
040
Theo
Dulce estava deitada, repousando como uma menina indefesa sobre o leito daquele hospital, inconsciente de tudo o que acontecia.
Do lado de fora, os seguranças que sempre nos perseguiam telefonavam em silêncio, me impossibilitando de ouvi-los, mas se fosse algo a se pensar, não precisariam me dizer muito. Eu sabia com quem eles falavam. Só podia ser Wayne. Só de pensar naquele nome minhas mãos se fecharam de rancor.
Sentado em uma das cadeiras a espera de notícias, vi uma enfermeira se aproximar e me convidar para segui-la. Olhei para um dos seguranças, e percebi que todos eles estavam distraídos cochichando entre si.
Fiz o que ela pediu, sem avisar nem um.
Quando entramos na sala, o médico coreano que nos recebeu assim que chegamos e fez os primeiros cuidados em Dulce levantou a vista e me olhou nos olhos.
— Olá. Você é o guardião da Srta. Escobar?
— Digamos que sim.
— Oh, acho que entendi — falou ele, com certo sarcasmo na face.
— O que ela tem? Estou preocupado. É anemia?
Deduzi aquele diagnóstico de tanto ouvir minha mãe falar "coma! Ou vai desmaiar de anemia" Dulce desmaiou, e na mesma hora associei ao conselho materno. Parecia bobagem, mas virou tradição.
— Sim, é anemia. Mas é porque ela está grávida. Parabéns! Acho que você deve ser o pai da criança, certo?
Sem muito o que dizer, tentei digerir aquela informação, mas minha garganta estava fechada. O gosto amargo do ódio deslizava por ela e me deixava ainda mais contrariado com tudo o que aconteceu em menos de uma hora.
Maldição! Fiz meu cérebro berrar.
E mais uma vez, sem que notasse, fechei as mãos em punho e amassei a ponta da minha camisa, amarrotando-a.
Dulce
Quando reabri os olhos Theo estava sentado do meu lado, vivendo a própria angústia, sem perceber meu despertar, até que chamei por seu nome e ele me encarou aliviado.
— Dulce... Consegue me ver?
— Claro que sim. Só desmaiei, não fiquei cega, professor.
Ele sorriu, mas eu fiquei um pouco desconfortável por ter sido grosseira na brincadeira. Talvez não fosse uma boa hora para brincar.
— Você recuperou a memória? Porque parece a mesma briguenta de antes.
— Por enquanto só os sentidos. Ainda estou na mesma — Confirmei —Agora me diga como vim parar em um hospital?
— Depois que desmaiou nos meus braços tentei acordá-la, mas você não retornou, então viemos aqui buscar ajuda.
— O que fez isso? Foi meu estrago na cabeça?
— Também, mas você está anêmica e fraca demais. Isso ocasionou tudo.
— Ah, então vou ter que me alimentar melhor.
— É, vai.
— Que bom que não foi nada grave.
— Quer comer ou beber alguma coisa?
— Pode ser uma água de coco.
— Vou pegar bem rapidinho, me espere.
— Prometo que não vou sair daqui.
Ele sorriu mais uma vez, só que mesmo que sua boca mostrasse uma expressão calma seus olhos pareciam longe, distraídos.
Ignorei aquilo já que teria sentido depois da declaração... — Eu acho que te amo.
Argh! Que droga de sorte a minha! Eu gostava dele, e também podia admitir que Theo era encantador, mas sempre que pensamentos devassos invadiam meus pensamentos Christopher pegava esses possíveis desejos pelo professor e os substituía com as lembranças dos nossos embates naquele curto tempo em que passei na mansão.
Porque era tão difícil esquecer aquele homem e procurar algo melhor? E o pior era que eu não sabia se Theo era correto, já que tinha um relacionamento e não seria nada certo me envolver entre os dois sem que ambos resolvessem os próprios problemas.
A porta abriu e eu virei esperando ser ele.
— Você foi rápid... Olá. — Falei assim que a mulher vestida de branco entrou e tirou minhas expectativas de ser Theo.
Ela era velha e não parecia com uma enfermeira, mesmo vestida de branco e a caráter.
— Vejam só. Como o mundo é pequeno, não acha?
— Desculpe, eu a conheço?
— Hahaha — A risada foi um pouco peculiar, até assombrosa — Então você está mesmo sem memória, que coisa incrível. Agora sim eu acredito na teoria de que as coisas que são suas sempre tornam para você.
— Ainda não compreendo. Quem é você?
— Não precisa compreender nada querida, apenas é hora de voltar para o seu lugar.
Depois de dizer isso a mulher se aproximou e enterrou alguma coisa na minha face, tão rápido, que foi inútil meus esforços de remediar. Aos poucos fui enfraquecendo sob a cama sem muita capacidade de reagir ao ataque inesperado.
Senti meu corpo ser arrastado por ela e outros homens que entraram logo em seguida. Quando cogitei a ideia de gritar por ajuda, um pano negro foi enfiado na minha boca e outro vendou meus olhos. Sem enxergar nada dessa vez, continuei seguindo com eles durante um tempo, parando apenas ao som de um carro me acelerar. Arremessada no que seria um porta malas, chorei receando o desconhecido.
Theo
A recepcionista da lanchonete demorou mais do que imaginei para separar a água de coco dentro de um recipiente apropriado e exclusivo dos pacientes. Enquanto ela se ocupava, eu rondeei algumas vezes, pensando ainda no que fazer. Não queria dar a notícia da gravidez, mas era evidente que aquele segredo não ia durar por muito tempo, logo Dulce perceberia os sinais e me detestaria por esconder isso dela.
Wayne era mesmo um pervertido.
Mesmo com tantos métodos possíveis ele escolheu engravida-la como uma forma de obriga-la a ficar com ele. Não existia outra justificativa para tal ato.
Repulsivo, só tornei da distração quando o alvoroço nos corredores chamou a atenção de todos. Mulheres gritavam, homens corriam, seguranças do hospital andavam em direção ao elevador, com pressa, quando outros se ariscavam pelas escadarias. Andei em direção a eles tentando assimilar o que estava acontecendo, deixando de lado o falatório da mulher por trás de mim exigindo que eu pagasse a conta antes de desaparecer na aglomeração de pessoas.
Tropecei em algumas delas, me debati em outras. Sirenes, alertas de seguranças, alto falantes pedindo que todos mantivessem a calma. Um verdadeiro caos. Então, de modo repentino, um dos seguranças marchou ao meu lado e seu walkie talkie soou em voz alta ordens para que ele se dirigisse ao quarto andar...
Na última fala, meu coração acelerou e o desespero tomou de conta. Segurei no braço dele contendo seus passos e o homem me encarou bravo.
— O que está acontecendo?
— Senhor, me solte, preciso ir.
— Eu tenho um paciente nesse andar! Me diga o que aconteceu? — Quando dei meus motivos ele amenizou o semblante e puxou o braço de volta.
— Não posso dar informações.
Se recluindo, ele voltou a correr e me deixou para trás. Mesmo assim resolvi segui-lo. Assim que cheguei no quarto andar, as coisas estavam ainda mais piores do que no térreo. Dentro de um cômodo privativo do pessoal da limpeza haviam corpos, sangue, e ao me aproximar mais notei que se tratava dos leões particulares de Wayne.
De olhos mareados e atônitos, caminhei pausadamente até o quarto que começava a ser vedado pela fita amarela da polícia criminal, acreditando que veria uma cena pior. Mas simplesmente não havia nada. Ninguém dava notícias, ou sinal do que havia ocorrido, até que um dos curiosos percebendo minha insistência em perguntar disse com pesar:
— Uma jovem paciente desapareceu.
— Desapareceu? — Repeti em choque.
— A polícia está procurando o corpo dela.
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