recostei no canto próximo a escada. Diego veio se deitar perto de mim.
-Você está melhor? - perguntei mesmo sabendo que a resposta era óbvia, mas ainda seria bom para ele falar sobre isso.
- O melhor que eu posso ficar. Acho que enquanto isso não acabar não vou entender bem o que houve.
Momentos de silêncio depois ele se vira para mim e pergunta.
-Você sabe que era verdade, certo? - faço cara de dúvida e ele continua - Eu realmente queria ir com você na festa.
- Eu tive minhas dúvidas - fui sincera com ele - Mas no fim era só uma festa que mal poderia haver nisso? Se a gente sobreviver você está me devendo uma festa.
- Se a gente sobreviver, vou poder te levar a um encontro também? Você sabe que se não fosse pelas ameaças do seu irmão eu teria te chamado bem antes.
- Meu irmão te ameaçou? - perguntei indignada.
- Algo como “ você não vai sair com a Simone”….. “não quero você iludindo minha irmã”.…..e teve também o clássico “se você machucar ela eu te mato” - ele disse tentando imitar o Pedro - Ele te protege muito sabia?
- Até demais pelo que parece - respondo - E você seguiu as recomendações dele então e ficou longe de mim.
- Eu não arriscaria nada a distância depois que eu soube que você estaria aqui, assim que você foi aceita sabia que logo seria mais fácil, você estaria aqui sempre - ele respondeu.
- E agora que eu estou aqui estamos vivendo o apocalipse, irônico - disse rindo e ele me acompanhou.
- Mas podemos planejar nosso futuro, já temos um primeiro encontro marcado se você aceitar.
- Claro que sim - respondi ele e senti sua respiração mais forte conforme ele se aproximava, colou seus lábios nos meus sem pressa alguma, foi um beijo longo e bom, sempre vi Diego como um garoto interessante, mas nunca me imaginei realmente beijando ele, e aqui estávamos nós, em meio ao fim do mundo, tentando salvar o pouco que nos resta.
Na manhã seguinte acordamos com uma camada de chuva constante que cobria o dia, e não dava sinais de que iria passar logo. Estávamos esperando por qualquer brecha que pudesse ser útil, nenhum de nós conhecia direito a linha férrea mas sabíamos que ela cruzava praticamente o estado inteiro embora possivelmente em grande parte estivesse fora de caminhos subterrâneos. Tentamos moldar em um papel o que nós lembramos e escolher nosso roteiro.
-Há litoral e um aeroporto perto de Long Beach, podemos seguir esse caminho, e ainda estaremos seguindo para o sul se quiserem continuar - disse Alex.
- Devemos seguir o plano inicial e ir às fronteiras, não deve estar em outro lugar, vamos até onde conseguirmos - respondeu Nicole.
- Mesmo que não esteja, o que você pretende? Chegar até a Argentina? A pé? Não sabemos se temos todo esse tempo - Maria respondeu.
- Vamos andar até onde conseguirmos, e enquanto for preciso - Pedro disse - Assim que entrarmos na estação deve ter algum mapa de localização e vamos seguir esse caminho então.
O desenho da nossa rota foi rápido, não lembramos quantas estações passaríamos, mas sabíamos a direção e isso bastava.
-Quando iremos ?
- Até a tarde no máximo - me respondeu Pedro - Se a chuva não passar vamos nos proteger até lá.
- Melhor começarmos a embrulhar nossas malas pra que não molhe nada dentro.
- Simone tem razão, vamos embalar tudo - concordou Sam - Vou ver o que achamos de plásticos na casa.
Começamos a rearranjar as malas para ir, em torno do meio dia saímos da casa contando que levaríamos aproximadamente uma hora no máximo em uma caminhada.
Quando saímos a tarde estava quente, Pedro e Alex foram na frente com Maria e Thomas atrás e eu, Nicole e Diego e Sam por fim. Atravessamos a avenida no sentido em que já estávamos indo. Os três primeiros quarteirões foram percorridos sem incidentes. No quarto tivemos que fazer uma parada para observar uma sombra que se aproximava, ela andava rapidamente e mal conseguimos acompanhar seus movimentos. Atirar nela seria quase impossível.
Após esse momentos cruzamos mais algumas ruas sem nenhum problema durante o trajeto até que chegamos a estação de Westwood, a estação era uma imagem borrada do que foi um dia. Estruturas caídas, cabines quebradas, e pertences espalhados pelo chão. Descemos as escadas e saímos da plataforma descendo aos trilhos e indo diretamente para os túneis.
Ah o clima agradável, como não ter pensamentos sarcásticos, de uma estação há pouco desativada. A escuridão predomina em suas paredes e os ecos de pequenos roedores que habitam o local.
Suas paredes frias e úmidas que chegam a trazer ao local uma sensação de frio que é irreal, assim como toda a sua estrutura decadente de anos abandonada por vezes, poucas parte ainda são utilizadas para tráfego e essas entradas me causam uma impressão que reforça os dias nada agradáveis que temos pela frente.
Os túneis eram por muitas vezes escuros e úmidos, mas de certo modo me trazia alguma segurança, era como ter uma opção de caminho para andar, sem se preocupar em ter que observar e vigiar a cada momento.
As passagens subterrâneas tinham uma atmosfera pesada e um ar extremamente leve e úmido. As estações se encontram relativamente perto uma das outras, mas para fazer seu caminho andando demoramos um certo tempo, algumas partes não tão retilíneas exigiam uma resistência maior e machucava os pés, a falta de luzes também colabora para o caminho ser demorado. Preferimos revezar o uso das lanternas e baterias, usando apenas uma ou no máximo duas por vez.
