Capítulo 41
CAPÍTULO 41
Para Luís Cláudio, Simonetta ainda era uma criança: rebelde, porém inocente e pura. Ela era teimosa, impulsiva, respondona, mas namorar sem o consentimento de seus pais? Isso jamais passou pela cabeça de Luís... Tanto é que a própria Mona rejeitou o pedido de namoro de Mikhael. Será que ela já estava apaixonada por este outro rapaz?
– Acho que me recordo deste nome de algum lugar. – Disse Luís Cláudio. – Mas eu nunca ouvi o nome dele e da Simonetta na mesma frase. Isso só pode ser uma brincadeira.
– Não que eu goste de manter essas fotos no meu celular. Mas eu as tenho para comprovar que não minto. – Respondera Mikhael ao primogênito de Simão, mostrando fotos de Simonetta e Gareth se beijando.
– Não é possível! Você contratou uma atriz para beijar esse garoto e fazer se passar pela Simonetta? Não, não. Calma, Luís Cláudio. – Exclamara Luís Cláudio, espantado. – Será que minha menina ainda é pura?
– Disso eu não tenho dúvida. – Mentiu Mikhael, pensando em seu próprio bem. – Mas é preciso que você saiba quem apadrinha essa desgraça de namoro. Claro que além da sua irmã 100% moderninha, a Helionora, tem a falsa professora de Filosofia dela. E eu tenho convicções e principalmente provas.
– Espere aí... A Helionora sabe que ela está saindo com um cara que nunca apresentou para o pai? – Disse Luís. – E a Ágatha? Ela me pareceu uma pessoa tão correta e além do mais pesquisa na área de Filosofia, uma ciência tão nobre.
– Existem segredos bem mais baixos nessa história. A Ágatha na verdade se chama Johana, mas atende por Stella, abreviação de Stellium. – Revelou Mikhael. – Ela é a minha prima feiticeira.
– O quê? – Disse Luís Cláudio tentando surtar em voz baixa. – A Virgo tem dedo nessa história?
– Não, minha tia não tem nada a ver, que eu saiba. – Mentiu Mikhael, que se encontrava regularmente com a bruxa má.
– Mas, não tem uma chance desse garoto ser uma pessoa boa? De não ser um bandido? – Questionou-se Luís. – Se ele ainda não tirou a honra da minha filha, ele deve estar esperando ela formar-se na universidade para pedi-la em casamento. E se eles acabaram de se conhecer e...
– Eu tenho provas que esse moço não é boa peça. – Disse Mikhael, mostrando o histórico criminoso de Gareth. – Ele tentou matar um empresário capixaba quando tinha 12 anos e, pelas minhas informações privilegiadas, eles estão se flertando há dois anos.
– Eu vou resolver isso tudinho. Ah, se vou! – Prometeu o enciumado pai.
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Desde que Simonetta era criança ela sabia que Mikhael não prestava e só com a intervenção do próprio Criador ele mudaria para melhor. Infelizmente, a influência de Maytê sobre o filho caçula impedira que esse desejo de Simonetta fosse realizado.
Agora, Mikhael havia se tornado um homem egocêntrico e incapaz de levar um fora de uma garota de 16 anos. E as coisas só tendiam a piorar... Luís Cláudio passou por Simonetta com a cara de poucos amigos, fazendo sua filha mais velha desconfiar que Gareth havia se tornado seu desafeto. Pensando na fera que Gareth enfrentaria na segunda-feira 16, Simonetta, enfim, escreveu: "SOS: Mikhael descobriu nosso caso e contou ao meu pai. Papai não me disse nada ainda, mas tenho certeza que ele não ficará quieto. Amor, tome bastante cuidado..." Enquanto isso, Gareth estava deitado na cama de sua pequena kitnet, recuperando-se das provas do curso de Economia da UFBA, quando recebeu a mensagem da namorada. "Eu sabia que isso não ficaria escondido para sempre. Eu tentei adiar, mas não deu. Avante, minha Mona."
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Mikhael já imaginava Luís Cláudio entrando com Simonetta e entregando-a no altar. Simão ao ver esta cena, enxugaria seus olhos lacrimejantes, e passaria o comando de sua empresa para o enteado e então esposo de sua neta mais velha. A concretização de suas maiores ambições era apenas questão de tempo!
– Você devia ver a cara de abestalhado do Luís Cláudio. – Dizia Mikhael à sua mãe. – Ele ainda acredita que a filha ainda é pura.
– E bem que você queria que ela fosse, não é mesmo, Mikhael? Te conheço, te gerei, te pari! – Disse Maytê. – Às vezes, você consegue ser mais escroto que seu pai.
– Agradeço seus elogios, mamãe, apesar de ter certeza que você ficará orgulhosa de mim quando eu me casar com Simonetta e conseguir ser o dono da S.V. Comunicações. – Prometeu o ganancioso.
– Você até pode casar com a Simonetta por ameaça, mas não espere que ela vá te adorar como um deus, como é seu objetivo. – Continuou Maytê. – Falo por experiência própria. Simão me trata pior do que uma desconhecida.
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Gareth imaginava que aquela segunda-feira 16 seria um dos piores dias de sua vida e que Luís Cláudio, seu sogro, poderia vir até com o Exército Brasileiro para retirá-lo da vida de Simonetta. Por isso ficou um pouco afastado de Marcelo. O capixaba não queria que o cunhado de Luís Cláudio levasse uma bronca por uma coisa que ele não tinha nada a ver, embora desconfiasse que Marcelo já sabia do seu namoro com Simonetta. "Menos mal. Um tio e uma tia já apoiam o nosso namoro. Agora, o mais perigoso mesmo será o pai dela...", pensava Gareth antes de ser interrompido pelo dono de seus pensamentos.
– Eu já imaginava que você estaria me esperando. – Disse Luís Cláudio a Gareth, em sua primeira conversa com o jovem moço. – Não se preocupe, eu vim lhe propor um acordo.
– Eu não preciso ser um vidente para ter certeza que esse acordo beneficiará 100% você e 0% a mim. – Respondeu Gareth ao sogro.
– Você e a Simonetta estão "saindo"? – Perguntou Luís Cláudio. – É assim que os jovens de hoje em dia falam, não é?
– Para o esclarecimento do senhor, eu e Simonetta estamos namorando. – Respondeu Gareth. – Namorando sério. Não quer dizer que porque o senhor não estava sabendo até agora que meu namoro com a Simonetta não seja sério.
Gareth não mentira em sua afirmação. Se não fosse pela relutância de Simonetta, o capixaba já teria peitado a família Garuzzo inteira dois anos antes.
– Ainda bem, mas, por mais que eu suspeite que suas intenções são realmente boas, eu quero que você se afaste da Simonetta. Não quero que minha filha caia na língua do povo, principalmente por ter um ficante de caráter duvidoso. – Confessou o pai de Samantha.
– Eu acho que o senhor queria empurrar alguém de caráter duvidoso para ser namorado da Mona e nunca percebeu. – Disse Gareth. – O Mikhael, que deve ter dito ao senhor também que eu passei por um reformatório, ameaçou a Simona antes de falar com o senhor.
– Garoto, eu acho que você não está entendo a minha língua. – Disse Luís Cláudio como um leão querendo destroçar a sua presa. – Mas agora eu vou ser bem direto mesmo: quanto você quer para sumir de uma vez por todas da vida da minha filha?
– Não é porque eu já roubei que eu vou aceitar uma proposta absurda dessas. – Retrucou Gareth. – Eu tentei me afastar da Simonetta quando eu ainda estava começando me apaixonar por ela por causa do meu passado, sabe? Mas ela é uma garota maravilhosa. Você não sabe a filha incrível que tem. Ela quando soube do meu passado e de detalhes meus que não importam para você, Luís Cláudio, ela me apoiou e me amou incondicionalmente. Nenhum de nós dois estamos dispostos a ceder suas ameaças. Nós vamos continuar juntos.
