Capítulo 31
CAPÍTULO 31
Alasca tinha a pele clara e cabelos escuros assim como seu pai, Américo. Era uma garota peculiar (como todo bom Setembrino devia ser), mas menos peculiar que Gareth. Estampava uma medalha de Nossa Senhora Aparecida no pescoço e um jogo de tarô cigano na bolsa.
A prima de Gareth havia se tornado a segunda melhor amiga de Gareth durante os três anos em que moraram juntos. Ela poderia ter ficado com raiva de Gareth, já que este não tinha impedido a morte do seu amor platônico no reformatório. Mas não. Alasca era extremamente sensível e empática, muito diferente de sua mãe, Diana.
Não foi à toa que foi para ela que Gareth contou sobre suas aventuras e seu grande amor.
– Então como ela é? – Perguntou a prima de Gareth, curiosa.
– Ela é baixinha, poucos meses mais nova que você, tem um cabelo castanho curto, é muito inteligente, um pouco chata talvez e rejeitou um convite quase forçado para ser bruxa, assim como você.
– Acho que ela e tia Asia vão se apaixonar à primeira vista. – Opinou Alasca.
– Assim como aconteceu comigo e minha doce Mona. – Revelou Gareth. – Mas não vou dar detalhes dela para minha mãe, se eu ainda contar para ela que eu estou namorando. Ela nunca quis me contar sobre o meu pai. O meu e o da Mona é quase secreto, beira ao proibido. Então não vou contar nada para a misteriosa dona Asia Adams. – Desabafou Gareth.
– Tudo bem. – Respondeu a pré-feiticeira, com os olhos brilhando de sagacidade.
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Américo estava feliz em poder se reunir com Gareth novamente. Seu sobrinho havia partido há quase um ano de Vitória, deixando apenas um bilhete sobre a mesa de estar, bilhete este que foi lido primeiro por Asia do que por ele.
– Não acredito que já faz quatro anos e que meu rapazinho já está trabalhando e fazendo faculdade. – Comentou Américo. – Estou muito orgulhoso de você.
– Você devia perguntar para o seu sobrinho se ele já roubou alguma coisa do patrão dele. – Esnobou Diana, esposa de Américo e mãe de Alasca. – Ou melhor, pergunte para o patrão dele, já que esse moleque nunca vai contar a verdade.
– Nosso sobrinho. – Ressaltou Américo. – Você também é tia dele. Além disso, nós não pedimos sua opinião. Foi por causa dessa sua mania de querer controlar tudo que só tivemos uma filha.
– Eu trabalho há onze meses na Lunes Comunicações e fui promovido há três meses como consultor de atendimento da empresa. – Mentiu Gareth sobre o nome da empresa. – Eu e o Leônidas, embora ganhemos os mesmos R$1200,00.
– Mil e duzentos são muito... – Dizia Américo quando a porta foi aberta por um vento forte: Asia Adams havia chegado à sua casa.
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Asia fora, de um certo modo, culpada pela rejeição de seu filho. Na verdade, por ser filiada à Seita, ela não deveria engravidar de Gareth, não daquela maneira: as bruxas deveriam fazer inseminação artificial, caso quisessem ter filhos, e dedicar à Deusa, ou mais especificamente à Lilith. Gareth fora feita por amor, numa hora que não devia ser gerado, tanto é que o pobre garoto fora amaldiçoado pelo pecado de seus pais e pela noite sangrenta que precedeu sua concepção.
Ela esperava que a menina comentada por Alasca fosse a mesma de seu sonho e que realmente estivesse fazendo bem ao seu filho. Para isso teve que dedicar-se a um trabalho de investigação.
– Gareth, meu menino, como você cresceu! – Disse a bruxa, que estava vestida com um vestido florido e um girassol nos cabelos castanhos cacheados. – Fico feliz em revê-lo.
– Não esperava que eu fosse um recém-nascido para sempre, ou esperava, dona Asia? – Respondeu Gareth, grosseiramente. – Alasca, foi você quem contou para ela, não foi? – Indagou o rapaz olhando em direção à prima, que acabara de sair do quarto.
– Não culpe a Alasca. – Defendeu a tia da garota. – Eu ia descobrir de qualquer jeito. Acho que precisamos de um tempo só para nós dois, filho. Volte para casa.
– Há uns meses eu rejeitaria esse convite, mas, atualmente, eu preciso mesmo falar com a senhora alguns detalhes lá na Caverna de Cérbero.
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Gareth sabia que aquele encontro tinha que acontecer, mas não tão rápido. Como o destino fugiu de suas mãos, decidiu começar falando de seu namoro com Simonetta, sem revelar o seu nome e muito menos seu parentesco com seu patrão.
– Eu estou namorando. – Confessou Gareth ao chegar na casa e local de trabalho de Asia, mais conhecida como a Caverna de Cérbero.
– É menino ou menina? – Perguntou Asia, fingindo não saber das informações lhe passadas por Alasca.
– Menina. – Respondeu.
– Ah, ainda bem. Eu sempre soube que teria três netinhos. Não que você não pudesse ter filhos com um garoto, mas nas minhas previsões eles sempre foram netos biológicos. – Disse Asia, que falava tão rápido que precisou parar para respirar. – Como ela é? Posso saber a data e o horário de nascimento dela? É só para fazer uma Sinastria Amorosa, juro. – Pediu a bruxa, sorridente.
– Nosso namoro é quase completamente secreto. Só umas três ou quatro pessoas sabem. Ela é muito jovem e, além disso, ela tem medo que os meus antigos problemas com a justiça nos separe abruptamente. Mas existem coisas que, agora, são mais importantes do que todos aprovarem nosso namoro ou não. Eu encontrei com uma bruxa duas vezes e ela é muito, muito má, além de ser mãe da minha amiga, aquela que veio ao meu encontro e do Leônidas. Ela se chama Virgo.
– Virgo? A Virgo? Ela está te perseguindo? Ela te machucou? – Perguntou Asia, preocupada.
– Não, só me disse umas coisas estranhas que nem lembro direito. – Mentiu Gareth. – Eu quero saber se ela representa uma ameaça real para mim ou para Stella, filha dela, ou para qualquer um dos meus amigos.
– Gareth, o que eu preciso te falar é muito sério. – Alertou a irmã de Américo sob o olhar atento do filho. – Eu já te contei que seus avós morreram carbonizados e que era para eu e você morrermos também. – O que eu não te disse é que foi Virgo que mandou nos matar.
– O quê? – Respondeu Gareth, espantado. – Mas por que ela mandaria nos matar?
– Eu fiz parte da Seita, um grupo de bruxos e bruxas extremistas que obedecem mais os ensinamentos de uma suposta deusa Lilith do que o da nossa deusa Hécate. Eu fui uma rebelde e fui contra as causas da Virgo. Eu me tornei uma ameaça para ela.
– É difícil de acreditar. A senhora me escondeu isso por todos esses anos. – Reagiu Gareth. – Desculpe, mãe. Eu não sabia que era tão difícil ser bruxa até ter contato com a Stella. Bem, agora tudo faz sentido. Ela tinha quatro anos quando ouviu a mãe dela prometendo se vingar da "traidora". Ela lançou um feitiço para essa traidora ficar confusa e ir para longe de seu local de perigo. Foi o primeiro feitiço dela.
– Isso faz ainda mais sentido para mim. Quando eu li a carta que dizia que você ia para Salvador com Leônidas eu invoquei uma bruxa de lá. Acho que ela está te protegendo. Aliás, é a Stella?
– Não. A minha chatinha é bem mais especial que ela. Não que Stella não seja especial, mas minha namorada é mais.
– Querido, sinto a impressão que irá chover em breve. Você não quer voltar para o seu casulo? Faz mais de seis anos que eu espero te ver dormindo lá, com a sua feição angelical, com seu sorriso doce, com seu espírito nobre.
– Ih, a chuva começou a cair. – Observou o jovem ao ouvir o barulho da chuva. – Pode me trazer um chá de camomila, mãe?
– Os antigos diziam que quando acontecia algo raro, um milagre, a chuva se alegrava e caia do céu. Acho que eles estavam totalmente certos.
– Ah, amanhã eu vou para a igreja com tio Américo. Preciso agradecer. – Avisou com antecedência.
– Essa sua beatice me mata de rir. – Disse Asia ao filho.
– Por quê? – Perguntou Gareth à mãe. – A senhora também era católica.
– Nada. Vai agradecer pela vida sexual não conturbada também? – Perguntou Asia, intrometida.
– Como a senhora sabe? Eu não contei nada.
– Eu conheço um fornicador há quilômetros de distância. – Brincou a mãe de Gareth.
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A feição angelical de Gareth era a mesma dele. A devoção ao catolicismo de Gareth fora herdada dele, não dela. Os olhos claros de Gareth eram como os dele. E ele fora o único capaz de fazê-la pecar tanto, por causa de um amor sem sentido. Ele já tinha mais de 60 anos, ela um pouco mais de 40.
Ela se separou dele por raiva e continuou separada por necessidade. Ela amava Gareth, o fruto daquele amor maluco, mais do que tudo. Era dia 1o de setembro. Faltavam dez dias para o Sol voltar a mesma posição daquele dia fatídico.
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