Algumas vezes a proximidade entre as paredes nos fazia andar em filas fazendo com que a luz fraca interferisse em quem estava longe tornando mais difíceis as coisas. O caminho em si não era muito difícil, não havia muitas opções e quando haviam outras entradas eram em sua maioria lugares destinados aos funcionários.
A profundidade da escuridão parecia diminuída quando os olhos se adaptavam ao local, fazendo com que andar com uma só lanterna a frente fosse o suficiente.
Andamos por algum tempo e eu já não tinha noção de horas ou se já estaria anoitecendo. Thomas estava ficando cansado e Maria passou a levar ele no colo. Quando chegamos a um limite decidimos parar por enquanto. Procuramos alguma entrada de emergência para ter um espaço mais plano e sem trilhos, onde arrumamos um local para descansar.
-Minhas roupas estão quase secas, mas acho que seria melhor trocarmos, vamos deixar as garotas primeiro - disse Pedro se afastando com eles um pouco, como se muita coisa pudesse ser vista daqui.
- Podem ir, já acabamos.
- Levaram apenas dez minutos, isso foi um recorde, com certeza se tivéssemos tido a festa isso teria levado no mínimo umas duas horas a mais - disse Sam e os garotos riram com ele.
- Mas estaríamos lindas e maravilhosas, não apenas confortáveis para fugir de alienígenas e não passar frio - Nicole responde.
- Não vamos discutir sobre isso - disse Alex revirando os olhos.
- Temos muitas opções de enlatados para nosso grande jantar, o quê vamos preferir? Algo romântico a luz de velas ou vamos fazer lanches e marshmallows e comer ao redor da fogueira? - perguntou Sam.
- Não temos fogueira - disse Nicole.
- Apenas quis dar opções, mas ainda assim temos Marshmallows de qualquer maneira - ele respondeu.
- Eu quero marshmallows - disse Thomas.
- Claro que quer - Maria pegou ele no colo arrumando sua jaqueta que estava ao contrário.
Nos sentamos em um círculo comendo lanches e marshmallows durante um tempo.
Diego se sentou do meu lado e ficamos durante um tempo abraçados. Pedro não parecia satisfeito, mas ele parecia um tanto abatido para falar alguma coisa. Devia ser cansaço, ele vem tomando a frente desde que isso começou.
Quando fomos dormir estávamos todos espalhados pelo chão e Pedro estava sentado no canto ao meu lado. Quando acordei no meio da noite tentei mudar de posição e quando encostei em seu braço notei que estava muito quente, muito mais do que deveria para um túnel, estava calor mas não tanto. Tentei acordá-lo e ele estava relutante, acabei fazendo mais barulho do que deveria e acordei Maria, que veio preocupada me ajudar.
-Ele está com febre, andamos muito na chuva e com as roupas molhadas depois. É melhor colocar um pano molhado na cabeça dele.
- Eu vou buscar .
Assim que voltei colocamos alguns panos, ela já tinha acordado ele e o mantinha meio sentado apoiado nela, conforme ela conseguia.
-Não lembramos de pegar nenhum medicamento - ela disse.
- Vamos ter que ir buscar - respondi.
- Quando os outros acordarem, a gente pensa em como fazer isso.
Cuidamos dele enquanto dormiam, não muito tempo depois Alex acordou e nos ajudou um pouco. A febre que tinha abaixado estava voltando e estávamos preocupados. A próxima estação estava perto e precisaríamos sair da estação para buscar medicamentos.
Nós nos dividimos para levar os pertences de Pedro, Diego ajudou o apoiando já que ele estava fraco para ir sozinho.
Quando chegamos na estação eu estava pronta para sair e Pedro estava relutante com a minha decisão.
-Simone isso é muito perigoso, vocês devem ficar aqui, estamos seguros, eu posso aguentar um dia e ficar bem amanhã.
-Pedro não piore as coisas, ela só quer ajudar e não vamos te deixar assim, se piorar todos nós sofreremos - Diego tentou me ajudar.
- Vamos juntos Pedro está tudo bem, Sam também vem conosco - respondi a ele.
-Eu vou estar aqui com você caso precise também - completou Alex.
- Não vá a lugar algum que não seja fácil e acessível, podemos esperar uma oportunidade melhor, não se arrisque por favor - disse Pedro me abraçando - Cuide dela Diego.
Ele sabia que Diego me ajudaria, e Sam era forte e esperto e estava conosco também. Éramos um bom time e embora não conhecêssemos o local não deveria ser difícil achar uma farmácia.
Com o vazio e a calmaria das ruas seria fácil achar qualquer local.
Quando saímos vimos que era já de tarde e não havia uma farmácia nos arredores, pensamos em nos dividir e seguir as três ruas que haviam na saída da estação, tentando visualizar em cada uma o que havia.
Me dirigi à rua à esquerda, Sam à direita e Diego em frente. Aparentemente estavam desertas por enquanto, assim que entrei na minha rua vi que nada havia, de qualquer forma me esgueirei pelos muros  ao redor para avançar um pouco mais, mas não encontrei nenhuma farmácia.
Quando voltei vi Diego também voltando sem sucesso. Não conseguimos ver nenhum sinal de Sam então fomos atrás dele, esperando que ele já tivesse encontrado algo.
Assim que viramos na rua à direita vimos que nessa rua havia sombras, nós nos escondemos pelas paredes seguindo em frente até que vimos uma sombra muito próxima a parede, se abaixando, achamos o movimento estranho  e assim que ela se moveu pudemos ver que Sam estava lá abaixado tentando não fazer nenhum movimento ou barulho que pudesse fazer a sombra atacar.
