Capítulo 47
CAPÍTULO 47
Ela era muito mais linda pessoalmente e irradiava uma magia pura e bondosa. Nem no melhor dos seus sonhos Stella imaginava que a famosa Asia Adams fosse assim. Claro que Gareth havia mostrado algumas fotos da mãe, mas pelo jeito sombrio que ele falava dela e de como ela foi egoísta em nunca lhe dá sequer uma informação sobre seu pai, Stella quase imaginava Asia com o patamar de Bruxa das Trevas, que se encaixava perfeitamente na mãe de Stella, Virgo. É, Gareth tinha razão em partes: se ela tivesse dito ao menos as siglas "SV" para Gareth como identificador de seu pai, ele não teria se aproximado e se apaixonado por Simonetta. Tarde demais.
– Você deve ser a Stella. – Apresentou-se Asia à jovem feiticeira. – Te agradeço muito por ter cuidado do meu filho e do amigo dele quando eles chegaram em terras estrangeiras. Sou muito grata mesmo. A Deusa colocou o meu menino em boas mãos.
– Eu te peço desculpas por não ter protegido totalmente o Gareth. – Desculpou-se Stella. – Mesmo assim, é um prazer te conhecer, mestra! – Completou Stella, fazendo uma reverência.
– Algumas coisas quanto mais são evitadas trazem o pior logo depois. Estou sentindo isso na pele atualmente. – Garantiu Asia. – Ah, e eu não tenho porte para ser sua mestra, menina.
– Desculpe-me pela Virgo. – Pediu Stella. – Eu sei que foi ela que mandou matar você e o Gareth.
– Bem, os filhos não devem pagar pelo que os pais fazem. – Disse Asia, se solidarizando com a colega wicca. – Infelizmente os meus pais acabaram pagando pela minha rixa com a Virgo e com a Maytê.
– Foi por isso que você escondeu do Gareth que ele era filho do Simão? – Adivinhou Stella. – Tinha medo que tentassem matar ele de novo?
– Foi parcialmente isso. Eu fiz um acordo sórdido com a Maytê que nunca mais iríamos aparecer na vida da família Garuzzo e isso incluiu perder o poder de saber qualquer coisa de qualquer um deles, exceto do Gareth. – Revelou Asia. – Foi por isso que eu nunca consegui descobrir a namorada de Gareth e também que eu recebia cheques mensais da Fundação Lúcio Leão. Depois que o Gareth foi preso eu prometi que não ia ficar com esse dinheiro para mim, ia tentar ser o mais honesta possível com meus clientes e outras coisas. Acabei doando o dinheiro para causas ambientais, até que há pouco tempo simplesmente mudei minha conta e disse para mim mesmo que eu não estava certa de fazer isso. Até hoje eu me sinto podre.
– Eu sinto muito. – Sensibilizou-se Stella, com os olhos marejados.
– Não adianta sentir mais nada agora. Só pedir à Deusa para não levar meu filho. – Lamentou-se o grande amor de Simão.
****
Helionora se lembrara de quando conheceu o irmão caçula. A conexão foi instantânea, muito forte mesmo. Não era todo dia que Helionora Garuzzo ajudava um desconhecido chorando no ponto de ônibus. E não era todo dia que seu recém-descoberto irmão tentava suicídio. Um homem de estatura alta e cabelos pretos e que usava roupas ridículas (parecidas com as de Luís Cláudio) falava com a sua sobrinha Simonetta.
– Eu vou mandar minha filha Alasca separar umas roupas para você. Se você quiser, pode dormir lá em casa. – Ofereceu o homem.
– Obrigada pelas roupas, mas eu não vou para sua casa hoje, Américo. Eu só preciso saber quando o Gare sair do estado grave ou se, pelo menos, sairá do coma hoje...
– Às vezes é preciso passar muito tempo em coma para se recuperar de um estado delicado. – Intrometeu-se Helionora.
– Tia Liô! – Gritou Simonetta, indo abraçar a psicóloga. – Como estão as coisas em casa?
– Seu pai quebrou os jarros mais caros da família e, pelo que a mamãe disse, ele e o papai estão vindo para cá. – Revelou Helionora. – Prepare-se para a encrenca.
– Senhorita Liô, se esse for o seu nome, me permita meter o bedelho. – Atreveu-se Américo. – Devia aconselhar a sua sobrinha a ir dormir, pois ela pode entrar num colapso e adoecer.
– Helionora Garuzzo Agnesi, 32, psicóloga. – Satirizou Helionora. – E pelo que eu conheço muito da Simonetta, ninguém manda nela. O máximo que você pode fazer é convencê-la com bons argumentos. E têm que ser muito bons mesmo.
– Nossa, eu só quis te dá um conselho, senhorita psicóloga. – Esbravejou Américo.
– Mona, bora tomar um chá de camomila. Pelo bebê, está bem? – Disse carinhosamente Helionora. – Ah, obrigada pelas roupas e por ser um exemplo de homem para Gareth. Ele vai precisar de você quando acordar.
– Você me conhece? – Perguntou Américo.
– Sim. Quem não conhece o incrível tio Américo? – Questionou Helionora, sentindo uma sensação diferente no coração.
****
Ele não podia perdê-la de novo. Não daquele jeito. Luís lembrava vividamente quando soube Ruthy sobre sua existência: "Mas, um filho, agora? A gente não adiaria o casamento para depois do meu doutorado em Roma?" E ele acabou ficando em Salvador mesmo. Casou-se com Ruthy e focou-se em estudar a Guerra dos Cem Anos, mais especificamente os mitos e verdades sobre a guerreira Joana d'Arc. E ele tinha uma vida feliz, embora o fogo da paixão por Ruthy sempre fora baixo. "Eu sei que você preferiria que eu fosse uma cópia do meu pai, mas esse sou eu, seu marido!" Luís Cláudio lutou até o fim com Ruthy até fazê-la desistir da ideia de ser cabeleireira e cuidar exclusivamente da educação de Simonetta. Pouco tempo depois veio Samantha. Parecia tudo ótimo: uma mulher culta como a Ruthy cuidando da moral, cultura e ética das meninas. As filhas de Luís Cláudio seriam incríveis e nunca passariam por dificuldades monumentais! Ledo engano. Ali estava Luís Cláudio no carro com seu pai, Simão Virgínio Garuzzo, tentando conseguir convencer que aquela criança, que seria seu neto e neto de Simão, não chegasse a nascer. Maldita Ágatha, quer dizer Stella. Luís Cláudio só de lembrar do nome daquela moça relembrou os 17 dias de angústia que passara enquanto Simonetta ficara trancafiada com a terrível bruxa má Virgo, mãe da Stella Ágatha, sabe lá qual fosse o nome dela.
– Vou colocar alguma música estrangeira. – Anunciou Simão Garuzzo, quebrando o gelo antártico existente naquele carro. – Quem sabe assim a gente volte a falar a mesma língua.
– Laura Pausini não, pai! – Exclamou Luís Cláudio ao ouvir os primeiros toques de En Cambio No. – Ela é a cantora preferida de Simonetta.
– En cambio no, hoy no hay tiempo de explicarte. – Cantou Simão em espanhol. – Até que para um italiano que português como segunda língua, o meu espanhol não está muito enferrujado. Ni preguntar si te amé lo suficente. Yo estoy aquí y quiero hablarte ahora, ahora. E aí, o que você precisa falar, Luís Cláudio?
– Eu não acredito que esse tempo todo ela estava convivendo com a filha da bruxa, pai. – Confessou Luís Cláudio. – E ela ainda me apresentou-a como uma professora de filosofia, a Ágatha, a grandiosa professora Ágatha. No final ela estava se encontrando com o principezinho plebeu místico dela. E transando com ele. Eu não conheço a minha própria filha.
– Às vezes a gente não conhece nem os próprios filhos. – Desabafou Simão.
– É, principalmente o senhor. – Ironizou Luís Cláudio. – Quantos meios-irmãos meus ainda vão aparecer, hein, papai?
– Sou obrigado a retornar ao silêncio. – Disse Simão, trocando a faixa para a música de Andrea Bocelli, Vivo per Lei.
****
Passavam três minutos da meia-noite e Simonetta inevitavelmente lembrou do primeiro beijo que deu em Gareth. O pai de seu filho, sempre amor, meio-irmão do seu pai, fora bastante resistente no início, mas o jovem acabara se rendendo de amor por ela. Infelizmente Gareth se rendera demais nos últimos três dias e não pensou bem nas consequências que um possível suicídio faria.
– Como vão vocês? – Perguntou Leônidas. – Tem preferência de nomes? Sexo? Religião, cor do berço?
– Eu quero uma menina para chamar de Olívia, mas se o Gareth acordar logo e a gente ficar bem de novo, eu não me importo se for menino.
– Você sabe que vai ser difícil ter uma conversa com o Gaetanio... – Comentou Leônidas. – Vai precisar da Liô no meio do tatame, não é, Liô querida? – Disse Leônidas, sentindo o cheiro açucarado de Helionora.
– Simonetta, você sabe qual vai ser a reação das pessoas a esse menino, não é? – Comentou Helionora. – E se o seu pai já não suportava o Gareth só de saber que vocês estavam namorando escondido, imagina agora? Será que seu pai vai aceitar essa criança na casa dele?
– Claro que ele não vai aceitar, tia Liô. – Confessou Simonetta. – Eu quero morar junto com o Gareth e o bebê. E parem de me olhar com essa cara de espanto que eu sei que ele ainda me ama muito, senão ele não teria dito que me enganou e nem teria tentado se matar.
– Existe a chance de um em um bilhão dele, mesmo te amando, continuar o relacionamento contigo. – Disse Leônidas. – Mas ele é o Gareth e acaba caindo e escolhendo as situações mais improváveis.
– Você está ciente que vocês dois vão precisar de uma baita terapia, não é? – Avisou Helionora. – Mesmo que não fiquem juntos, vai ser muito difícil assimilar tudo.
– Sim, estou ciente de tudo e me declaro culpada. – Afirmou Mona.
****
Definitivamente Simão se sentia culpado por nunca ter falado para nenhum de seus filhos mais velhos que eles teriam um irmão mais novo que supostamente foi morto num incêndio. Acontece que a ameaça de Maytê lhe deixou sem alternativas e ele simplesmente teria que fingir que a Asia e o bebê nunca existiram. De uma coisa ele tinha culpa e não se arrependia: tocar repetidas vezes Vivo per Lei de Andrea Bocelli e La Barca de Luis Miguel. A consequência dessa chatice de Simão (típica de um virginiano) fizeram Luís Cláudio colocar um fone de ouvido potente e dormir boa parte do caminho para Vitória. Assim Simão teve apenas como companhia as músicas italianas e os pensamentos em seu Amor Continente.
Quando se aproximou do hospital que Gareth estava internado, Simão acordou seu primogênito e se escutou, ele não se lembra, das palavras amargas proferidas por Luís Cláudio. Ele só queria rever uma pessoa, chorar em seu colo e dizer "Vai ficar tudo bem com nosso filho". Simão planejou bastante, mas não conseguiu dizer isso quando reviu ela depois de mais de 20 anos. Eram 05h30 da manhã quando seu milagre aconteceu. O que saiu de sua boca foi ao mesmo tempo doloroso e apaixonado, acompanhado de um coração que parecia que iria infartar:
– Asia, mia dolce amata! Me perdoa, por favor, il mio continente d'amore.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro