Jangada
Mas no convés, mesmo os homens velhos pareciam muito animados por ofertar ao mar o pobre que urrava dentro do saco de pano com que lhe cobriam a cabeça.
E tanto se debatia o tal, que foi preciso três dos mais jovens para empurrá-lo até a borda.
–Loucos! Psicopatas!
Eleu observava em silêncio. Um silêncio sábio demais para um rapaz. Sollis gostava disso nele. Mas as vezes era assustador encarar seus estreitos olhos escuros e tentar adivinhar no que estava pensando.Eleu parecia estar sempre cheio de desconfianças.
"E vai ao mar, vai ao mar,
a vida em paga das que navegam!
Vai ao mar!
As que navegam!
Vão ao mar!
Vai ao mar... "
No ritmo da canção, os homens fizeram nadar a pobre alma. Era doloroso vê-lo bracejar inutilmente contras as ondas impetuosas.
"A vida em paga
Das que navegam
Vai ao mar.
Vai ao mar, vai ao mar..."
Apesar de atracado, o navio sacolejava como se estivessem a todo pano, sob as luzes roxo-brilhantes dos relâmpagos que iluminavam a noite o Gregorium rangia e estalava.
–Olha ali, não é o seu padre numa jangada? – Disse a voz de Eleu se sobrepondo a cantoria e estava certo.
Da praia partia uma jangada tola contra o céu cinzento. O que raios ele queria?
– Vem para a morte? – Eleu riu, mas a ideia fez com que os dedos de Sollis se fechassem em torno da luneta com mais força do que pretendia quando a pôs sobre o olho.
Sim, era Bernardo, é claro. O olhar obstinado, as roupas ridículas de sacerdote tremelicando no vento.
– Você vai furar seu outro olho.– Brincou Eleu tomando-lhe a luneta. – Me deixe ver. Deus do céu... O que ele quer?
Sollis não pode refrear um sorriso. Bernardo é claro, só poderia querer uma coisa.
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