08) A nova comunidade
Alguns comiam as pressas, outros no seu tempo, estava curiosa para conhecer o lugar novo, esperançosa, Aaron parecia preocupado mas eu não o culpava por isso, tinha razão de estar.
— Tem outros adolescentes lá? — Perguntei, meus pés formigavam de curiosidade, queria voltar logo pra estrada. Ele assentiu. — Todos sabem atirar? Ou caçar? Ou matar os infectados?
— Nem todos. — Engoliu em seco.
Era um problema, aprendi a me proteger com o tempo, é algo básico, quem não sabe se defender pode ser considerado "fraco" mas, talvez seja porque essa comunidade não exige isso, talvez seja tão seguro que nem todos precisam matar, ou ter qualquer contato com mutilação e sangue.
Rick, Glenn, Michonne e Aaron partiram em uma carro separado logo na nossa frente, enquanto Carl e eu fomos no trailer com o resto do grupo, estava observando a estrada quando passamos por vários mortos.
— Merda merda, cuidado! — Avisei, Abraham freou rapidamente, quase caí.
— Porra! — Gritou.
Tivemos que dar a volta e perder Rick e os outros, nos separamos deles, as coisas já não estavam indo bem...
— Mas e os outros?
— Eles vão nos encontrar — Maggie respondeu por ele.
Encontramos um homem chamado Eric, estava com o pé torcido, Maggie ajudou ele a nos levar até um local seguro dos mortos para esperar os outros. Maggie estava tratando do ferimento dele enquanto o mesmo tentava controlar a dor.
— Vocês parecem ser pessoas boas, nós temos um grupo e...
— Um grupo? Você está com o Aaron?
— E-ele está bem? Como o conhece?
— Tudo bem, ele está vindo. — Maggie tentou acalma-lo, talvez mencionar o nome não tenha ajudado, então Eric fazia parte das pessoas que ele estava tentando proteger.
Depois de muito tempo, Rick nos encontrou, ele abraçou-me com Judith em meu colo deixando um beijo na testa da mais nova. Aaron correu para encontrar Eric e o cumprimentou com um beijo nervoso, ele estava muito preocupado, Eric não era só um conhecido da mesma comunidade, era sua família.
— Obrigado por cuidarem dele, não sei o que faria se o perdesse — agradeceu aliviado, Maggie concordou e sorriu.
Ficamos por ali mesmo, a noite havia sido longa, e não era seguro sair depois da horda de mortos que encontramos no caminho, a luz do dia seria mais seguro. Deixei Judith com Rick e saí sem que percebessem, entrei em um dos carros e fiquei apenas encostada lá, precisava de um ar longe de todos.
— Vai fugir sem mim? — O garoto perguntou entrando no carro, dei de ombros.
— Podíamos fugir, pra bem longe, onde ninguém possa nos machucar...
— Trinity.
— É brincadeira, só estou cansada, precisava de um tempo... — o interrompi antes que dissesse qualquer coisa.
— Ei, eu fugiria com você.
— Eu sei.
Ele segurou minha mão forte, como se nada nem ninguém pudesse me tirar dele, me dava segurança. Era engraçado pensar que mesmo com toda essa merda, consegui criar algo especial com alguém, minha mãe teria orgulho de quem me tornei, e Hilary também.
Acordei ao ouvir duas fortes batidas de Michonne no vidro do carro, estava com a cabeça no ombro de Carl e ele acordou logo depois que pulei para o banco de trás. Voltamos para a estrada, estava observando as árvores passarem, Carl segurou minha mão forte era como se estivéssemos juntos de novo, e eu não me sentia culpada por isso.
— Queria muito te beijar agora — Carl sussurrou em meu ouvido, corei, envergonhada.
O carro finalmente parou, parecesse que havíamos chegado em Alexandria. A comunidade tinha grandes paredes de metal reforçado como Aaron havia mostrado, fiquei boquiaberta, será que estaríamos seguros? Esse seria nosso novo lar? Os portões se abriram e todos entraram, não soltei a mão de Carl nem por um segundo, afinal cuidávamos um do outro.
— Sejam bem-vindos a Alexandria, antes de tudo, peço que entreguem suas armas.
— O que? Não, é nossa única proteção. — Rick hesitou.
— Tudo bem, vamos falar com a Diana. — Aaron tentou convencer o homem que pediu nossas armas.
— As armas são de vocês, podem usar fora dos portões, mas aqui ninguém utiliza armas. — Disse a mulher que Aaron chamou de Diana.
