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》29《

Minha barriga está roncando. Não comi nada desde a tarde. Não vou perturbar ninguém nesse clima pesado. Seria falta de consideração da minha parte. Mas por outro lado… vou secar de fome? Sim, é o que tem pra hoje.

Decido apagar a luz e me jogar na cama. Com esse silêncio, só o ronco da minha barriga se faz presente.

Eu deveria estar dormindo. Queria ver Pedro. Na verdade, ultimamente, eu queria muita coisa vinda dele. Coisas que não deveria. Coisas que me fazem deixar a razão de lado.

Cenas que nunca existiram se passam em minha cabeça, como lembranças. Os olhos verdes mais bonitos que já vi se encontram em todas elas. Deixando meus sonhos internos iluminados.

Devo estar ficando louca. Estou entregue a algo tão incerto. E pior, disse que não ficaria.

Eu escolhi odia-lo assim que o conheci, mas agora, o que sinto, passa longe deste sentimento.

Batidas na porta me tiram desses devaneios.

Será que aconteceu alguma coisa?

Me levanto em dois segundos e ligo a luz antes de chegar a porta. Abro e me deparo com Pedro segurando uma bandeja com suco e sanduíches. Literalmente uma visão do paraíso, ele segurando uma bandeja de comida.

— Oi, imaginei que estivesse com fome, e…— Deixa a frase morrer.

— E?

— E foi uma ótima desculpa para vir te ver antes de dormir. — Dou-lhe meu melhor sorriso e abro caminho para que ele entre.

— Você acertou nas duas coisas. Estava morrendo de fome, e… — Deixo a frase morrer o imitando.

— E? — Pergunta rindo enquanto põe a bandeja caprichada na cama.

— E que eu também queria te ver. — Digo um pouco envergonhada. Ganho o melhor dos sorrisos.

— Desculpe não ter vindo antes, errei umas cinco portas antes de bater na certa. — Ri de si mesmo e o acompanho.

— Essa casa é muito grande mesmo. Já conheceu todos os cômodos? — Pergunto enquanto ele põe suco para mim.

— Acho que sim, só se existir algum escondido. — Morde seu sanduíche e eu também.

— Hmm.

Ele me olha comer e começa a rir.

— O que foi?

— Você mastiga muito rápido.— Ri.

— Claro, isso aqui está muito bom.— Falo de boca cheia mesmo — E sem contar que estou com a fome de cinco leões. — Ele gargalha.

— Não ri, comida é vida. — Arremesso o travesseiro mais próximo de mim nele. Pedro ri mais ainda.

Esse momento de descontração parece perfeito. Parece nunca acabar.

Nunca imaginei que existiria.

— Ou, não me agrida. Ainda sou um paciente em repouso — Gargalha colocando seu sanduíche pela metade na bandeja novamente — Aah, falando nisso, olha! — Tira o boné e  mostra a cabeça toda raspada na atura dos cabelos que cresciam aonde faltava um tufo enorme.

— Nossa, ficou bem diferente.

— Feio, você quis dizer. Mas tudo bem, é melhor do que um buraco sem cabelo no meio da cabeça.

— Ah pare de graça, Pedro. —  Pego o seu sanduíche e ele ri.

— Aah claro, porque não é você que está parecendo um pirulito.

Pedro me conta sobre sua primeira noite aqui enquanto termino de comer e diz também que um dos seus lugares preferidos da casa é o quintal.

— Você está com muito sono? — Pergunta.

— Não muito e você?

— Então vem, vamos fazer um tour noturno. — Ignora completamente minha pergunta e  sai me arrastando descalça pelo corredor e escada a baixo.

Tudo está apagado. A casa no escuro não é tão encantadora. Chega a ser até um pouco assustadora.

— O que foi? — Os olhos verdes se voltam para mim.

— Será que essa casa é assombrada? — Pedro ri e me dá sua mão.

— Nenhum fantasma teria coragem de fazer mau a visita mais linda dessa casa. — E isso foi o suficiente para que qualquer medinho fosse embora para as profundezas do esquecimento. Deixando apenas uma coisa dentro de mim. Uma coisa boa e motivada unicamente por Pedro. Ele Coloca uma mecha de meus cabelos atrás de minha orelha e beija minha bochecha, deixando uma ardência aonde seus lábios tocaram por menos de um segundo.

Céus, o que este homem faz comigo?

— Vamos? — Pergunta.

Apenas o sigo pela casa, agarrada a sua mão.

Chegamos a uma porta grande e de vidro escuro que Pedro abre e deixa a mostra um espaço gramado lindo. Várias árvores e entre duas delas uma rede cheia de almofadas de várias formas geométricas.

— Vem, vamos sentar na rede. — Ele me arrasta até lá boquiaberta pela beleza do lugar. O céu estrelado, o gramado, as árvores e Pedro, tudo parecia uma linda pintura.

— Que lugar lindo.

Pedro tira algumas almofadas e as joga no chão. Sentamos e ele começa a falar.

— Meu pai disse que minha mãe gostava de observar o céu…— Entrelaço nosso dedos atenta a cada palavra sua — Acho que erdei o mesmo gosto que ela. Ela deve ter me ensinado a gostar talvez.

Meu coração se aperta e uma vontade de chorar vem. A mãe de Pedro faleceu quando ele nasceu. O fato dele cogitar ter tido um contato com ela sem ter tido me corta o coração.

— Fico pensando… Será que aqui era nosso lugar preferido? — Uma lágrima teimosa cai mas felizmente consigo conter as outras. — As vezes me deito aqui e fico olhando  a imensidão do céu esperando que ela me veja de lá também.

— Eu não sei se era antes, mas acredito que possa ser agora. E pode ter certeza, sua mãe está lá sim te observando e te protegendo. — Pego seu rosto nas mãos — Acredite, você é um cara incrível. Um sobrevivente. Ela deve estar muito orgulhosa de você.

Pedro me olha com muita intensidade e põe suas mãos em cima das minhas em seu rosto.

— Você tem noção do que faz comigo, Flora? — Minhas mãos deslizam por baixo das suas até minhas pernas e ficam por lá, enquanto as de Pedro vem para meu rosto e me fazem um afago — Desde de que pus meus olhos em você no hospital, soube que era especial. Uma sensação ligada à você se manteve firme dentro de mim depois de eu ter perdido todas as outras. E agora, eu sei que é muito cedo para tirar uma conclusão, mas…

— Mas?

— Mas eu sinto que se você me contasse a pior das mentiras, se tornaria verdade para mim, pelo simples fato de ter sido dita por você.

Seus olhos parecem estar vendo minha alma. Meu corpo formiga e a parede de razão que havia dentro de mim se quebra de vez trazendo um avalanche de sentimentos reprimidos.

Pedro encaixa uma de suas mãos em minha nuca me levando para ele,  e a outra adentra meus cabelos.

Posso me arrepender depois, mas não deixarei de viver este momento.

Fecho meus olhos quando a proximidade me faz sentir sua respiração calma. Nossos lábios se encontram e se encaixam perfeitamente, como se fossem moldados um para o outro. Meu corpo se arrepia com seu toque.

Quando infelizmente o nosso beijo  cessa, deitamos na rede e eu sinto o quanto é maravilhoso estar aninhada ao peito dele.

Ficamos assim, entrelaçados sob um céu estrelado até ele se tornar a escuridão de um sono profundo e perfeito.




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Esta é uma parte fofa de um outro livro meu ❤ Starry Sky - Coisas do destino

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