CAPÍTULO 92

Silvana gelara com a indagação de Donatello. Sim, ela esperava que a verdade jamais viesse a tona, mas sabia, lá no fundo, que Deus era justo e que Donatello merecia saber sobre sua origem.

– Donatello, as coisas não são como você está imaginando. – Respondeu Silvana. – Eu realmente te dei a luz, mas não te assumi por ser uma mulher sem coração. Tanto é que, depois que Cecilia me convenceu a inventar que você tinha sido abandonado ali, eu concordei e te criei. Não seria fácil eu aparecer grávida depois de um voto de castidade. Eu não queria perder o outro lar que havia conquistado.

– Não te considero uma pessoa ruim... Só não consigo entender como eu só vim suspeitar disso com um cara que eu conheço há dois anos e não com nenhuma de vocês, que estavam ao meu lado a vida toda. Por quê? Por que simplesmente não contaram a verdade quando eu cresci? Eu sei que tem essa questão de honra nos conventos, mas eu iria tentar entender.

– Será que entenderia, Donatello, ou teria uma reação pior do que está tendo agora? – Questionou a freira. – Aliás, você já sabe quem é o seu pai?

– Sim, ele sabe. – Interferiu Helionora. – Eu e Simonetta encaixamos a peça meio que por acaso...

– Uma ótima oportunidade para você revelar o nome do pai do seu bebê, Liô, inclusive. Chega de segredos, não é? – Comentou a caçula de Gaetana.

– Neste momento, tia Cecilia, estamos tratando de outro assunto, muito mais antigo e bem mais cabuloso. – Defendeu-se a psicóloga.

– Eu e o Constantino estávamos predestinados a nos casar desde que éramos muitos pequenos. Ou, pelo menos, era isso que eu achava. Depois a fé grande, que ele já tinha, começou a crescer tanto de uma forma que ele não se conformaria em ser só um bom marido, bom pai ou bom homem. Ele queria mais. – Relembrou Silvana. – Reúna tudo isso com as loucuras que papai fez quando soube da herança real. Ele foi para um seminário, Simão para o Brasil e só me restou acompanhar Cecilia em sua jornada, já que mamãe também se fora. Não que eu não esteja feliz servindo a Deus. Mas estes não foram os meus primeiros planos para a vida, sabe?

– Sinto muito, titia. – Comentou a gestante. – Eu não teria ideia do que fazer numa situação dessas.

– Em um dia muito bonito, em uma missão, eu e Constantino lembramos da nossa adolescência. Como ele estava decepcionado com algumas questões da igreja e eu ainda amava ele... – Continuou Silvana. – Nos dias que se seguiram, Constantino veio me pedir desculpas. Me disse que ele tinha pecado, mas que queria ter uma segunda chance e seguir no sacerdócio. Assim quando eu descobri que eu estava grávida preferi fazer qualquer coisa, menos prejudicá-lo na carreira. Me perdoa, por favor.

– Não posso te negar o perdão, mas eu preciso te renegar minha companhia. – Respondeu o italiano. – Não curarei minhas feridas com vocês duas ao meu lado. Espero que sejam muito felizes.

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Simão ainda não era digno de viver em seu pequeno paraíso terrestre. Ele achara que sim no momento em que soube que seu Amor Continente nunca morrera. Mas, no fundo, Simão sabia que um pecador como ele não sairia imediatamente do inferno para o paraíso. Era necessário converter-se um pouco mais em seu purgatório. Gareth, o fruto de seu grande amor, ainda não lhe considerava como pai, mesmo aceitando receber seu sobrenome no registro. Maria Marta, sua filha mais complicada e a semente que lhe fez cometer tamanho pecado, perdera o amor de sua vida e estava se vendo em uma ameaça semelhante com a de Simão.

Os pensamentos de Simão foram interrompidos com a chegada do novo sócio. Hernanes Gonzales era um prestigiado empresário que batalhava pelas questões socioambientais. Simão se interessara pelo projeto do empresário mexicano quando este entrou em contato consigo. De fato, todo o descaso com o meio ambiente e a cegueira da grande maioria da sociedade para com isso preocupavam o italiano. Graças à Asia, Simão passou a conhecer a existência ocultada dos elementais, espíritos guardiães da natureza. Se caíssem as árvores, se envenenada a terra fosse, poluído o rio ficasse, todos duendes, gnomos e fadas, entre outros morreriam e com isso o planeta perderia parte do seu encanto.

– Seja bem-vindo, Hernanes. Como foi de viagem? – Iniciou Simão.

– Muy bien, amigo mío, muy bien. – Respondeu Hernanes. – É uma honra ter um empresário tão competente e promissor como um dos primeiros sócios da Primavera Brasil. Tenho certeza que esta parceria renderá bons frutos para ambos.

