Capítulo 106
CAPÍTULO 106
Asia lembrava nitidamente de sua primeira vez: estava, ao mesmo tempo, desobedecendo as ordens de sua então mestra, Virgo, e das convenções sociais e morais; estava, também, amaldiçoando seu destino e acalentando seu coração. Mesmo após 25 anos sem ter seu amado nos braços, a chama da paixão se mantinha viva. Por isso, Asia não podia deixar de ter alguns questionamentos em sua cabeça, ali, com o grande amor de sua vida ao seu lado na cama. Qual seria a razão de Simão aceitar as ameaças de Maytê? Que sentimento validaria o sofrimento de sacrificar um amor de almas gêmeas?
Simão acordava, aos poucos, com um sorriso raro em sua face. Antes de questioná-lo sobre sua angústia mortal, a bruxa necessitava ler o bilhete deixado na porta de seu quarto, que passara a madrugada vazia. Era de Simonetta. A nora de Asia noticiou que sua família passaria uns dias em Vitória e desculpou-se por não avisar a sogra antecipadamente. "Ufa! Assim eu e Simão podemos nos amar às escondidas mais uma vez!", pensou a capixaba.
– Amore mio, devias ter me chamado para caminhar. – Dizia Simão ao encontro da amada. – Com você eu posso me acordar toda madrugadinha para pedir a benção do Sol.
– Gareth e Simonetta foram para Vitória... Nosso filho necessita viver plenamente e, para isso, deve se perdoar primeiro. – Revelou. – E você, Simão, quando vai se perdoar totalmente? Por que não é capaz de jogar para fora todas suas dores e culpas? Qual foi a artimanha que aquela naja usou para nos separar?
– Meu amor, têm coisas que são tão complicadas de se dizer. Eu te peço um tempo. Este é um segredo que não envolve só a mim.
– Sou capaz de esperar mais um pouco. Mas, por favor, liberte-se. – Concluiu Asia abraçando o seu grande amor.
****
Gareth observava, calado, as avenidas que ligavam Salvador à Vitória. Estava novamente naquele carro, quase dois meses depois, dessa vez como passageiro, com muletas ao seu lado e cortes em seu corpo.
– Papai, por que a vovó não veio se aqui tem espaço para seis? – Perguntou Olívia.
– Não avisamos ela antecipadamente. – Respondeu o pai da menina. – E aqui só tem espaço para cinco. Estamos em quatro: papai, mamãe, Biel e você.
– Não, papai. Na cadeira da mamãe tem duas pessoas. – Justificou a irmã de Gabriel. – Vejo uma bolinha miudinha em um corredor vermelho. A bolinha tem uma aura azul acinzentada, como a do Gabriel.
– Mona, para quando é a sua menstruação mesmo? – Indagou Gareth.
– Para o dia 15. Não se preocupe. Estou com os seios devidamente inchados e o humor devidamente grosseiro. Por enquanto só o Gabriel e a Olívia mesmo. – Respondeu a possível gestante (segundo sua filha vidente de dois anos, nove meses e alguns dias). – E Liv, não vou dar um irmãozinho de presente de aniversário pro Gabriel, certo? Papai e eu podemos ter um outro bebê daqui alguns anos ainda... Ah, Gareth! Consegui o endereço do Marcos Lins com o seu tio.
– Estranho. Não sabia que meu tio Américo mantinha contato com a minha vítima. Se for assim talvez ele nem me odeie tanto hoje em dia. – Afirmou Gareth, esperançoso.
– Não, é o seu outro tio, o que era sócio do Marcos e que vai dá um noivado surpresa para sua tia Silvana hoje à noite. Foi a Stella quem arrancou essa informação do papai. Só estou repassando.
– Preferia mil vezes que a Stella fosse minha irmã... Digo, ela já é como uma irmã para mim. – Choramingava o geminiano sentindo o celular de Simonetta tocar em sua perna enferma. – Falando nela, ela pressentiu nossa conversa. Pare o carro. Aquela maluca está ligando pra nós no meio do caminho.
****
Stella sabia como arrancar informações de Luís Cláudio. No início de setembro, por exemplo, ela prometera jogar o celular do marido na descarga da privada se ele não contasse com quem trocava tantas mensagens de madrugada. Encurralado, o leonino confessara que o pai biológico de Stella pretendia pedir a mão de Silvana em casamento. Dessa vez foram os cremes antirrugas do historiador que foram o alvo da bruxa. Infelizmente a notícia que ela recebera do marido não fora nem um pouco agradável. "Sinto que você está me escondendo algo muito importante", notara a filha de Virgo. "Nós, os Garuzzi, estamos prestes a perder a nossa empresa, nosso maior patrimônio", confessara o ex-marido de Ruthy.
