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Capítulo 75

CAPÍTULO 75

Samantha estava se convertendo a um novo tipo de conduta. Talvez fosse a adolescência chegando. Talvez fosse o afastamento de Luís Cláudio e Ruthy e aproximação com outros tipos de adolescentes e jovens adultos. Mas de todas as suposições o bilhete de Simonetta era a mais plausível.

Agora, Samantha se via dormindo na casa de Mônica, segurando um colar entregue pela vadia da amante de seu pai e esperando a bruxa (literalmente) da Mirella sair com a amiga bruxa (literalmente também) dela.

– Ei, você já viu a Mirella fazendo feitiços? – Perguntou Samantha para Mônica. – Volta e meia a vadia da Stella faz feitiços caseiros para agradar meu pai. Ele adora isso, fica como um louco apaixonado.

– Para, Sam! A Stella é muito mais gente boa que a minha irmã. – Respondeu Mônica. – Feitiço, feitiço, eu não vi, mas eu a vi conversando com uma mulher assustadora. Você devia dar uma chance a ela.

– Não sei se eu posso, minha vida virou de cabeça pra baixo e essa mulher é filha da bandida que sequestrou minha irmã. Ela pode até ser amiga da Simonetta, mas eu não confio nela.

As duas amigas estavam vagando pela cidade à procura de Mirella e Yves e, consequentemente, de Jonathan.

– Está escutando esse barulho? – Desconversou Mônica. – Será que ela e a Yves vão para o encontro? Essa é a nossa chance.

– Eu estou com o GPS e a câmera aqui. De qualquer forma, é perigoso. – Reforçou Samantha. – Tem certeza que elas não vão nos descobrir e cortar nossos pescoços?

– É só recitarmos o feitiço que a Stella nos deu. – Sugeriu. – Elas não verão a gente.

– Nunca imaginei que faria um feitiço em minha vida. – Confessou Samantha.

– Nem eu. – Concordou Mônica.

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Helionora já havia quebrado a cabeça diversas vezes, principalmente na faculdade, mas nenhum problema se comparava ao de montar a árvore biológica de sua família. A psicóloga crescera achando ser a irmã mais nova, até que em 2015 descobrira ter um irmão mais novo (que por acaso também era o parceiro sexual de sua sobrinha mais velha). Agora, a cerca de uma semana, descobrira que seu avô paterno, Zeus, estava vivo e que era a maior pedra no sapato da família Garuzzo nos últimos milênios.

Recapitulando: Zeus havia aparecido no batizado de Gabriel e deixado Simão Garuzzo, pai de Helionora, literalmente paralisado. Por sorte, Ginevra já sabia da volta de Zeus ao Brasil e tramara com Isaías Costa o exílio do italiano em Vitória. A psicóloga não percebera bem quando foi que sua mãe e Isaías se tornaram tão próximos, mas isso não era seu problema central, já que, diante de incertezas e novidades a serem acrescentadas à história da família Garuzzo, Helionora fracassara na tentativa de ouvir esclarecimentos de Gina ou até mesmo de Simão, filho do misterioso homem.

O telefone de Helionora tocou. Será que era Américo? O professor de Matemática tinha que conviver com a controladora de sua esposa, Diana, por culpa de Helionora. Sim, Helionora preferia que Alasca vissem seus pais morando juntos e aparentemente felizes até o dia que conseguisse morar sozinha. Não, Helionora não queria casar com Américo e nem viver aqueles contos de fadas, muito menos fazer Alasca passar pelo que ela passara. Pensando nisso, Helionora fora atender a ligação. Não era de Américo, sim de Simonetta.

– Oi, Mona. Tudo bem? Se for pelo coquetel do Gareth, não se preocupe. Já acertei todos os detalhes.

– Não, tia. É uma coisa melhor. – Animou-se Simonetta ao dizer. – O plano meu e das meninas deu certo. O Jonathan Muniz acaba de ser preso!

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Infelizmente Silvana não veio com Cecilia o Brasil e esta, de certa forma, já sabia que não viria. Felizmente Donatello veio em seu lugar, mesmo falando de modo ininterrupto sobre o Brasil ser o País do Evangelho, sua teoria espírita favorita.

– Depois dessa noite a gente se separa, certo? – Indagou Donatello. – Você fica com o Simão e eu vou para Vitória observar Zeus. Tudo bem?

– Na medida do possível, sim. – Respondeu Cecilia. – O Simão precisa muito do meu apoio. Depois de apaziguar os ânimos voltarei para Gaeta e você continuará aqui no Brasil cuidando de meu pai.

– Eu sei que o que seu pai fez deve ter sido muito grave, para ficar 40 anos na prisão, mas foi tão grave ao ponto de duas freiras não permitissem perdoá-lo?

