
052
Os erros ortográficos serão corrigidos assim que percebidos
_______
Nos meus sonhos ele sempre sorria. Embora no princípio, quando nos conhecemos pela primeira vez fosse difícil vê-lo sorrir, Wayne estava feliz. Em e era bom lembrar aquela felicidade juvenil.
Na vida, fui obrigada a amadurecer por conta própria e avançada. Agora, grávida, mais do que nunca, esse objetivo tinha que ser maior.
— Olá.
A delicada voz masculina me despertou com um sorriso envergonhado. Ele estava bem ao meu lado, e mesmo de olhos ainda fechados, pude sentir.
— Oi — respondi abrindo finalmente a vista.
—Não queria te acordar, mas estou muito curioso.
— Sobre o que?
— Muitas coisas... Porém, quero começar perguntando sobre o nosso bebê. A médica disse quantas semanas você está?
Aquela pergunta definitivamente me fez dar uma risada. A expressão ansiosa dele era perfeita.
— 18 semanas.
Christopher parecia feliz com o resultado. Nosso filho ainda era muito pequeno e com tantas coisas acontecendo, ambos tivemos medo de dar errado. Eu era a mais medrosa, e agora, conseguia seguir com segurança.
— Você disse que ainda tinha mais perguntas.
— Ah sim, tenho muitas.
Ele sentou na cama recostando-se na cabeceira para encarar a sua frente. Imitei o ato e retirei o excesso de cobertas sobre o meu corpo.
— Ainda não conversamos sobre a sua recuperação de memória — continuou.
— O que quer saber?
— Do que exatamente se lembra?
— De tudo.
— Tudo? — ele quase engoliu em seco.
— Christopher, porque está tão inquieto? Não era isso que você queria?
— Não é isso. Eu queria e estou feliz, mas não me orgulho dos nossos primeiros encontros. Confesso que preferia que não se lembrasse dessa parte da história.
— Não vim com filtros — rebati com ironia — Isso tudo faz parte de como convivemos e de como tudo é diferente agora. Não devia se envergonhar, porque lembrar cada detalhe me fez perceber como se sacrificou para mudar ou para ser você mesmo, e tirar uma capa desnecessária.
— Ser fraco?! — contribuiu amargo — é o que me parece.
— Não te acho nada fraco Wayne, e você sabe bem que não é.
— Estou surpreso em como parece lucida e a cada dia mais segura de si. Antes parecia tão indefesa.
— Quando entrei pela porta desta casa, eu estava carente, com muito medo e solitária. De uma forma ou de outra você estava lá. Sempre. Nem que com suas ironias e arrogâncias, de alguma forma sempre me protegeu, cuidou de mim.
— Então eu quero te fazer um pedido.
Acenei positiva e ele disse:
— Vá com Alfredo até um lugar, e quando voltar quero te fazer uma surpresa.
— Agora?
— Ele está lá fora esperando por você.
— Vou confiar...
— Confie.
Com este último veredito eu me levantei da cama e fui ao banheiro tomar banho para me vestir. Seja lá onde fosse o tal lugar, Alfredo era impecavelmente pontual.
Christopher me deixou na saída da casa antes que eu entrasse no carro e fosse levada. Pela janela com uma película levemente escura, nos olhamos com saudade e um aceno desajeitado. Era engraçado a nossa forma de agir quando juntos. Talvez todos os apaixonados sejam um pouco sem graça .
O mordomo dirigiu pela avenida principal até o centro da cidade, entrando em uma das ruas mais elegantes e apreciadas de São Francisco. Naquele espaço havia muitas boutiques de grife, e não eram nada desconhecidas pra mim. Já estive no mesmo lugar com Samantha em algum momento, usando os créditos dela na tentativa de me tornar mais atraente. Eu era como um projeto em suas mãos.
Lembrar do olhar fascinado de Wayne ao mesmo tempo desconfortável quando me viu vestida de "mulher" pela primeira vez, me arrancou uma demonstração de alegria.
Eu devia mesmo ser uma tentação infame para ele.
Adorei ter minhas memórias de volta...
— Senhorita, chegamos.
Acordando da ilusão, percebi que já estávamos estacionados e a minha porta já estava aberta esperando a saída. Alfredo esperou estático, treinado como sempre a ser hábil.
