CAPÍTULO 85

Há pouco mais de dois meses, em seu casamento com Luís Cláudio, Stella pensara ter enlouquecido. Sim, era comum bruxas terem visões com seres de outros planos. Não, não era comum elas verem Joana d'Arc em espírito, com armadura e tudo mais. Agora Stella sabia que sua mensageira podia ser, de fato, a heroína francesa. "Se você, minha xará, entrar pra essa família terá que se conformar em viver entre espadas e impedir nossas irmãs de irem para fogueira ao mesmo tempo que deverás salvar os discípulos de Roma de queimarem no fogo do Inferno", havia lhe dito a guerreira. Seriam os Garuzzi os discípulos de Roma? E quais seriam suas irmãs que deveriam ser salvas da fogueira?

De fato, o restante da profecia agora lhe era óbvia: a briga incomum entre Marcelo e Maria Marta, o aparente suicídio de Marcelo, o sequestro de Gareth e Simonetta e as revelações bombásticas da família Garuzzo. Qualquer um diria que foi uma péssima ideia entrar para aquela família, mas a filha da maléfica Virgo acreditava que tinha algumas missões para cumprir e que, se fosse da vontade da Deusa, ela usaria seus poderes para o bem.

Sua vista escurecera. Sua gravidez estava bastante avançada para ser só os sintomas desta. Duas mulheres se apresentaram e entre elas materializou-se um portal. Lá estavam Simonetta, Gareth e Gabriel. Lá estava a localização e a magia de aprisionamento quebrada. Simona, sua melhor amiga, estava sentindo as dores do parto. Ela precisava salvá-la, mas sem alardes.

– Asia, venha cá. – Sussurrou a futura mãe. – Simonetta está prestes a dar a luz. Eu poderia avisar isto para os outros, mas eles estão tendo revelações importantes! A magia de aprisionamento foi quebrada!

– Graças à Deusa. – Respondera a mãe de Gareth. – Mas como iremos regatá-la se já são 18h45 da noite?

– Eu sei dirigir e roubar carros sob encantamentos, mas acho que no meu estado não seja a melhor saída... – Desabafou a ariana.

– Tudo bem. – Respondeu a virginiana. –  Meu irmão Américo está aqui por perto, na kitnet que foi do meu filho. Desde do sequestro de Gareth e do desmaio de Alasca na igreja, ele não se sente confortável para voltar a lecionar em Vitória.

– Rápido! Sua neta não pode nascer no ninho das serpentes! – Ordenou Stella.

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Ginevra estava de frente aos seus filhos e prestes a dizer o segredo que lhe subjugara por tanto tempo. Um segredo que levou a outros segredos e logo após em tragédias. Ali estava Simão e os ex-cônjuges precisavam explicar que, ao menos, parte da tragédia podia ser evitada.

– Eu devo um pedido de desculpas aos meus três filhos. Eu sei que é difícil ser enganado e de, uma certa forma, eu enganei vocês. Eu e o Simão poderíamos ter evitado a loucura de Zeus, não porque somos obrigados a fazer o que os outros querem... – Confessou Ginevra. – Bem, Zeus fez o ex-noivo da Silvana desistir do casamento em troca de favores pessoais à sua família. Ele estava disposto a se tornar um rei ou pelos ter o primogênito rei, o que é uma grande loucura, já que a maioria das nações do mundo não são mais uma monarquia. Então ele decidiu desposar suas filhas... Ele já tinha estuprado Silvana e estava quase estuprando Cecilia quando dona Gaetana jogou-se na frente dele. Ele já era um louco, naquele dia estava mais louco ainda... De um certo modo, eu e Simão podíamos ter evitado.

– Não sou mais capaz de separar o real do que é fantasia, pois tudo que eu sempre considerei fantasia está mais presente na minha vida que minha própria pele. – Comentara Luís Cláudio. – Mamãe, você não pode se culpar pelo crime dos outros. Era uma situação em que você e papai também poderiam ter saídos mortos.

– Luís Cláudio, o buraco é um pouquinho mais embaixo... – Interrompera Simão. – Eu e sua mãe satisfazíamos perfeitamente o manuscrito.

– Eu fui fruto de um estupro, meus filhos. – Revelou Ginevra. – Minha mãe é irmã legítima de dona Gaetana, mas ela foi deserdada porque tinha um transtorno mental muito grave e desconhecido na época. Hoje nós provavelmente sabemos o que era. Então Marta qualquer deficiência que seus filhos tenha não é carma nenhum seu, mas apenas uma herança da minha mãe. O meu pai biológico era o tio do Simão, Hermes, mas ele aparentava ser tão sonso, tão bondoso, que se disséssemos em Gaeta que éramos primos-irmãos, as pessoas não acreditariam. Eles não sabiam da minha mãe, então somaria A com B e concluiriam que éramos meios-irmãos e impediriam nosso casamento. Me perdoem, filhos, mas eu amava demais o seu pai para deixar isso acontecer. Me perdoem. – Implorou Gina, antes de sair abruptamente da sala.

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Simonetta estava de olhos fechados mas conseguira visualizar a ajuda que estava chegando: duas fortes magas e um anjo amigo estavam saindo da antiga kitnet de Gareth ao seu encontro. Aquilo não parecia ser um poder seu, mas sim da garota que carregava em seu ventre. A criança, parecendo adivinhar o que sua mãe sentira, largara um choro da barriga mesmo: uma nova bruxa, em breve, chegaria à Terra.

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A filha de Gareth era uma das coisas mais bonitas avistadas por ele. Graças à sua mãe, seu tio, sua amiga e à Deusa, Gareth podia contemplar Olívia completamente saudável e com vida. Não fora fácil a semana em que ele, sua esposa e seu primogênito passaram no cativeiro. Gareth se viu em uma encruzilhada: ou ele seguiria os seus valores tendo como consequência a morte de sua amada e dos seus filhos ou sucumbiria às trevas em troca de uma família que talvez nunca tivesse ter começado.

– Mãe, como uma pessoa pode ser tão ruim ao ponto de querer levar minha pequena pouco depois do nascimento? Por qual razão, que eu não consigo entender, ela faria isso?

– Virgo nunca se conformou com meu abandono. E acho que ela sente o mesmo em relação à Simonetta. – Opinou Asia. – Por mais absurdo que pareça, meu filho, algumas de nós já sacrificamos muitas crianças puras, mas com um alto potencial de pecado, para conseguir coisas praticamente impossíveis. Eu não sei o que ela tá querendo, mas eu, Stella e sua prima vamos reforçar os feitiços de proteção. Não consigo dizer quanto tempo isso irá durar, mas eu prometo que daria minha vida para ver a tua.

– Obrigado, mãe. Eu devo lhe pedir desculpas mais uma vez. Nunca entendi o por quê de você me proteger tanto, de me ocultar tantos fatos. Agora eu sei que tanto por Gabriel quanto por Olívia eu faria qualquer coisa, mesmo que uma das consequências fosse um ódio gratuito da parte deles. – Desabafou Gareth. – Sou muito grato por ser teu filho. Eu te amo!

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Não. Mikhael não sentia pena alguma das últimas grandes bombas estouradas para o lado da família Garuzzo. Mas, enquanto seu plano estivesse em andamento, ele devia fingir que sentira compaixão. O que era aquilo? Ele não sabia, mas devia imitar qualquer ser humano idiota que pudesse ter aquilo, com um grande destaque ao seu desamado irmão falecido.

– Fico feliz que a rainha Simonetta e sua família 100% dentro dos protocolos da realeza tenha vindo prestigiar o meu anúncio. Fico mais feliz ainda de ver vocês se humilhando diante da minha pessoa, depois de tanta ingratidão manifestada.

– Só vim aqui por interesses dos meus primos e da minha tia. Você pra mim sempre terá um valor menor que um zero à esquerda. – Reagiu Simonetta.

– Foi pela paz e pelo bem dos meus sobrinhos que eu e Maria Marta conversamos durantes os últimos dias tão conturbados. Eu não espero que você largue seu maridinho depois deste anúncio, mas diante das suas inclinações excêntricas eu me sentiria à vontade se você quisesse, Mona.

– Não ligue para as provocações de Mikhael, Simonetta. – Interferiu a escorpiana. – A única pessoa obrigada a aguentar isso de agora por diante será eu. Não é o caminho mais óbvio, mas é o mais simples. Eu já estou morta mesmo. Eu e Mikhael iremos no casar.

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