Tínhamos saído com algumas armas para o caso de qualquer emergência, resolvemos testá-las sem pensar, Diego tinha a melhor mira e deu um tiro, primeiro do lado direito estourando uma porta de vidro, evitando que acertasse em Sam sem querer. Assim que o vídeo se estilhaçou a sombra se moveu rapidamente acabando para o local onde tinha se quebrado o vidro então Sam correu para nos encontrarmos, antes que ela voltasse a segui-lo Diego atirou novamente chamando atenção, mas aparentemente sem tanto sucesso dessa vez.
Ele chegou perto de nós e os tiros não faziam muito efeito, desnorteiam por alguns segundos mas não ferem, ou pelo menos não o suficiente, sua pele remete a uma armadura, embora podemos perceber algum sinal de fraqueza assim que o impacto da bala chega a seu corpo.
Fomos para o shopping local onde havia garagens subterrâneas, assim que descemos a sombra parou de nós seguir embora ainda ficasse perto nos observando, tivemos medo de que ela pudesse tentar adentrar nos estacionamentos.
Agora finalmente pudemos ter alguma visão, era quase uma criatura estranha, nem ao menos parecia ter um corpo, se movia rapidamente mas parecia ser pesada, não havia um rosto ou qualquer coisa bem definida, mas certamente haviam dentes, além das garras. Agora a ideia de alienígenas não parecia tão ilusória.
-Sam você está bem? - perguntou Diego.
- Estou, precisamos pensar em um jeito de sair daqui agora.
- Vamos ter que esperar por enquanto - eu disse.
- Podemos ao menos aproveitar, aqui deve ter alguma farmácia, se nós pegarmos aqui o que precisamos vamos voltar direto daqui - disse Diego.
- O que houve Sam? - perguntei assim que vi que ele tinha algum sangramento no abdômen.
- Não sei, acho que algum estilhaço me acertou quando o vidro quebrou, mas está superficial, só limpar e enfaixar e vai ficar bem.
- Vamos tentar pegar algo pra você também- respondi.
- Como assim vamos?
- Eu e Diego subimos, você já passou muita coisa agora e tem um corte, não deve forçar, pode piorar e ainda vamos ter que correr para voltar - expliquei.
A discussão se prolongou por mais algum tempo já que Sam ainda não queria aceitar isso mas apesar de tudo acabamos em um acordo, porém ainda precisamos de mais pelo menos duas horas até que a criatura decidisse ir embora após muita relutância.
Esperamos vê-lo saindo do local e subimos correndo para os andares, pegamos o máximo de medicamentos que conseguimos, levamos antiinflamatórios, analgésicos, alguns antibióticos e material para fazer curativos. Diego acabou pegando mais alguma comida. Quando fomos descer, Sam que deveria estar vigiando próximo a entrada estava já no primeiro andar com uma arma apontando para o vidro da porta. Seguimos a direção de sua arma e vimos que ela havia voltado.
Tentamos ficar quietos e nos mover devagar, quando fui para trás acabei vendo que de onde estávamos as estruturas do lado de fora poderiam nos servir para descer enquanto ele estivesse na porta.
A estrutura do andar possuía um grande emaranhado de grades de ferro propositalmente posicionadas do lado de fora, fazendo com que houvesse apoio para as diferentes formas arquitetônicas que eram apresentadas como conjuntos de exposições, performances ou ao que quer que o local decidisse abrir espaço.
    Suas grades de pouco lembravam escadas convencionais pelos ângulos articulados e semicirculares que davam um ar de modernidade e delicadeza, fazendo com que todo o espaço estivesse combinando com a obra da vez. Porém, mesmo com todos esses diferenciais, ainda poderia ser usada como uma escada, proporcionando uma passagem vertical que nos serviria de caminho no momento.
Fiz sinal para Diego e Sam e então Diego me ajudou a sair pela janela, e quando eu ia começar a descer pelo lado de fora cuidadosamente tentando me equilibrar nas partes mais horizontais da estrutura vi a sombra avançar, Diego veio logo atrás de mim enquanto Sam caminhava lentamente a largos passos para trás, sem nunca desviar o olhar ou a  arma da sombra, se aproximando da escada sem que ela avançasse sobre ele,  porém em um ímpeto, quando  estávamos quase do lado de fora, pelas janelas de vidro que emolduravam as paredes do shopping pudemos ver que Sam esperou  para que estivéssemos quase no chão para tentar subir, ele seguiu começando a subir as escadas e vendo que estava sendo seguido atirou três  vezes, e assim que ouviu a sombra foi em sua direção.
-Corram - ele gritou.
Porém ele correu em frente indo diretamente em seu encontro e foi levado, pude ver ainda seus pés sendo arrastados para fora, não era muito claro tudo o que estava ocorrendo neste momento, mas certamente era possível ver que Sam mais do que qualquer outra hora agora se mantinha com um grande sorriso no rosto, não sabíamos se de decepção, por medo ou pânico, ou simplesmente um alívio, mas essa foi a última imagem que tive dele. Diego vendo que eu não sabia o que fazer acabou me forçando para descer e desceu logo atrás de mim. Assim que saímos corremos para dar a volta no quarteirão e vimos na entrada que ainda havia alguns deles lá, dessa vez eram muitos. Provavelmente Sam era o centro das atenções.
Diego teve que me empurrar praticamente o caminho inteiro, caso contrário eu não teria nenhuma reação. Corremos agora tranquilos, faltava pouco e eles estavam distraídos.
Chegamos à estação onde Alex e Nicole já nos esperavam próximo a entrada.
-O que houve? Nós ouvimos barulhos de tiros - disse Alex.
Nós nos entreolhamos e eu sentei no meio dos trilhos e comecei a chorar finalmente entendendo tudo o que tinha acontecido. Diego também veio comigo e me abraçou.
-Onde está Sam? - Nicole perguntou.
Apenas levantamos a cabeça, eu só conseguia chorar, Diego apenas negou com a cabeça. Alex entendendo o que tinha acontecido estava impaciente bagunçando seus cabelos e Nicole apenas observava tudo.
-Como? - ele perguntou.
- Agora não Alex - Nicole puxou ele vendo que nós não falaríamos agora sobre isso - Vamos levar os remédios, Pedro piorou desde que vocês saíram.
- Ele está bem? - perguntei preocupada.
- Está bem, apenas precisa que a febre abaixe. Maria está cuidando muito bem dele - ela respondeu.
Assim que eles se foram nós ficamos mais para trás. Diego me abraçou e eu finalmente consegui dizer algumas palavras.
-Sam…- não consegui formular uma frase inteira.
- Lembra o que você me disse? Vamos apenas sobreviver primeiro, vai ser difícil não pensar, mas logo vamos subir novamente, teremos que encarar isso de novo, as lembranças vão voltar, mas precisamos ajudar aqui primeiro, Pedro precisa de nossa ajuda também, e temos uma criança para cuidar.
- E se der errado de novo?
- Não vai - ele me abraçou e fomos aonde todos estavam.
Provavelmente já tinham sido informados do que houve. Maria estava tentando falar com Thomas e Pedro parecia doente o suficiente para não absorver direito as notícias. Me sentei ao seu lado e fiquei acariciando seus cabelos enquanto ele dormia. Nicole tinha trazido os remédios e ele precisava descansar.
Quando dei por mim estava acordando ao lado de Pedro, ele tinha uma cara um pouco mais saudável mas estávamos todos abatidos e tristes. Por um momento eu havia me esquecido do que havia se passado. Mas assim que me dei conta de que não fora apenas um pesadelo as lágrimas começaram a cair. Pedro afagou meus cabelos.
-Você está bem?
- Estou, Diego esteve comigo o tempo todo - respondi.
- Eu sabia que ele faria isso.
- Até porque você disse que mataria ele caso eu me machucasse - respondi.
- Ah, claro que ele te contaria isso - ele disse revirando os olhos.
- Sim ele contou, quer dizer então que eu tenho um irmão super protetor?
- Tem sim, e a promessa permanece - ele respondeu, conseguindo me fazer rir um pouco.
-Ainda bem que você acordou, estava dormindo a muito tempo, precisa se alimentar - Maria disse me entregando uma sopa.
- Eu não sinto fome.
- Nenhum de nós está sentindo, mas precisamos de forças, estamos a muito tempo parados já, precisamos seguir em frente logo - ela respondeu.
- Deixa aqui, ela vai comer - disse Diego sentando do meu lado colocando a lata em minhas mãos.
Ele me ofereceu a lata e eu relutantemente peguei, mas era difícil comer nessa hora, passei algum tempo revirando a mistura com a colher até que comi uma quantidade suficiente para justificar minha alimentação do dia. Tentei abandonar o resto mas Diego ficou ao meu lado insistindo. Ele conseguiu me forçar a comer toda a sopa e ficar um pouco mais ativa ajudando Maria a tomar conta de Thomas.
O dia acabou terminando do mesmo modo, com conversas vagas e tristes, evitando qualquer coisa que não fosse extremamente superficial, e arrumando tudo para seguir o caminho assim que passasse esta noite.
A noite trouxe todas as memórias que eu gostaria de esquecer. As imagens de Sam correndo em direção às sombras não saíam da minha cabeça, elas eram muitas, seu corpo derramado pelo chão já apenas com resquícios de vida, se debatendo lentamente em seus últimos suspiros, eu parada apenas observando sem conseguir ajudar, sem querer ajudar, quando eu finalmente consegui dormir acordei imaginando seus gritos.
-Também não consegue se desligar das imagens? - Diego perguntou.
- É impossível, ele estava tão perto, não tinha nenhuma sombra, foi tudo tão de repente.
- Eu também não consigo entender, e as imagens são a pior parte, parece que não sabemos o que realmente aconteceu, o pesadelo se mistura com a realidade, não consigo distinguir até onde isso foi real - ele respondeu.
- Porque será que ele entrou? Ele tinha ficado como o combinado, nós vimos.
- Eu não sei, mas vamos conseguir dar um jeito - ele me abraçou e Alex e Nicole vieram para perto.
- Vocês querem contar como aconteceu? - ele perguntou.
Descrever uma morte nunca seria uma tarefa fácil, Sócrates disse “ eis a hora de partir: eu para morte, vós para a vida. Quem de nós segue o melhor rumo ninguém o sabe, exceto os deuses” . Embora estivéssemos vivendo um fim de mundo, não acredito que Sam pensava estar seguindo o melhor rumo, apenas o único.
Partir nem sempre é uma decisão que podemos escolher, às vezes não há outras alternativas.
Mas entre se entregar ou lutar, Sam morreu como um herói, sabendo que seu destino conseguiu lutar para que nós também não seguissemos o mesmo rumo que ele. Sou grata, e endividada, não há como desistir agora.
Claro que ninguém iria querer contar isso, mas eles mereciam saber, e de alguma forma nós precisávamos compartilhar isso. Reviver esse momentos foi quase tão horrível quanto vivê-los pela primeira vez.
Você nunca imagina que um dia vai estar lutando por sua sobrevivência, vendo mortes, principalmente seus conhecidos indo embora, enfrentando criaturas perigosas. Nunca estaremos preparados para isso.
Foi de fato a primeira vez que realmente nós nos envolvemos dessa maneira, já havíamos visto outras mortes mas nunca de um conhecido, parte do nosso grupo, e tão de perto assim, principalmente para nos salvar.
O que sentíamos ou o que deveríamos sentir era um grande mistério, tínhamos tomado nosso tempo, pensado, mas a humanidade trabalha de modo a perseverar e adorar sua vida de uma maneira que aceitar que pode ser assim tão fácil perdê-la sem qualquer chance é quase um pecado.
Uma mistura de alívio com desespero poderia ser a definição de como poderíamos nos sentir. 
- Então agora sabemos que eles se distraem mas não são feridos por balas - Alex constatou.
-Não, balas são ineficientes para matá-los.
- Fogo então? - sugeriu Nicole.
- Como colocaríamos fogo nisso?
- Não sei, você tem uma ideia melhor? - ela retrucou.
- A gente podia explodir ele com uma bomba - disse Thomas que deveria estar dormindo.
- Então além de não dormir você quer explodir tudo - perguntou Alex sorrindo e levando ele de volta para deitar.
Ter Thomas aqui nos fazia ter alguns momentos breves de risadas e felicidade. Sua inocência apesar de entender o que estava acontecendo nos mantinha bem.
-Podia mesmo ser fácil explodir eles, ia nos poupar um bom trabalho - Pedro disse rindo.
-Acho que amanhã chegaremos em algum lugar próximo a costa sul, vamos ter que sair dos túneis.
- A gente vai pensar em como fazer isso - Nicole respondeu.
- Ele entrou porque sabia que estávamos lá, não foi por acaso, podemos nos manter como estávamos fazendo antes -Diego explicou.
- Provavelmente deve ter sido isso, armas chamam muito a atenção, vamos evitá-las por enquanto então - Pedro completou.
Pedro estava aparentemente melhor mas ainda se sentia um pouco cansado, não sabíamos exatamente o que fazer e ele não tinha outros sintomas, então continuaria tomando os remédios por mais um dia pelo menos. Mas já estava bem para andar, apenas continuaríamos levando suas coisas para que ele não se esforçasse mais que o necessário.
Quando estava quase dormindo a conversa que ouvi não me agradou muito.
Pedro conversava baixo com Diego ao meu lado.
-Obrigada por ter cuidado dela - ele agradeceu.
- Sabe que eu farei isso sempre que precisar.
- Quero que você me prometa que se algo acontecer você vai cuidar dela do mesmo modo - Pedro pediu me deixando preocupada, ele estava com medo.
- Claro que vou, mas não acho que seja necessário, estamos bem e juntos agora, devemos continuar assim - Diego disse.
- Mas logo sairemos, vocês saíram uma vez, olha tudo que aconteceu, eu acho difícil todos nós conseguirmos chegar até às fronteiras.
- Então é disso que você tem medo? Você acha que não conseguiremos? - Diego pergunta, Pedro deve ter concordado porque ele continuou - Nós vamos dar um jeito, apenas temos que fazer isso bem planejado.
- Você gosta mesmo dela?
- Sim, eu tentei te dizer algumas vezes, e tive que trazer ela viva pra te provar isso. Se ela você trata assim, imagina quando tiver uma filha - Diego respondeu rindo.
- Veremos.
Fico feliz que Pedro esteja preocupado, e entendo seu medo, mas ele precisa entender que vou ficar ao seu lado sempre também.
O resto da noite foi exaustiva e provavelmente todos nós estávamos chegando a um limite, dormimos por mais horas do que seria necessário normalmente, mas isso nos deu ânimo para tentar recomeçar agora.
Guardamos nossos pertences logo e nos colocamos prontos para caminhar. O peso se tornava maior à medida que andávamos, mas o primeiro objetivo estava quase sendo alcançado. Hoje provavelmente chegaríamos no litoral sul e teríamos que sair dos túneis.
A caminhada foi longa com paradas conforme necessário, não havia pressa já que também não havia certeza de nada.
O caminho sobre os trilhos era exaustivo e por vezes irregular. Não era comum termos subterrâneos, ao menos não ativos atualmente, já que a maior do transporte é feita na superfície, mas quanto mais pudermos andar em caminhos seguros mais preparados estaremos.
    A devastação não chegou até onde estávamos, porém a aparência de uma velha estação desgastada e corroída pelo tempo era perceptível. Talvez nunca tivéssemos percebido isto dentro de algum vagão em um dia qualquer cruzando a cidade, mas certamente andando lentamente por suas construções vemos o quão velha é.
-O que faremos quando chegar a estação?- Thomas fez a pergunta que nenhum de nós sabia responder.
- Ainda não sabemos o que queremos, mas temos que sair daqui - Maria respondeu.
- Mas eles vão pegar a gente lá fora - ele disse assustado.
- A gente já sabe que quietinho eles não vêem, então vamos fazer silêncio e andar até achar um lugar onde eles não estejam - Nicole explicou.
- Mas e se eles estiverem em muitos lugares? - ele perguntou.
- Então vamos ter que descobrir como matá-los - Alex disse piscando - Podemos testar sua ideia de explodir eles.
- Vai dar certo, vocês vão ver - ele disse orgulhoso.
- Acho que essa é nossa melhor ideia até agora - disse Pedro rindo.
- Podemos tentar, quem nunca fez uma bomba caseira na escola? - Nicole disse e olhamos pra ela - Ah então quer dizer agora que só eu aprontava com os professores ?
- Com bombas provavelmente sim - respondeu Alex - Mas é bom ter alguém que sabe fazer bombas, isso seria muito difícil?
- Não, só não sei se daria certo no nosso caso, causar barulho e fumaça na escola é bem diferente de explodir um alienígena - ela respondeu.
- E do que precisaríamos?
- Coisas básicas, um tubo, barbante, pólvora é claro - ela pareceu pensar - Já repararam que eu estou ensinando uma criança a fazer uma bomba, em outros tempos eu poderia ser presa por isso.
- Eu prometo que num conto pra ninguém que foi você que me ensinou - Thomas disse sorrindo.
