
11 • encontro marcado
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"A vida é a arte do encontro,
embora haja tanto desencontro pela vida"
(Vinícius de Moraes)
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26.04.2019
Eu tenho certeza que, se fosse em outra vida, nosso encontro já estaria marcado.
Meu all star mostarda ia encontrar o seu cinza. Meus olhos subiriam indiscretamente por suas calças largas, um jeans de lavagem bonita, casaco estranho, touca caramelo deixando suas orelhas displicentemente desprotegidas do frio congelante lá de fora, costas apoiadas ao lado da porta do vagão, olhar concentrado na tela do celular, lábios balbuciando coisas. Meus olhos curiosos iriam te encontrar, assim como já encontrei nessa vida, mas aí seria diferente.
Seria um encontro de verdade, pois é preciso mais do que mim mesma para tal, eu preciso ser encontrada por você também.
Nessa situação hipotética, decerto seus olhos bateriam no tênis mostarda, na minha calça rasgada de forma irregular, na meia escura sobressaindo pelos buracos no jeans, no suéter creme, na jaqueta jeans comprida, meus olhos fingindo estar no celular quando, há dois segundos, eram todos para você, no meu cabelo curto tomado pelo frizz do inverno parcialmente escondidos atrás da boina francesa branca, encostada no lado oposto do vagão.
Eu não teria medo de olhar para você, além de que meus olhos nunca seguem ordens, de qualquer forma, mas tenho quase certeza de que você teria medo de olhar para mim. E, notando isso, aquele clima incerto entre nós, eu sorriria tomada pela ansiedade de "mais um crush de metrô", era o que eu acharia. Coitada dela que ainda não sabia...
Mas como o acaso trabalha com certeza, sairíamos na mesma estação de metrô. Nós e muitas outras pessoas, a estação lotada, as quatro saídas possíveis e eu devo sair pela Tralfalgar Square.
Seriam muitas pessoas circulando pelos caminhos subterrâneos de Londres naquela manhã de inverno, "tudo bem, perdi o meu gatinho asiático... faz parte.", eu sorriria meio boba, meio desapontada, criando toda uma história que não aconteceu para nós dois antes de suspirar, ajeitar meu cachecol e esconder minhas mãos nos bolsos da jaqueta. Eu poderia estar acostumada com os desencontros da vida, mas não com o frio europeu.
Subiria as escadas até a rua, ainda não preparada para o frio lá de fora, mas sempre ansiosa pelos ares cinzas da cidade, as construções bonitas. Chegando à calçada, eu pararia no canto para me localizar, sempre perdida e sempre sem qualquer senso de direção, e encontraria o caminho até a National Gallery.
Lembram do acaso certeiro?
Pois bem, antes de encontrar o caminho, meus olhos veriam você a alguns metros, parado perto de um canteiro, olhando para o celular, fitando as placas, o all star cinza batendo na calçada igualmente cinzenta de forma contínua, em um ato de possível nervosismo. Você estava perdido.
"Com licença, você precisa de ajuda?", usei o meu inglês, depois que meus pés decidiram por mim que eu iria me aproximar. Vi seus olhos se arregalarem e você fez um bico engraçado antes de sorrir. E se até aquele momento você era só uma descoberta curiosa, um acaso patrocinado pelo serviço de transporte público de Londres, agora você seria o meu achado. A minha pequena janela para o sol, bem ali, me fazendo sorrir de volta para um estranho, me esquecendo até do frio que me congelava segundos atrás.
"Hmmm... Sim... Eu ir para... Hm, National Gallery", compreendi que além de perdido você também não falava inglês.
"Eu também estou indo pra lá...", maldito acaso que ajeitaria tudo direitinho para nós dois. Afinal, essa era a premissa. Nossos tênis coloridos andando lado a lado pelas ruas de Londres, nossa comunicação precária, você usando de todas as expressões corporais existentes (e você conhecia muitas!) para que tentássemos nos entender e, no final, não daria certo e nossas gargalhadas sobressairiam à atmosfera cinzenta.
Engraçado que quando nos apresentamos, enquanto caminhávamos lado a lado em direção a National Gallery, você disse o seu nome e eu, inicialmente, não entendi, mas nem precisava, pois um raio atravessou as nuvens insistentes fazendo sol em mim, e eu entendi tudo.
Você estava perdido, só esperando que eu o encontrasse.
A recíproca é verdadeira.
Eu disse, em outras vidas, posso alterar o lugar, vamos para Ilhas Canárias, Tóquio à noite, Rio de Janeiro ao meio-dia, Barcelona, Barbados, Bahamas, Busan, Seul, independente da conjuntura, adicione outro contexto, esqueça o all star, pode estar quente, sol à pino, não importa, já estava marcado.
Eu confio no acaso do nosso encontro.
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Hello sunshine!
Todos os lugares mencionados ficam Londres exatamente onde eu os coloquei (thanks Google Maps haha)
Espero que tenham curtido esse encontro do acaso com o sol!
Hoje eu fiz de tudo para encontrar o sol, mas não consegui... Hoje a Maria não está feliz, mas também é normal. Afinal, nem sempre faz sol, mas desejo que sempre faça para vocês.
P.s: deem uma olhada no BTS_colabs , pois estamos com um projeto lindo de impressão de um livro físico com 7 histórias, uma sobre cada boy maravilhoso! Se chama Happy B-day Bangtan! 🎁
Beijos da Maria ❤️
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