Capítulo 83
CAPÍTULO 83
Alasca poderia ter evitado que as coisas para a família Garuzzo se tornassem piores do que já estavam. Ela estava lá descobrindo-se apaixonada por uma criança de 14 anos (uma criança muito inteligente, inclusive), enquanto poderia prestar atenção nos arredores de Simonetta. Ela era uma bruxa novata, de fato, mas deveria ter pressentido a magia de Virgo. Assim, a jovem estudante de Matemática entrou na igrejinha do cemitério onde Marcelo fora enterrado. Era tão trágico que as melhores pessoas morressem assim tão cedo. Ela não queria que isso se repetisse com Gareth, seu primo e amigo desde sempre. Gareth ainda não havia notado, mas ele era uma pessoa muito boa.
Ela encarava a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Seria esse um castigo por ter deixado sua devoção por uma aventura? De repente o céu, antes azul claro com tons de laranja, tornou-se azul-escuro. Não. Aquela igreja em que Alasca se encontrava não era a igrejinha do cemitério em que o pai de Eden fora enterrado. Era uma igreja medieval, de fato. "Capela de São Pedro Balsemão, a igreja mais antiga de Portugal", disse-lhe uma voz acolhedora. "Venha Alasca, vou te levar até o ano de 1444, quando eu e minhas irmãs fugíamos da Inquisição."
Aquela voz acolhedora não era de ninguém menos que Lua, a bruxa que apresentou-se durante a iniciação de Alasca.
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Se o Inferno fosse realmente pior que a Terra, Maria Marta não sabia se queria estar lá tão cedo. Sim, se uma consequência de seus pecados fora perder Marcelo terrivelmente daquele jeito, Marta definitivamente não teria direito de entrar no Céu. Ela não poderia se conformar. Nunca. O homem que lhe abraçara, quando fora rejeitada pelas madres superioras do Convento São Francisco, partira. Madres estas que lhe rejeitaram corretamente, depois de ouvirem a confissão da então jovem.
Enquanto isso, o restante dos Garuzzi estavam eufóricos. Não era para menos. Gareth, Simonetta e seus filhos foram sequestrados pela horripilante, irmã da não-menos bruxa da Maytê, sua agora ex-sogra. Gareth. Maria Marta não conseguia esquecer que um dos maiores pecados visíveis da sua família foi culpa indireta dela.
– As lágrimas de crocodilo caem bem em você. – Provocou Mikhael, aproveitando que quase todos os Garuzzi estavam preocupados com Gareth e Simonetta. – Felizmente nenhum tipo de lágrima cai bem no meu rosto esbelto. Eu poderia até chorar, só de pensar o quanto o meu irmão sofreu vivendo com uma víbora, mas prefiro olhar o lado bom das coisas: finalmente vou ter direito às minhas ações na S.V. e ao controle das propriedades do meu falecido pai.
– Não entendo o que você quer dizer, seu crápula. – Reagiu Maria Marta. – Os meus filhos, como herdeiros do Marcelo, têm direito ao que era do pai deles e, se depender de mim, você não irá colocar as mãos nesse patrimônio.
– Se dependesse de você seus filhos estavam tomando uma poção sem eficácia para se tornarem perfeitos. Ainda bem que o meu irmão ouviu os meus conselhos, antes de cometer àquela loucura, e pediu ao juiz para afastar seus filhos de você e da sua família. Na falta do pai, eles terão um tio e uma avó super amorosos. – Revelou Mikhael. – Se depender de mim, meus sobrinhos nunca mais irão sofrer com as maldades desse mundo, inclusive com as da mãe deles. É muito fácil fazer aqueles idiotas mirins terem um surto completamente debilitante só de revelar o que eu sei de você.
– Você não vai tocar sua mão suja neles. Posso não ser a melhor mãe do mundo, mas não entregarei meus filhos aos demônios. – Defendeu-se a viúva. – Ouviu, está bem claro? Independente do que você saiba de mim, eu não vou deixar você atingir meus filhos com isso!
– Por isso que venho propor uma solução para nós dois: você poderá ficar com os seus filhotes de ovelha branca e eu poderei me infiltrar na empresa de seu pai e ser tutor dos seus filhotes! – Sugeriu o malvado. – Eu sei que você gosta de casamentos de fachadas, por isso vim lhe propor um. – Debochou o pilantra.
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Donatello estava cheio da energia ansiosa que se alastrava naquele cemitério. O padre, que gostava de praticar missões mas não as sobrenaturais, decidira desabafar com Deus. Qual não foi a sua surpresa ao ver aquela jovem, de roupa incomum e flores entre os cabelos, desmaiada no meio do altar? Se Donatello não se enganava aquela moça era prima de Gareth e mexia com coisas nada cristãs. O que ela estaria fazendo ali?
– Ei, moçoila! – Chamou Donatello. – Acorde, por favor.
– Ahn, onde estou? Estou nesse século? – Indagou a jovem feiticeira.
– Sim, século 21, dia 10 de novembro de 2015. O que aconteceu com você? – Perguntou o padre.
– Eu te conheço. – Disse Alasca, confusa. – Você é um padre, amigo das tias do Gareth. Será que posso confiar em você?
– De qualquer forma, como você mesma disse eu sou um padre. O que você disser ficará guardado como segredo de confissão.
– Eu tive uma visão. Uma visão da época medieval, mas precisamente com bruxas. – Confessou Alasca. – Quem me levou para essa visão foi uma bruxa que me apareceu no meu processo de iniciação. O nome dela é Lua e ela me levou para o ano de 1444, em Portugal. Elas estavam esperando por algum espírito, mas não era o espírito de outra bruxa. Era o espírito de um ser angélico. Quando esse espírito apareceu me disse que veio em nome de South's Virgo. As ordens eram para que elas se camuflam-se com as freiras e escrevem-se o que sabia sobre magia e a criação das coisas e guardassem em Roma. Disse também que todo dom que se manifestava na Terra, era permitido por South's Virgo e que as meninas tivessem cuidado com as pessoas radicais da Igreja Católica e com os espíritos não-benevolentes que apareceriam para elas. – Desabafou. – Depois disto só me lembro de te ver me acordando.
– Embora eu não seja fã de práticas ocultistas, acredito na aparição de anjos e seres do céu. – Respondeu o italiano. – Eu sei disso, pois a própria mãe de Deus se manifestou bastante no século passado. E, de fato, a Igreja Católica escondeu em suas bibliotecas muitos livros de magia e não foi só por medo das pessoas entrarem no pecado. Talvez tenhamos que aprender bastante com nossas irmãs pagãs. Não te prometo nada, mas vou tentar recuperar esses escritos para você. Se for pelo mal, ele não há de conseguir invadir a nossa tenda. Se for pelo bem, talvez consigamos a sonhada unificação entre os povos.
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Asia jamais levantara a hipótese de sofrer mais por Gareth do que na época em que ele fora apreendido. De lá para cá seu filho fora estuprado, lhe virou as costas, tentou suicídio e, agora, o pior: fora sequestrado pela repugnante Virgo. Asia, Stella e até a Alasca, a inexperiente e distraída sobrinha de Asia, juntaram forças para descobrir o paradeiro do filho e da nora, mas sem sucesso. Já haviam se passado seis dias desde então.
– Se a Virgo realmente levou Gareth e Simonetta pro mesmo lugar que foi meu cativeiro, temo que só um feitiço interno possa quebrar a névoa de magia. Além disso ela deve tá contando com a ajuda de outras feiticeiras. – Revelou Stella. – Se esse for o caso eu posso tentar uma reconciliação com ela, mas não posso deixar nada de mal acontecer com a Mona e o Gare, se é que já não aconteceu.
– Não, minha querida, você não deve se arriscar por causa dessa maldita! Além disso, você também está grávida e precisa se proteger. Devemos salvar a todos, não trocar uns pelos outros.
– Ainda não consigo tirar da minha cabeça que tudo isso poderia ter sido evitado por mim. – Desabafou Alasca. – Eu deveria ter sentido a presença maligna da Virgo em vez de dar uma de papa anjo...
– Não se culpe, minha querida. Isso não levará você nem ninguém para o lugar algum. O jeito é usar diversos feitiços em conjunto para impedir a capacidade de Virgo fazer alguma coisa ruins com eles, mesmo isso sendo muito difícil já que...
Antes de concluir a frase, Asia sentira uma aura pesada entrar ao redor do jardim de Simão Garuzzo. Evidentemente aquela não era a aura de Virgo, nem de sua irmã ou seu sobrinho, pois mesmo estas sendo também deveras pesadas, eram conhecidas de Asia.
– Consegue sentir esta aura negra, Stella? – Indagou Asia. – Não me lembro de tê-la em meu radar.
– Eu não sentia aura alguma, mas já que você falou, posso notar uma energia estranha aqui, mas nada que eu não tivesse contato ...
– Esperem um pouco, garotas. Se protejam. – Pediu Asia. – O portador desta aura está chegando no jardim.
Aproximadamente vinte segundos depois, o homem de cabelos brancos e olhos da cor do oceano invadira o jardim. Stella dera alguns passos para trás, mostrando involuntariamente que conhecia aquele homem. Na verdade, a própria Asia já tinha o visto uma vez, no batizado de Gabriel.
– Não se preocupe, minhas damas, eu não vim fazer-lhes nenhum mal, nem a vocês nem a mais ninguém. – Disse Zeus. – Eu só quero pedir perdão aos meus três filhos.
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