- Ainda acho que podemos usar algo assim para causar uma distração sempre que precisarmos sair ou escapar das sombras - disse Diego.
- Barulho está fora de questão, isso só atrai mais, mas a fumaça…..
- Em que está pensando Simone? - perguntou Pedro.
- Se a fumaça fosse realmente uma distração, poderíamos usar a nosso favor enquanto tentamos fugir com carros, seria mais rápido e poderia dar certo.
- E como teríamos fumaça? - Diego perguntou.
- Eu não sei, extintores, nitrogênio líquido, gelo seco, qualquer coisa.
- Extintor faz barulho mas podemos fazer um teste, os outros fora de questão, não temos e não é fácil conseguir - Pedro disse.
- E os extintores de onde tiramos? - Maria perguntou.
- De qualquer lugar, não deve ser difícil - Nicole respondeu.
Não era muito, mas ao menos abrimos mais algumas opções de como fugir, embora sabíamos que planos como esse não seriam nossa solução. Tínhamos que ter o máximo de alternativas possíveis para explorar.
-Sabiam que esses túneis são assombrados? - perguntou Alex.
- Claro que são, tem monstros lá em cima - disse Thomas nos fazendo rir.
- Estou falando dos fantasmas da família Molin, vocês nunca ouviram falar? Eles eram uma família que viviam próximo a esse local há muito tempo atrás, e um dia após a filha mais nova fazer um ritual para invocar espíritos eles começaram a ver  fantasmas e depois de não aguentarem mais correr, optaram por vir aos subterrâneos da terra para tentar parar de uma vez por todas essa perseguição, oferecendo um sacrifício em troca de sua liberdade, mas eles nunca mais voltaram - ele disse.
- É óbvio que isto não é verdade - Nicole disse revirando os olhos.
- Não mesmo, mas adoro a cara de assustada que a Maria faz, aposto que ela já ia começar a olhar para todos os lados procurando ver se tinha algum fantasma aqui dentro.
- Sinceramente, entre os alienígenas e fantasmas, acho que eu preferia ver a família Molin por aqui - respondi rindo.
- As estações são todas subterrâneas aqui?
    - Nem todas, na verdade a maioria não é, mas sempre há caminhos para manutenção. Só não sabemos até onde eles chegam - Pedro respondeu.
    -Caminhos subterrâneos para manutenção, isso deve ser um ótimo emprego - disse ironicamente Nicole.
    - Eu gostaria disso, deve ter uma certa paz em não ter que enfrentar problemas com ruas lotadas, chuvas, trânsito - disse Alex.
    - Você não pode estar falando sério, olha só esse ambiente, mal tem luz aqui, é úmido e vai saber o que você pode encontrar por aqui, deve ter até um corpo enterrado por aí - Diego respondeu.
    - Isso provavelmente não aconteceria, era um emprego comum até alguns dias atrás e deveria ter bastante gente trabalhando assim, eu seria só um a mais - Alex tentou se defender.
    - Mas aí você não teria toda a paz que você diz, vai ficar iluminado e com bastante gente assim como qualquer rua lá fora - respondi.
    - Mas de qualquer modo ainda é um lugar mais calmo, teria paz, silêncio e a luz nós estamos aqui provando que sobrevivemos com apenas um pouco de claridade - ele explicou.
    - Você é realmente muito estranho, logo vai falar que adoraria conviver com os espíritos que devem estar por aqui - Nicole disse rindo.
    - Não tem espíritos aqui, a não ser os da história que eu contei - ele disse vacilante.
    - Mas bem que você pensou um momento sobre isso agora - Nicole disse e todos rimos, então Maria começou a cantarolar

“Fear of the dark, fear of the dark
I have a constant fear that something's always near
Fear of the dark, fear of the dark
I have a phobia that someone's always there”

- Mas se pararmos para pensar tudo isso chega a ser estranho demais, pensa em tudo o que já houve aqui, a corrida do ouro, tem uns lugares que falam que usavam aqui para festas ilegais nos períodos de lei seca, até sobre transportes de corpos, prisioneiros e mafiosos para que ninguém visse nada na superfície, eu realmente acho tudo isso absurdo - disse refletindo -Será que esses túneis ainda existem?
    - Provavelmente, ninguém gastaria tempo fechando passagens - Maria respondeu.
    - Se formos pensar em tudo que está aqui dentro, prefiro acreditar nas teorias da conspiração, são muito mais interessantes que fantasmas - disse Diego.
    - Pretendendo encontrar reptilianos? - perguntei e Nicole nos olhou estranho.
    - Encontrar o que? - ela perguntou.
    - Reptilianos, e acredite, minha teoria tem mais fundamentos que os fantasmas, já temos até jornais que contam relatos sobre testemunhas que viram esses seres - Diego respondeu.
    - Então me conte do que se trata - Nicole pediu.
    - “Em meados da década de trinta, houve um engenheiro de minas que cavava regiões de Los Angeles em busca  petróleo, ouro e outros materiais valiosos, assim como várias outras pessoas até que seguindo caminhos achados ele descobriu túneis e colocando a sequência deles escrita na forma de um mapa ele chegou a uma lógica na construção dos caminhos. Ele dizia que a obra era um labirinto subterrâneo bem planejado, estruturado com diferentes aberturas grandes, corredores extensos e profundos e uma ventilação razoável.
Mais tarde ainda se descobriu a ligação destes caminhos com o que teria sido uma antiga cidade a tempos submersa, e o local continha além de objetivos e minerais valiosos, alguns tesouros históricos.
    Então houve uma lenda que ele ficou sabendo sobre espécies de homens lagartos, que diz que há muitos anos atrás durante uma catástrofe natural de imensas proporções muitas pessoas morreram, e os então sobreviventes resolveram se abrigar em locais fora da superfície para não correr o risco de morrer, porém o plano não deu certo e eles morreram asfixiados por gás ou água, o que ainda não foi publicado oficialmente.
    O engenheiro então seguiu cavando na área, fazendo um poço onde se esperava encontrar ouro, resquícios de vidas antigas e até da civilização Maia,  pelo modo de construção metódica e perfeccionista. E até hoje não se sabe ao certo como funciona a cidade e sobre seus seres, suponha-se que sejam formados por uma espécie decentemente reptiliana e algumas pessoas alegaram que já viram esses seres, coloração verde, três dedos com membranas, enfim, é basicamente isso.”
    - Eu ainda acho mais interessante as outras teorias, essa foi meio fraca, ainda mais sem muitas testemunhas - Nicole respondeu.
Ainda passamos boa parte da caminhada tentando nos distrair e vez ou outra imitando fantasmas no caminho. Isso nos mantinha seguindo em frente.
As paredes próximas à saída apresentavam algumas rachaduras estruturais, mas conhecíamos bem as construções daqui, sabíamos que não deveriam estar cedendo tão facilmente, provavelmente algo deve ter acontecido em cima de nós para que abrisse essas linhas nas paredes.
Talvez algo tenha batido ou caído na hora do caos, de qualquer forma seguimos observando e nos afastando de algumas partes que estavam nos assustando.
-Vamos ter que sair logo daqui, o que quer que tenha sido danificou muito a estrutura, se precisarmos de mais tempo procuramos uma casa com porão - Pedro disse.
- Pelo que sabemos, uma estação deve chegar a menos de dois quilômetros.
- Isso nos dá uma hora para chegarmos lá se formos depressa - Diego completou.
- Vamos dividir as malas um pouco, Simone ficou com muito peso que eu estava carregando - Pedro disse.
- Não vamos discutir Pedro, apenas continue andando, quanto mais paramos mais difícil fica continuar. Apenas siga em frente, quando sairmos a gente vê o que acontece - respondi.
Assim que chegamos na última esquina antes da bifurcação que deveria ser a nossa saída encontramos mais um obstáculo.
Algum desabamento havia ocorrido e tudo havia cedido, não havia mais estação e várias camadas de rochas e objetos misturados bloqueiam nossa passagem.
-O que houve aqui? - perguntei mesmo imaginando.
- E se voltarmos uma estação e fizermos o percurso por cima - Alex sugeriu.
- O caminho estava muito danificado, tentar voltar pode nos dar mais tempo aqui, se houver outro desmoronamento podemos morrer esmagados, temos que tentar sair por aqui - Diego disse.
- Como? Olha a situação dessas pedras, vamos ter que subir sem ter noção de onde estamos até a garagem uma saída, correndo o risco de ficar presos no meio - Pedro respondeu.
- Não há uma opção boa agora, essa é apenas a menos pior - Diego respondeu.
- Eu vou tentar ver o que tem mais pra cima, alguém me empurra - Nicole disse tentando subir nas pedras e passar pelas lacunas que ficaram entre elas quando estavam empilhadas.
- Primeiro observe, não vá muito longe, se tivermos noção de como fazer isso vamos todos juntos - Alex disse.
- Por enquanto a passagem ainda não chega na rua - ela disse, víamos algumas vezes a luz de sua lanterna entre as pedras, mas ela mantinha a voz alta nos avisando sobre o caminho.
Passados mais alguns segundos perdemos a noção de onde ela estava assim que o feixe de sua lanterna sumiu.
-Você chegou a algum lugar? - perguntou Alex.
- Ainda não, mas sinto vento, pode ser que tenha uma saída próxima, não sei se vai ser acessível, o espaço para passar entre as pedras está começando a ficar apertado - ela respondeu.
Após mais alguns segundos o contato também se perdeu.
-Eu vou atrás dela - Alex disse.
- Ainda não, vamos dar mais alguns minutos ela pode estar com dificuldades, não fará diferença, cedo ou tarde nós vamos ser os próximos a pegar esse caminho - Maria respondeu.
E passado algum tempo, realmente não encontramos nenhum sinal da Nicole. Decidimos então nos organizar para subir todos juntos dessa vez, Alex quis ir na frente, Thomas e Maria foram logo atrás dele, Pedro em seguida, eu e Diego ficamos por último.
Fomos todos com lanternas dessa vez, as primeiras camadas de pedras eram fáceis de escalar e havia espaço para se mover. Espaço esse que logo se tornava cada vez menor, em algumas partes tínhamos que passar nos arrastando, e puxando nossas malas.
Os caminhos se tornavam cada vez mais uma mistura, não apenas pedras, havia madeira, estruturas de cimento e tudo que pudesse ter descido da estação.
De repente uma luz começou a entrar onde estávamos ouvimos vozes, o que era raro ultimamente.
-Então conte, o que você está fazendo aqui? - uma voz de homem perguntava.
Alex fez sinal e ficamos todos calados. Ele subiu para observar o que estava acontecendo. Quando voltou apenas pegou as armas que estavam em sua mala e as deu para nós.
-Estão ameaçando Nicole, vou subir e tentar mantê-los longe de nós, vocês atiram neles - ele disse.
- Como assim ameaçando? - Pedro disse.
Ele fez sinal para que voltássemos um pouco, descemos algum pedaço e pudemos falar mais claramente.
-Há pessoas lá, estão segurando a Nicole, precisamos ajudar - ele disse.
- Mas não assim sem saber nada, são pessoas podemos conversar, estamos todos do mesmo lado - Pedro disse.
- Então porque estão segurando ela? - Alex disse.
- Estamos todos assustados - Maria respondeu.
- Dessa vez Alex está certo, mesmo que seja somente por medo, eles estão prendendo ela, imagina quando saírem mais 5 pessoas daqui, eles vão se sentir ameaçados, podem fazer algo contra ela antes que tenhamos tempo de fazer algo - expliquei a eles.
- Se eu for sozinho, eu posso primeiro tentar conversar, vocês estarão por perto, se for negociável vocês entram, senão vou tentar pegar Nicole e vamos correr pra longe deles, e vocês vão ter que atirar - ele disse.
- Tudo bem vamos fazer isso? - disse tomando a frente, já perdemos um não podíamos arriscar deixar mais ninguém descuidado.
- Certo, as armas - Diego disse junto comigo, ele certamente pensava como eu.
- Vamos então - Pedro concordou - Maria fique um pouco mais atrás com Thomas.
Subimos e esperamos mais abaixo enquanto Alex ia até o fim.
-Nicole - ele gritou chamando a atenção das pessoas ao redor.
Víamos que havia uma mulher ao fundo, e mais três homens, um estava segurando Nicole, os outros vieram para pegar Alex. Ainda estávamos em vantagens pelo número, e aparentemente eles não tinham armas. Mas o que estava segurando Nicole a mantinha com uma faca próximo a cintura.
-Quantos mais estão com vocês? - o que chegou para pegar Alex perguntou.
- Estamos sozinhos, estávamos procurando uma saída, queremos apenas ir embora - ele respondeu.
- Ninguém vai a lugar algum aqui - ele respondeu.
- Não pode nos prender aqui - Alex gritou.
- Podemos e vamos, vocês vão ter que colaborar com a gente se quiserem ficar vivos - ele ameaçou.
Alex então deu um soco no homem que caiu para trás, mas o outro acabou vindo o defender. - Nicole saia de perto dele - ele gritou e ela lutou para se soltar.
-Assim que ela correu para perto de Alex ele se esquivou do segundo homem que estava atrás dele e se jogou em cima dela e a segurou no chão, então começamos a atirar.
Vários tiros em todas as direções, a mulher chegou a gritar mas estava assustada em um dos cantos, assim que conseguimos atingir alguns tiros com sucesso saímos correndo.
O cenário estava digno de um extermínio, não somos profissionais, eu nem tenho certeza de quantos tiros eu dei, eu não sei quantos preciso para matar uma pessoa, mas com certeza foram muitos para garantir nossa segurança.
Por último, ajudamos Maria e Thomas a saírem.
Ele estava assustado e ficou no colo dela o tempo todo sem olhar para os corpos.
Assim que chegamos perto eles se levantaram, Alex pediu desculpas a Nicole pelo susto e por ter se jogado em cima dela.
-Alex você me salvou, não tem porque pedir desculpas, eu que te devo essa. Obrigada - ela respondeu.
Assim que ele deu a mão para ela se levantar, ela começou a forçar seu corpo pra cima e voltou rapidamente dando um pequeno grito.
Olhamos para ela e havia um grande corte em sua perna.
-Não se mova, vamos limpar isso primeiro - Alex disse.
- Ainda temos que dar um jeito em mais uma pessoa aqui - disse Pedro olhando para a mulher que continuava sem dizer uma palavra no canto do que um dia tinha sido a entrada da estação.
- Eu vigio ela - Diego disse - Não vou fazer nada, apenas garantir que ela não faça nada, nós vamos embora ela faz o que quiser depois aqui.
Eu ofereci para Alex o material que tinha pego para ajudar nos cortes de Sam, Nicole se feriu de maneira profunda e não poderia fazer muitos movimentos para subir ou descer caso contrário poderia sangrar novamente.
Pedro ainda não estava completamente bem, mas os remédios o mantinham sem febre, e agora temos uma ferida, estávamos ficando fracos e vulneráveis, precisamos ir embora o mais rápido possível.
Assim que acabou de ajudar  Nicole, Alex se aproximou de Diego e da mulher.
-Quantos mais estão com vocês? - Alex perguntou para a mulher.
- Éramos só nós quatro - ela respondeu.
- Se não estiver dizendo a verdade sabe o que vai acontecer com você - Alex disse ameaçando ela com a arma.
- Já chega Alex - Pedro disse e Nicole o afastou um pouco.
- Não sabemos se é verdade - ele tentou se defender.
- Apenas vamos embora - Diego disse.
Assim que arrumamos nossas coisas observamos onde estávamos.
Era uma pequena loja de souvenirs próximo a estrada já, com algumas placas indicando os caminhos e estradas mais próximas. Grande parte do caminho agora seria a céu aberto, mas parecia desabitado por enquanto.
Não tenho mais certeza dos dias, mas provavelmente seria uma sexta-feira, normalmente eu estaria em casa comendo uma pizza, ou em algum restaurante com meus pais. Talvez um cinema depois com minhas amigas, embora eu não tivesse mais amigas, isso se eu ainda estivesse em Nova Jersey.
Na Califórnia eu não sei o que estaria acontecendo, mas provavelmente não estaria tomando sopa nos trilhos de Vermont, certamente não.
-Você ainda está aí? - perguntou Diego na minha frente.
- Estava apenas imaginando, tentando saber o que dia é hoje e o que eu estaria fazendo. Acho que seria sexta-feira certo?
- Essa escuridão confunde os dias e as noites. Mas eu sei onde estaria. No nosso encontro, lembro que você tinha aceitado - ele disse.
- Que eu saiba eu aceitei quando sairmos daqui - respondi.
- Indiferente - ele disse me dando um beijo -  Vamos - Diego passou por mim pegando minha mão.
Caminhamos juntos durante a maior parte do tempo. Embora Pedro estivesse meio inconformado com seu amigo e sua irmã tão juntos. Nossos pais gostariam de nos ver dessa maneira. Ele realmente faz um ótimo irmão mais velho.

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