Naquela manhã de 11 de setembro, a ariana decidira ligar para Gareth e Simonetta. Lembrou-se do que Joana d'Arc lhe disse, que ao entrar para a família Garuzzo ela tinha obrigação de salvar os filhos de Roma de queimarem no inferno. Agora tudo estava fazendo sentido (ou será que faltava mais uma provação para aquela família?).
– Olá, Stella. A que devemos a honra de sua ligação? – Interferiu Gareth, atendendo o celular da esposa.
– Oi, Gareth. Não sabia que vocês já tinham voltado a usar a mesma cama... – Confessou a ariana. – Bem, de qualquer forma eu quero falar com a parte sensata do casal, ou seja, com a Simonetta.
– Ela não pode. Está dirigindo até Vitória. Precisamos resolver umas questões de cunho espiritual. – Explicou o unigênito de Asia. – E por que eu não seria sensato?
– Bote, pelo amor da Deusa, no viva voz. – Pediu Stella. – E boa viagem aos cinco. – Soltou, inconscientemente.
– Olá, Johana. Como o meu escravo disse estamos indo para Vitória. Infelizmente não poderemos participar da confraternização na casa de João Muniz. – Respondeu Simonetta.
– Escravo? Eu só deixei você me dominar durante oito horas nos dias do seu aniversário.... – Reclamou o geminiano.
– Mona, eu preciso que você convença o seu cabeça-dura a aceitar a proposta do Pietro Altavilla. – Contou. – A S.V. Comunicações está prestes a falir.
****
Silvana não entendia porque João Muniz precisara organizar um jantar tão pomposo. Não entendia também os sorrisos indiscretos de Nathalia, que se proclamava de voz baixa "a encarnação soteropolitana de Eros". Até Stella, concubina adúltera de Luís Cláudio, estava frequentando a casa do pai não reconhecido. Agora, para ficar ainda mais estranho, só faltava Donatello entrar pela porta daquela mansão e lhe chamar docemente de mãe.
– Estou bastante feliz de ver a melhor parte da minha família reunida esta noite em minha casa. – Dizia Muniz, iniciando o misterioso jantar. – Minhas netas; a amável e bela Stella, minha criança que não vi crescer e se tornou melhor que os filhos criei; minha futura filha, a qual não tem meu sangue, mas já conquistou meu coração; meu genro e Silvana Garuzzo, o meu braço-direito nesses últimos meses. Como um homem de negócios não me atentei para as coisas do coração: casei com a mãe de Jonathan e me vi viúvo poucos anos depois; com a mãe de Nicholas foi uma tragédia única: casei com ela, traí-la amorosamente com uma bruxa que me prometia sucesso e acabei perdendo ela e meu segundo filho homem para o crime; minha segunda filha, na verdade, era uma moça de quem só fui saber da existência mais de 25 anos depois, nunca tive nada carnalmente com a mãe dela, doando meu esperma em troca de fortuna. – Lembrou Muniz, arrancando lágrimas dos olhos da filha. – Atualmente tenho a oportunidade de ser um bom pai para uma garotinha que teve sua história de vida mais trágica do que a minha. Agradeço à Nathalia, por procurar e colocar esse anjo na minha vida. Á Silvana, por guiar Nathalia e ajudar minha família aparentemente sem motivos. Eu gostaria de começar de novo e ao seu lado, bambina. Você sempre foi uma das mulheres que mais admirei e gostaria que se tornasse minha esposa.
– Não sei se posso ... – Respondeu a ex-freira. – Passei tanto tempo vivendo para Deus. Não sei se posso me dá essa ousadia... – Dizia Silvana no mesmo instante em que o telefone tocou.
****
Silvana fora salva pelo gongo, ou melhor dizendo, por Nicholas. O filho mais problemático de João Muniz parecia entender de surpresas tanto quanto o pai: escolhera a noite de noivado deste para se entregar à polícia. Movido pela curiosidade, o empresário fora até a delegacia, acompanhado de Nathalia.
– Qual é o motivo de espantosa redenção? – Indagou a geminiana. – Percebeu que o assassino de Cássio definitivamente não presta?
– Cássio está morto. Vim para cá a pedido do meu novo namorado, Tarcísio. – Confessou o delinquente. – Ele pediu para eu me entregar antes dele conseguir provas inquestionáveis contra alguns crimes do Mikhael. Talvez na cadeia eu possa me manter vivo. – Contou.
****
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro