Capítulo 116
CAPÍTULO 116
Para Eden, algumas teorias precisavam ser revistas pela humanidade: por exemplo, o que seria da Mecânica Newtoniana quando os cientistas conseguirem explicar tudo através da Mecânica Quântica? Ainda: como ficaria o ego humano com a descoberta de extraterrestres extremamente mais inteligentes que eles? E a pior de todas: Será que foi por causa de seu avô, o desprezível Lúcio Leão, que sua mãe sempre vira seus filhos como uma maldição divina?
– Não estou preparado para as aulas online. – Desabafou Eden com Alasca, que viera passar alguns dias da quarentena com o namorado e a amiga. – Muito menos para as presenciais. Não conseguiria ficar olhando para o quadro pensando sobre a mentira que minha família foi.
– Olha, Eden, sua família não foi uma completa mentira. Toda família tem seus segredos, intrigas... Você continua sendo filho de Maria Marta e Marcelo, irmão mais velho de Abel e Caim e esse homem extraordinário que está se tornando. – Observou Alasca. – Você é o carinha que eu amo e eu não te quero mal por uma coisa que você não pode resolver.
– E a bebê? Como a bebê vai ficar? – Indagou o universitário. – Por que ela não contou que a gente teria uma irmã? Poderíamos ter preparado um quarto para ela aqui em casa.
– Eu acho que a forma como sua irmã foi gerada ainda traumatiza sua mãe. – Comentou a primogênita de Américo. – Vamos dar um tempo ao tempo, meu amor. Ele há de curar essa ferida.
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Ruthy viu sua vida virar de cabeça para baixo nos últimos meses. Além de estar com casamento marcado com um ex-padre, que insistia em só ter relações íntimas após a união civil, a libriana seria mãe de uma menina carregada por um postulante à freira que havia acabado de se entregar à polícia por um crime que, moralmente, ela não tinha culpa. Some isso ao fato de sua filha gestante de oito meses está presa por um vídeo macabro implantado na estante de seus filhos mais velhos...
– Me perdoa a falta de consideração e atraso. – Dizia Ruthy, que estava finalmente visitando Simonetta depois de seu cárcere. – Não estou sabendo como reagir a essa pandemia e aos últimos acontecimentos... Minha vida está muito confusa.
– Sim, eu fiquei sabendo da história da tia Maria Marta e incrivelmente fiquei mais confusa do que já estava... – Respondeu Simonetta. – Por que ela não denunciou o estupro do Mikhael? Por que... Foi por isso que Marcelo se separou dela naquele tempo, por ela ter reagido a algo em que foi a principal vítima?
– Marcelo era cego para a maldade de sua família e se sentiu mal por Maria Marta nunca ter cogitado contar o que aconteceu a ele. – Observou a noiva de Donatello. – Sobre o dia em que ela foi estuprada... Ela preferiu não contar e não aceitou a opção de aborto quando descobriu que estava grávida. Disse que sua mãe também gerada de um estupro e era uma grande mulher.
– Então o vovô largou a vovó e a Asia para se casar com Maytê e não ver a imagem da titia Marta manchada em seu pleno leito de morte. – Concluiu a nora de Asia. – Titia sobreviveu e guardou essa culpa por todo esse tempo. Maytê é mais venenosa do que eu pensava.
– Bem, falando da Maytê e lembrando dos netos dela... Por que você não me disse que Gabriel e Olívia são autistas? – Questionou a mãe de Samantha.
– Medo, muito medo, minha mãe. O autismo é um transtorno genético e eu e Gareth fizemos um teste que disse que nossos filhos não teriam nenhuma doença ou transtorno hereditário. – Desabafou a jovem de 21 anos. – A gente tinha medo de perdê-los e olha só o que está acontecendo.
– Eu preciso te contar o que os espíritas me disseram sobre o autismo dos meninos. Boa parte deles foram absolutamente soberbos e colocaram culpa no carma das crianças, mas alguns poucos me convenceram com suas explicações. – Revelou a noiva de Donatello. – Para eles Gabriel e Olívia são crianças índigos ou cristais. Quem é espírita, como eu, já se acostumou com a ideia de vida em outros planetas. Crianças que recebem diagnóstico de autismo, como seus filhos, viriam de planetas distantes para ajudar a Terra na transição planetária. Eles são mais ativos, energéticos, imaginativos. São rompedores de sistemas... Seus filhos são uma dádiva, Mona. Deus não vai te punir por ter aceitado eles em seu ventre.
