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Capítulo 26

CAPÍTULO 26

Diante da traição de Simão e dos acordos malucos que ele fizera para estabilizar a sua vida, Gina aprendeu a não precisar mais dele e de homem algum. Infelizmente, seus filhos mais velhos preferiram ficar mais próximos ao pai e, por isso, Gina se culpava inconscientemente pela dureza e orgulho deles, especialmente de Maria Marta.

– Tudo tem seu tempo. Chegará também o tempo de sua mãe aceitar que você é assim.  – Disse Ginevra ao neto, que estava deitado em sua cama na residência dos Garuzzi-Leão, novamente de posse de seus livros.

– Eu não sabia que a senhora era astrônoma. Sabia que gostava muito de Física, mas não sabia desse detalhe. Quando crescer eu quero ser físico e astrônomo como a senhora. Eu gosto muito de Psicologia também, mas prefiro Física.  – Confessou Eden à avó.

– Acho que sua mãe ia preferir que você fosse padre.  – Respondeu Ginevra, em tom de brincadeira.

– Olha vó, eu gosto muito de algumas festas do catolicismo, mas acho um absurdo dizer que o mundo foi feito em sete dias.  – Comentou Eden.

– Sabia que os astrônomos representam o universo em 365 dias? É o calendário cósmico. Carl Sagan pensou em compactar a cronologia do universo em apenas um ano. Adivinha em que livro ele teve essa ideia? Os dragões do Éden.

– Preciso ler esse livro, embora eu ache que Sagan não deu esse nome ao livro em minha homenagem.  – Brincou o pré-adolescente.

– Bem, na meia-noite de 1o de janeiro aconteceu o Big Bang. No dia do trabalhador, a Via Láctea nasceu. No dia 09 de setembro tivemos a origem do sistema solar e no dia 14 a formação da terra. Nos últimos 14 segundos o homem descobriu o fogo, a escrita, Jesus Cristo veio ao mundo e nós desenvolvemos a Terra tecnologicamente.  – Ensinou Ginevra.

– Mas isso é muito diferente da história da cobra e do mundo feito em sete dias... Mamãe é sem noção mesmo.

– Eu não concordo com o fanatismo extremo da Maria Marta, mas você tem que entender sua mãe. Ela tem motivos para ter a fé que tem...

– Eu sei, o câncer, a promessa e etc...  – Citou Eden.

Ginevra cometera um erro grave ao permitir que Maria Marta se comportasse de uma forma tão fria: sua filha do meio era muitas vezes incapaz de demonstrar o  amor que sentia pelos próprios filhos, algo que Ginevra fazia com naturalidade. "É, a culpa é minha. O monstro que também me assombrou deixou cicatrizes muito mais profundas na alma de Marta", repetia Ginevra para si.

– Querido, a leucemia não foi a única coisa que traumatizou a sua mãe na adolescência...

– Então o que mais traumatizou ela, Gina? Você seria capaz de contar ao Eden?  – interrompeu Maytê, que entrava no quarto do neto ao lado de Simão.

****

Simonetta estava de posse de algumas camisinhas quando bateu à porta do apartamento do namorado que, por sua vez, vestia sua melhor roupa e usava seu melhor perfume para o encontro com a amada. Sim, a família da virginiana estava um caos, mas isto não era nenhuma novidade. Sim, Simonetta precisava transmutar todas as energias pesadas dos Garuzzi gozando nos braços de Gareth.

– Boa tarde, Gigi.  – Apresentou-se Simonetta sem dar o direito de resposta ao namorado, sufocando-o com um beijo.  – Eu consegui um urologista para você, para você liberar de vez todas as suspeitas com relação aos estupros.

– Tem certeza que é seguro, que chegando lá não vou ter o pênis decepado por alguém da sua família?  – Perguntou Gareth.

– Seguríssimo. Só quero que eu e meu homem não tenhamos nenhuma doença sexualmente transmissível.  – Respondeu Simonetta.

– Bem, desculpe a falta de empatia. Como anda Eden?  – Perguntou o estudante de economia sobre o primo da namorada.

– A tia Marta teve uma briga com ele, escondeu seus livros, trancou-o no quarto e ele começou a ter convulsões.  – Respondeu a herdeira da S.V. Comunicações.

– Essa sua tia é o capeta, hein? Mulherzinha arrogante essa, com todo respeito ao Marcelo, que arranjou um emprego melhor para mim e para o Leônidas.  – Comentou Gareth.

– Você precisava conhecer a naja da sogra dela, a mãe do Marcelo. A luta de serpentes é uma tradição na família Garuzzo. Ela deve ter feito um feitiço muito forte para fazer o meu avô deixar a minha avó por ela e por quase 20 anos! Odeio a Maytê. Nunca entendi por que meu avô ainda é casado com ela.  – Desabafou Simonetta.

– Complicado... O Marcelo nem parece ter metade do DNA dessa mulher.  – Opinou o capixaba.

– Sim, eu concordo, mas vamos parar de falar dos Garuzzi-Leão... Eu tenho uma coisa mais importante para fazer nesse sofá.  – Insinuou a adolescente, retirando as camisinhas do sutiã.

****

Era perturbador ver Maytê humilhando Gina em frente ao Eden, depois de tudo que ela causou aos Garuzzi, especialmente à Maria Marta, mãe de seu neto mais velho. Pobre mulher: era dominada por sua ganância e arrogância. Simão, sinceramente, esperava que a personalidade e atos de Maytê nunca fossem motivos de sofrimento para seus três netos em comum.

– Talvez por que Maria Marta teve que ver o pai trocar a mãe dela por uma oportunista.  – Relembrou Ginevra.

– Eu tenho certeza que vocês preferiram que as coisas fossem assim. Maria Marta não tem nada de santa e o Simão também.  – Debochou Maytê.

– A própria assistente do diabo não tem direito de falar da minha filha!  – Gritou Gina.

– E o Simão? Ele tinha muitas outras amantes além de mim. Tinha uma asinha lá que era o xodó dele. Felizmente, ela partiu para fazer companhia ao capeta. E eu fiquei com o deus dos olhos verdes. Você perdeu, querida, aceite.  – Debochou Maytê.

– Não use o nome sagrado dela em vão e esqueça de lembrar a forma que ela morreu! Se não, eu sou capaz de descumprir o nosso acordo e te mandar para o Inferno.  – Pediu Simão, com lágrimas caindo dos olhos, relembrando o grande amor de sua vida.


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