2° Parte
Sirus contemplava a bela vastidão do espaço pela grande janela da nave em que se encontrava, enquanto se aproximavam de Spes, o planeta que seria seu novo lar, não saberia dizer se o que estava sentindo é medo ou ansiedade... talvez ambos. Quando partiu da Terra julgou estar pronto para esse recomeço, porém agora que se vê tão longe de casa veio a dúvida: "Eu, recém formado no ensino médio, estarei mesmo pronto para iniciar a vida adulta em um planeta totalmente diferente do que eu estou acostumado?" Ele não sabia a resposta, mas a partir do momento em que aceitou vir não tinha mais como desistir, uma semana atrás estava tão ansioso que pesquisou tudo sobre essa nova era de exploração especial.
O planeta Terra está doente e contaminado, a mais de dois séculos a humanidade procura por um substituto, a água é trazida de um dos satélites naturais de Júpiter, e a comida cultivada artificialmente em estufas espaciais que orbitam o planeta, os quase 10 bilhões de humanos viveram nessas condições, esperando que um milagre acontecesse, e ele aconteceu. Uma astrônoma, durante sua observação da constelação Canis Major encontrou uma nova estrela e em sua órbita um planeta, com o dobro do tamanho da Terra, com mais estudos foi comprovado que ele poderia ter condições favoráveis para suportar vida humana, e assim foi enviado a primeira equipe de exploração. A humanidade já havia desenvolvido a tecnologia de "atalhos tempo-espacial" que permite ir do ponto A ao ponto B em questão de minutos, os chamados buracos de minhocas, porém o novo planeta, denominado Spes, fica à 726 anos luz de distância, nunca usaram um buraco para ir tão longe. Testes foram feitos, descobriram que quanto maior a massa do objeto a fazer a passagem menor é a distância segura para a travessia, um limite de 200 anos luz foi determinado para o porte da nave de exploração que seria enviada para Spes.
Foram dois anos de espera para o retorno da nave de exploração que foi tão aguardado por toda a humanidade, o novo planeta era favorável! E mais, ele continha vida inteligente não hostil, a comunicação com os nativos foi estabelecida por meio de imagens (como seus ancestrais pré-históricos). Aquela civilização era mais atrasada que a humana, em comparação científica e tecnológica estavam por volta dos anos 2000 da história humana. Uma nova expedição foi criada lingüistas, engenheiros, biólogos e profissionais de várias áreas foram enviados para estabelecer, cultural e estruturalmente uma futura colônia terráquea.
Cento e cinquenta anos depois, com incontáveis idas e vinda, finalmente foram escolhidos os cem primeiros moradores oficiais do novo planeta, jovens com todo um futuro pela frente iniciarão suas vidas adultas no planeta Spes, e um desses cem jovens era Sirius, que nem mesmo tinha um motivo definido para ter se voluntariado, somente o fato de sentir que não havia mais nada para ele na Terra, essa é a verdade. Começaria uma vida nova nesse novo planeta com novas paisagens. Esperando encontrar um propósito aqui.
As luzes vermelhas da nave indica que entraram na órbita do planeta, foi uma viagem relativamente rápida da Terra até Spes. Embarcaram num ônibus espacial ainda em solo terrestre até a nave interestelar (a mesma não pode atravessar atmosferas) que os levou a meia hora luz de distância da Terra, essas naves viajam a, aproximadamente, 1/9 (um nono) da velocidade da luz, levando 4hrs e 30min para chegar no ponto em que poderíamos abrir o buraco de minhoca sem que a Terra sofresse danos colaterais, (tanto a entrada quanto a saída dos buracos de minhoca deve ficar a uma distância segura de qualquer corpo celeste, especialmente se for um planeta) o trajeto por toda a extensão do buraco de minhoca leva exatamente 6,3 minutos para ser completado, foram precisos 4 saltos tempo-espacial para se aproximarem o suficiente do planeta Spes. Seguiram com a nave interestelar por mais 4 hrs até a órbita do destino, totalizando apaixonadamente 9 hrs de viagem. Tempo esse que Sirius decidiu aproveitar dormindo.
A centena de adolescentes foram divididos em quatro grupos e cada um aterrissará em uma região diferente de Spes em quatro ônibus espaciais, o grupo de Sirius vai pousar no lado atualmente noturno do planeta, ele percebe agora que dormir a maior parte da viagem não foi uma boa idéia, mas não é hora de se preocupar com isso, estava finalmente aterrisando em solo alienígena!
Ao desembarcarem do ônibus foram levados para o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento, que é onde se concentra a maior parte dos humanos desta região, os jovens são reunidos num salão onde recebem as boas vindas e as instruções de como decorreria o início de suas estadia. O plano é que tenham dois meses para se habituar com o planeta, os nativos e seus costumes e depois desse tempo começarão os estudos para suas futura profissão, Sirius escolheu ser biólogo, um planeta repleto de criaturas totalmente novas o enchia de expectativas. Cada um dos vinte e cinco jovens teria auxílio de um nativo que serviria como guia durante a primeira semana, alguém no salão perguntou por que não era apenas um nativo para todos, o que seria mais lógico, e responderam que era uma manobra dos líderes governamentais para ajudar na coexistência das duas espécie, os "guias" também são jovens e a interação entre as novas gerações era essencial para um futuro simbiótico.
