Capítulo 55
CAPÍTULO 55
Cecilia era a versão bem-sucedida e humorada de Maria Marta, logo era infinitamente mais aprazível que a primeira. Sua sobrinha tivera o sonho de ser freira rasgado ao meio diversas vezes e, aqui entre nós, Cecilia achava que Deus tinha feito certo afastando-a da vida religiosa, pois seu veneno poderia matar milhões de fiéis desiludidos. Mesmo com tantos defeitos em destaques Marta era justa e ligou para as tias antes de Luís Cláudio mover montanhas para abortar seu neto. Sobre a situação apocalíptica que a família se encontrava, Cecilia conseguira uma explicação: além da desunião visível, Deus havia castigado os Garuzzi por tantas vezes que Maria Marta prometera guardar castidade sem guardar. O resultado era esse.
– Viemos saber como anda o garoto e impedir o Luís de cometer um pecado mortal, meu irmão. Acho que temos a solução para a quebra de toda a maldição. – Revelou Cecilia.
– Solução não, paliativo. – Corrigiu Silvana.
– E eu vim para impedir essas duas de terem qualquer ideia sem sentido. – Explicou-se o moço loiro. – Prazer, Donatello Benecditus.
– Olha, ele não é lindo, bem-educado e iluminado? – Disse Cecilia. – Queremos transformar o seu caçula em um Donatello.
– Mas o Gareth já é um moço bonito, bem-educado... – Bajulou-se Simão do filho mais novo. – Espera, vocês querem tornar o meu filho um padre?
– Não é torná-lo um padre imediatamente. – Interferiu Silvana. – Queremos levá-lo para Gaeta e dar paz espiritual ao garoto. Se descobrir que tem vocação, ele fica.
– Na verdade, elas acham que vossa filha, aquela que se comunica recorrentemente com a gente, abandonou-as e querem lhe tomar o recém-descoberto filho caçula. – Revelou Donatello.
– Doni, meu querido, não me queime na frente do meu irmão mais velho. – Pediu Cecilia. – A gente quer disponibilizar paz de espírito para nosso novo sobrinho. Se o coitadinho tentou se matar ouvindo um terço da história da nossa família imagina se ouvir os outros dois terços. Ah, eu trouxe um terço para ele. Que Deus seja louvado!
– A gente quer falar também com a Simonetta. Se o Luís não quiser que ela tenha o bebê aqui para não manchar a reputação dela, levamos ela para Gaeta e podemos ajudá-la a criar a criança lá. – Desembuchou Silvana. – Claro que com o seu menino dentro de um magistério, louvando a Deus por todas as coisas.
– Claro que elas têm terceiros e quartos interesses a mais, mas, em suma, a gente só veio ajudar. – Concluiu Donatello.
– Bem, o que me surpreende é que vocês venham com todas essas ideias formadas e sabendo praticamente de tudo o que aconteceu. Essa sugestão de levar os garotos para Gaeta não é de vocês, não é? – Indagou Simão.
– Não, papai. Foi minha. – Revelou Maria Marta entrando na casa com duas sacolas grandes na mão.
La madre degli scorpioni, como era popularmente conhecida por Eden e Simonetta, parecia ser outra pessoa. A alegria de espírito, por encontrar pessoas com quem pudesse falar por toda madrugada sobre o catolicismo, era revelada na feição de paz e harmonia na qual Maria Marta se encontrava. Abraçou as tias e fez um singelo cumprimento a Donatello, antes de revelar o suposto motivo de comparecer à mansão do pai.
– Comprei lembranças para as minhas queridas tias. – Comentou a esposa de Marcelo sorrindo. – Para os três temos terços e fitas de Juazeiro. Para tia Silvana, um quadro de São Expedito e um CD do padre Marcelo Rossi. Para a tia Cecilia, um quadro de Santa Luzia e o CD do padre Fábio de Melo. Para Donatello, uma estátua de padrinho Cícero e, como ele pediu, um CD da Legião Urbana.
– Sinto-me disposto a conhecer à cultura desse país escolhido. Por curiosidade estou aberto para qualquer conhecimento que me ajude a compreender o humano e sua relação com o divino. – Explicou-se Donatello.
