Capítulo 68
CAPÍTULO 68
Virgo era a bruxa maléfica mais paciente do mundo. Depois de passar 20 anos sob a maldição de Asia Iscariotes, agora tinha que aguentar três bruxos portugueses fãs de K-pop e dois bandidos degenerados que seriam procurados até nas Santas Portas do Inferno.
– Como está o meu disfarce, mestra? – Perguntou Theo, que fazia cosplay de um ninja.
– Não existem bruxos ninjas, Theo. – Comentou Nicholas.
– Podemos inovar e ser os primeiros. – Disse Yves. – "Jeongsukhae boijiman, nol ttaen noneun yeoja." – Cantou a bruxa portuguesa.
– Ei, vocês dois. – Chamou Virgo, chamando atenção de Cássio e Nicholas. – Implantem esses três e essas ervas perto da Stellium, da minha querida filha Johana. Lá passa muito aprendiz de feiticeiro.
– Nós vamos enfeitiçar o pessoal e trazer para tua toca, mestra? – Indagou Bento, o terceiro bruxo K-popper.
– Não. Eu já disse que não. Vocês vão vender as ervas como se fossem docinhos e drogas, até os postulantes se viciarem e começarem a ter alucinações e visões comigo e com a deusa Lilith.
– Se eles encherem demais o meu saco, posso matá-los? – Questionou Cássio.
– Não. Vocês não vão fazer isso, tá bem? Já basta a mais recente morte que está nas costas de ambos. – Revelou Virgo.
– Não matamos ninguém que eu sabia... – Disse Nicholas.
– Foi uma tal de Izabel que morreu enforcada em um quarto cheio de galhos de árvores podres e tristeza. – Interveio Yves. – Eu vi.
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A lua de mel de Simonetta em Teixeira de Freitas tinha sido adiada e definitivamente estragada. Mesmo que Nathalia não fosse sua amiga, ela iria ao enterro. Mesmo que ela não fosse ao enterro, não teria clima algum. Mesmo que houvesse clima, Gareth não conseguiria parar de chorar na hora do amor. O motivo: Nathalia gritando como uma louca que a culpa foi de um Cássio e do seu tio Nicholas. Cássio e Nicholas. Sim. Os mesmos do filme "Os estupradores do meu marido" estrelaram "Estelionato e suicídio da cunhada do meu amante".
Luís Cláudio, pai da gestante, parecia ter voltado a realidade por instantes. O pai de Simonetta estava acompanhado de Maria Marta e Marcelo no enterro e sua feição não era mais de ódio, nem de raiva, apenas de compaixão. Talvez a compaixão tivesse recuperado o lado humano sentimental de Luís Cláudio, porque o lado humano racional estava insuportável.
Gareth estava entalado com toda aquela situação e não era por menos. Cássio e Nicholas estavam a solta e podiam querer se vingar dele a qualquer momento. Deixando o marido e as intrigas de lado, Simonetta dirigiu-se até Nathalia, que estava em estado de choque.
– Forças! Essa dor um dia vai ser atenuada. – E abraçou a ex-colega.
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Luís Cláudio estava com olhares de cachorro sem dono para Stella. Cachorro sem dono não, gato sem dona. Stella sentia muito e o perdoava, mas não daria o braço a torcer tão fácil. Outra pessoa por quem Stella sentia muito era João Muniz, sogro da falecida, que fora envolvido nas picuinhas e intrigas apaixonantes de Luís Cláudio e dela. Não seria uma má ideia ela ganhar dinheiro como Consultora Bibliográfica ou Projeto de Teóloga Wicca. Além disso, Stellium realmente não estava tão segura. Virgo poderia menosprezar a filha, mas ela tinha visto no seu copo de chá cinco maus-caracteres se aproximando de sua zona de comando, com umas ervas desconhecidas na mochila. E os cinco maus caráteres haviam sido mandados pela Virgo: ela também tinha visto isso no copo de chá.
Desde que Stella teve que fugir com Simonetta do cativeiro ela teve que aprender a usar alguns feitiços de proteção, de controle e de charme. Primeiro: para sua mãe não lhe fazer nenhum mal "bem-intencionado"; segundo: para ela não se tornar o que mais odiava, uma bruxa gananciosa e descontrolada como Virgo; terceiro: para se formar na escola e isso incluía fazer algumas pessoas se passarem por seus responsáveis.
Isso fez Stella lembrar que apesar de Luís Cláudio ter errado feio e errado rude tentando negociar sua loja por ela, esta era uma maneira que ele havia encontrado de protegê-la de Virgo. E aquilo que ela faria não faria ela submissa nem uma mulher frágil, muito pelo contrário, faria dela uma mulher sensata e humana como toda mulher deveria ser naqueles tempos pré-apocalípticos.
Ela se aproximou do avô de Nathalia, então, sentindo algo totalmente estranho. De repente, ela sentiu Hécate se aproximar em espírito dela e dizer: "Vai, porque você indo, Virgo não terá mais nenhum poder sobre você e suas escolhas." E ela foi.
– João. – Chamou Stella, vendo o senhor visivelmente abalado se virar para ela. – Eu sou Johana Stellium Darcano e eu voltei parcialmente atrás em relação ao acordo idiota feito pelo meu namorado, que está com um olhar de leão sem dona. Não vendo minha loja, mas aceito ser sua consultora bibliográfica junto com a Simonetta. – Desembuchou, por fim.
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A imagem da mulher morta por Cássio e Nicholas fora bem mais assustadora do que os insultos descabidos de Luís Cláudio. Sim, aquela mulher havia sido morta por eles, já que a ganância desenfreada de ambos a levaram ao suicídio. "Não se brinca com sentimentos, Cássio", pensou Gareth. "Não se mata alguém por dinheiro, não se atira em alguém por dinheiro, Gareth", direcionou Gareth a si mesmo, lembrando dos atos que lhe levaram a UNIMES.
Os pensamentos de Gareth foram interrompidos pelas mensagens de seu orientador, Martins Herrera. Martins estava agindo estranho ultimamente. "Por forças maiores eu não posso ir ao seu casamento", havia dito o professor monarquista a Gareth. O docente com fama de maluco parecia realmente que estava fora da razão: no enterro de Izabel havia mandado diversas mensagens. Exemplos: "(1)Saia imediatamente desse enterro e vai terminar tudo que eu lhe mandei até o dia 25. Corra, Gareth "; "(2) Se você não for curtir imediatamente a lua de mel com sua esposa num lugar onde só as bruxas saibam, eu não te oriento mais"; " (3) É sério, Gareth, saia desse enterro, eu te amo, mio ragazzo."
– O que foi, meu amor? – Perguntou Simonetta. – Você não parece está bem. O que é que tá acontecendo?
– O meu orientador de TCC está se comportando mais estranho que o habitual dele. Tudo piorou nessa semana que antecedeu nosso casamento. – Respondeu Gareth. – Agora mesmo ele está me implorando para sair desse enterro. Será que ele tem algum ranço ou remorso de pessoas suicidas? Eu iria me tornar um.
– Graças a Deus que você não se tornou. Você não merece o umbral, meu querido. Segundo minha mãe e os amigos-secretos dela lá é um lugar horrível. Você merece apenas coisas boas, até depois da morte, por causa de seu enorme coração. Eu te amo. Se você não estiver se sentindo confortável, podemos voltar para casa.
– Obrigado, meu amor, mas eu não irei fazer isso. Se estou neste enterro, é para amenizar o luto dos familiares. Logo devo ficar até o fim. A vida segue.
