
032
— O que estava fazendo?
A indignação na voz de Wayne me acalmou ao mesmo tempo em que me deu medo. Eu imaginei que aquela abordagem fosse de qualquer um, menos dele.
— Eu a vi. Ela estava lá!
— Dulce do que está falando?
— Christopher... Anna, ela estava escondida, me chamando atrás daqueles arbustos. Precisa ir comigo até lá.
— Não. Nós vamos voltar, e sair daqui.
— Não podemos!
— Escobar, pare de dificultar as coisas. Vamos embora.
Ele me puxou pela cintura, mesmo contra a minha vontade, pressionando-a com força. Cochichou no ouvido de um dos seguranças, e o homem se encarregou de andar até o local que eu tanto apontava, determinada a ir junto.
Ignorando minhas suplicas, Wayne abriu a porta do carro e me jogou lá dentro, trancando e indo para o meu lado. Ele ligou a ignição e dirigiu arrancando com velocidade.
— Ela está com medo! — Gritei ainda esperançosa em fazê-lo mudar de ideia — Deve ter fugido e precisa de ajuda!
— Ou simplesmente foi usada como isca.
— Christopher, pode ser que não.
— Ingenuidade não é a sua cara Dulce — Contestou bravo — Como acredita que essa menina fugiu? E ainda por cima por coincidência ela achou você? Santa paciência Escobar, não existe acasos!
— Mesmo assim, poderíamos tê-la salvo!
— Já falei que não sou um santo protetor! — Gritou ainda mais forte, desviando dos carros na avenida como se fossem meros obstáculos.
O Mercedes era rápido, tinha um som invejável de motor, e ele sabia manobrar bem, mas por um segundo arrisquei o temor da sua imprudência ao volante. Christopher desviou demais quando devia apenas reduzir a aceleração e isso nos levou a ser jogados para frente quando um dos seus "obstáculos" não quis seguir o seu compasso. A freada fez meus pés tremerem, na mesma hora em que segurei no apoio do teto acima do vidro.
Sua respiração ficou inconstante, e por um segundo receei a morte.
— Está louco Wayne?!
Enfim o veículo foi guiado para o acostamento, porém, não houve nada de tranquilidade. Ele logo tornou a dirigir com insensatez novamente. Assim que voltei a contestar, o telefone celular dele tocou, conectado ao Bluetooth do painel do carro, ativando automaticamente o viva voz.
— Sr. Wayne? — O tom desesperado do mordomo gelou minhas entranhas — Siga adiante! Estaremos logo atrás.
— Que cor é? — Rebateu Christopher, parecendo compreender tudo.
— Preto, senhor.
— Óbvio... Sejam rápidos!
Me admirei com a facilidade dele em dirigir descontroladamente e responder as perguntas ao mesmo tempo. Alfredo foi claro no que disse, e de fundo eu também conseguia escutar as vozes alvoroçadas dos seguranças.
— O que está acontecendo?! — Instiguei sabendo que não gostaria do ia ser dito.
— Estamos sendo seguidos — respondeu olhando o retrovisor a cada dois segundos.
Imitando sua ação, eu fui mais objetiva. Virei-me completamente e vi através do vidro detrás o carro negro nos seguia tão veloz quanto o nosso próprio. Voltei a mirar Wayne, mas ele parecia nitidamente preocupado em ser mais ganhar aquela "corrida". Com as falas contidas na garganta, agarrei ainda mais o suporte, e fechei os olhos, rezando e clamando por uma chegada em paz até a mansão ou onde quer que ele pretendesse me levar.
Naqueles momentos de euforia e inquietação, nem uma lembrança foi mais clara que a da noite em que me tornei órfã. Tudo ao meu redor parecia estar prestes a se desfazer.
Mas não foi apenas uma sensação comum. Por mais que eu desejasse que aquilo fosse, não foi.
Era um pressagio.
Christopher me pediu para ser firme, e quando menos esperei, um dos nossos obstáculos nos atingiu. O carro girou mais vezes do que pude contar.
