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|03 - Pseudo Prisão.|

Acordei com uma dor latejante no abdômen e uma sensação sufocante de náusea. A luz que vinha da janela estreita na enfermaria parecia querer me cegar. Me mexi, tentando me sentar, mas logo descobri que meus pulsos estavam realmente amarrados na maca. Que merda!

-Bom, você está acordado - disse uma voz calma e grave.

Olhei para o lado e vi um homem mais velho, de cabelos brancos e expressão gentil, segurando uma prancheta. Ele parecia tão fora de lugar naquele ambiente quanto eu me sentia. Observei que ele tinha metade de uma perna faltando.

-Quem é você?- perguntei, minha voz mais áspera do que eu esperava. Tossi, a garganta seca.

-Hershel Greene,- respondeu ele com paciência. -Sou o médico do grupo. Você perdeu muito sangue ontem, mas vai ficar bem se descansar.

Não me dei ao trabalho de agradecer. Minha mente estava em outro lugar. -Os zumbis. De onde eles vieram?

Hershel arqueou uma sobrancelha, claramente não impressionado com o tom rude da pergunta. Ele se aproximou da cama e colocou a prancheta de lado, cruzando os braços.

-Estávamos discutindo isso,- ele começou. -O que aconteceu foi diferente do que costumamos ver. Não foi um ataque externo. Parece que algo começou aqui dentro.

Fiquei em silêncio por um momento, tentando processar a informação. A ideia de estar aqui dentro nessa confusão não me apetecia. -Como assim? Vocês deixaram alguém infectado ficar andando por aí?

Ele não se abalou com minha falta de tato. -Não, garoto. E, antes que comece a apontar dedos, vou explicar. - Ele puxou uma cadeira e sentou. - Estamos suspeitando de uma gripe, talvez contraída de animais que consumimos. Algo rápido, agressivo. Mata as pessoas antes que percebam que estão doentes. A primeira vítima foi Patrick, um adolescente que fazia parte do nosso grupo.

-Patrick?- Minha testa franziu, e a confusão se misturou com a irritação. -Ele foi mordido?

-Não,- Hershel respondeu com firmeza. -Não havia nenhuma marca no corpo dele. Ele simplesmente morreu. Do nada. Quando o encontramos, já tinha voltado como um zumbi e começou a atacar as outras pessoas no bloco de celas.

Minha boca secou. A ideia de algo que matava tão rápido era pior do que os zumbis. Pelo menos, com eles, havia regras claras: mordida, arranhão, morte. Mas isso... isso era diferente.

-Vocês têm certeza disso?- insisti, ignorando o incômodo crescente na minha barriga ao tentar me movimentar.

Hershel soltou um suspiro. -Tão certo quanto podemos estar nesse mundo. Estamos investigando, mas sem equipamentos adequados ou respostas definitivas, tudo o que podemos fazer é cuidar dos sintomas e tentar manter a higiene.

-Então vocês não têm ideia de como evitar isso?

-Não ainda. Mas estamos tomando precauções. Isolamos os doentes e limpamos tudo o que pudemos. Também sacrificamos os porcos que estávamos criando. Mas, se souber de algo que não sabemos para fazer, eu sou todo ouvidos.

O comentário me pegou de surpresa. Fiquei olhando para ele, sem saber se ficava irritado ou impressionado. Hershel era um velho, mas definitivamente não era fraco.

-Eu só quero respostas - murmurei, desviando o olhar.

-Entendo,- ele respondeu, se levantando. -Mas, enquanto você estiver aqui, talvez queira aprender a pedir por elas com um pouco mais de gentileza.

Ele saiu da enfermaria, me deixando sozinho com minha mente em estado de alerta. Era um péssimo momento para eu estar aqui. O velho disse que isolaram quem parecia doente, mas e se tiverem mais ainda sem sintomas? Até mesmo eu estou sujeito a essa merda, depois de ter entrado naquele bloco de celas.

Eu estava com a cabeça cheia de perguntas, ainda processando tudo o que Hershel me disse, quando Daryl entrou na enfermaria e me soltou da maca sem uma palavra. A desconfiança no olhar dele era clara, mas ao menos eu não estava mais amarrado à cama.

- Você pode andar pela prisão - Daryl disse, se afastando rapidamente. - Mas não faça nenhuma merda.

Eu não respondi, apenas saí sem pressa. Andei sem rumo, me deixando guiar pelo impulso. A prisão parecia diferente agora, mais pacífica. Os corredores do lugar e as pessoas conversando pelos cantos foram tudo que encontrei a princípio, havia uma aura de preocupação no ar. A tal gripe estava dando o que falar, e não era para menos, um lugar tão fechado era excelente pra espalhar doenças.

Quando finalmente me vi do lado de fora, tive a sensação nítida de respirar melhor. A paisagem era interessante, bem diferente do que eu imaginava. Haviam cercas em volta de todo o lugar, que mantinham os zumbis lá fora, mas ainda havia uma boa quantidade deles acumulados como formigas em partes específicas.

Não sabia o que sentir por esse lugar. O muro, as cercas, o portão de metal que parecia tão forte, uma horta bem cuidada que chamou minha atenção, tudo aquilo me trazia uma sensação estranha.

Alcancei a grama com lentidão, e logo estava no meio daquele espaço verde. Me perdi na horta, as plantas cheias de frutos pareciam estar em contraste com a realidade brutal lá fora. Como isso poderia ser real? Eu tinha certeza de que não duraria. Nada que parecesse assim... seguro e feliz, poderia durar no mundo novo.

Eu ainda estava perdido no meu próprio pessimismo, quando uma voz interrompeu meus pensamentos.

- O que você está fazendo solto aqui? - A voz era irritada, quase desafiante.

Olhei para o lado e vi o garoto da noite anterior, com uma expressão fechada, armado e com cara de poucos amigos. Ele tinha uns olhos intensos e uma postura rígida que me fez imediatamente querer testar os limites dele, mas antes que eu pudesse responder com sarcasmo, a raiva dele foi mais rápida.

- Você acabou de chegar, ninguém confia em você. Se fizer qualquer coisa, podemos te mandar embora a qualquer momento!

- Vai se foder, garoto - respondi, quase na mesma hora. - Não sou nenhuma putinha implorando para ficar, estive lá fora por muito tempo! Mas, enquanto nenhum homem de verdade vier me mandar embora, vai ter que me engolir inteirinho.

Ele me olhou com uma raiva que mal consegui entender. Estávamos prestes a brigar quando ele deu um passo a frente e se assustou por um segundo. Havia pisado em algo, uma cruz de madeira no chão, vi ferramentas em volta e um curativo na mão dele. O garoto lançou um olhar distante na direção de um local do outro lado do pátio. Seus ombros relaxaram, como se algo o tivesse feito esquecer a raiva momentaneamente.

- Só cai fora daqui, não estou com paciência.

Segui seu olhar. Ele estava olhando para um pequeno campo de... túmulos. Alguns ainda tinham as cruzes improvisadas de madeira, com os nomes gravados à mão.

E então eu entendi. Patrick, o cara de quem ele me perguntou quando nos conhecemos. Ele estava enterrado ali, tive certeza nesse instante, Hershel disse que ele foi o primeiro a morrer.

O garoto, que eu ainda não sabia o nome, tinha agora uma expressão vazia . -Era meu amigo...- Ele murmurou, talvez mais para si mesmo do que para mim, quase como se as palavras estivessem saindo sem querer.

Houve algo na maneira como ele falou que me pegou de surpresa. Por um momento, a raiva de antes se dissipou, e em seu lugar apareceu um tipo de tristeza profunda que ninguém poderia esconder, nem que tentasse.

-Desculpa... Eu... Eu não sabia.

Ele não disse nada, apenas pegou no chão a cruz que provavelmente fez e foi em direção aos túmulos. A arrogância e a dureza do garoto pareciam ter desaparecido, deixando lugar para algo muito mais vulnerável e, de certo modo, triste.

Eu fiquei observando ele por um momento, percebendo que, talvez, fosse mais fácil ignorar alguém que estava se escondendo atrás de uma máscara de firmeza do que tentar entender o que realmente estava acontecendo por trás da fachada. Eu mesmo tinha feito isso muitas vezes.

Deixei a horta para trás, junto com o xerife mirim. Não precisei olhar para saber que ele ainda estava lá, fixo como uma estátua, encarando as cruzes improvisadas. Havia algo pesado no ar, algo que apertava o peito. Talvez fosse o silêncio dele, ou a maneira como parecia carregar o mundo nas costas. Preferi ir embora antes que esse peso todo acabasse grudando em mim.

A prisão parecia bem maior agora que eu podia andar por aí. Não que fosse um lugar acolhedor. As paredes de concreto, as grades, e até o ar abafado faziam questão de lembrar que aquilo já foi feito pra ser uma cela, não uma casa. Mas era estranho ver tudo funcionando. Gente cultivando comida, cercas bem cuidadas, armas estrategicamente posicionadas. Era quase um milagre num mundo onde o caos devorava tudo. Quase.

Passei pelo pátio e dei de cara com uma mulher alta, com dreads que balançavam levemente enquanto ela polia sua espada. Ela me notou antes de eu falar qualquer coisa. Virou-se devagar, avaliando-me com olhos cheios de experiência.

- E aí, garoto. Tá tudo bem? - Ela disse, num tom que parecia mais um teste do que uma pergunta.

- Vivo. - Respondi, cruzando os braços.

Ela arqueou a sobrancelha, me esperando dizer o que queria.

-Então... você é a mulher da espada, - comecei, tentando puxar conversa. - Coisa de filme samurai, né?

Ela olhou pra mim com aquele jeito calmo e impenetrável, mas com um traço de humor nos olhos. - Só uso quando preciso. Não é pra fazer cena. Meu nome é Michonne, não "mulher da espada."

- Claro, claro. - Balancei a cabeça, fingindo seriedade. - Mas, sério, nunca vi ninguém com uma dessas antes. Da onde você tirou?

- Encontrei pelo caminho - ela respondeu, simples, continuando a cuidar da lâmina.

- Hum. - Cruzei os braços, recostando-me na parede próxima. -E esse lugar? Como você acabou aqui? Parece... sei lá, bom demais pra ser verdade.

Ela parou por um instante, pensativa. - Rick me encontrou lá fora. Estava sozinha, e com uma cesta de fórmula de bebê. Depois de um tempo, confiaram em mim e me deixaram entrar.

-Rick é o cara da barba? Parece o chefão daqui.

-Ele já foi, não sei se ainda quer isso - ela disse, sem se aprofundar. - Ser chefe não me parece muito divertido.

Olhei ao redor, absorvendo os sons de conversas distantes e o cheiro da comida que vinha da cozinha improvisada alí perto. - E todo esse pessoal? Tanta gente junta no mesmo lugar... meio difícil de acreditar.

Michonne deu um pequeno sorriso, como se estivesse acostumada com aquele tipo de comentário. - A maioria chegou aos poucos. Alguns faziam parte do grupo original do Rick, outros se juntaram ao longo do caminho com a ajuda de Daryl. Cada um tem uma história, um motivo pra estar aqui.

Fiquei quieto por um momento, processando. Era estranho estar num lugar com tantas pessoas, depois de tanto tempo sozinho. - E aquele garoto? O chato do chapéu de xerife.

Ela olhou pra mim com um sorriso de canto, meio divertido. - Carl?

-Não sei o nome dele. Só sei que acha que manda em todo mundo e vive com essa cara de dor de barriga.

Michonne deu uma risadinha baixa. -Ele tem motivos. Perdeu muita coisa... e cresceu rápido demais.

-Hum.- Fiz uma careta, desconfortável. -Bom, isso não dá a ele o direito de ser um pé no saco.

-Talvez você devesse tentar conhecê-lo melhor - ela sugeriu, sem se abalar.

-Talvez ele devesse parar de ser infantil. Não dá pra ficar brigando por besteira hoje em dia, eu não sou inimigo de vocês - retruquei, mas Michonne apenas ergueu uma sobrancelha, como se dissesse que a conversa não iria a lugar algum desse jeito.

- Daryl disse que você é um moleque perdido, que precisa de uma chance - Ela sorriu de leve, inclinando a cabeça. - Tenho que concordar com ele... Mas pra isso vai ter de dar uma chance a nós também.

Eu ergui uma sobrancelha, ofendido e intrigado ao mesmo tempo. - Que legal. É assim que vocês chamam alguém que ajuda a salvar crianças de zumbis? "Moleque perdido"?

Ela soltou uma risada baixa, mas verdadeira, que não combinava com o mundo em que vivíamos. - Relaxa, garoto. Não é um insulto. Todo mundo aqui é meio perdido de alguma forma.

Não soube o que responder. Fiquei parado, encarando enquanto ela voltava a cuidar da katana como se eu nem estivesse ali. Era desconcertante, mas de alguma forma... menos ruim do que as desconfianças que eu vinha recebendo.

Ainda assim, continuei perguntando depois, mais por curiosidade do que por qualquer outra coisa. Michonne, paciente como parecia ser, foi me contando os nomes de algumas pessoas na prisão. Rick, o líder com cara de cansado; Daryl, o cara da besta que parecia saído de um filme de caipiras emos; Carol, que cozinhava bem mas tinha olhos que observavam tudo; e até Beth, a loira quieta que parecia estar sempre no próprio mundo. Beth era a namorada de Zack pelo que entendi, e alguém com quem eu precisava falar, talvez pedir desculpas... Não sei, sentia que era o mínimo a fazer.

Aos poucos, o quebra-cabeça daquele lugar ia se formando na minha cabeça. Michonne respondeu minhas perguntas sem pressa, como se tivesse todo o tempo do mundo, até que alguém a chamou da cozinha.

-Preciso ajudar, - ela disse, levantando-se com a espada em mãos. - Se precisar de algo, é só perguntar.

-Claro, mulher da espada. Vou me virar - respondi com um aceno casual.

Continuei andando até cruzar com Carol, uma mulher que parecia ser toda trabalho e nenhuma conversa fiada. Ela estava ocupada cortando legumes, mas me notou chegando.

- Chrystian, certo? - perguntou, sem nem levantar a cabeça.

- Certo. Sei que seu nome é Carol. - Disse, forçando um tom casual enquanto olhava em volta, desconfortável com o silêncio dela.

Ela finalmente ergueu os olhos para mim, e o sorriso que me deu parecia ensaiado, educado, mas longe de ser caloroso. - Obrigada por ajudar ontem. Nem todo mundo faria isso.

- Nem todo mundo teria escolha no meio daquela bagunça. - Respondi, dando de ombros.

Ela apenas assentiu, voltando à sua tarefa sem prolongar a conversa. Era difícil dizer o que ela realmente pensava de mim, mas fiquei com a impressão de que ainda não estava convencida de que eu era alguém digno de confiança. Eu era como um gato de rua, que ela estava pensando se valia a pena alimentar ou não.

Mais à frente, encontrei Rick, que tinha aquele jeito de policial. Michonne disse que ele é pai do idiota de chapéu, já foi xerife, fazia bastante sentido. Ele me encarou por um instante antes de falar, e o que saiu da boca dele foi direto, sem rodeios:

- Obrigado pelo que fez no bloco de celas.

- Não fiz por vocês. Só fiz porque tava lá e não queria virar comida de zumbi. - Respondi no mesmo tom, cruzando os braços.

Ele continuou me olhando por um momento, mas não pareceu ofendido. Apenas assentiu, como se aquilo fosse o suficiente e saiu andando na direção da horta.

Depois de mais algumas voltas, cheguei à enfermaria e topei com Beth. Loira, com olhos claros e um rosto que deveria ser bonito, mas parecia... vazio. Ela me encarou com uma calma tão grande que me deixou desconfortável.

- Você é a namorada do Zack? - perguntei, direto.

Ela piscou, sem emoção aparente. - Era.

O peso da palavra ficou no ar, e eu cocei a nuca, tentando achar as palavras certas. - Foi mal... por, sei lá, ter causado problema no supermercado. Não foi minha intenção...

Ela me deu um sorriso pequeno, quase gentil, mas totalmente desprovido de tristeza. - Essas coisas acontecem. Não é culpa sua.

- Não? - perguntei, sem saber o que mais dizer.

Beth apenas deu de ombros, como se não fizesse diferença. - Zack sabia os riscos. Todos nós sabemos.

A frieza dela me incomodou, mas não disse nada. De alguma forma, ela era a única pessoa ali com quem eu conseguia ser educado. Talvez porque, por mais esquisito que fosse, Beth parecia não me julgar.

Mas mesmo com a calmaria dela, a sensação de que tudo ali era um sonho prestes a acabar continuava me perseguindo.

O interior da prisão não era exatamente aconchegante, mas tinha algo estranhamente humano em suas paredes cinzas e frias. O movimento constante das pessoas, as vozes escapando pelas grades, e o cheiro de comida vindo de algum lugar davam a impressão de que aquele lugar era realmente um lar.

Andava sem rumo, apenas absorvendo o ambiente, quando notei um grupo de adolescentes em uma das celas. Três garotas, mais ou menos da minha idade, conversavam e olhavam na minha direção, sussurrando e soltando risadinhas.

Eu arqueei uma sobrancelha, descrente. Sério isso? Um apocalipse zumbi lá fora, e elas achavam tempo pra flertar? Não era todo dia que você via algo tão ridículo e, ao mesmo tempo, tão... normal.

Dei um meio sorriso e balancei a cabeça, seguindo meu caminho. Claro, não vou mentir, era bom perceber que ainda dava pra ser notado, mesmo parecendo um cachorro molhado perdido em um lugar que nem meu era.

Mais tarde, voltei à área comum no pátio onde todos estavam almoçando. A comida estava surpreendentemente boa, o que descobri ser mérito de Carol. Ela era uma daquelas pessoas que sabia transformar qualquer coisa simples em algo especial. Eu não disse isso, claro. Apenas comi em silêncio, observando os outros.

Depois do almoço, continuei perambulando pela prisão. Era difícil não tentar entender como tudo funcionava ali. Tantas pessoas, tantas partes móveis para manter o lugar em ordem. Cada canto parecia ter uma história própria.

Foi numa dessas andanças que me deparei com uma cela onde havia um quarto improvisado diferente dos outros. Lá dentro, no chão, sobre um colchão macio, estava um bebê. Parecia ser uma menina, loirinha e com roupinhas delicadas. Ela parecia estar no mundo dela, brincando com uma chupeta como se fosse o único brinquedo do universo.

Parecia errado vê-la ali. Não porque o lugar não fosse seguro, mas porque era tão... vulnerável. Me aproximei devagar, sentindo um aperto no peito. Ela tinha uns olhos grandes e curiosos, e assim que me abaixei ao lado do colchão, soltou uma risadinha.

- E aí, baixinha? - murmurei, tentando um sorriso.

Ela gargalhou, balançando a chupeta como se aquilo fosse a melhor coisa do mundo. Meu coração apertou. Por um instante, não estava mais ali. Voltei para quando minha irmã mais nova tinha cinco anos, um dia antes do mundo acabar, ela estava correndo pela sala com um sorriso inocente enquanto eu fingia não me importar. Foi devorada junto com a mamãe dois dias depois... e a culpa é minha.

- Você me lembra alguém, sabia? - sussurrei, estendendo um dedo para ela segurar. Seus dedinhos agarraram meu dedo com força surpreendente, e eu ri, embora um nó já estivesse se formando na minha garganta.

Fiquei ali, brincando com ela por um tempo, tentando ignorar o quanto aquilo estava mexendo comigo. Não esperava que o momento fosse interrompido pelo som de passos apressados.

- O que você pensa que tá fazendo?! - Uma voz dura e familiar cortou o ar.

Olhei para trás e vi Carl parado na porta, segurando uma mamadeira. Seu olhar era puro veneno, e a maneira como segurava a garrafa de leite fazia parecer que estava prestes a jogá-la na minha cabeça.

- Só estava brincando com ela, xerife. Relaxa. - Levantei as mãos em um gesto de rendição, tentando desarmar a situação.

- Fica longe dela! - Ele deu um passo à frente, e a raiva nos olhos dele era quase palpável. - Não confio em você, e a última coisa que eu quero é você perto da minha irmãzinha!

- Tá falando sério? - Perguntei, incrédulo. - Ela nem sabe o que é perigo. Só tá aqui, sendo... um bebê. E mesmo assim eu não fiz nada de mal!

- Eu não tô nem aí, não vou arriscar. Se te encontrar aqui de novo eu vou te dar um tiro!

Por um momento, quis responder à altura, mas a presença da bebê, rindo inocentemente entre nós, me fez recuar. Dei um passo para trás e ergui as mãos novamente.

- Tá bom, xerife. Você venceu. Vou embora.

Carl ficou parado lá, me encarando com a mesma intensidade, até que me afastei completamente da cela. Quando olhei para trás, ele já estava ajoelhado ao lado da irmã, falando com ela com uma suavidade que eu não achava que ele tinha.

Suspirei fundo, passando a mão no cabelo enquanto caminhava pelo corredor. Aquela prisão era cheia de surpresas, e Carl, com seu jeito de cão bravo, era a maior delas até agora. Mas, no fundo, eu dava razão a ele por

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