
020
Eu ainda estava olhado os três conversarem, a cerca de meia hora, enquanto Christopher fazia o seu papel de homem frio e controlado ignorando a presença da ex-mulher. Mesmo assim, foi inevitável cerrar os punhos por debaixo da mesa.
Ela era muito mais bonita que Samantha, e todas as mulheres presentes ali.
— Dulce?
— Sim — respondi Samantha, retornando do devaneio.
— Tenha calma, Christopher a odeia. — Afirmou convencida.
— Não sei porque fala assim. A vida é dele, e eu não interfiro em nada.
— Sério, quer mesmo me manter fora disso? — Rebateu brigando com o garçom pela demora da taça de vinho, desmascarando a minha faceta — Ninfeta, eu sei de tudo que envolve o meu queridinho.
Naquela hora eu ignorei o apelido e foquei na oportunidade que surgiu em meus pensamentos.
— Tem razão, sabe de tudo, menos o motivo dele me manter aqui a sete chaves.
Ela deu uma gargalhada fina, levantando-se da mesa com a bebida já pela metade.
— Eu vou adorar te contar o que você tanto quer saber, mas antes disso, tente ser mais convincente com seus argumentos Dulce.
Soltando um beijo no ar, ela foi pega pela cintura por algum dos convidados e andou ao lado dele até sumir.
Meus olhos ainda buscavam por Christopher, notando que num segundo de distração minha ele sumiu junto com o casal. Tentei procurar com a vista, por todos os lados, mas nada aconteceu.
Cogitei a ideia de levantar e andar um pouco, até o peso nos meus ombros me assustar, cortando a linha de pensamento.
Virei rapidamente, dando de frente com Theo, todo a caráter, carregando o mesmo sorriso simpático.
Ele estava muito bonito vestido tão formal, firmando ainda mais o meu conceito de que a maioria dos homens ficava bem usando roupas daquele estilo.
— Boa noite.
— Nossa, professor, o que faz aqui?
— Por favor Dulce, não chame assim, aqui sou apenas Theo.
— Isso é estranho — reneguei contendo um sorriso.
— Theo — persistiu.
— Tudo bem... Theo.
— Ótimo! Então agora podemos dançar.
Ele me segurou pela mão, obrigando que eu me levantasse da mesa, de repente. Fui arrastada para o meio das pessoas que dançavam, sem ter nem uma chance de impedi-lo.
— Não sou boa com danças.
— Todo mundo sabe dançar, e veja como todos olham, é bom me exibir com você.
— Exibir? — Recuei, mas ele realizou um passo que me trouxe de volta a seus braços.
— Você está muito bonita — ressaltou, e eu fiquei subitamente avermelhada com o comentário.
Mesmo assim foi inevitável não admirar mais uma vez aquele tom de azul que rondavam as suas pupilas.
— Mas não se preocupe, não estou sendo galanteador.
— Como posso ter certeza? — Questionei num meio riso, contido, encobrindo meu nervosismo.
— Tenho alguém, e gosto muito dela.
— Porque não veio com você?
— Minha tia não é muito gentil com ela, então decidi evitar esses encontros — Theo se explicou, distraído, até sua atenção ser tomada por alguma coisa — Parece que sempre me ouve.
Susurando, Theo desacelerou ainda mais os passos e me segurou com mais força, prevenindo algum impacto.
— Tia — falou por cima dos meus ombros, soltando-me.
— Maravilha! Estão se dando bem!
Samantha, sorriu triunfante e eu entendi onde Christopher tinha arranjado o tal professor. Troquei um olhar decepcionado com Theo sabendo exatamente o porque de ele evitar tanto o contato da sua namorada com a "tia".
Quem aquela morena não devia insultar?
— Desculpem interromper a dança, mas preciso falar com você — ressaltou com a vista colada em mim.
— Até amanhã Dulce. — Theo se adiantou, despedindo-se, e indo para perto de um grupo de pessoas não tão longes de nós.
— Precisa resolver isso.
— O que? — Interroguei, andando de volta para a mesa em que estava.
Ela não deixou de me seguir.
— Wayne decidiu entrar nas suas crises egoístas e se trancou naquele escritório intocável — a notícia me fez parar no meio do percurso — Precisa ir até lá.
— Eu? — Refleti sabendo que talvez fosse em vão.
— Você pode convencê-lo de voltar, tenho certeza... aliás, seu corpo deve ser bom em persuadir. — Disse irônica, deslizando os dedos no meu braço.
— N-não, nós nunca... — desviei.
— Eu sei ninfetinha — interrompeu, tediosa, revirando os olhos — O ponto aqui não é apenas a sua castidade, mas o fato dele ter que voltar. Faça isso.
Como uma mandante, ela deu a ordem e sumiu novamente.
Até pensei na possibilidade de não ir, já que ele escondia aquele lugar até mesmo de Samantha, e porque eu teria passagem permitida?
Estávamos bem, sim, mas nada que me desse o direito de invadir seu espaço.
No dilema de ir ou não, acabei optando pela segunda opção.
~~~
Contei até três e bati na porta, porém, não obtive resposta.
Repeti mais batidas, optando por fim em tentar a maçaneta. Ela estava destrancada. Cautelosa, adentrei vendo logo em seguida a presença de Wayne próximo da lareira, de pé, olhando o fogo com uma das mãos ocupadas por uma taça de vidro.
Seus ombros largos quase não erguiam pela respiração.
Caminhei aos poucos, evitando ao máximo fazer barulho, não para que ele não soubesse da minha presença, e sim por precaução. Eu temia os motivos que fizeram Christopher largar seu compromisso.
— O que houve? — Ainda de costas para mim, ele perguntou, e me fez pausar completamente a tentativa discreta.
— Seu jantar... — balbuciei — Seus convidados.
O som da taça de vidro bater na mesa, também de vidro, assim que ele a abandonou lá, me causou um choque momentâneo.
Wayne virou-se para mim, e em meio a escuridão, sua silhueta foi iluminada exclusivamente pela luz das chamas.
— Isso não importa.
Retrucou sem mudar a expressão séria que me tanto me confundiu.
— É por causa dela?
— De quem? — Redarguiu.
— Sua esposa.
— Como soube?
— Isso é o que realmente interessa? — Debati sufocando a mágoa.
— Não devia se envolver nisso.
— Claro, não devia, mas você precisa saber lidar com os seus problemas ao invés de escapar para esse lugar.
Gesticulei amarga, e ele resolveu andar até ficar a centímetros de mim, numa distância que se eu sugasse o ar com mais força nossos rostos se tocariam.
— Do que tem medo Dulce?
O vapor do seu hálito me obrigou a bater os olhos, já completamente nervosa.
— E você, Wayne, teme alguma coisa?
— Sim — assegurou, apanhando meu rosto com as duas mãos — que se afaste de mim.
Meu peito se estendeu, aturdido.
Joguei-me sobre ele no mesmo momento, e deixei que nosso espaço fosse violado segurando suas mãos por cima da minha pele para não me afastar da boca sedenta que me beijava, trocando de lábios sempre que nosso fôlego findava.
Christopher me largou e pegou minha nuca, trazendo-me cada vez mais para perto das chamas. O ar quente me fez transpirar por debaixo do vestido enquanto minha costa repousava na borda da lareira. Com a mão direita, ele escorregou da minha cintura para as coxas, elevando o tecido, tendo acesso a minha pele eriçada.
Eu estava com muito medo daquele atrevimento, mas não conseguia repudiar.
De olhos cerrados, apreciei a língua dele passear e sugar o meu pescoço, soltando alguns sons inevitáveis, porém, contidos. Aquilo era completamente distinto de tudo o que imaginei. Os seus dedos se fincaram em mim travando uma guerra interna em Wayne. Ele queria me violar mais, em novos lugares, entretanto, sua índole o impedia bruscamente. Eu era menor de idade, sabia disso, enquanto que ele já era um homem bem mais velho, cheio de desejos.
Enterrando a cabeça em meu ombro Wayne ofegou e então liberou-me de seu toque.
Foi uma decepção necessária.
— Porque não me impediu Escobar? — Verberou rígido.
— Porque eu não queria que parasse...
O comentário provocou uma atmosfera pesada entre nós dois. Christopher devorou-me com os olhos, prestes a jogar tudo o que acreditava pelos ares, eu conseguia sentir isso.
Novamente fui pega e mimada pelo dorso de sua mão.
— Eu pretendia devorar você.
O balbucio daquele desejo me obrigou a esfregar as coxas, reprimindo a dormência que se instalou bem no meio das minhas pernas. E quando a minha boca se entreabriu facilitando a saída do ar, ele resolveu me provocar mordendo meu lábio inferior, sedutoramente.
— Dulce, por favor, me impeça da próxima vez — suplicou reforçando o pedido.
— Você ainda a ama Christopher? — Questionei mudando completamente o assunto, assim que um pensamento desagradável passou pela minha cabeça.
— Não acredito que conseguiu estragar tudo.
Rebateu afastando-se com rancor.
Wayne voltou a pegar sua taça dando um último gole no vinho, antes de pretender sair do escritório sem me dizer mais nada. Impedindo a sua reação, andei às pressas ficando na frente da porta, forçando que me encarasse.
Ele parecia ter abandonado completamente a tranquilidade de minutos atrás.
— Me deixe passar Dulce — disse imparcial.
— Não!
— Escobar...
— Você não me respondeu, e só vou sair quando fizer isso.
— E nem pretendo responder nada, isso é ridículo! O que acha que está fazendo?
— Vai me evitar?!
— Vou. Porque não vejo razão nem uma para que me faça essas perguntas idiotas.
— Perguntei porque você me beijou com muito fervor, como se precisasse provar a si mesmo alguma coisa — exprimi aquilo, lacrimejando retraída pelo meu medo.
O silêncio dele ao ouvir minha justificação foi mortal. Sai da frente da porta, me adiantando em ir embora. Ele não me seguiu.
Aquela noite já tinha acabado.
~~~
Depois de tirar a maquiagem, tomar um banho e trocar as roupas por algo mais confortável, sentei na cama cobrindo apenas metade do corpo. Joguei as costas contra a cabeceira, soltando a respiração assim que recordei a maneira como Christopher fez eu me sentir dentro do seu refúgio.
Meu corpo respondia aos toques dele de uma forma tão natural que pareciam conhecidos. Esses fatos me lembravam a forma como os meus pais evitavam aqueles assuntos, agora tão essenciais. O que eram os tremores, a libido invadindo o meu ventre; o desejo de ser possuída? Tudo era tão estranho, mas ao mesmo tempo tão prazeroso.
Porém aquele momento foi encerrado assim que o meu temor veio à tona. Deve ter sido muito precipitado da minha parte exigir aquela reposta dele, mas como não ter medo de alguém como aquela mulher? Ela era nitidamente bem melhor que eu, e mesmo que Wayne houvesse descoberto as suas más intenções, nada o impedia de ainda estar apaixonado. E eu, não era nada mais que uma garota de dezessete anos, imatura, que sempre achava alguma forma de tirá-lo do sério. Alimentando o sentimento de inferioridade.
Mesmo ao som das músicas tocadas no coquetel, deitei, rezando para não demorar a dormir.
~~~
A sensação da pele do meu rosto esquentar me despertou num sobressalto. Abri os olhos nervosa, até acalma-los aos poucos, quando vi que tinha recebido um beijo. A beira da cama afundou assim que Christopher se sentou, acariciando o meu rosto com ternura.
O quarto não estava totalmente escuro, já que o abajur estava aceso, e isso me permitiu vê-lo, mesmo com toda o breu em volta de nós dois. Wayne não usava mais terno, e parecia também preparado para dormir.
Permanecemos calados até a puxada de ar dele premeditar a minha ansiedade.
— Não volte a duvidar Dulce... eu quero muito estar com você.
Apertando os olhos, contive uma lágrima e ele me deu outro beijo.
— Mas eu não sou suficiente — murmurei ainda sobre os seus lábios.
— Claro que é.
Afirmou encostando sua testa a minha, apertando os olhos como se aquilo o machucasse tanto quanto a mim.
— Sei que parte desses pensamentos são culpa minha, e da forma como te tratei antes, mas agora eu quero que você evite pensar nisso.
Christopher me olhou profundamente, e aos pouco o peso do seu corpo deleitou-se sobre o meu, dominando a minha boca com a sua, num sugar violento, quase carente.
***
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