Saí de dentro do automóvel com a sua ajuda, admirando a bela vista da vitrine de vidro, cintilante, bem à frente. Na sua descrição estava escrito algo em francês que não me dei ao trabalho de compreender.
— Porque paramos aqui?
— Ele me mandou trazê-la. Espero que entre e descubra o motivo da escolha do lugar.
Sem muitas perguntas eu entrei.
Bem na entrada, não tive o trabalho de abrir a porta decorada e exuberante, já que alguns funcionários pareciam mesmo me esperar. Uma mulher de cabelos ondulados e castanhos sorriu com um gesto convidativo. Retribui à gentileza adentrando a loja ainda confusa.
— Seja bem vinda — surpreendeu outra mulher, mas esta era bem mais alta e bem mais magra — Já temos algumas coisas escolhidas aqui.
— Desculpe, mas não entendo porque ele quer que eu compre mais roupas. Já tenho o suficiente.
— Bem, o senhor Christopher nos pediu para separar algumas coisas que não tem. São roupas de frio.
— Frio?
— Sim, e aqui estão alguns casacos, cachecóis, luvas e gorros, sinta-se a vontade para escolher.
Não entendi a necessidade daquelas peças, mas não tive tempo de pensar demais. As mulheres que estavam ao meu redor já haviam separado tudo para experimentar e levar. E foi bem rápido. Todas as peças serviram como luva. Com certeza minhas medidas já tinham sido reveladas por ele. Wayne é sempre muito adiantado e detalhista. Às vezes isso incomodava.
Não passei mais de 20 minutos até sair cheia de sacolas volumosas e chamativas.
Alfredo pegou algumas nas mãos, enquanto meus olhos eram captados por uma fonte simples e bela localizada no centro do lugar. Alguns casais comiam sorvete, outros apenas passeavam de mãos dadas em volta dela, e eu, instintivamente segui adiante.
— Aonde vai?
— Vou caminhar um pouco, me espere ai — respondi já de costas a passos tranquilos.
Era uma vista linda, porem simples, de uma manhã ensolarada e fresca. Sentir a brisa me acalmou. Perto na fonte, cerrei os olhos e me concentrei no som da água cair sobre a cerâmica.
— Como isso é bom...
— Dulce? — ser chamada de repente me assustou. Abri os olhos com agilidade buscando o responsável.
— Theo?!
O homem parecia feliz em me ver. Os seus olhos brilhavam e uma luz ao seu redor acendeu. Foi engraçado, mas real. Era um veículo logo atrás, mas parecia uma coincidência da vida para tornar o surgimento dele em algo bonito.
— Como você esta? Parece bem! Tem se alimentado, exercitado... E a gravidez?
— Sim. Bem.
— Bem objetiva — caçoou.
— Não sei como responder. Foram muitas perguntas.
— Me desculpe... — ele tinha uma sacola branca nas mãos e quase a derrubou quando tentou se aproximar intimidado — É que faz um tempo.
— Eu recuperei a memória — Expulsei aquela afirmação pensando que seria o certo a fazer.
— Nossa — foi uma reação abatida — Bom saber que agora se lembra da sua vida.
— Obrigada por ter sido um bom professor, Theo, e me perdoe se eu baguncei as coisas para você.
— Não diga bobagens, A culpa foi minha. Você o ama e esta gravida. É mais do que uma prova disso.
— Mas eu sinto falta de estar com você também.
— Fico feliz em ouvir isso — rebateu conformado.
— Samantha, está bem?
— Sério? Estamos tão ruins de assunto assim?
— Desculpe — falei pondo uma das mãos sobre o rosto — Eu só não sabia o que dizer.
Ele riu de mim e estendeu a mão direta. Theo a pousou sobre o meu ombro diminuindo a distância.
— Quero que se lembre de mim como seu amigo, como aquele mesmo professor desengonçado, e verdadeiramente preciso que me perdoe. Respeito você, Dulce.
— Theo, eu...
— Não, não me diga nada. Saber que está bem e que se lembra de tudo me deixa em paz. Quero que, por favor, seja muito feliz.
Com um olhar cabisbaixo e um leve beijo na testa, ele se despediu e deu as costas.