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Em partes Simonetta agradecia ao fato de Gareth está com a cabeça no mundo da lua. Só assim era possível ele não perceber os olhares de reprovação das amigas de terço de sua tia Maria Marta e da finada. As crianças, principalmente as mais grandinhas, eram afastadas constantemente do casal. Depois do enterro da mãe de Nathalia, ela começou a fazer um discurso sobre a mãe. Trazia consigo um diário na mão.
– Eu queria ter forças para falar tudo que me aflige, mas infelizmente não as tenho. Agradeço a todos, tanto aos amigos, quanto aos rivais, que vieram me acompanhar e sentem empatia com minha dor. Aqui eu trago o diário da minha mãe e entrego ele ao meu avô, João Muniz. Foi por esse diário que fiquei sabendo o que os criminosos foragidos fizeram com a minha mãe...
– Não existe verdade completa. – Gritou um homem no meio da multidão. – Eu queria agradecer muito a esses dois foragidos, não pelo que fizeram com sua mãe, mocinha, mas pelo maravilhoso monstro que eles ajudaram a criar. Fico muito feliz com as voltas que o mundo dá, principalmente aquelas que favorecem à minha indústria e a minha empresa. Sei que duas pessoas que interessam a ela estão aqui e sei que elas não vão demorar muito tempo fingindo uma moralidade parcial que obviamente não têm. Eles passarão em breve para o lado selvagem da força.
– Chega! – Gritou outro homem na multidão, dessa vez reconhecido por Simonetta: o professor monarca maluco. – Se você continuar com essa sua ideia besta eu e Regiane vamos tirar de você até o último resto da herança de papai e mamãe. Não é sua opinião sobre um assunto que vai lhe dizer tudo que é certo ou que é errado. Você não tem direito de dar o julgamento final a ninguém, nem ninguém aqui por mais santo que seja.
– Meu Deus, o que o Martins está fazendo aqui? Ele enlouqueceu de vez. – Disse Gareth baixinho à Simonetta.
– Eu acho que ele quis nos alertar. Acho não, sinto. – Respondeu Simonetta.
– Falsos moralistas. – Falou o interlocutor de Martins Herrera. – Você não vai conseguir proteger seu pupilo pra sempre do lado mais selvagem dele. Então antes que qualquer coisa macabra se manifeste por aqui eu faço o seguinte anúncio: Gareth e Simonetta Garuzzo aceitam serem protagonistas dos filmes adultos de minha empresa? É uma proposta ...
Felizmente antes do senhor, que parecia ser irmão de Martins Herrera, continuar falando aquelas palavras cortantes, mas que correspondiam ao pensamento de 99% da população, Asia e Alasca Adams apareceram numa carruagem, abriram um campo magnético pela multidão e resgataram Gareth e Simonetta, lembrando antes de deixarem a língua daquele homem enrolada por um bom tempo.
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Stella estava inconformada com o que as pessoas poderiam pensar de Gareth e Simonetta. Apesar da união deles ser pouco convencional e altamente não-indicada, eles não tratavam-se de animais selvagens, nem de pessoas a serem evitadas.
A bruxa só fora acalmada destes pensamentos depois que escutou uma voz masculina forte cantando, provavelmente em italiano, a sua música preferida.
– "Forse bastava respirare, solo respirare un pò. Fino a riprendersi a ogni battito, e non cercare l'attimo, por andar via." – Cantava em italiano perfeito o filho mais velho de Simão Garuzzo, que estava acompanhado de dois músicos.
Luís sabia que Stella preferia a versão em espanhol da música, En Cambio No, mas, como bom descendente de italianos, preferira cantar a versão em italiano, Invece No, para a namorada.
– O que tu queres agora Luís Cláudio Garuzzo Agnesi? Os últimos acontecimentos não foram suficientes para te aquietarem o coração? – Indagou Stella.
– Venho fazer as pazes. Não posso viver sem notícias de minha filha. – Disse o historiador interrompendo a música. – Muito menos sem você. Me perdoa?
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