capítulo único
THRILLER BARK ESTAVA EM SILÊNCIO — ou pelo menos no tipo de silêncio que existia em um lugar como aquele. Leader respirava com dificuldade, encostada contra a parede de um velho castelo que parecia ameaçar desmoronar a qualquer instante. Os sons de passos arrastados e gemidos abafados faziam sua espinha gelar, ao ponto que por momentos esquecia que era usuária da fruta da mola, mas às vezes, preferia manter a figura que era uma humana normal devido ao motivo do porquê atualmente conter tal poder da fruta comida obrigatoriamente.
— Só mais um dia, só mais um dia... — sussurrava para si mesma, como um mantra. — Eu só preciso pegar a minha sombra de volta e consigo sair daqui.
Há um ano, ela havia chegado ali, desesperada para escapar de um destino cruel nas mãos de Donquixote Doflamingo, e com certeza acabaria igual ao antigo usuário da sua fruta, fora que foi completamente traída, achando que poderia confiar em certas pessoas, mas estavam todos sendo controlados pelo Corsário. Mas sua fuga para Thriller Bark havia se tornado outro pesadelo. Sua sombra fora roubada pelo monstro — que também era um dos Sete Corsários —, Gecko Moriah, e desde então, viver ali era sobreviver. Um dia de cada vez, escondendo-se dos zombies que rondavam a ilha, tentando por tudo não ter medo, mas a cada grito de desespero, ela percebia que talvez não tivesse escapatória.
Preferia mil vezes estar no meio de galinhas — que eram seu pior pesadelo, mesmo sendo inacreditável — do que passar ali mais uma semana, e com isso tudo já fazia um ano.
Seu coração apertava cada vez que pensava em como sua fruta, algo que deveria dar-lhe liberdade já que não seria uma humana normal e poderia se livrar de qualquer coisa do mesmo jeito que o usuário antigo fazia, mas agora parecia inútil, mais do que achava antes quando a comeu.
Sem sua sombra, ela não podia nem mesmo sair ao sol.
Porém, algo estava diferente na ilha.
O som de vozes ecoou pela ilha — não os gemidos habituais dos mortos-vivos, mas algo mais... humano, como ela.
— Eu não vou entrar nessa mansão! Acho que o tenho-medo-e-então-não-posso-entrar está me atacando de novo! — uma voz masculina gritou.
— Ah, qual é, é só uma mansão que parece um pouco assustadora. — respondeu outra, mais animada, que Leader reconheceu como o tom de alguém rindo às custas do outro. Ela espiou pela fresta de uma janela quebrada e viu um grupo peculiar: um garoto com um chapéu de palha liderava a frente, acompanhada por um esqueleto risonho, um ciborgue com um topete brilhante, e... ele.
Roronoa Zoro.
Era inacreditável que estivesse o vendo, mas mesmo depois de esfregar seus olhos, beliscar-se e ainda mandar com sua cabeça na parede ao lado do vidro, ainda via o homem de cabelos verdes que conhecia muito bem. Ele parecia completamente fora de lugar, mas ao mesmo tempo, como se tivesse nascido para aquele cenário, já que não tinha medo de nada e bastava só fatiar os zombies que estava tranquilo.
Leader hesitou. Poderia confiar neles? Afinal, tinha a sensação que ouvira falar de uns tais chapéus de palha e que Roronoa Zoro estaria entre eles, mas não acreditou. Mas... poderia pedir ajuda logo a eles? Depois de tudo que havia passado, sua confiança em pessoas era quase inexistente, mesmo que conhece o caçador de piratas que, pelos vistos, talvez tenha virado um pirata e esteja seguindo de vez seu sonho de se tornar o maior espadachim do mundo como sempre quisera.
Porém, Leader para com seus pensamentos se ia ou não pedir ajuda quando um zombie surgiu rastejando perto de onde estava.
Correndo dali para fora, ela gritou. E, antes que pudesse se esconder novamente, ela ouviu um silvo de lâmina e um clarão de prata cortando o ar. O zumbi desmoronou em pedaços, e a sombra da lâmina passou a poucos centímetros dela.