– Obrigada, mãe. Mas eu não me importo se meus filhos são seres iluminados que vieram com uma grande missão ou se eles nasceram assim por causa de algum pecado meu ou do pai deles. O importante é que eles são meus filhos e eu vou amá-los até o fim da minha vida. – Respondeu a gestante. – Bem, eu sou tua filha e agora sei o quanto a senhora me ama. Me desculpa por não ter confiado em ti mais uma vez. – Concluiu.
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Alasca estava fazendo de tudo para evitar uma convulsão emocional em Eden. Para se ter ideia, a primogênita de Diana se tornara especialista, em tempo recorde, de Saint Seiya e suas ramificações. Tudo isso para levantar um sorriso de seu namorado, que a cada hora que passava sucumbia ao desânimo.
– Eu pensei em montar um cosplay do Eden de Orion para você. – Disse a bruxa ao namorado, referindo-se ao personagem de Saint Seiya Ômega. – Ele não é canceriano, mas isso tanto faz agora.
– Não adianta vim com desculpas, Alasca. Se for pra ter alguma crise, eu terei, você não pode impedir. Eu sou epiléptico e já passei por isso outras vezes. – Desabafou o futuro físico. – Se eu tiver que ser internado em plena pandemia de coronavírus, eu serei.
– Eu não estou confiante nisso. Quantas vezes você já teve crises epilépticas do nada? O caso dos livros, a crise de ausência após tocar fogo no altar da igreja, o surto pelo nervosismo na Olimpíada de Física, outra crise de ausência no dia em que seu pai morreu, fora as várias convulsões que teve quando estava internado. – Relembrou a pisciana. – Jura que eu não preciso me preocupar? Eu te amo, isso não pode ser mudado!
– Eu queria voltar no tempo e dá um jeito de fazer a minha mãe não ser diretamente responsável pela morte do meu avô. – Desabafou o rapaz. – Eu sinto que ela não merece carregar essa culpa, eu sinto!
– Eu posso tentar fazer contato direto com a Deusa. Não podemos mudar o passado, mas podemos talvez ter uma ideia mais completa dele.
Eram 18h00 do dia 11 de abril de 2020. Alasca sentia que, assim que tivesse uma reposta da Deusa, precisaria chegar o mais rápido possível em Salvador.
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Maytê estava destinada a uma velhice de tragédias e coincidências vergonhosas. Vejam só: a interesseira criara o filho caçula para abdicar da bondade e ser sedento por poder para equilibrar, assim, com seu bondoso e ingênuo primogênito. Não adiantou. O que era bom demais foi morto pelo ganancioso, numa reprise sarcástica da estória de Abel e Caim, homônimos de seus netos mais novos.
Agora, depois de ter que aturar as paranoias da irmã bruxa e de ver Mikhael ser um fracassado fugitivo da polícia, tivera que atender e ouvir uma ligação de sua maior arquirrival, Asia. Não bastava a ela ser a musa adorada por Simão Garuzzo? Ela viera jogar a pá de terra em cima do túmulo de uma morta viva Maytê? Sim, parecia que era esse mesmo seu objetivo.
– Adivinha quem acabou de me ligar? Sim, a Asinha esotérica. Com a notícia que convenceu Simão voltar para mim e que eu sou a vítima da história? Não. – Contava Maytê para Virgo. – Segundo ela Eden estava prometendo tocar fogo na biblioteca, com a motivação que todos seus parentes ou são canalhas incorrigíveis ou estão presos ou estão mortos. Ótima análise, na minha opinião. Ela acha que se eu mostrar afeição ao menino ele mudará de ideia de se queimar no meio dos livros. Quem sabe nisso eu convença Simão a voltar pelo bem e saúde mental do Eden?
– Você já vai com as ameaças sentimentais de novo para cima do Simão? – Indagou a mãe de Stella.
– Sim, eu não tenho nada a perder. – Comentou a megera. – Não sou como a idiota da beata sem cabelos.
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Eden, de mãos dadas com Alasca, na biblioteca de Simão Virgínio Garuzzo estava prestes a contar a mentira mais corajosa de sua vida. Sim, ele iria mentir. Sim, aquilo seria por um bem maior. Sim mais uma vez, ele confiava no sonho que sua amada tivera dizendo que, se ele tocasse o coração de Maytê, conseguiria descobrir toda verdade. Não foi fácil. Um exaustivo mutirão fora formado desde a sua saída do Espírito Santo e ele passava pelo plano perfeito, mas careta, de fazer Maytê acreditar que Eden estava tentando um suicídio.
A avô mais rancorosa de Eden chegara. Ele podia sentir seus passos e ouvir a discussão dela com a tia de Alasca logo na entrada da mansão. "Você é uma bruxa muito fraca. Nem para lançar um feitiço de contenção no meu neto", dissera a mãe do finado Marcelo. "Pare! Também estou desesperada. Não estou conseguindo parar o incêndio da Biblioteca. Minha sobrinha também tá lá dentro!", respondera Asia, como combinado. Na verdade, eram incensos e não um incêndio que formava a fumaça que podia ser avistada do outro lado da porta.
– Eden, você está maluco! – Exclamara Maytê ao presenciar a fumaça. – Você vai deixar a garota que você ama morrer queimada com os livros? Eden, me responda!
– A Alasca não merece esse mundo de fachada! Ela vai entender isso lá do outro lado. – Dizia o garoto, chorando. As lágrimas eram reais.
– Eden, saia daí agora. Eu sou sua avó e também tenho autoridade sobre você. – Gritou a mulher. – A idiota da sua outra avó nem impediu que você escapasse. Eu não sei o que você disse para ela e para essa outra menina aí, mas...
– Eu disse que queria ver minha mãe, mas eu não queria ver minha mãe! – Exclamou, ensaiado. – Eu quero morrer, morrer com os livros. Eles sempre me entenderam e eu desejo me acabar com eles!
– Eden, você vai poder ver sua mãe depois. Vai ficar tudo bem, certo? – Respondeu a senhora.
– Eu não vou ver. Eu não posso viver sabendo que minha mãe é uma assassina. Eu não aguento nem respirar. – Continuou o universitário, dessa vez sem precisar mentir.
– Eden, abra a porta. Se você abrir, eu vou contar um segredo só pra você. A menina está acordada? – Indagou.
– Ela está inconsciente. – Inventou. – Isso vai resolver o meu caso?
– Sim, sim! – Exclamou a capricorniana, desesperada.
Conforme o combinado, o primogênito de Marcelo abrira à porta, com Alasca fingindo desmaio. A avó paterna, em ato inédito em sua existência, abraçara o neto e começou a sussurrar algumas revelações para o menino.
– Sua mãe não é bem uma assassina, sabe? Ela foi ferida por seu avô e como toda mulher ferida ela quis fazer justiça! Além disso, ela não mandou matar o seu avô, a vovó ouviu. Ela só queria que o vovô Lúcio passasse pela mesma dor que ela. Ela implorou pros bandidos não o matarem. Sua mãe queria que ele vivesse com aquela culpa. Aí a vovó ouviu e quis fazer uma justiça ainda maior: o seu avô merecia, sim, o golpe de misericórdia. Mereceu sim ir pro Inferno! Infelizmente, tio Mikhael usou isso, muitos anos depois, para se vingar da vovó. Mas isso também não foi culpa da sua mãe e nem da vovó! Vovó só mandou os bandidos fazerem tudo que a mamãe mandou e matar o vovô no final. Você devia ter visto aquela cena. Foi épica! Então, para não pegar mal pra vovó e nem pra mamãe, mandei a tia Virgo matar os delinquentes e aproveitei a situação para casar com o amor da minha vida, o seu avô Simão! E olha que coisa boa aconteceu: seus pais se casaram e você nasceu alguns anos depois! – Confessou a pilantra.
Maytê não percebeu, mas Alasca tinha um gravador em mãos e Asia estava logo atrás dela.
– Que belo conto de terror, Maytê! Sério, você precisa compartilhá-lo com as autoridades. – Dissertou a mãe de Gareth, enquanto lançava um feitiço paralisante na rival.
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