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Leônidas era o homem mais sortudo e encrencado do mundo. Mesmo com Samantha já tendo 15 anos e aquele relacionamento sendo de total acordo dela (na verdade, fora ela que inventara de conquistar Leônidas de forma inapropriada), a taurina ainda era sobrinha de seu melhor amigo e Leônidas ainda era um ex-garoto de programa.

Samantha chegara esbeltamente vestida à casa da irmã. A adolescente portava consigo uma grande sacola de supermercado amarela, desenhada com uma bela borboleta vermelha em um girassol. Para que Samantha trouxera aquilo, se a casa de Gareth tinha compras o suficiente para quem se hospedasse ali?

– Meu palhacinho está preparado para a minha próxima surpresa? – Indagou a filha caçula de Ruthy.

– Não me diga que você vai me fazer assistir  American Pie 2?

Da última vez que Samantha e Leônidas se encontraram, a jovem havia feito o administrador assistir a American Pie. "Se Gareth descobrir o DVD desse filme em minhas coisas e saber que estou saindo com você, ele vai achar que estou te levando para o mau caminho", opinou Leônidas ao ouvir a proposta da namorada. "Não se preocupe. Quem está te levando para o mau caminho sou eu", respondeu a jovem.

– Não, minha surpresa para hoje é bem melhor. – Dizia a moça, enquanto tirava uma lingerie pink da sacola de supermercado. – Eu quero que você me faça sua mulher, Leônidas, imediatamente.

– Uma lingerie rosa? Acho que já vi esse filme, só que com uma lingerie lilás. – Disse o rapaz de 22 anos. – A Simonetta já sabe de nós?

– Não. Quem comprou essa lingerie foi a Mônica. – Revelou. – Ela é santinha, mas ela não se importa que eu seja uma diabinha.

– Não sei se isso é o melhor a se fazer... Temos sete anos de diferença! – Revidou o aquariano.

– Não me importa. Eu preciso de uma recompensa. – Exigiu a morena. – Eu sei que você e Simonetta usaram meu aniversário como armadilha para meu tio. E só vou te perdoar, palhacinho, se você me fizer sua mulher.

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Helionora reunira a parte que importava de sua família em uma videochamada múltipla. Eram 12h54 do dia 11 de junho em Gaeta logo, por lá, Gareth já havia completado 22 anos. No Brasil eram 19h54 do dia 10 de junho. A psicóloga estava reunida na Itália com Gareth, Simonetta e Donatello. Gabriel e Olívia, seus duplos sobrinhos, dormiam o sono dos inocentes. Suas tias Silvana e Cecilia obviamente não participariam, já que a motivação da reunião familiar seria a apresentação do novo velho membro da família.

Asia, mãe de seu irmão caçula, também fazia-se presente na videochamada, juntamente a Alasca e ao seu querido Américo. A desculpa dada por Helionora para a presença da família Setembrino era a comemoração do aniversário de Gareth. "Mas eu posso falar com minha família quando for meu aniversário no Brasil", observara Gareth. "Ela revelará uma outra coisa que sua cegueira não é capaz de detectar", acertara Simonetta.

– Primeiramente, uma boa noite para todos aí do Brasil e uma feliz primavera para Gareth. – Iniciou Donatello. – Olá, Ruthy. Sinto saudades de nossas conversas espirituais. – Mencionou o padre ao avistar a ex-esposa de Luís Cláudio. – Preciso contar uma notícia de interesse de toda família. Gareth sabia disto parcialmente desde novembro, Simonetta desde de fevereiro e Helionora recentemente. Graças a ela, que também organizou essa videochamada internacional, podemos completar o resto do quebra-cabeça. É com imensa satisfação que revelo também ser um membro da família Garuzzo, mais especificamente filho biológico de Silvana.

– Mas o quê? – Indagara Simão. – Você não tinha sido achado na porta de um convento?

– Pai, por mais surpreendente que tudo isso pareça, a história foi totalmente confirmada pelas tias Silvana e Cecilia. – Interferiu Helionora. – Diante do impacto dessa revelação e do sentimento manifestado por Donatello, eu decidi que guardar segredos sobre a origem de uma amada não é a melhor saída. – Desabafara a capricorniana, olhando apaixonadamente para o fabuloso tio Américo. – Já cansei de sofrer por problemas familiares. Não quero que minha bambina também passe por isso. Eu devia pedir desculpas a todos, especialmente ao pai de minha família, por inventar essa história de inseminação artificial e produção independente. Não vou te tirar o direito de ser o pai de sua filha, Américo. – Concluíra.

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