2 • eu vejo
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26.12.2018
Dizem que existe uma diferença entre olhar e ver.
E outra entre existir e ser.
Eu não vou mentir, quando eu te olhei pela primeira vez eu não te vi. Não foi nada disso à primeira vista, eu diria que fomos nos encontrando nos acasos, entre uma manhã e outra, entre sons e silêncio, entre lágrimas e sorrisos — entre a vontade sufocante de querer ser algo, mesmo sem saber o que. E você sempre esteve no meio de todos esses sentimentos, como se entendesse cada um, como se nos entendêssemos em nossas aflições, mesmo que pertencentes a Universos tão distintos.
Antes eu chamava de empatia, porque tinha medo de dizer que era amor.
Mas amor é isso, não é? Não só te olhar, é te ver.
É olhar além do seu brilho.
Além das suas roupas chamativas, do seu estilo totalmente questionável, que me faz querer revirar os olhos para sorrir em seguida, como se cada look fosse uma forma de dizer que você está ali, uma espécie de teste para me fazer admitir que você seria meu com qualquer combinação de estampas, com qualquer par de tênis estranho, com qualquer óculos escuro de armação retrô diferenciada. Que independente de tudo, você ainda seria meu.
Como se isso não bastasse, ainda há o som estridente da sua gargalhada, o tal barulhinho bom que você emite, o som da alegria que traz seu sorriso brilhante, sempre tão largo, parecendo caber ali todos os sorrisos, sempre superando a sua escuridão para ser luz — você sempre vai ser a minha metáfora de luz favorita, a origem de todas elas para falar a verdade.
O seu sorriso me arrombou, como aquela luz forte, como desafiar a vista e olhar diretamente para o sol. É aquela luz que te faz perder a memória, daquele jeito de esquecer o antes e ficar por ali só esperando pelo próximo momento de luz.
Mas, sol, o seu olhar me acolheu.
O seu olhar deixou que eu habitasse nele.
Dizem que os olhos são o espelho da alma, eu não sei. O que eu sei é que existe um mundo inteiro no seu olhar e, sem querer ser pretensiosa, eu me sinto honrada por, mesmo que por um instante, ter habitado nele.
É um lugar bem confortável dentro dos seus olhos. Ser vista por você é como estar em casa, sentada no sofá em uma manhã de domingo ouvindo música, bebendo café. É como aquela sexta à noite comendo pizza e tomando vinho. É como chá de camomila antes de dormir. É como dançar loucamente de madrugada sem se importar com mais ninguém. É como correr na orla de manhã cedinho. É como chegar em casa depois de uma viagem longa. É como acordar de manhã sem o som do despertador. É como respirar fundo. É mais que existir, é ser.
Eu só existia antes de te conhecer, agora sou com você.
Quando nossos olhares se conheceram eu tive certeza que eu te via e você me via.
Bem, dizem que olhar é diferente de ver e que existir é diferente de ser.
Eu não sei mais, me embolei aqui. Vi uma foto sua e, poxa, mesmo pela tela... O seu olhar rompe todas essas distâncias chatinhas, o fuso, a minha vontade de unir os continentes. E me traz paz. Porque, além disso tudo, eu leio coisas no seu olhar.
Eu posso estar enlouquecendo, o que eu poderia dizer só por força de expressão porque eu já sou louca, mas não seria força de expressão dizer que eu leio coisas no seu olhar.
Parece que daí você manda mensagens, como se só de olhar você pudesse me dizer que vai ficar tudo bem, que o tempo está correndo até os dias de sol, que eu tenho você.
Só de olhar, eu sei.
Eu moro ai, com você, no seu olhar.
Sou uma habitante das íris castanhas brilhantes.
Somos um só.
E
Eu leio coisas no seu olhar.
E por ele eu sei.
O seu olhar me espera, sol.
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