– Eu não disse que ele era inteligente e abençoado! – Gabou-se Cecilia.
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Conciliação do Crescimento Econômico com a Preservação da Natureza: era esse o tema do projeto de Gareth com o professor Dayano Minato. Era. Dayano era daqueles evangélicos fervorosos e Gareth deu graças a Deus ele não descobrir que sua mãe era uma bruxa. Esse era o tema dos sonhos de monografia para Gareth justamente por causa de Asia Adams, sua bruxa predileta a partir de agora. Dayano Minato tinha sido até compreensível em relação a Gareth ser um ex-reformando, mas, nos últimos dias, tinha se tornado inevitável esconder que ele era filho biológico de Simão Garuzzo. Assim, viera de brinde a notícia que sua mãe era uma bruxa e de seu romance incestuoso com Simonetta. No fim, tivemos uma notícia de encerramento nada amistosa acerca do projeto, o que só piorava o clima de terror contido na kitnet ex-incendiada de Gareth.
– Gareth Gaetano, você é um menino amaldiçoado. – Acusou o jovem a si mesmo. – E como castigo terás o pecado da gula por miojo com ovos. – Finalizou indo, em seguida, preparar seu miojo.
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Gareth Gaetano (agora) Garuzzo tinha uma gula demasiada por miojos com ovos. Simonetta lembrou disso ao preparar o seu próprio prato, ao mesmo tempo que pesquisava na internet sobre casamento avuncular e Atração Sexual Genética.
– Desejo do filho do pequeno príncipe místico, como alcunhou seu vovô Luís, tem que ser cumprido.
E Simonetta riu bastante disso, pois miojo era um tipo de massa e massa remetia à Itália.
– Bendita Atração Sexual Genética. – Sussurrou Simonetta para sua barriga. – Só não nasça falando italiano, está certo?
Simonetta como uma boa Garuzzo aprendera o italiano como segunda língua e logo em seguida tentou aprender inglês. Assim escreveu "incesto, medicina, psiquiatria" em inglês no Google e se deparou com uma notícia envolvendo alguém querido por Simonetta e Gareth: Doutor Wanderson Magalhães.
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Levítico 18 ecoava na cabeça de Nathalia antes dela tomar aquele chá. Ela não queria ser uma segunda Simonetta na boca de Salvador e da UFBA. Sim, ela era estudante de Medicina e sabia que aborto era antiético e criminalizado na maioria dos casos e a própria poderia abortar caso confessasse a justiça o que estava acontecendo. Mas não ia falar nada, por respeito à sua mãe e medo do monstro do seu pai. Nathy, sentou-se no seu banheiro, chorando, esperando ter as dores do aborto e que todo aquele pesadelo acabasse.
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Simão estava impaciente com as propostas malucas de Cecilia e Silvana. As freiras vieram de Gaeta, Itália, com ideias de como acabar com todas as maldições da família Garuzzo. Sim, caro leitor, a relação incestuosa entre Gareth e Simonetta mais parecia apenas um pequeno empecilho comparada à história negra e oculta dos Garuzzi.
– Seu caçulinha vai adorar Gaeta. Juro. – Opinou Cecilia.
– Ele mal fala comigo depois que descobriu que é meu filho. – Lamentou-se Simão.
– Eu sei que ele tem muitos traumas e vamos, todos juntos, conseguir fazê-lo superá-los. Donatello pesquisou sobre ele minuciosamente e viemos preparadas para dialogar com nosso sobrinho. Eu superei meus traumas no convento de Gaeta e certamente seu menino vai superá-los lá também. Ele não é obrigado a se tornar padre. Pelo menos eu te garanto que no convento ele não vai ser estuprado como no reformatório.
Maria Marta, que estava sorrindo ao falar de catolicismo com Donatello, fechou a cara ao ouvir a palavra estupro.
– Vou fazer o café. – Inventou a beata, correndo para a cozinha do pai.
Simão pediu licença às irmãs e deparou-se com a filha chorando com a cabeça baixa na mesa.
– Vai ficar tudo bem. – Consolou Simão.
– Nunca ninguém fez por um filho o que o senhor fez por mim. – Confessou a filha do meio de Simão, abraçando o pai em um gesto de gratidão.
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