– Não que a gente já não o tenha o perdoado, Donatello. – Comentou a freira italiana. – Mas tem algumas coisas que são difíceis de esquecer, muito difíceis. – Desabafou.

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Mikhael sabia como ninguém, naquela cidade de medíocres, o que queria na vida. Entre suas metas estavam o controle total da herança de seu pai, a sociedade majoritária da S.V. Comunicações e o corpo de Simonetta Garuzzo.

– Calma, mamãe, tudo está conforme o planejado. Um amigo meu vai acusar o Marcelo de improbidade administrativa e finalmente a gente vai poder usar a Fundação Lúcio Leão para negócios realmente lucrativos. – Dizia Mikhael para sua mãe, enquanto dava estocadas em Diana.

– Amor, termine rápido essa conversa. Precisamos terminar nossa seção relaxante para que eu posar voltar pro meu papel de esposa devota. – Cochichou Diana.

– Não se preocupe, mãe. Logo, logo estarei de volta a Salvador. Sim, o processo de autodestruição da família Garuzzo vai começar em breve. – Esclareceu Mikhael, desligando o telefone.

– Ei, será que tudo vai dar certo mesmo? – Questionou a falsa. – A pessoa que você implantou vai ser capaz de pôr o caçulinha do seu ex-padrasto em combustão?

– Sim e tudo isso graças a você. Em breve, na sua casa, você terá notícias da desgraça do seu querido sobrinho. – Revelou Mikhael, debochado e voltando a fazer a amante a gemer logo em seguida.

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A trajetória de estudos de Gareth foi árdua, mas finalmente estaria sendo premiada naquele dia. Graças às imposições de Martins Herrera o empresário de filmes adultos, Lázaro Herrera, irmão deste, havia sumido de sua vida e Gareth esperava que fosse para sempre.

– O Muniz está querendo abrir uma nova coleção de revistas, meu amor, desta vez relacionadas aos esportes. Será que tudo isso é para esquecer que o filho dele foi preso? – Perguntou Simonetta ao marido.

– Acho que não é só por isso. A Didática de Munique está crescendo muito e ele decidiu se arriscar mais, na minha opinião. – Opinou Gareth.

– Espero que a Nathalia seja solta logo e que meu maridinho tire a nota máxima nesse TCC.

– Espere que a sua menstruação não atrase mais uma semana. – Brincou Gareth.

Gareth podia lembrar de cada passo e de todos os motivos para seguir adiante. A vida no reformatório foi um inferno, cercada de mágoas e estupros constantes. Até que um dia Gareth roubara um livro da sala do delegado Isaías Costa, hoje seu amigo, e começara a se apaixonar pelo mundo dos negócios. Depois disso veio a liberdade, a aprovação no vestibular, a mudança para Salvador, o turbilhão de sentimentos que o encontro com a família Garuzzo despertava. Além disso, quase nove anos após sua entrada para o mundo do crime, o economista conseguiu construir uma família: Simonetta, Gabriel e quem sabe mais alguém a caminho.

Era preciso seguir adiante e foi com essas lembranças que Gareth tirou 9,5 no seu TCC, intitulado "A importância da diplomacia internacional para o crescimento da Economia Nacional".

– Parabéns, meu amor! – Gritou Simonetta, que estava sentada nas primeiras cadeiras, ninando Gabriel para que não atrapalhasse a apresentação do pai. – Não foi perfeito, mas isso é bom, para que corramos atrás da perfeição.

– A única coisa digna de perfeição nesse mundo é você, Mona. – Declarou-se Gareth.

– Bem, eu sei que prometemos que não teríamos mais segredos, mas esse que eu guardei foi por uma boa causa. O Muniz me ligou hoje cedo e disse que iria ficar responsável pelo coquetel da aprovação da sua monografia. O Leônidas já sabia disso, mas não tinha me contado. E sim, o Muniz quer te apresentar o novo sócio.

Tudo terminaria perfeito e não era o 9,5 que impedira a perfeição. Na verdade tudo terminou da forma mais trágica possível. Infelizmente Gareth não estava preparado para rever aquele homem. Infelizmente.

– Gare, o que foi? Você tá se sentindo mal? – Perguntou Simonetta.

– Mona, eu preciso ir ao banheiro e depois disso eu, você e o Gabriel vamos voltar para casa. – Pediu o filho caçula de Simão.

– Por quê? O que está acontecendo? Você não ficou assim nem quando Zeus apareceu e ele era, literalmente, um fantasma.

– Eu conheço o novo sócio de João Muniz. – Confessou o geminiano. – Eu o conheço há muito tempo. Ele é o homem que eu tentei matar.

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