
021
Era como uma premonição, estar largada, sozinha, e ao mesmo tempo me sentindo tão preenchida. Naquela altura da minha vida eu sentia muita dor, principalmente quando a imagem dos meus pais, vez ou outra, intercediam nos meus sonhos. Quem não se sentiria assim a final?
Os pais são a representação viva de tudo o que acreditamos, quando se trata de valores, costumes, aprendizado. São a nossa primeira escola, e os primeiros a nos mostrar o significado do amor. E quando descobrimos o que é amar, com eles, o mundo fica diferente e você passa a perceber que merece alguém que te olhe com a mesma ternura de uma mãe ao pôr o filho na cama na hora de dormir.
Deseja ter alguém que te proteja...
Christopher dizia sempre, convincente, de que me protegia de algo ou alguém e que havia um motivo pelo qual ele teria dado aquele um milhão. Mesmo que ainda fosse um mistério, eu não podia deixar de lado o que realmente sentia...
Eu me sentia segura.
Claramente não me via mais sem ele por perto, e por essa razão acabei agindo de forma infantil, cobrando ciúmes pelo medo de pensar em perdê-lo. Sem ele e sem meus pais, eu definitivamente estaria só.
Agradeci internamente por ter acordado primeiro...
Céus, Christopher era mesmo muito sereno enquanto dormia. Inocente perante o meu olhar tão cheio de pensamentos avulsos.
Dormimos juntos aquela noite.
Ele se deitou ao meu lado logo após me acordar no meio da madrugada decidindo me beijar, não podendo ter acontecido uma reconciliação melhor que aquela, e lógico, eu tinha que tentar ser mais tranquila e não me deixar levar pela insegurança.
Então eu aproveitei seu cansaço para acariciar lhe as bochechas, sem acordá-lo, mas foi praticamente impossível. Wayne vagarosamente abriu os olhos e me encarou.
- Bom dia - falei com certo receio, ao lembrar da última vez em que fui expulsa depois de dizer e ouvir aquilo.
Mas o semblante satisfeito dele me tranquilizou instantaneamente.
- Muito bom...- respondeu segurando a minha mão, e dando um beijo sobre a palma.
- Pensei que não ia levantar agora.
- Que horas são?
- Oito e meia.
- Agh, podíamos dormir um pouco mais - reclamou espreguiçando-se.
Eu estava totalmente abobalhada com a forma cômoda dele agir estando ao meu lado. Christopher nunca seria capaz de deixar o trabalho de lado para ficar minutos a mais na cama.
- Não vai trabalhar hoje?
Wayne retomou a postura e soltou aquele sorriso que facilmente me desestabilizava.
- Sim, mas pretendo ficar um pouco mais você.
Completamente rubra, soltei um riso discreto e ele se virou de lado, pedindo que eu fizesse o mesmo. Já de frente um ao outro, Christopher abriu um sorriso travesso e pegou na minha mão esquerda.
- Você já acordou ao lado de um homem alguma vez?
- Uma vez...- Eu falei e ele se atentou - com meu pai, quando fiquei doente e ele cuidou de mim.
O olhar satisfeito dele pela minha súbita ingenuidade evidenciou o seu prazer em ouvir minha justificativa..
- Então nunca lhe disseram como costumamos acordar...- ele disse aquilo movendo a minha mão para debaixo do cobertor, guiando-a a um lugar que não precisei chegar até o final para saber onde iria.
Pressionei o maxilar, contendo a timidez com o que Wayne planejava.
Ele me fez permanecer no percurso até conseguir apalpar o seu membro totalmente ereto. Acelerando a respiração, ainda sem tirar a vista de mim, Christopher apertou os olhos rapidamente, fazendo leves movimentos no meu punho. Minha mão o segurou, e eu mal consegui fechá-la em volta dele.
Novamente a dormência entre as minhas pernas surgiu, intensa, e os meus pés se torceram. Fechei os olhos, preferindo não ver naquela hora o que estava fazendo, porém, decidi não parar.
Eu sabia o que era masturbação, e era exatamente aquilo que estava fazendo com ele, embora numa velocidade bem lenta, domada pelo medo de machucá-lo. Pus em prática tudo o que conhecia. Dentro da minha mão eu o senti pulsar, vibrar cada vez que tentava aperta-lo com mais força.
Quando ele soltou um gemido chamando o meu nome, reabri os olhos vendo que Wayne estava transpirando totalmente bufante.
- Me peça para parar... Dulce... peça.
Eu ia obedecer, sim eu ia, mas vê-lo tão entregue e vulnerável apenas a um toque meu me deixava orgulhosa, feliz por não ser a única dependente de carinhos, e agrados.
- Dulce... Não faça isso. Não me deixe continuar.
Christopher repetiu a suplica.
- Mas eu quero que continue.
- Ainda não é a hora.
Vislumbrando minha bela visão de âmbar, retirei a mão e ele soltou o ar dos pulmões.
- Maldição. Não podemos mesmo dormir juntos - Expressou dando uma risada dolorosa.
Encolhendo os ombros, tímida, baixei a vista e sentei apoiando-me na cabeceira. Ele logo fez o mesmo. Wayne acariciou meu rosto, e olhou para frente, exclusivamente para o vazio.
- Eu sou homem e é difícil ficar do seu lado assim, mas, Dulce... você parecia saber o que estava fazendo.
- Existem muitas maneiras de saber das coisas. Livros, revistas, Internet...
- Não a acusei de nada, apenas fiquei surpreso. Sinceramente não pensei que seria assim na primeira vez.
- Isso é bom?
- Muito - rebateu com o olhar de volta para mim - eu gosto mesmo de você.
- Christopher, eu quero saber o que nós somos agora.
Ele se silêncio por um segundo, e voltou a ficar pensativo.
- Ainda não sei.
Confesso que não era exatamente aqui que esperei ouvir.
De tudo, eu desejei que fossemos namorados, ou que ele me assumisse. Mas não foi o que aconteceu, e sinceramente, tinha quase certeza de que a reposta seria aquela.
- Entendo - retruquei contendo o tom desapontado, mas ele percebeu.
- Dulce, eu não posso assumir nada agora. Você é nova demais, e isso traz sérios problemas.
- Quem saberia?!
Perguntei, já aborrecida por aquelas casualidades.
- Eu saberia - reafirmou revoltado - As pessoas em volta notariam a minha instabilidade estando ao seu lado. Eu tento disfarçar, mas sei que é visível.
Era com certeza uma boa maneira de convencer alguém. Rebaixando a cabeça, desenganada. Fiz um sinal de concordância e ele me pegou com firmeza o meu rosto, levando-o até próximo do seu. Christopher apoiou nossas testas, beijando a ponta do meu nariz.
- Estou sofrendo também.
- Eu acredito, e respeito a sua posição. A última coisa que quero é que se prejudique por minha causa.
- Tenha um pouco mais de paciência. Logo isso vai terminar.
O conflito global que perdurou entre as épocas de 1939 e 1945 envolveu muitas das nações do mundo. Em meio de todos esses conflitos, um grande e peculiar participante até hoje marca as nossas percepções de liderança. Hitler era um sádico idealista...
- Dulce?
Dei um salto quando Theo me chamou, lançando um olhar preocupado. Ele estava falando sozinho a mais ou menos meia hora, e só agora teria se dado conta disso. Eu tentei me concentrar, por diversas vezes, mas era impossível deixar de lado a minha conversa daquela manhã com Wayne.
- Me desculpe.
- Hum, parece que a festa foi boa ontem.
Lembrar que tudo corria bem até a megera da ex-mulher dele aparecer, me fez repensar a opinião do professor.
- Nem tanto assim, não demorei para subir e dormir.
- Senti mesmo a sua falta por lá. Foi muito solitário esperar Samantha encher a cara de Malte até cair.
Gargalhamos juntos quando ele disse aquilo. Theo parecia mesmo ter um grande papel ao lado da tia.
- Porque teve que acompanhá-la?
- Moro com ela desde que meu pais me mandaram estudar aqui em São Francisco. Nós somos de um interior distante, e não há muitas oportunidades por lá. A famosa história da tia rica da capital...
Ele zombou de si mesmo e da sua situação. Theo não perecia muito feliz com as escolhas que fez.
- Sua namorada, ela mora aqui?
- Estamos estudando a segunda guerra ou a minha vida sem graça? - Questionou em tom irônico, plenamente divertido.
- D-desculpe... - me retratei, corada de vergonha.
- Para de se desculpar por tudo Dulce - repreendeu ainda sorrindo - Infelizmente ela ficou no interior.
- Deve ser ruim.
- Bastante, mas eu adoro dar aula.
- Theo, posso fazer uma pergunta?
- Se houver resposta, sim.
- O que você pode me dizer sobre o sobrenome Escobar.
Ele se colocou reflexivo, analisando a minha pergunta ao mesmo tempo em que fechava o livro de história, sabendo que a aula tinha terminado.
- Esse é o seu sobrenome.
- Sei disso, porém existe um homem que o tornou bem mais conhecido - ressaltei fazendo umas aspas com os dedos.
- Pablo?
O nome do meu tio quase me fez lacrimejar.
- Esse - confirmei.
- O que exatamente quer saber?
- Tudo o que você souber.
Theo se endireitou, levantando da mesa.
- Vamos andar um pouco.
Caminhamos pelos jardins da casa, enquanto Theo me contava as coisas mais simples da vida de meu tio Pablo, coisas essas que eu devia ter corrigido em alguns momentos. Depois de andar um bom pedaço, eu o levei na parte mais florida, a mesma que sempre gostava de visitar.
Correndo do sol chegando até um lugar onde existia um banco de madeira debaixo de uma árvore que nos dava sombra. Ele me convidou a sentar.
- Agora você precisa entender a parte em que ele era um homem ruim, cheio de artimanhas. Foi preso e morto, porém ainda não se sabe quem o matou. Mas não é tão difícil deduzir que Pablo tinha muitos inimigos dispostos a se livrar dele.
- Então ele era mesmo muito rico... e sobre os familiares, o que sabe?
- Ele tinha família, mas é impossível ter informações a respeito disso. O homem claramente não tem registro nem um com entes queridos, além das muitas mulheres com quem dormiu. Pais, tios, irmãos, não se sabe de nada. Talvez ele os escondesse por conta do que fazia... não sei.
Obvio que ele os escondia, assim como meus pais escondiam a verdade de mim.
- Então ele não é completamente ruim.
- Dulce, isso não o faz bom. Bandidos também têm família, mesmo se livrando da dos outros.
- Isso é tudo?
- Sim senhorita Escobar - brincou - Ah, mas também tem uma coisa engraçada nesse acaso... Um dia desses ouvi minha tia falar do mesmo assunto com o Wayne. Parece que Pablo tinha alguma ligação com a família dele.
- Que tipo de ligação?
- Não sei, é muito difícil de imaginar. Ambos são ricos, mas até onde sei os Wayne sempre foram pessoas honestas e benfeitoras.
Até onde eu sabia o meu tio também era assim, refleti desgostosa.
- Dulce, me fale a verdade. Porque o interesse tão grande nessa história?
- É difícil explicar uma coisa que nem eu sei.
- Então... o seu sobrenome não é... mero acaso? - Ele reproduziu a sua pergunta, pausadamente, tentando não acreditar no que dizia.
- Theo, eu não sei mesmo explicar, mas preciso da sua ajuda.
Agarrando nas minhas mãos o professor percebeu como eu estava assustada e perdida em meio tantas revelações. Agora era mais claro do que água o fato de realmente haver um motivo grande de Christopher me querer por perto. Mas qual? Fora o fato dele conhecer meu tio, nada mais nos ligava.
Theo me cedeu um abraço quando eu pedi por suporte enquanto os tremores das minhas pernas demonstraram clemência. Enterrando o rosto no peito dele, respirei com dificuldade ao tentar engolir o choro, tranquilizando-me apenas com o aroma agradável do perfume que ele usava e seu silêncio respeitador.
***
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