– Pois eu terei que tomar providências mais sérias para resolver esse problema. – Ameaçou Luís.
– Talvez se o senhor falar com Deus ele decida tirar o amor recíproco que existe no meu coração e da sua filha. – Esbravejou seu genro.
Gareth virou-se e voltou ao escritório de Marcelo, esperando quais seriam as bombas que viriam nos próximos dias. Sejam quais fossem, o geminiano lutaria por sua amada. Ele precisava ser feliz e Simonetta fora a primeira pessoa, depois de algum tempo, que fizera Gareth sentir que estava se tornando uma pessoa boa.
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Luís Cláudio mordeu-se de raiva, no sentido figurativo, com tamanha petulância do ficante de Simonetta. O marginal havia roubado várias lojinhas e supermercados até ter a boa sorte de assaltar um milionário e ser apreendido por tentativa de latrocínio. Seu pai, se soubesse ou não, tinha lhe dado uma função na empresa, muito boa para um garoto pobre de 19 anos que ainda não havia terminado a graduação. Assim, decidiu falar com seu pai, mas não contar do namoro entre Gareth e sua filha. Alertaria, apenas, sobre o passado criminoso de Gareth e do seu melhor amigo, Leônidas.
– Bom dia, meu filho. – Respondeu Simão Garuzzo. – Você não me disse que viria para a empresa hoje de manhã. O que te traz ao seu futuro reino?
– Pai, eu já lhe disse que Luís Cláudio e empresário são duas coisas impossíveis de serem sinônimos. – Respondeu o primogênito do magnata. – Mas como isso daqui também é herança das minhas filhas, minhas irmãs e meus sobrinhos, eu decidi fazer uma intervenção. Dois de seus estagiários, que ocupam cargos importantes aqui na empresa, têm um passado criminoso. Eles se envolveram com roubo, tráfico de drogas e tentativa de latrocínio.
– Luís, você deve estar brincando. – Respondeu Simão Garuzzo. – Eu não vejo nenhum dos funcionários com qualquer perfil criminoso. Mas, se você está falando sério, eu quero saber quem são esses dois estagiários.
– Gareth Gaetano de Jesus e Leônidas Naves da Costa. – Revelou. – Preste atenção principalmente nesse tal de Gareth.
– Eles? Luís Cláudio eles não são capazes de fazer o mínimo mal a essa empresa ou a qualquer um de nossos outros funcionários. – Observou Simão.
– Pois bem. – Lamuriou o historiador. – Talvez se o senhor for olhar nos arquivos deles que foram entregues na hora do contrato o senhor descubra os dois filhos da onça que o você, papai, e o Marcelo protegem.
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Simão não era católico por um motivo qualquer. O amor ao próximo e o perdão eram duas de suas premissas máximas embora, como bom virginiano que era, o criticismo e o perfeccionismo fossem os seus grandes destaques. Mesmo assim, Simão acreditava que Luís Cláudio não estava mentindo. Apesar de o filho ser bem mais rígido que ele e parecer ter muito pouco de sua personalidade, ele não era um mentiroso. Talvez estivessem mentindo para ele. Decidiu começar por Gareth que, segundo Luís Cláudio, era o mais perigoso. É, o rapaz de olhos azuis-esverdeados seria um perigo para os concorrentes da S.V. se ocupasse uma posição privilegiada ou seria até um perigo para a própria S.V. se decidisse trabalhar para outra empresa quando se formasse economista. Simão pegou a papelada de Gareth e observou vários fatos sobre o jovem que ignorava.
– É, ele realmente tentou latrocínio. – Disse Simão, desanimado. – Mesmo assim não acredito que ele seja má pessoa...
Mas a sua maior surpresa não foi saber do passado criminoso do garoto e sim do nome de sua mãe: Asia Setembrino de Jesus. Quantas vezes o virginiano não dormira sonhando com a dona daquele nome?
– Asia! – Exclamara Simão com o coração explodindo no peito e com a demonstração de um dos maiores dogmas do catolicismo: a ressurreição.
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