Deixei minha pistola, faca e canivete em cima da mesa, Carl fez o mesmo. Aaron nos levou até nossas casas, não conseguia expressar outra reação a não ser de surpresa, era bom demais para ser verdade.
— Pirralha — Abraham parou ao meu lado — pode ficar conosco se quiser, sabe, aquele cara nos deu uma casa e tem bastante espaço...
— Espaço é? — Cruzei os braços e sorri.
— Você pode conversar com a Rosita sobre aquelas merdas de mulher. — Gargalhei e ele também, Ab estava tentando me manter por perto, ele queria cuidar de mim? Concordei, seria bom ter meu próprio quarto.
Entrei na casa vazia e caminhei pelos cômodos, a cozinha era maravilhosa, tinham talheres e panelas como em uma casa normal mas elas brilhavam como se fossem novas. O sofá da sala era mais confortável que as últimas camas que tive tentando sobreviver lá fora.
— Oi! — Uma mulher loira me assustou, ela segurava algumas roupas — Eu sou a Jessie, moro aqui do lado, conheci o Rick e ele disse que tinha dois adolescentes, separei algumas coisas pra você, espero que possamos ficar amigas.
— Sou Trinity. Obrigada! — Recebi os itens e sorri.
— Se quiser, posso cortar seu cabelo assim como cortei o dele. — Assenti, mas preferia manter o cabelo grande, por mais que não fosse aconselhável em um apocalipse.
Eu estava suja demais para aquela casa, e sujar o tapete de terra me garantiu isso, corri logo para o chuveiro, nunca pensei que sentiria água fresca e quente sobre o meu corpo outra vez. Havia tanta sujeira que tinha esquecido que era mais branca do que aparentava ser, e meu cabelo era tão leve e macio, a sujeira havia lhe dado um tom diferente, mais frio, como os mortos. Posso ter chorado um pouco com tanto conforto, depois de passar dias e dias na estrada, de sentir meus pés cortarem, sentir minha cabeça doer e ter que correr sem rumo para fugir da morte.
Sequei meu cabelo e escovei os dentes como fazia antes, quando olhei-me no espelho, pareci uma adolescente normal se arrumando para seu primeiro dia no ensino médio. Sorri, usava um casaco jeans super confortável, e botas de caminhada que me traziam conforto e ao mesmo tempo me deixavam segura. Desci as escadas onde encontrei Rick, Michonne, Abraham e Rosita.
— Ual, olha só pra você. — Michonne disse orgulhosa, dei uma volta e eles sorriram.
— Não me lembrava da cor do seu cabelo. — Rick disse supreso.
— Nem eu. Agora você parece o xerife assustado que eu conheci — Brinquei e ele gargalhou. — Falando em xerife, onde ele está? — Notei que Carl não estava em lugar algum.
— Na casa ao lado. — Rick apontou, assenti e corri para encontra-lo.
— Carl? Tem algum Carl Grimes? — Brinquei, a casa estava um total silêncio, foi quando Carl segurou meus ombros assustando, dei um pulo para trás.
— Parecem mansões. — Disse surpreso, assenti, não via casas assim há muito tempo.
— Ei, acha que podemos ficar com uma? — Brinquei colocando minhas mãos em volta do seu pescoço, ele segurou minha cintura e começamos a dançar mesmo sem som. Logo ele desceu suas mãos para minha bunda, levantei rapidamente supressa.
— O que pensa que está fazendo?
— Senti sua falta — disse deixando um beijo em meu pescoço.
— Nunca ficamos tão longe um do outro Grimes.
Ambos rimos, pulei para trás quando ouvi sons vindo do segundo andar, Carl pegou uma faca na cozinha e seguiu o som. Abrimos o quarto e a janela estava aberta, haviam algumas almofadas no chão com alguns gibis.
— Adolescentes. — Sorri e dei de ombros, ele parecia confuso, peguei um gibi e entreguei para ele.
Rick convenceu todos de que seria mais seguro dormir todos juntos na mesma casa ao menos na primeira noite, ele temia mesmo por nossa segurança, estávamos todos na sala em volta da lareira quente quando Diana veio nos visitas.
— Estão todos juntos, parece que são realmente uma família. — Verificou, parecia que admirava isso, não é algo que muitos tem, nosso grupo era especial por isso.
Deitei-me ao lado de Carl e encostei a cabeça em seu peito, estávamos juntos de novo, e nada nem ninguém poderia nos separar agora. Assim que acordei, tomei um forte café da manhã e saí de barriga cheia para conhecer a vizinhança com Judith e Carl, apresentamos a pequena para um casal de velhinhos, eram fofos, me perguntava se ficaria assim um dia.
— Carl, Triny! Jessie quer que conheçam os outros adolescentes da sua idade. — Rick disse ao vir até nós, parecia preocupado, dei de ombros e ele ficou com Judith.
Me sentia ansiosa, nunca havia estado com outro adolescente além de Carl, praticamente crescemos juntos, e se eles tivessem aprendido coisas diferentes de nós? E se o jeito de lidarem com estranhos fosse diferente?
— Oi! Deve ser o Carl, e você a Trinity, minha mãe falou de vocês. Eu sou Ron! — Apresentou-se, ele nos guiou pela casa.
— O que vocês fazem por aqui?
— Ah, coisas normais, temos aulas em uma garagem, os pequenos são de manhã e nós de tarde. Depois viemos pra cá e ficamos de boa.
— O que seria "ficar de boa"? — Perguntei, realmente não fazia ideia.
— Tem alguns jogos e gibis, ou as vezes só conversamos. — Ele abriu a porta para um quarto com outros adolescentes. — Esses são Mike e a Enid.
Mike parecia mais extrovertido, o oposto da Enid que só nos cumprimentou com um Oi seco, Sophia foi a última garota com quem fiz amizade, ela era bem diferente.
— Vocês querem fazer o que? Ler? Jogar videogame? — Ron perguntou animado, ele parece ter gostado de nos conhecer.
Carl parecia envergonhado, ele sentou-se com os meninos para jogar videogame, olhei pela janela e puxei o gibi que havíamos encontrado na casa vazia.
— É seu?
— É sim, pensei que tivesse perdido. — Disse colocando-o com a outra pilha de gibis.
— Posso? — Perguntei se podia ler com ela.
— Claro. Senta aí.
Sentei-me ao seu lado na cama e encarei a história em quadrinhos, me lembrou da escola, mas não conseguia tirar da cabeça a conversa que tive com Diana mais cedo. Todos do grupo tiveram que fazer essa "entrevista" para a comunidade, parecia algo histórico.
— Se importa se eu gravar? — Perguntou-me quando sentei no sofá, dei de ombros. — Qual é o seu nome?
— Trinity.
— Só Trinity? — Perguntou, nunca conheci meu pai, minha mãe utilizava o sobrenome do meu padrasto mas eu não cheguei a saber qual era o sobrenome do meu verdadeiro pai. Então apenas concordei.
— É só o que importa. — Respondi diretamente, ela assentiu e anotou em um bloco de folhas.
— Há quanto tempo conhece Rick Grimes?
— Desde o começo, era uma criança quando o conheci, não que tenha mudado muito mas, acho que cresci um pouco. — Lembrei-me do homem com roupa de hospital, nunca esqueceria desse dia.
— Seus pais, onde estão?
— Mortos, eu acho. — Dei de ombros, não importava mais, fui criada por outra família.
— O que seu grupo é para você?
— Eles são... minha família, perdemos muito, haviam mais de nós, fizemos de tudo para continuar juntos e cada vez mais fortes. — Completei, ela concordou.
— Entendi.
🔫
— Preciso de ar — levantei da cama e deixei o quarto, ficar em um lugar fechado me deixava nervosa. Carl estava prestes a se levantar também, o impedi. — Tudo bem, vou sozinha.
Caminhei até em casa, ou ao menos, nossa nova casa, sentei-me na escada da varanda tentando controlar minha respiração, eu estava nervosa? Rick sentou ao meu lado.
— Como está? — Perguntou preocupado.
— Não sei bem, confusa.
— Por quê?
— Sei lá, tudo. Sabe parece bom demais para ser verdade. — Sorri e ele me abraçou reconfortando-me.
— É difícil de acreditar, depois de tudo que passamos, mas, nunca baixe a guarda entendeu? Apenas viva esse momento. Não pensei no que acontecerá depois.
Concordei e o abracei forte, ele limpou a lágrima que nem sabia que estava no meu rosto.
— Tem uma cama extra no quarto do Carl, se quiser não precisa ficar com o Abraham. — Sugeriu, dormir ao lado dele seria estranho.
— Não quero decepcionar ele, tudo bem, e acho que já ta na hora de ter meu próprio quarto. — Ele concordou e ambos rimos.
— Qualquer coisa, estarei duas ruas da sua casa, não hesite em me procurar, somos família. — Assenti, ele deixou um beijo em minha testa e entrou em casa.
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