Mas antes que sumisse no meio da multidão... Eu fiquei na ponta do pés e gritei por seu nome. O homem me olhou rápido e contando com isso aproveitei a resposta:
— Ei! Pelo menos me diga por que nos encontramos aqui?
— Olhe bem na frente, Dulce. Era um bom lugar!
Com um riso incompleto na boca, ele enfim sumiu.
Realmente olhei por alguns lados até ver um pet shop, um que me pareceu familiar, e automaticamente à imagem começou a se formar na minha cabeça...
****
— Veja este Dulce, ele está olhando para você!
— É verdade! Ele é tão fofo, Theo... — Murmurei, maravilhada com a pureza daquele bichinho — Preciso leva-lo para casa!
— Sua maluca, como vai cuidar dele?
— Ora, não deve ser tão difícil assim.
— Deve pedir para o Wayne antes.
— Argh! Que irritante! Porque está pondo tanta dificuldade?
— Dulce, não é dificuldade, você apenas não pode levar um animal para a casa dele sem avisa-lo com antecedência.
— E se ele não estiver aqui quando eu voltar?
— Seria muito bom se houvessem tantas pessoas dispostas a adotar animais - explicou um pouco decepcionado — Acho que ele vai estar sim.
— Vou confiar em você professorzinho.
****
Mas eu nunca mais voltei lá, muito menos adotei aquele animal. Pensar em como éramos amigos e em como eu me sentia bem ao lado do Professorzinho, me deixou sem ânimo. As pessoas não deviam mudar ou sair da nossa vida tão fácil. Tinha que ter um aviso pelo menos, nem que fosse para nos poupar do adeus.
— Olá, posso ajuda-la?
Eu já estava parada na frente da lojinha com os olhos mareados. Aquele discreto senhor de idade me observava confuso quando limpei os olhos para disfarçar a angústia.
— Me diga, senhor, os animais que ficam aqui nesta vitrine são sempre adotados? Encontram mesmo um lar?
— Oh! Claro que sim! Eu escolhi não vender nunca os animais daqui. Acho que doar e receber é mais prazeroso. Porque a pergunta? Tinha algum que você queria?
— Sim... há algum tempo tinha um sim — repliquei ainda chorosa.
— Não fique triste moça, com certeza ele deve estar em um bom lar agora.
— Tenho certeza que está. Obrigada.
Despedindo-me, caminhei de volta para o carro, e como já sabia; Alfredo não me perguntou absolutamente nada. Ele tinha vista todo o encontro, mas não era capaz de interferir.
Chorei por todo o trajeto. Não um choro desesperado, mas sim um de despedida.
Wayne me recepcionou com uma feição vibrante, sem notar os olhos sofridos de alguém triste. Eu tinha retocado a maquiagem um pouco antes de chegar na mansão.
— Não precisava entrar. Meu carro já esta esperando por nós.
— Seu carro?
— Não vou admitir perguntas Escobar, apenas me siga.
Ele segurou a minha mão, e como um medicamento, já me senti bem melhor. Fui arrastada para o veículo charmoso, sem explicações. Nossa ultima parada foi em um aeroporto particular, especializado em voos particulares. E claro, ele tinha um jato particular.
Aquele homem precisava mesmo ser tão rico?
Entramos na aeronave, e como prometido, me mantive silenciosa, sem fazer perguntas. Nós dois apenas nos olhávamos dando um sorriso vez ou outra. Adormeci sem perceber, e quando acordei ainda estávamos no ar. Christopher lia um livro de capa escura sentado na poltrona bem a minha frente. Fiquei quieta por um tempo apenas admirando sua capacidade de ser atraente mesmo quando realizava coisas triviais. O óculos de armação preta e fundo transparente lhe dava um ar misterioso, intelectual. Fascinantes.
— É bom? — disse sem muita certeza.
— O que?
— O livro.
— Sim, é uma bela obra.
Desta vez olhei atenta para a capa memorizando o titulo.
— Anjos e Demônios... É um titulo bem forte.
— É uma característica do autor. Ele sempre usa nomes que tem o significado direto da história.
— Então é sobre alguma coisa demoníaca?
Christopher riu descaradamente de mim.
— Não. Não estou lendo nada demoníaco. Pelo menos até o atual capitulo, não... Digamos que é um bom escritor.
— Vou anotar a sugestão. Pode voltar a sua leitura, eu vou ao banheiro.
Eu acenei e ele retomou sua atividade. Dentro do apertadinho, puxei meu relógio de pulso, indignada com o tempo em que ainda estávamos sobrevoando. Para onde estávamos indo? Com certeza era bem longe.
Depois de mais algumas horas, o piloto nos anunciou o pouso, e quando ele começou a falar, descobri o nosso destino.
— Chiang Mai ... — mal conseguir reproduzir o nome.
— Tailândia.
— Como assim, Wayne?
— Sem perguntas, lembra?
Eu fiquei abismada, mas muito empolgada com a notícia. Era um lugar longe e eu nunca tinha visitado. De certa forma conhecer novas culturas era sempre fascinante. Depois de aterrissar fomos para um hotel e quase não tivemos muito tempo, era de tarde lá. E ate onde me lembrava, era quase o mesmo horário que havíamos saído da nossa cidade.
— Tente lidar com o fuso horário baby, porque preciso da sua vitalidade.
— E como você consegue?
— Já fiz viagens piores.
Claro que sim
Foi um banho e troca rápida de roupa, comemos algumas coisas pelo mercado enquanto Wayne escolhia alguns objetos que me impediu de descobrir o que eram. Tudo ali era voltado na surpresa que ele pretendia me fazer. Por este motivo, entrei no clima misterioso.
Não demorou muito para o sol se pôr, e dar espaço a lua. Era uma noite bonita e a cidade parecia muito movimentada. Restaurantes, esquinas, e turistas de todos os lugares carregavam a mesma sacola de Christopher. Os moradores decoravam suas casas, jardins e templos com velas, flores. Era algum evento importante, pensei. Ao mesmo tempo em que senti todo o enigma se formar, me encantei por cada canto daquela cidade. Era bela, e muito semelhante às imagens da cultura budista que tanto estudei nos livros. Depois de um tempo dentro de um carro, cheguei a um dos locais mais concentrados e só ali eu entendi a magnitude de tudo.
Ambos paramos no meio de todas aquelas pessoas sorridentes, vestidas de branco, igual a nós. Eram lâmpadas, parecidas com aqueles balões gigantes, mas bem mais bonitos.
— bom, está na hora de explicar algumas coisas.
— Enfim! — gritei sorridente e ele também sorriu.
— Hoje se comemora um dos festivais mais visitados do mundo. Aqui, se celebra uma cultura budista local e que crê que estes objetos que trago comigo conseguem trazer sorte, amor, conceber desejos... São oferendas.
O céu estava iluminado de uma maneira inexplicável. Aquele lugar era mágico.
Eu desejei congelar cada segundo para nunca mais voltar à realidade...
— Christopher, isso é... isso é...
— Nada menos do que você merece.
— Como vou poder te retribuir?
Ele deu um curto sorriso, e de olhos brilhantes pegou minhas mãos acariciando-as com o polegar.
— Apenas mantenha sua promessa de, para todo o sempre.
— Não precisa pedir. É a única coisa que tenho mais certeza.
— Bem aqui Dulce, eu quero reafirmar meu pedido de casamento e te dizer que cada dia vou tentar ser melhor, ser presente, te amar e te respeitar... — Christopher fazia os seus juramentos acendendo a vela fixa em uma flor de lótus — criar nosso filhos com amor e dignidade.
O imitando, eu fiz o mesmo. Peguei a minha lanterna de papel e comece a acender, não foi tão simples, mas ele me ajudou.
— Também quero ser tudo de bom na sua vida, e espero que possa te fazer feliz, te dar uma boa família, ser uma companheira, mesmo sendo tão imatura e tendo tantas coisas para aprender. Quero aprender com você e do seu lado... Para sempre.
Junto do fim da contagem regressiva que ecoava no lugar, eu e ele soltamos nossas lanternas, e elas se misturaram com as demais no céu que parecia nem caber tanta beleza.
Nossos olhares se cruzaram no final, com um beijo leve.
Foi lindo, mágico e único.
______________________
Obs: A recordação da protagonista estão presentes no capitulo 026-I.
Bom feriadooooo! Amo vcs <3
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro