
037
Christopher Wayne
Quando ouvi o som das vozes abaixo das escadas, a primeira coisa que me veio em mente foi a partida dela. Dulce sempre foi um poço de mistério para mim, mesmo quando eu achava que a tinha em minhas mãos, algo sempre nos afastava. Era como uma lei da física, onde o retorno é certo e intangível.
Pus uma blusa bem rápido deixando para terminar de abotoá-la no meio do corredor. Eu não queria correr e parecer desesperado, mas já estava fazendo isso involuntariamente. Assim que me contive na beira dos degraus eu a vi de longe, próxima da porta, arrastando a última mala. Ela não conseguiu evitar de olhar para cima, exatamente na minha direção. Nossos olhares foram lentos, demorados, um pouco deprimidos. Quase desci para tentar impedi-la mais uma única vez. Tentar recuperar os seus sentimentos antes que fosse tarde, mas não, eu já tinha feito o bastante e atingido meu limite.
Então, em uma última despedida, Dulce me mostrou um sorriso cheio da sua fria gratidão, e baixou a cabeça andando para fora. Permaneci ali, parado, por mais alguns minutos, mesmo depois de saber que ela já teria atravessado os muros do terreno e que com certeza tinha pegado a rodovia.
Samantha entrou de repente, me encarando controlada. Por fim sai do transe e andei rumo ao meu escritório. Ela me seguiu, sendo ignorada e ignorando o fato do meu humor estar em um ápice desagradável. Entramos juntos na sala, mas foi ela quem se encarregou de fechar a porta assim que me sentei por trás da mesa sem sustentar um contato visual entre nós.
- Precisamos conversar, Wayne - disse convicta.
- Faça isso rápido, no momento não estou com muita disposição para conversas longas.
- Na verdade nem sei se vai ser uma conversa propriamente dita. Só preciso te comunicar de um fato, e não sei se a ninfeta já fez isso.
- Pare de chamá-la assim Samantha - Tentei repreendê-la.
- Se preocupe com o que tenho para falar.
- Então fale de uma vez.
- Ela entrou em contato com meu sobrinho ontem à noite, e logo em seguida ele fez as malas.
Samantha conseguiu minha atenção instantemente após dizer tudo aquilo. Me recostei na cadeira, controlei a respiração e enlacei as mãos, apoiando os cotovelos.
- Theo viajou?
- Não só viajou, como foi com Dulce para a Califórnia.
- O que quer dizer com isso? Seja bem objetiva comigo. Supõe alguma coisa?
Silenciosa, a morena puxou a cadeira a minha frente e sentou.
No fim das contas, a conversa se tornou longa.
Dulce
O caminho era mesmo muito longo até minha casa. Dentro do avião, eu me espreguicei na poltrona e olhei através da pequena janela oval admirando as nuvens que mais pareciam um monte de algodoes doces flutuantes - automaticamente projetei na mente a memória de um dia em que comi algodão doce e corri, aos dez anos, em um parque de diversões mesmo ao som das reclamações dos meus pais - Não me importaria mais de ouvi-los reclamar, na verdade eu daria tudo para escutar suas vozes nem que fosse por uma última vez.
O homem voltou do banheiro, e na mesma hora seu polegar limpou o meu rosto quando se sentou ao meu lado.
Theo tinha uma feição tão confortável que quanto mais ele se aproximava, mais o meu corpo se acomodava tranquilo.
- Obrigada por não perguntar o motivo dessa lágrima... - Ressaltei depois um longo silêncio.
- Você tem tantos motivos para chorar Dulce, que não faria sentido tentar acertar algum deles com perguntas.
- Você me disse que tem uma namorada. Acho que ela não vai gostar da sua viagem.
- Não se preocupe com isso, ela entendeu que você precisa de mim por alguns dias.
- Eu a conhecia?
- Não fisicamente - explicou - Tente dormir um pouco, vamos chegar em algumas horas.
Mexendo a cabeça, concordei com ele e fechei os olhos permitindo que o sono se instalasse.
Estava escuro. Christopher caminhava na minha direção, lentamente, descendo as escadas com sua expressão ríspida que na mesma hora me deixou estática. Com suas mãos fortes fui levantada e encaixada em sua cintura, dando meu pescoço como brinde pela abordagem. Ele sugou e mordeu minha pele exposta, jogando meu corpo contra a parede, e amassando meus seios com o seu peitoral. Soltando um gemido alto eu supliquei que ele me beijasse, e fui correspondida bem rapidamente.
Abri os olhos ofegante ao ouvir a voz da aeromoça nos dando as informações de pouso, notando que estava deitada no ombro de Theo. Ele também dormia e acordou ao mesmo tempo que eu.
Meu rosto queimava, rubro, como se todos ali soubessem com o que eu estava sonhando. Dei algumas batidinhas nas bochechas e soltei o ar na tentativa de me situar.
- Se sente bem, Dulce?
- Sim. É só o clima quente que me assustou.
- Verdade. Como é possível esse lugar não ser tão longe e mesmo assim o clima ser tão diferente.
Rimos e destravamos o cinto para descer.
Os olhares dos passageiros foi muito incomodo. Fiz uma cara de derrota e Theo me pegou pelos ombros, balançando meu corpo para ver se caia algum sorriso. Eu não queria sorrir. Queria mesmo era correr dos homens que me cercavam. Os seguranças pereciam aqueles funcionários da CIA, todo engravatados, com ternos pretos e óculos escuros.
Meus Deus, foi horrível.
Fui escoltada e assombrada até a saída. Theo não parecia incomodado, pelo contrário, ele só se ocupou em conhecer tudo ao nosso redor guardando as novas lembranças do lugar. Logo na saída do aeroporto, havia dois carros disponíveis para nos levar. Dois seguranças entraram comigo enquanto os outros nos seguiram logo atrás. Bem na parte lateral do veículo reparei que estava identificado com o símbolo "W" bem sugestivo do senhor Wayne.
Tentei mostrar e explicar para Theo cada praça, rua, lojinhas de beira de esquina, pontos turísticos, e para minha sorte, ele parecia mesmo estar empolgado. West-Coast era uma cidade pequena, mas era bem bonita, organizada e segura. Todos as características que encantaram meu pai e o fez nunca querer se mudar completamente de lá.
Na frente da minha casa, uma onda de recordações me arrebatou covarde, e por um momento pensei que não seria capaz de atravessar o jardim que dava acesso a varanda de fora. Mas fui pega pela mão e surpreendida.
- Posso fazer minha função agora?
Olhei para Theo e abri um sorriso tímido autorizando sua ação. Ele apertou ainda mais o toque e me guiou para dentro.
Cada estante, cada cor, cada quadro e cada móvel estava exatamente no mesmo lugar. O odor de mofo não me intimidou pois ainda era tudo muito bonito aos meus olhos. Passeie com a mão sobre as fotografias penduradas perto da lareira, tocando o rosto deles com secura e lamento. Chorei diversas vezes, mas foi bem pior quando entrei no quarto em que eles dormiam tentando procurar em meio aos muitos aromas envelhecidos o cheiro de algum perfume corporal. Nem mesmo os lençóis tinham fragrância alguma. Foi então que entrei em desespero.
Theo tentou me segurar antes que o golpe do meu corpo contra o chão fosse mais danoso.
- Me deixe morrer de uma vez! - Implorei para qualquer um que pudesse ouvir.
Ninguém ali se manifestou... todos ficaram calados apenas ouvindo o meu choro, lamentações e julgamentos. Desfaleci enfraquecida nos braços de Theo quando não foi mais possível segurar a fraqueza. "Posso fazer minha função" foi o que ele disse. Sim, aquele homem sabia o porquê de estar ali, e o motivo da minha ligação na madrugada. Ele era a única pessoa que desde que abri os olhos, perdida e desmemoriada, me passou uma segurança amiga. Algumas horas de conversa com o mordomo foi suficiente para comprovar isso.
Me encolhi ainda mais em seu abraço e segurei sua camisa amarrotando-a.
- Por favor, me tire daqui.
O pedido não parceria fazer sentido.
O que eu mais queria era entrar naquela casa, mas eu precisava respirar um pouco depois do primeiro impacto. Ele me satisfez e me levou, juntos dos seguranças.
- Procure alguma Boate no GPS - Exigiu ao motorista.
- Boate?
Repeti tentando deixar obvio que não era a melhor ideia.
- O que você prefere Dulce, um lugar triste e silencioso cheio de pessoas que vão te encarar e tentar entender o porquê dos seus olhos estarem inchados e vermelhos, ou um onde ninguém se importa com a sua vida ou estado emocional?
Ao que parece ele me convenceu, pelo menos até estarmos parados na entrada do lugar. Fomos resistentes quanto a adentrar, mas Theo nos arrastou dentro.
Cobri os olhos algumas vezes quando as mulheres rondavam de peças intimas entre nós.
- Esses lugares não deviam abrir somente a noite?
- Não pense nisso, e sim no fato dr que já pode usar sua identidade para fazer coisas erradas.
- Belo conselho de um professor nerd. Você não tem cara de quem vive perigosamente.
- E nem você tem cara de que frequenta boates de strip-tease.
- Mas foi você que me trouxe!
Ele gargalhou e bagunçou meu cabelo - Vamos logo nos sentar naquela mesa bem ali. Você precisa beber.
***
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