Capítulo 38
CAPÍTULO 38
Talvez esse fosse o ápice da vida de Eden. Talvez, pois Eden sabia que momentos melhores poderiam vir a acontecer (e, se o bom Deus de sua mãe quisesse, eles aconteceriam). Eden preencheu um questionário e esperou um tempo (que beirou ao infinito) por sua tia Helionora, que estava tendo uma conversa com o amigo dela, o Dr. Wanderson Magalhães. O médico havia partido de Vitória para Salvador a pedido de Helionora e, com certeza, tivera uma viagem agradável de avião de primeira classe. Eden só conseguia esperar esta quantidade de tempo imensurável pois estava muito bem acompanhado de livros didáticos de Física e de O Cérebro Autista. Não! Eden não estava decorando de última hora os sintomas e outras coisas. Saber sobre autismo havia se tornado seu outro hiperfoco e O Cérebro Autista havia esclarecido o que ele já sabia vivendo o autismo na pele.
– Eden, eu sei que você já deu diversas demonstrações que tem TEA e, mesmo que um diagnóstico oficial seja muito difícil de ser concluído, eu quero lhe dar a oportunidade de receber esse diagnóstico hoje mesmo. – Propôs Dr. Wanderson. – Eu quero que você me explique o que é Autismo através dos seus hiperfocos e esse será meu único questionamento.
Naquele momento Wanderson tinha todas as provas que Eden era autista. As enumeráveis sessões e testes feitos com ajuda de um neuropsicólogo (inclusive enquanto Eden ainda estava internado) reforçavam esse fato. Além disso, ele pedira para Helionora fotos e vídeos de infância do garoto e obteve, pelas mãos de sua amiga psicóloga, incontáveis relatos sobre as manias atípicas deste.
– Realmente, eu não estava preparado para essa pergunta e eu acho que nem se fazia necessário. – Começou Eden. – Primeiramente, eu não sei qual é a relação intrínseca entre Física e Autismo, mas, com certeza, deve haver alguma. Newton e Einstein eram caras à frente de seu tempo e apesar de o trabalho de um ter substituído o trabalho do outro como a teoria física mais aceita, ambos tinham algo em comum, algo que de algum modo sempre esteve em mim. Saber que ambos eram provavelmente eram autistas não foi uma surpresa para mim. Surpresa mesmo, e uma surpresa acompanhada de desgosto, foi ver com meus próprios olhos como o autismo é visto pelas pessoas. O autismo é um espectro e nenhum autista nunca, jamais será igual a outro, pois aí estaríamos falando de clonagem e os próprios clones não são idênticos uns aos outros exceto as bactérias. O que isso tem a ver com meus hiperfocos? Embora as pessoas acham que sou hiperfocado em Física desconhecem que comecei minha jornada pelo conhecimento estudando alguns conceitos abstratos de matemática. Diferente do que se diz erroneamente em A Culpa é das Estrelas o que existe de números entre [0,1] é a mesma quantidade que existe em todos os números reais. E como estou treinando minha parte poética por causa de um juramento que fiz com Marina eu vou falar poeticamente de matemática e física. Eu sei que estou meio perdido no meu discurso, mas é empolgante falar das coisas que gosto. Os números dentro do intervalo fechado [0,1] é representação matemática mais pura do Espectro Autista. O número 0 ou os bem próximos de 0 por algum épsilon tão pequeno quanto se queira representam as pessoas vistas fora do espectro, as ditas normais. O 1 ou números que diferem de 1 por um épsilon tão pequeno quanto se queira são os autistas. Eu, Eden Leão Garuzzo, seria o 0,444444 ou o 4/9 do espectro. A cor laranja ou a vermelha representaria o autismo do Eden e o Espectro do Autismo seria como as cores do arco-íris, descobertas por Newton com a decomposição da luz branca.
– Bem, Eden, o autismo não pode ser medido de forma linear ou algo parecido. Mas eu entendo por que a maioria das pessoas pensam assim. – Interferiu Helionora. – E aí, Wanderson, qual é a sua conclusão? – Perguntou Helionora.
– Acho que temos um diagnóstico fechado. – Concluiu o médico. – Não só pelo que os testes neuropsicólogicos apontaram, mas também pelo fato que Eden me olhou nos olhos exatamente duas vezes e extremamente rápido.
– Nem percebi que não estava te olhando. – Comentou Eden, que nesse exato momento deu-se conta que olhava para a planta do escritório do psiquiatra.
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Isaías decidiu ser mais flexível. Não, ela não tinha deixado de ser altamente ameaçadora ou agressiva quando as coisas não iam do seu jeito. Não. Isaías queria apenas dar uma oportunidade para ela e para si mesmo de encontrar algum equilíbrio.
– Isaías, está tudo bem? – Indagou Helionora para o novo amigo, que lhe esperava fora do consultório de Wanderson. – Esse é o Dr. Wanderson. – Continuou a moça, apresentando o velho amigo.
– Prazer em conhecê-lo, Dr. Magalhães. – Apresentou-se o delegado. – Eu não vim falar sobre Marina para o doutor. Eu vim contar as novidades para Eden. A Marina vai voltar para Vitória comigo e lá mesmo se consultar com o Dr. Magalhães. Eu estou convidando vocês para passarem por lá quando quiserem. – Dizia o pai da garota.
– Precisamos contar as boas-novas para o papai! – Interrompeu Eden, devidamente apropriado do vocabulário de sua mãe.
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Uma grande trama se passava na cabeça de Mikhael e ele esperava que ele tivesse um final feliz com a mocinha multimilionária. O que foi? Para Mikhael os vilões mereciam ter um final feliz principalmente se os mocinhos fossem babacas suspirantes e escondessem um caso há não sei quanto tempo. E dada a inteligência privilegiada do leonino ele conseguiria ficar com Simonetta e ser dono da maior parte das ações da empresa do padrasto. Daria início à sua escalada para a vitória neste exato momento da história ao lembrar de onde viu o rostinho angelical que sugava beijos e desejos de Simonetta.
– Bom dia, meu querido irmão. – Cumprimentara o caçula do falecido Lúcio Leão. – Eu queria lhe perguntar qual é o seu programa de fim de ano e se eu poderia participar dele. O clima está pesado lá em casa.
– Eu não sei se as crianças te receberiam bem em casa, mas eu prometo que a Marta irá fazer um esforço para te tratar bem. – Respondeu Marcelo, com um áurea de ingenuidade característica.
– Ah! Que mal-educado eu sou. Quase que eu não cumprimentava seus estagiários. Como eles se chamam? – Questionou Mikhael, com segundas intenções.
– Gareth e Leônidas, estudantes, respectivamente, de Economia e Administração. - Revelou Marcelo, sem perceber as caretas enfezadas de Gareth e Leônidas.
– Gareth é o de olhos azuis e Leônidas é o moreno? – Indagou Mikhael lembrando da famosa sigla GGJ.
– Muito bom dia, senhor Mikhael Leão. - Respondeu Leônidas, em tom de deboche.
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Antes que Gareth pudesse abrir a boca para xingar ou dizer um "oi" torto para Mikhael chegaram à sala Eden, Helionora e alguém que nem Gareth e nem Leônidas esperavam rever. Gareth já ouvira falar da boca de Asia Adams sobre a aparição de fantasmas e seres angelicais, mas nunca esperou que um fantasma de carne e osso aparecesse em sua frente.
– Pai, temos uma bendita folha para esfregar na cara de minha mãe! – Revelara o menino com alegria para o seu genitor favorito.
– Tudo bem, Marcelo? – Dizia Isaías até notar a presença de Gareth e Leônidas. – Garotos, eu não sabiam que vocês estavam em Salvador. Desde sempre inseparáveis.
– Você conhece o Gareth e Leônidas, Isaías? – Perguntou Mikhael.
– Claro, deve ser de algum emprego que a gente pediu lá em Vitória. Já fizemos muito isso juntos. – Disfarçou Gareth, fazendo Isaías perceber que o passado não podia ser revirado ali.
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Luís Cláudio passava sempre que podia pela S.V. Comunicações já que certamente a empresa seria herdada diretamente por ele. A pessoa mais puxa-saco da empresa era Mirella e, às vezes, Luís Cláudio cansava de fingir gentileza com a interesseira.
– Senhor Luís Cláudio... – Chamou-lhe Mirella. - Eu preciso ter uma conversa séria com o senhor.
– Mirella, você pode até ser uma boa funcionária na empresa do meu pai, mas eu preciso te esclarecer uma coisa. – Dizia Luís Cláudio. – Apesar de eu e Ruthy estarmos vivendo em uma deterioração de tantos anos de casamento, eu ainda sou um homem muito bem-casado.
– Senhor Luís, fico chateada que o senhor pense isso de mim. – Defendeu-se Mirella. – Minha mãe, que era empregada doméstica, foi despedida na véspera de natal da casa dos Muniz. Ela deixou o filho caçula e um amigo bandido dele entrarem na confraternização. E o meu pai pediu demissão quando precisou fazer cirurgia no coração e ninguém parece querer contratar um ex-policial operado.
– Desculpe, Mirella. Deixei-me convencer pelos boatos. – Revelou Luís Cláudio. – A Ruthy prefere diaristas em casa, mas, se a gente tiver uma pessoa que possa ajudá-la com as meninas, seria perfeito. Porém, o meu motorista já é o Tarcísio e eu não posso contratar o seu pai. Logo, o melhor que posso fazer é aconselhar o papai a contratar um jardineiro.
– Muita obrigada, senhor Luís Cláudio. – Agradecera Mirella, disfarçando a enorme atração que sentia pelo galã historiador.
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Transar novamente com Gareth fora maravilhoso. Os sons dos foguetes anunciando a chegada de 2015, o ano que Simonetta entraria para faculdade e que, por sinal, seria o mais turbulento de toda sua vida.
– Amor, eu não sei se eu fiz uma péssima transa por uma ligeira falta de costume, mas eu sei que você não está bem. – Comentou Simonetta. – Adivinhei?
– Eu sei que estamos oficialmente juntos há quase dois anos, mas não sei se esse é o momento para te contar algumas coisas sobre mim.
– Para mim sempre será o momento certo se você precisar se abrir. – Apoiou a moça.
– Eu não gostei da transa. – Confessou Gareth. – E não foi por tua culpa. É que eu me lembrei de umas certas transas que eu já tive que não foram muito legais.
– Me conta. – Pediu Simonetta. – Garanto que o pior já passou.
– Era a virada de ano de 2008 para 2009. Eu tive uma discussão com o Cássio porque ele estava trazendo drogas para dentro da UNIMES e eu não queria que o Leônidas se envolvesse. É, o Leônidas foi apreendido por tráfico de drogas. Poucas horas depois ele veio com uns garotos mascarados. Um deles era o Kelvys, meu colega de quarto. Ele fez uma penetração dupla em mim, ele e o Cássio. E pediu ajuda do Kelvys para fazer uma tripla. Tive que virar o ano todo ensanguentado e rasgado na cama do reformatório e com o arquirrival dormindo ao lado.
– Amor, eu sei que a festa de ano-novo te lembra desse fato, mas em 2015 tudo vai ser diferente. – Insistiu Simonetta.
– Não, não vai ser. – Contrariou. – Acabei de esbarrar com o antigo diretor da UNIMES... o delegado Isaías Costa.
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