Por já ser noite o tour pela cidade ficaria para o dia seguinte e hoje só seriam apresentados aos seus respectivos guias. Um grupo de nativos entrou no salão parando enfileirados logo atrás do orador, eram impressionantes. Um por um os jovens foram chamados, apresentados e encaminhados para seus alojamentos. Ao chegar a vez de sirius quase que ele não consegue caminhar até o palanque de nervosismo, seu guia era uma garota com um olhar de poucos amigos. Sirius é relativamente alto, estava acostumado a olhar para o topo da cabeça das pessoas com quem conversava, mas com aquela nativa ele olhava diretamente nos olhos, grandes e escuros, não se distinguia íris e pupilas a parte branca do globo era quase inexistente, a pele tinha um tom âmbar, quase como mel, o cabelo alaranjado não passava das orelhas, essa espécie possui características biológicas muito parecidas com as da espécie humana. O olhar clínico de Sirius parece ter incomodado-a pois seus olhos se estreitam.
-Meu nome é Sol - diz ríspida, ela não tem o sotaque tão forte quanto os dos outros nativos. Fascinante. Sirius sorriu diante do nome tão familiar.
-Me chamo Sirius, também é o nome de uma estrela, que coincidência parecia incrível. - Sirius diz mais empolgado que deveria, Sol parece não se importar.
-Seu alojamento é o de número 63, sua chave, é só pegar o elevador até o terceiro andar e achar o número na porta, é fácil não vai se perder.
E assim ela saiu pela porta deixando-o parado no salão embasbacado, logo se recompôs e também saiu, o corredor era longo e cheio de portas mas nenhuma delas era de um elevador. Sirius caminha pelo corredor prestando bastante atenção em um possível elevador camuflado, no fim havia caminhos para as duas direções, no da direita contemplou o tão procurado elevador, não desperdiça mais nem um minuto, a porta se abre e sai de lá um grupo de pessoas de jaleco, Sirius correu para alcançar a porta ainda aberta. O elevador parou em seu andar e por um minuto esqueceu o número do quarto, mas, para sua sorte, no chaveiro contém o número do quarto, pela sequência nas portas seu quarto deve ficar no final do corredor. Se dirige sem pressa para o aposento porém antes de chegar em sua porta se deparou com uma escada, uma placa diz que leva ao terraço, Sirius não se conteve e a subiu.
A brisa fria o faz arrepiar, mas o ar que entra em seus pulmões o impede de voltar, mais cedo estava empolgado demais para reparar no quão puro é o ar de Spes, era completamente diferente do ar poluído da Terra, ele poderia ficar horas ali só respirando, encheu os pulmões ao máximo e soltou todo o ar lentamente. Repetiu o processo mais três vezes, a sensação era indescritível.
-O que faz aqui? - Sirius se assusta com a presença logo atrás dele, era Sol. - Seria um desastre se a grande ave, Dastit, o devorasse logo na primeira noite.
-Existe mesmo uma criatura assim aqui?! - Diz Sirius um tanto receoso. - Não ouvi nada sobre animais selvagens atacando pessoas.
-Hã… não. Na verdade é só um folclore para crianças travessas… - Ela desvia o olhar, - não achei que levaria a sério.
-Que pena então… - Ela parece confusa, Sirius contínua, - eu adoro animais, serei biólogo aqui, então qualquer criatura viva me causa interesse. - Ele dá um meio sorriso. - E me desculpe por ter… analisado você, eu não quis ser inconveniente. - Sol não desviou os olhos dele por nem um segundo enquanto ele falava, talvez ela também estivesse o analisando.
-Não tem problema. Mas o que veio fazer aqui?- perguntou a nativa.
-Não tenho certeza, só não pude controlar minha curiosidade. E você por que veio para o terraço?
-Nada importante. Melhor você entrar, seus lábios estão ficando roxos.
Realmente Sirius estava com frio, a temperatura desse planeta é mais baixa que na Terra visto que no seu planeta natal o efeito estufa foi severamente agravado devido a constante emissão de gases elevando a temperatura em todo o globo, as calotas polares já quase não existem agora, Sirius teria que se habituar ao novo clima. Ele se encaminha para a saída.
-Você não vem? - Perguntou ele a Sol, queria conversar um pouco mais.
-Não, agora não.
E assim eles se despedem e Sirius vai para seu quarto, suas coisas já estão lá, tomou banho e se deitou na cama, sem sono, pensando em todas as possibilidades desse novo planeta e em como isso afetaria sua vida.
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