O choque dos segundos aterrorizantes foi tão incontável, que nem mesmo tive tempo de gritar ou me desesperar por ajuda. A imagem em câmera lenta dos nossos corpos serem bagunçados pela capotagem, me deixou embriagada. E enfim terminou.
A imagem final foi a do sangue escorrer pelas minhas mãos, e a inconsciência de Wayne ao meu lado, com o rosto caído sobre o airbag vazio. O meu também estava acionado.
Mesmo tonta e com a visão um pouco nebulosa, tentei me soltar do cinto de segurança e alcança-lo. Chamei por ele, mas em nem uma delas tive resposta. Meu corpo doía, minha cabeça se tornou mais pesada do que pude suportar. Olhei para a minha mão e só depois disso percebi que ela estava diferente. Mais uma vez chamei Wayne, e por sorte, escutei seu gemido. Ele abriu os olhos tão devagar quando abri os meus, me encarou, estirou um pouco a mão como se tentasse me tocar e voltou a fechar os olhos.
Naquele justo momento eu me senti mais sozinha do que nunca.
Vontades eram apenas vontades. E por mais que desejasse sair e tirá-lo de dentro daquela lataria amassada, esmagando os nossos pés, eu também fui impossibilitada. Em pouco tempo, participei da escuridão dele, e com muito pesar vi a noite se aproximando até me consumir.
•••
"Bisturi..."
Vociferou alguém.
"Assepsia com gazes, depois podem se retirar" Insistiu a voz masculina "Menina, você pode me ouvir?!"
Ele balançou meus ombros com força até meus olhos serem obrigados a lutarem para abrir.
"Ela acordou. Administrem a medicação para dor"
Quando tentei ver quem dava as ordens, meu cansaço consumiu o restante das energias e resolvi me ceder de vez a ele, descansando o que fosse preciso.
— Wayne! — Gritei, erguendo meu corpo, sobressaltada.
A dor no canto esquerdo da minha testa me deixou atordoada. Pus a mão sobre o ferimento, em um reflexo defensivo, e percebi que estava com alguns pontos. O fio me espetou.
Tudo isso foi depressa. Pelo menos até eu ser apanhada pelas mãos de Samantha. Ela parecia assustada, bem mais do que eu pudesse pensar ser possível.
Ela me olhou por alguns segundos, ainda tentando avaliar o meu estado. Também me olhei. Eu usava uma roupa branca, típica de hospitais. Cabelos presos e braços arranhados.
— Dulce, como se sente?
— Onde ele está? — Perguntei inconsciente.
Mesmo que toda aquela situação houvesse me deixado atordoada, eu estava com ele. Mas naquele exato momento, não.
— Christopher está...
Fomos interrompidas pela porta sendo destrancada.
Ambas a encaramos assim que ela se abriu completamente, e Christopher entrou. Ele estava de cabeça baixa, com uma tipoia no braço esquerdo. Parecia um pouco imerso, até ver que eu estava sentada na cama, desperta. Wayne apressou os passos e logo foi para o meu lado me pegando em um abraço acolhedor. Samantha, aos poucos, se retirou de lá, deixando-nos sozinhos.
Segurando meu rosto com a única mão que podia mover, ele me beijou e apertou os olhos, aflito. Eu me sentia tanto ou mais apreensiva.
Respirei aliviada por tê-lo ali.
— Você ainda vai acabar comigo — Disse em um tom deprimido.
— Os homens que nos seguiam, eles...
— Não pense nisso agora.
— Por favor — Pedi, e mesmo que estivesse determinado a encerrar o assunto, ele se deu por vencido.
— Por alguns segundos não fomos pegos.
— Porque diz isso?
— Eles estavam lá quando Alfredo chegou com os seguranças, mas foram mais rápidos e conseguiram escapar. E como o veículo deles tinha a placa adulterada, foi fácil.
— Ninguém vai fazer nada sobre isso?! — Repudiei, e minha testa latejou.
Cerrei os olhos pelos incomodo.
— Veja só! — Reclamou ele, certificando-se do meu estado — Pare de se preocupar com isso. Meu pessoal vai se encarregar de tudo.
— Queriam nos matar Christopher.
Todos aqueles acontecimentos me deixaram extremamente assustada. A única coisa que conseguia pensar era em alguém me levar de volta para o calabouço, e diretamente para as mãos da mulher que nunca esqueci o rosto. Algumas noites ela ainda me assombrava.
Madame Leonor.
— Eu não vou deixar ninguém machucar você de novo. Me perdoe, por ter sido descuidado ontem à noite Dulce. Jamais me perdoaria se algo de pior acontecesse.
De olhos mareados o agarrei aterrorizada, fungando em seu peito, contendo as minhas próprias reações. Christopher me abrigou, deixando seu cheiro enterrado sobre a parte descoberta da minha pele.
— Percebe agora porque sempre temi?
— Sim.
Respondi prontamente. Pela primeira vez, talvez, ciente do que verdadeiramente os seus cuidados obsessivos representavam. Ele tinha ciência do que acontecia ao nosso redor e da ameaça que havia fora da sua fortaleza planejada.
— Descanse agora. Logo vamos voltar para casa.
— Christopher... — Insisti, pedindo sua atenção assim que ele ousou se levantar da beira do meu leito — Se eu estiver dormindo quando chegar a hora de ir, me leve assim mesmo. Não me acorde.
Um pouco hesitante, soltou o ar e voltou a me encarar duvidoso.
— Tem medo de alguma coisa?
— Muitas coisas. Mas isso não tem nada a ver com alguma delas. Só quero que seja assim.
— Como quiser. Vou avisar aos médicos que levarei você em meus braços. — Ele disse aquilo com certa diversão.
Eu imaginei a cena, e acabei sorrindo um pouco, partilhando da sua ideia.
— Pode ficar, aqui, até o sono vir?
Seus lábios induziram um sorriso protetor, e aos poucos fui acomodada.
— Seria um prazer.
Satisfeita, deitei a cabeça do travesseiro e o fitei tranquila. Meu corpo esfriou e eriçou, rapidamente, reagindo a presença dele. Com a respiração um pouco pesada, deixei as palavras escorrerem.
— Eu amo você... muito.
Acabei dizendo aquilo sem muita noção do que fazia. Quando me dei conta de que tinha sido muito objetiva, foquei exclusivamente no aspecto sólido dele. Wayne estava de pé, a uns oitenta centímetros de mim, mudo e sem expressões tangíveis. Engoli em seco e voltei a baixar a vista. Porém, fui surpreendentemente correspondida.
Ele apoiou minha bochecha rubra na palma da sua mão, e olhou afundo, bem onde minha íris se escondia.
— É muito bom ouvir isso, baby.
Foram apenas essas as palavras que ele foi capaz de dizer. Mas claro, como qualquer garota em sã consciência, eu ambicionei escutar o mesmo. Escutar que ele me amava, e que era um sentimento recíproco. E sinceramente, mesmo que ele não tenha feito como eu sonhei, ou esperei, Christopher conseguiu passar esse efeito para mim. Eu compreendia os motivos acuados, seus receios.
O admirei andar em lentidão, sem temer nada, até uma poltrona branca e se sentar nela. Ele apoiou os braços no encosto e cruzou as pernas de forma masculina. Minha visão foi apenas dele nos últimos instantes em que a medicação fazia efeito. Christopher cumpriu sua promessa, ficando de olhos concentrados até onde eu não pudesse mais avaliar.
***
NOTAS
Olá amoras.
Gostaria de esclarecer que meu sumiço teve uma explicação, como sempre faço questão de fazer, mas muitos não viram. Quando se sentirem confusos, olhem as minhas mensagens deixadas na parte específica para isso no meu perfil. (conversas) esse é o nome do lugar.
Agora, passei também para avisar que vem uma surpresinha e reviravolta na história, rs <3
*Encontro vocês no Cap. 31!! Deixem só eu revisar ele bem lindo! e dessa vez não vão esperar semanas!
BEIJOSS DE LUZ :**
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