O que todos os homens querem.
–Não devia estar lá dentro, honrando o seu capitão?
–Já o honrei bastante. E o dia vai nascer, e é a sua vez de se ajoelhar agora.
–Não gosto de como fala.
–Não gosta porque é um puritano. Nós nem somos tão diferentes você e eu. Pense, nos curvamos a um poder maior que o nosso e nos humilhamos para eles e lambemos seus egos. No fim das contas somos iguais,Bernardo. Só que o meu curvar costuma ser mais divertido que o seu,tenho que admitir. Mesmo assim não precisa se sentir pior por isso.
Eleu se debruçou contra os trilhos, de modo a deixar cair os braços que pendularam suavemente ao vento, metros acima do batemar.
–Não vai conosco para o templo, não é? – Disse sua voz.
–Eu não posso. Não sou mais um pirata.
–É queda ultima vez que disse "não" fugiu de nós na madrugada. Mas ainda está aqui agora.
– Eu não fugi.
–Deixa eu adivinhar, estava com medo. O que pensou? Que Sollis ia estuprar você? Eu vi, ele o segurou com força, mas ele não ia...
–Vou rezar.
– Você devia voltar para Gamala, padre. Para junto dos seus fiéis famintos.
–Pretendo fazer isso.
–Quando?
–Assim que estivermos perto da costa.
– Ele faria de tudo pra te impedir. – Eleu fez uma pausa como quem pensa numa solução. Então completou – Mas se você pegar um bote pode sair agora mesmo. Sollis está roncando como um porco. Só dará por sua falta no começo da tarde.
– E você adoraria isso, não é? Adorou quando eu parti. Me lembro bem do sorriso na sua cara. Me diga, Eleu, o que o seu coração busca de verdade?
– Vai me falar sobre seus deuses, padre?
Ele tinha a intenção de debochar, mas Bernardo não viu graça naquilo.
– Sabe, Eleu, quando o trouxemos das Marcellas você era pouco mais que uma criança, trabalhando no cais como um escravo. Todos pensamos que seria um menino doce, mas em pouco tempo você já era o mais canalha de nós.
Eleu o ouvia em silêncio fitando o amanhecer alaranjado. Parecia estar se lembrando de histórias que Bernardo não conhecia. Revendo suas memórias nas montanhas, ou quem sabe decidindo-se entre a verdade e o conveniente. Por fim voltou-se para responder.
– Eu quero a mesma coisa que querem todos os homens.
–Mulheres?
–Nem todos querem mulheres, Bernardo. Mas há uma coisa que todos os homens procuram como loucos.
– Poder, ouro?
– Respeito.
–E como se conquista respeito, Eleu? Com ouro e sangue?
–Você ainda fala como um pirata, percebe? Mas está errado. Respeito não se conquista com riquezas nem com ameaças, seu idiota. Para ser respeitado é preciso coragem para fazer coisas que outros temem fazer. É assim que funciona.
Eleu tornou a se erguer e quando o fez, Bernardo pôde ver que entre suas mãos havia um pedaço de corda armada em forca.
– Eleu, você não precisa... - Deu um passo para trás diante do sorriso estranho do rapaz.
–Eu terei aquele livro com ou sem a sua ajuda, padre. Meu capitão está velho,tem medo de ser perseguido pelo império, mas eu não sou um velho e os homens sabem disso, não sabem, Miro?
Um par demãos nodosas empurraram Bernardo para cima de Eleu que então passou-lhe a corda pelos punhos.
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