Capítulo 56
CAPÍTULO 56
Luís Cláudio tinha uma reputação para manter e isso significava manter a reputação de sua primogênita também. O professor universitário, cujo hobby era averiguar os negócios do pai, também gravava palestras e postava-as no YouTube. Em alguns dos comentários do vídeo "A História da Padroeira do Brasil" do historiador ele era mencionado como Luís Laio (sim, o Rei Laio aquele que foi morto pelo filho e teve a esposa roubada também por ele) e em outros perguntavam-se se os Garuzzi eram tão católicos ao ponto de tentar reproduzir o caso de Ló e suas filhas.
Luís não se achava um supremo sábio, nem parte da realeza (mesmo a família Garuzzo sendo muito rica), mas se achava sensato e deveria manter o nome de sua família minimamente respeitado entre os polos econômicos nordestinos. Sim, ele sabia que certas tias suas, as sacerdotisas, viriam em breve para lá. Soube disso justamente pelos comentários no YouTube, de um outro descendente de italianos, que ouvira falar do grande dilúvio feito por Cecilia e Silvana no convento de Gaeta. As mulheres de sua casa ainda não sabiam, mas ficaram informadas da visita instantes antes ao ouvirem um carro de som cantando "Viver Pra Mim É Cristo" ao redor de sua humilde residência. Sim, ele sabia que isso era ideia da tia Cecilia.
– Estão vindo pizzas da Itália! – Exclamara Samantha, descendo rapidamente as escadas.
– Está vindo a comitiva pró-vida e pró-santidade da Itália, você quis dizer. – Completou Simonetta sorrindo.
– Essa grande ideia foi sua, Luís Cláudio? – Questionou Ruthy.
– Não, a autora dessa ideia tem cinco nomes e atende pela sigla MMGAL.
Poucos instantes depois, Luís contemplava a invasão de suas tias e seu acompanhante à sua casa.
– Viemos em uma missão complicada no nome santo de Nosso Senhor Jesus Cristo. – Revelou Cecilia, que já tinha feito amizade com Dona Elisa, consequentemente conseguindo entrar na casa do sobrinho mais velho.
– Precisamos combater a Serpente de todas as formas, meu querido sobrinho. – Continuou Silvana.
– Você não pode mandar retirar o seu neto, Lully. Nós temos uma solução em Cristo para isso. – Afirmou Cecilia.
– As minhas santas tias podem ter uma solução em Cristo, mas a Simonetta é capaz de driblar até o Diabo. – Concluiu, contrariado, Luís Cláudio.
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Simonetta ficou extremamente feliz com a vinda da comitiva mais absurdamente católica de sua família. Sim, Simona não poderia falar que tem uma melhor amiga bruxa para elas, mas o apelo pró-vida das tias-avós freiras seria muito bem-vindo.
– Vou nem discutir com o papai mais. Essa mania dele de não querer manchar a reputação da família não faz ele ver o óbvio: nada mais pode ser desfeito e nem escondido por muito tempo. – Desabafou Simonetta.
Ruthy levara as meninas e o moço gringo para a cozinha e lhes serviu café com tapioca. O estrangeiro parecia maravilhado até com a mobília da casa de Ruthy e Luís Cláudio. Simonetta achava estranho o comportamento do padre, mas tudo em sua humilde existência era simplesmente estranho.
– Ouvi falar que o Brasil também era o país do café, mas espanto-me com esse sabor único. É também uma noção muito bela e alegre. O senhor Deus escolhera bem o País do Evangelho! –Admirou-se Donatello.
– Não fale nada disto com tuas amigas. – Aconselhou Ruthy. – Talvez, por se entregar de corpo e alma ao sacerdócio, elas não queiram ouvir coisas de outras religiões. E, falando sério, eu nunca vi um padre espírita.
– Eu não sou, de maneira alguma, espírita. Sou muito católico, eu diria que fervoroso. –Respondeu o padre. – Apenas não sigo completamente as orientações de meus superiores. Busco em outras culturas algo que complemente minha fé e me faça entender o que o Nosso Senhor Jesus Cristo quer de mim.
– Bravo, bravo, bravo! – Manifestou-se Simonetta, batendo palmas. – Eu e o neném te amamos desde já. Aliás, a avó dele é uma feiticeira.
– Eu vou fingir que o espiritismo que vocês estão falando aí seja o da novela Escrito nas Estrelas. – Comentou Samantha.
– Mãe, depois que a senhora palestrar sobre o Espiritismo no Brasil para o nosso convidado, quero sua atenção urgentemente. É importante. – Segredou Simonetta.
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Gareth sempre quis que as pessoas lhe olhassem e julgassem por algo que não fosse o fato dele ser um ex-ladrão. Esse dia chegou e foi da pior forma possível. O capixaba havia entregado à coordenação do curso atestados médicos que lhe livravam das faltas. Até aí tudo bem. O complicado mesmo foi quando foi tirar dúvidas com seus professores: eles inventavam qualquer coisa para não atender a Gareth. Acompanhando a atitude dos professores, seus colegas de curso se levantavam de seus lugares, irritados com a simples presença de Gareth. Atrevido, ali parecia ter um só, o professor economista monarquista, Martins Herrera, dito o louco.
– Eu já li muito sobre a dinastia dos Hasbsurgos. – Confessou o professor ao solitário Gareth. – Será que vou ter o prazer de presenciar a dinastia dos Garuzzi?
– Se depender de mim o senhor vai conhecer apenas a dinastia dos Setembrinos e os desdobramentos na feitiçaria pós-moderna. – Respondeu Gareth, se esquivando de falar sobre o lado paterno de seu DNA.
– Prazer, Doutor Martins Herrera, o louco. – Apresentou-se o professor. – E aí, quando vai ser o casamento?
– Eu pensei que o apelido de "O Louco" fosse por algo relacionado a carta de tarô, mas acredito que me enganei com isto. – Debochou o rapaz. – Hoje sou apenas Gareth e nós demos um tempo um ao outro. Talvez esse seja o novo nome para o término definitivo: tempo.
– Você é um idiota, Gareth. Lhe falta ler sobre os grandes reinos da antiguidade e como eles conseguiram o poder por tanto tempo. Para toda regra sempre há uma exceção. – Aconselhou Martins. – Mas não estou aqui para discutir sua incomum vida amorosa, mas sim para lhe confessar algo: há muito tempo te desejo, mas como aluno, claro. Você ficou famosinho aqui por ser um ex-infrator gênio.
– Por favor, se for para falar só brincadeiras, peço que pare agora. Estou cansado de brincadeiras e armadilhas pelo resto deste milênio.
– Não, eu quero te orientar porque vejo potencial em você. – Revelou o professor. – E, talvez, dois loucos juntos sejam mais respeitados do que separados.
– Vou pensar na sua proposta. – Respondeu Gareth, esboçando um sorriso. – Ah, eu gosto muito do meu queixo assim, no lugar certo. Até mais.
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Parece que o jogo tinha virado para Leônidas. Enquanto Gareth, seu amigo de características divinas, tivera um azar maldito no amor, a sorte nesse campo começava a aparecer para Leônidas. Ela não era uma Helionora e nem um doce de coco, mas era gostosa, muito gostosa.
Mirella começou a abrir um sorriso diferente para Leônidas desde que ele tinha chegado de Vitória. Perguntou-lhe se, agora que era o melhor amigo do filho caçula do patrão, se ele ganharia promoção na empresa. O filho caçula do patrão, conhecido como pequeno príncipe místico por Luís Cláudio, Gaetanio para Leônidas e Tania para o celular de Simonetta, havia lhe liberado para continuar trabalhando na S.V. Comunicações, embora "não quisesse pisar mais naquele lugar, nunca mais".
Talvez Simão Garuzzo realmente lhe desse uma promoção. Agora ele seria o Leônidas bonito, engraçado, ex-marginal e bem-sucedido. Seria Leônidas que transava também com a princesa da Mirella. Logo ela, tão sexy. O capixaba, assim, faltou a algumas aulas de Administração e se encontrou com a recepcionista da S.V. Comunicações.
– Eu quero ver do que esse moleque é capaz na cama. – Dizia Mirella, ofegante.
– Você verá em breve, minha deusa. – Respondeu Leônidas, loucamente excitado.
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Simonetta contou para Ruthy o que havia acontecido com os filhos gêmeos do Doutor Wanderson Magalhães. A mãe da garota ficou no mínimo espantada e confessou nunca ter conhecido alguém com uma história tão triste.
– Ele ganhou do seu Gareth, Mona. – Respondeu a libriana, pegando as chaves do carro.
As duas combinaram de encontrar com o psiquiatra, que estava de passagem pela UFBA. Simonetta também aproveitaria para acertar suas questões avaliativas com seus professores. O doutor não esperava encontrar as duas mulheres nas cadeiras da frente, esperando pela palestra de Wanderson.
– Oi, como vão? Eu não sabia que vocês gostavam tanto assim de Psicologia e Psiquiatria a ponto de vir assistir minha palestra sobre Prevenção do Suicídio.
– Eu vim aqui não só para assistir a palestra e sim te pedir conselhos como médico do Gareth. – Contou Simonetta. – Existe um ser em mim interessado na saúde do pai.
– É que a gente sabe o que aconteceu com seus filhos gêmeos e queríamos te agradecer por mesmo assim estar cuidando do caso do namorado da Mona. – Explicou Ruthy.
– Por favor, não comentem isso aqui! – Implorou Wanderson.
– Se depender de nós, ninguém vai saber que seu filho matou o namorado da irmã por ciúmes e que os dois tiveram uma filha. – Revelou Simonetta, no tom mais baixo de voz que conseguira proferir.
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