— Sabia que tinha visto sua cara por aqui. — ele indagou, não parecendo nem um pouco admirado da ver, ao contrário dela, que parecia ainda mais estática por realmente ele estar na sua frente, rapidamente se afastando dele e golpeando com sua espada um zombie que apareceu atrás dele, mas ele também atingiu o zombie, que de nada resultou porque os zombies se regeneravam facilmente. — Vai querer sair daqui ou lutar contra o zombie? — A pergunta não soava ameaçadora, mas também não era um convite gentil. Leader engoliu em seco e deu um passo após golpear novamente o zombie e o xingar por ter tocado seu braço.
— Eu... preciso de ajuda — apenas disse. Os olhos do espadachim a examinaram rapidamente, e por um momento, Leader teve a sensação de que ele podia ver mais do que ela gostaria.
— Claro que você precisa — ele murmurou, passando a mão pela bandana no braço. — Essa ilha é um inferno, mais do que você.
— Obrigada na parte que me toca?
— Você mal tem sentimentos.
— Eu mudei bastante, Roronoa Zoro. E vejo que você também.
— Não tenho tempo para conversas, ainda mais com você. — E então, ele virou os pés, golpeando novamente o zombie, jogando-o longe deles. Leader segurou o braço dele após, impedindo-o de continuar. Zoro virou-se contrariado, acabando por ver o braco dela completamente machucado, fora que uma certa tatuagem lhe voltou a atenção, mas mentalmente agradecia por terem destruído aquela marca de traição, e mesmo que ele tenha perdoado Nami por razões óbvias, nunca perdoaria a garota porque ela foi por querer, e nunca por obrigação como a navegadora dos Chapéus de Palha foi por oito anos.
[...]
O GRUPO CAMINHAVA PELA FLORESTA ENEVOADA, com Luffy e Usopp liderando de maneira ruidosa, enquanto Zoro, Franky e Leader seguiam mais atrás. Ela estava cada vez mais inquieta.
— Sinto muito te dizer, mas não tenho paciência para esse grupo de idiotas — murmurou.
— Eles vão resolver isso antes que você perceba — Zoro respondeu. — Mesmo que eu não confie em você, você sempre pode confiar em mim. Eu confio no meu capitão. — Ela apenas bufou, cruzando os braços.
— Claro, é um Chapéu de Palha que vai impedir tudo isso ainda mais numa ilha cheia de mortos-vivos e um Corsário. Fácil.
— É mais fácil do que você acha. O cara arranjou briga com o Governo Mundial em Enies Lobby. Não sei se chegou a você as notícias.
— Não. Estou aqui há um ano, não sei se lembra de eu ter falado. Eu sei lá até quem é ele, se bem que eu conheço a cara dele de algum poster de procurado, mas enfim. Não esperava você se unir a piratas sendo que era um caçador de piratas.
— Há coisas que mudam. Diferente de você. — Leader queria responder, mas, de repente, um som agudo cortou o ar. Uma risada sombria, acompanhada pelo som de lâminas se chocando. A tripulação parou, instintivamente entrando em posição de combate.
— Essa risada... — Leader murmurou, sentindo o coração apertar. — Ela... é minha. — Um esqueleto falante, que nem se sabe como que apareceu ao lado de Luffy, ergueu o violino e o arco. Nem mesmo os outros membros se perguntaram como que ele aparecera ali, então ela presumiu que ele fosse também do bando, embora fosse... um esqueleto que possivelmente já o viu algures na ilha? Ou talvez estivesse doida.
— Essa deve ser uma das espadachins de Gecko Moriah. Uma sombra roubada, como a minha. Mas, se for quem estou pensando... ela é muito habilidosa. Não conheço você, menina, mas vejo que também está connosco... então... posso ver sua calcinha? — Leader rapidamente ergueu sua espada, assustando o esqueleto, que logo se apresentou com cavalheirismo ao pedir desculpa, mas isso não serviu para Leader, mesmo tendo guardado a espada.
Antes que mais explicações fossem dadas, a figura saiu das sombras. Uma mulher zombie de movimentos fluídos, portando duas espadas longas e gastas pelo tempo, que ainda assim pareciam afiadas. Sua presença irradiava uma aura maligna, e seus olhos vazios fixaram-se em Leader.
— A sombra dela está comigo — a zombie declarou, apontando uma das espadas na direção da dona da sombra. — E não pretendo devolvê-la. — Zoro deu um passo à frente, sacando suas espadas.
— Ótimo. Você facilitou as coisas para nós. Só precisaremos depois achar quem tem a do Brook. — A batalha começou sem aviso. A zombie era rápida, quase sobrenatural, e Zoro imediatamente reconheceu o estilo. Era uma mistura entre o Santoryu dele e o Yontoryu — quatro espadas — uma técnica rara que fazia uso das sombras como lâminas extras. Leader apenas lutava com duas espadas e uma adaga na boca, nada comparado a Zoro que realmente usava três espadas, então, claramente, aquela zombie era muito mais poderosa que ela, tivesse ou não sua sombra.
— Tsc, nada mal para um morto-vivo. — Zoro murmurou, desviando de um golpe que quase cortou sua bandana do braço. A dona da sombra, no entanto, não conseguia apenas observar.
— Ela tem a minha sombra! Eu não vou ficar aqui parada! — Antes que ele pudesse impedi-la, ela se lançou para frente, usando as molas de sua fruta para aumentar sua velocidade. O primeiro golpe foi certeiro, mas a zombie era resistente, movendo-se como se as leis do corpo humano não se aplicassem a ela. Zoro logo gritou:
— Saia daí, Leader! — Mas ela não ouviu. Seu próximo ataque foi interceptado, e a zombie contra-atacou com uma força brutal. Leader foi lançada contra uma árvore, com o impacto tirando todo o ar de seus pulmões. Zoro aproveitou a abertura para avançar, bloqueando o próximo ataque da zombie com suas três espadas. Sua expressão estava mais séria do que nunca.
— Eu disse para ficar fora disso! — Leader tentou se levantar assim que seu corpo caiu no chão, mas cada músculo doía.
— Você não entende! Essa sombra é minha! Minha vida está em jogo! — Zoro nem olhou para ela. — Ela não vai me matar! Se eu morrer, ela também morre!
— Então confie em mim para trazer a merda da sua sombra de volta e pare de ser mal agradecida! — Ele pressionou a lâmina da zombie com força, empurrando-a para trás e avançando com velocidade. Era um combate feroz, mas Zoro tinha algo que ela não tinha: determinação e a promessa de proteger, mesmo que ele não admitisse. Odiava esse facto, mas quando era para salvar uma pessoa que ele se importava, ele acabava fazendo isso de todos os jeitos.
No final, após uma troca rápida e brutal de golpes, Zoro conseguiu desarmar a zombie com um ataque devastador. Brook interveio, usando sal para purificar a sombra, permitindo que voltasse para a sua dona.
Zoro virou-se para Leader, que estava encostada em uma árvore, ainda tentando se levantar, mas ficou imensamente feliz ao perceber que tinha sua sombra, mesmo que mal se notasse naquela névoa.
Ele se aproximou, oferecendo a sua mão.
— Você tem sorte de ainda estar viva. — ele disse, com aquele tom meio irritado que ela conhecia tão bem. — Não vi a zombie se importar se você vivia, ela poderia facilmente ter outra sombra depois. Ela tinha a técnica de quatro espadas, isso é algo raro, nem eu e nem você temos. Você tem a de duas espadas e eu a de três.
— E o que isso importa? — ela pegou a mão dele, embora odiasse admitir que precisava de ajuda para se erguer em pé. — Eu consigo me virar agora. Muito obrigada.
— Não. Você não consegue — ele rebateu, puxando-a para cima com força. — Da próxima vez, você espera. — Brook se aproximou, sorrindo gentilmente.
— Sua sombra já voltou com você, mademoiselle. Mas, como Zoro disse... a batalha não acabou. — Leader olhou para Zoro.
— Não precisa agradecer, porque já sei que não vai mesmo.
— Eu tinha agradecido, seu parvalhão. Mas enfim, sempre o mesmo Roronoa Zoro, hm?
— Vindo de você, nem algo em troca me daria.
— Tem certeza? — Sua pergunta saiu baixa, quase que num sussurro, enquanto ela se aproximava de Zoro. Os olhos dele se estreitaram, confusos com a mudança de comportamento. Quando ela ficou perto o suficiente para que seus rostos quase se tocassem — mas também muito graças à fruta e ela não poderia reclamar que conseguiu ficar perfeitamente da altura dele graças a isso, pois possuía um e cinquenta e quatro, enquanto o Roronoa já estava nos um e oitenta —, ele deu um passo para trás instintivamente, como se sentisse o perigo.
— O que você tá fazendo?! — ele perguntou, o tom de voz junto de irritação e surpresa.
— O que parece? Te dando algo em troca, osh. E eu depois que sou a mal agradecida. — Zoro franziu o cenho, desviando o olhar, mas o desconforto era evidente. Ele estendeu a mão, quase que empurrando-a para longe.
— Você tem merda na cabeça? — O silêncio que se seguiu foi pesado, até ser quebrado por Luffy, que olhava de um lado para o outro, a cabeça inclinada como se estivesse tentando entender a cena.
— Ei, vocês dois... Vocês se conhecem? — Nami, que estava mais atrás, parecia tão surpresa quanto os outros. Seus olhos se estreitaram ao observar Leader com mais atenção.
— Espera... deixa ver se eu não estou doida... você é a... Leader? É que você está... diferente? Talvez seja porque seu cabelo cresceu... — Ao ouvir seu nome da boca de Nami, Leader deu um passo para trás enquanto ouvia as outras palavras que ela dizia, endireitando a postura, porém, o desconforto era evidente ao ela ter-se lembrado de si ao aparecer junto de outra mulher e uma rena. Não sabia sequer que ela tinha realmente se juntado a eles, finalmente se lembrando quem era Luffy.
Antes que ela pudesse dizer algo, Zoro cruzou os braços, a expressão dura como pedra.
— Conhecemo-nos, sim. — Ele lançou um olhar direto para Leader, como se esperasse que ela explicasse. Quando ela não o fez, ele continuou: — Ela era uma infiltrada nos Arlong Pirates. — Os olhos de Nami se arregalaram, e Sanji, que ninguém sequer quis saber que ele tinha voltado, acendeu um cigarro, claramente ficando interessado na história quando viu como Nami ficou um pouco irritada em sua expressão.
— O quê? — ela deu um passo à frente, a voz subindo decibéis bem notáveis. — Ela estava com eles?! — Leader tentou falar, mas Zoro não deu chance.
— Sim. Ela fingia ser leal ao Arlong, mas na verdade... ela estava enganando todo mundo. Roubava dinheiro até de você, Nami, enquanto fingia ser só mais uma vítima dele, tanto que vocês nunca devem ter se cruzado porque ela se escondia, mas onde em essa carne queimada no braço dela, antes era uma tatuagem igual à sua quando era do bando deles. — Nami ficou em silêncio por um momento, processando as palavras, até que sua expressão endureceu.
— Então foi você? Não foram só eles? — Leader desviou o olhar, como se não pudesse encarar o peso da acusação. Afinal, nunca esperou ser descoberta.
— Eu... não era só isso. Não era tão simples.
— Não era simples? — Zoro deu uma risada seca. — Você traiu todo mundo. Inclusive eu! Eu confiei em você, Leader! Você sabe muito bem que eu confiei!
— Você acha que eu queria aquilo? — Leader respondeu com a voz tremendo. — Acha que eu tinha escolha?
— Todo mundo tem escolha! — o Roronoa rebateu, agora mais irritado. — Você escolheu trair! Escolheu roubar dela, roubar de mim! Tem noção do quanto me traiu? — Luffy olhava para os dois como se estivesse assistindo a uma peça de teatro, enquanto Usopp e Chopper cochichavam entre si, claramente confusos. Brook, por outro lado, simplesmente observava em silêncio junto de Robin e Franky. Já Sanji, apenas fumava seu cigarro enquanto olhava Leader com desdém, mesmo sendo uma mulher bonita.
Nami, por fim, deu mais um passo à frente, o olhar fixo em Leader, mostrando a diferença de altura entre elas, e Leader desta vez não usou seu poder para ficar cara a cara. Porque faria isso, também? Para Nami a socar?
— Por que você fez isso? — Leader finalmente ergueu os olhos, encarando-a. Havia um peso ali, como se a culpa estivesse enterrada há muito tempo. Afinal, ela tinha errado, e bastante.
— Porque eu achava que, se pegasse o suficiente... poderia fugir. Mas nunca consegui. — Zoro bufou.
— Fugir? E enquanto isso, deixava todo mundo afundar no caos que você ajudava a criar.
— Você não entende, Zoro. Eu já estava presa antes de conhecer vocês. Antes de conhecer ele. — Zoro estreitou os olhos, claramente não convencido. Ele deu um passo para trás, sacudindo a cabeça como se precisasse se afastar da conversa.
— Isso não muda nada! — Nami disse, finalmente quebrando o silêncio. — Você escolheu o que escolheu! Não importa o motivo! — Leader ficou quieta, incapaz de responder. Ela sabia que Nami tinha razão, mas as palavras ainda a feriam.
— Vocês podem resolver isso depois. Depois que eu acabar com o Moriah, vocês podem falar o que quiserem. — Leader balançou a cabeça em negação.
— Não. Chega de esperar. Eu preciso dizer agora. — Zoro franziu o cenho, irritado com a insistência dela.
— O quê? Vai inventar mais uma história? — ela apenas o ignorou, virando-se para Nami.
— Eu... Eu não fui só uma infiltrada no Arlong Pirates. Eu não queria estar lá. — Nami cruzou os braços à frente do corpo, mas algo no tom da outra a fez hesitar.
— Então por que estava? — a garota respirou fundo.
— Porque eu já estava sendo usada. Por outra pessoa.
— Usada? Por quem? — Zoro perguntou rapidamente.
— Pelo Doflamingo. — O nome caiu como uma bomba no meio do grupo. Até Luffy, geralmente desinteressado em histórias complicadas, estreitou os olhos, prestando naquele momento devidamente atenção ao que se estava a passar ali entre eles.
— Eu era uma das muitas pessoas que ele controlava. Ele usou minha família contra mim, me obrigou a trabalhar para ele, e... quando o Bellamy morreu, ele me deu a fruta da mola.
— Bellamy? O cara que eu dei um soco? Ele morreu? Morreu mesmo?
— Sim. Mas não foi pelo seu soco, Luffy. — Ela olhou para ele rapidamente antes de continuar: — O Doflamingo o matou, por falhar, e jogou a fruta dele para mim. Disse que, se eu não comesse, acabaria igual ao Bellamy. — Sanji, que até então estava em silêncio, soltou fumaça de seu cigarro antes de falar:
— Que tipo de monstro obriga alguém a comer uma Akuma no Mi desse jeito? — Leader apertou os punhos.
— Ele é esse tipo de monstro, mesmo com uma lábia incrível. Mas, depois disso, eu fugi. Não consegui mais viver sob o controle dele. Foi por isso que acabei no East Blue, porque ele estava fora da Grand Line para a surpresa de muitos, e depois com o Arlong. Pensei que seria mais fácil sobreviver lá, já que o Doflamingo voltaria para a Grand Line. Afinal, quantas vezes o Mihawk não saiu e entrou? A tatuagem do Zoro é prova que eles se encontraram e eu sei que foi no East Blue. — Nami deu um passo à frente, a expressão endurecida.
— E você achou que roubar meu dinheiro era o jeito de sobreviver? — a pirata não se defendeu, mas sua voz tremeu ao responder à ruiva:
— Eu não roubei para mim. Eu roubava para fugir. Para comprar minha liberdade de qualquer jeito. Afinal, o Arlong também fez isso com você. Mas você não estava sozinha, eu apenas queria comprar a minha liberdade, então foi mais barato. — Nami ficou quieta, seu olhar furioso suavizando um pouco enquanto processava aquelas palavras. Pelos vistos, ela realmente era uma vítima mesmo tendo feito o que fez. Não foi propriamente por mal, mas teve que o fazer e ficou manchada por isso.
Luffy apenas coçou a cabeça, confuso.
— Então você também estava fugindo do Doflamingo? — ela acenou com a cabeça positivamente.
— Eu consegui escapar dele. Passei por Water 7 antes de vocês chegarem lá, mas quando vi a Marinha, soube que eles estavam atrás de mim também. Fugi antes que eles me pegassem e acabei aqui, em Thriller Bark. — Ela apontou para o chão, sua expressão cheia de desespero. — Passei um ano nessa ilha, fugindo de tudo e de todos, tentando sobreviver sem a minha sombra e com o maldito poder da mola. Fora que preferia estar no meio de centenas de galinhas do que de um zombie, mas eu não poderia escapar sem a minha sombra. — Luffy observou ela em silêncio por alguns segundos antes de dar um sorriso largo.
— Bem, você não precisa fugir mais. — Leader o encarou, surpresa com a simplicidade da resposta.
— O quê?
— Você tá com a gente agora. Vamos acabar com o Moriah depois podemos decidir o que fazer.
— Luffy, você não entendeu nada do que eu disse? — Ela exclamou, frustrada. — Eu sou uma traidora! Eu fiz coisas horríveis! Não importa se eu fui vítima, eu machuquei pessoas.
— É, fez. Mas parece que você quer fazer diferente agora. Então vamos. — Nami olhou para Leader, ainda hesitante, mas deu um suspiro.
— Se o capitão aceita, acho que posso tentar... esquecer o que você fez. Afinal, no meu caso o culpado foi o Arlong, não propriamente você. — Zoro, no entanto, permaneceu calado, os braços cruzados e o olhar fixo em Leader. Ele finalmente falou, com um tom mais baixo, mas ainda cheio de ressentimento.
— Isso não apaga o que você fez. Não comigo. A Nami tem o culpado sendo outro, mas eu não. Por isso, não ache que ganhará a minha confiança de novo. E muito menos o que teve naquela altura, pois eu sei muito bem o quão interesseira você é. — Leader não tentou argumentar. Ela apenas assentiu, sabendo que, com Zoro, as palavras não fariam diferença. Luffy virou-se, batendo os punhos.
— Então vamos! Primeiro, o Moriah! Depois, vocês resolvem o resto.
E com isso, ele começou a andar, deixando a tensão entre Leader, Zoro e Nami pairando no ar. Leader sabia que ainda tinha muito a provar, mas, pela primeira vez em anos, sentia que talvez houvesse uma chance de recomeçar.
E desta vez, era uma chance verdadeira.
[...]
O CAMPO DE BATALHA ESTAVA MERGULHADO NO SILÊNCIO SOMBRIO, ainda mais sombrio do que já era naturalmente. Thriller Bark estava em ruínas, e o céu começava a clarear levemente enquanto as sombras dos chapéus de palha retornavam aos seus corpos.
Moriah estava derrotado, mas a vitória veio a um custo alto.
Leader, arfando após o combate, olhou ao redor, tentando localizar Zoro no caos. Então, viu Brook se aproximando apressado, o rosto de sua caveira demonstrando uma ansiedade quase palpável.
— Senhorita Leader! Algo terrível aconteceu! — ele exclamou.
— O que houve? — Ela correu até ele com o coração disparando.
— É o Roronoa Zoro! Ele... Ele enfrentou aquele homem. Kuma... Um dos sete Corsários. — Leader sentiu o coração parar por um instante.
— Onde ele está!? — O esqueleto apontou para uma clareira próxima, e Leader não perdeu tempo, correndo o mais rápido que podia, encontrando Zoro em pé, coberto de sangue, fora o sangue jorrado no chão, e sua respiração estava tão fraca que parecia estar desaparecendo. Ela tentou por tudo não cair de joelhos antes de chegar perto dele, as mãos tremendo enquanto tentava avaliá-lo.
— Zoro! — ela chamou, mas ele não respondeu. — Brook, que a seguira, abaixou a cabeça.
— Ele absorveu toda a dor e exaustão do Luffy... para nos salvar. — As palavras foram como um soco para Leader. Ela segurou o rosto de Zoro assim que finalmente conseguiu chegar, desesperada.
— Você é um idiota... — murmurou, com lágrimas começando a escorrer. — Se você morrer, não tem motivos para eu acreditar que te verei como o maior espadachim do mundo! — Ela tentou segurá-lo nos braços, mas ele era pesado demais para ela sozinha. Mesmo assim, ela não desistiu, puxando-o com dificuldade, os pés arrastando pelo chão enquanto o erguia, então finalmente conseguindo o ajustar no seu pequeno corpo enquanto suas pernas viravam molas.
— Você não pode morrer, entendeu? Não pode! — Sua voz começou a falhar enquanto ela o carregava num pulo em direção aonde Chopper estaria.— Você me prometeu que chegaria ao topo... E eu... eu ainda tenho coisas que preciso dizer para você! — O silêncio de Zoro era ensurdecedor, e o peso do momento a esmagava.
— Chopper! — ela gritou, quase sem fôlego. — Chopper, rápido! — O pequeno médico correu até eles, a expressão alarmada ao ver o estado de Zoro e ainda o facto que Leader também estava ferida.
— Coloque-o aqui, rápido! Você também está ferida, então me deixe ver você também depois! — Leader o deitou na maca improvisada, os joelhos finalmente cedendo. Ela segurou a mão de Zoro, sua testa tocando a dele enquanto lágrimas quentes molhavam seu rosto.
— Por favor, Zoro... não morra. Não depois de tudo. Não pode morrer agora! — Chopper começou a trabalhar freneticamente, mas a mente de Leader estava longe dali. Ela olhou para o rosto pálido de Zoro, e memórias inundaram sua mente.
O dia em que ela se declarou para ele parecia tão próximo agora.
Ela se lembrava do calor da tarde, do treino exaustivo que ele fazia em silêncio. Na época, ela ainda estava infiltrada nos Arlong Pirates, mas Zoro não sabia. Ele era apenas um espadachim promissor que a fascinava com sua força e determinação.
— Por que você está sempre me olhando? — ele perguntou, sem virar para encará-la. — Leader hesitou, mas reuniu coragem.
— Porque você é diferente. — Ele parou, finalmente se virando, com uma sobrancelha erguida.
— Diferente como?
— Porque você é o único que me faz querer ser... melhor. — Ela respirou fundo, sentindo o coração acelerar. — Zoro, eu... gosto de você. — O silêncio que se seguiu foi como um golpe de espada. Ele desviou o olhar, coçando a nuca.
— Eu não tenho tempo pra essas coisas. Meu objetivo é o topo, ser o maior espadachim do mundo. — Ela tentou sorrir, mas sentiu o coração apertar.
— Eu sei. É por isso que gosto de você.
De volta ao presente, Leader segurou a mão dele com mais força, como se temesse que ele escapasse de novo.
— Eu sei que você nunca me perdoou... E sei que eu errei. Mas você não pode morrer agora! Porque, mesmo que nunca me veja do jeito que eu vejo você... eu ainda acredito em você, porra! — Chopper, finalmente, deu um suspiro aliviado.
— Ele vai viver. Mas ele precisa descansar muito. — Leader deixou o corpo relaxar, um soluço escapando enquanto ela abaixava a cabeça.
— Obrigada... obrigada, Chopper! — Ela se levantou lentamente, olhando para Zoro uma última vez antes de ser atendida pelo pequeno médico, sendo liberada logo em seguida para descansar. As lágrimas ainda escorriam, mas pela primeira vez em muito tempo, havia uma pequena chama de esperança dentro dela.
E tudo isso por causa de uma sombra perdida e, por acaso, o bando de Zoro estar em Thriller Bark na hora certa.
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