Capítulo 105
CAPÍTULO 105
Luís Cláudio Garuzzo Agnesi, também conhecido como o irmão mais rabugento que um ser humano poderia ter, era a prova viva que a Teologia Stelliana era a melhor coisa na qual um homem acima de 40 anos deveria passar. As disciplinas ministradas por Johana Stellium Darcano Garuzzo, provável concluinte do curso de Teologia, eram "Amor Fogoso"; "Deixe ele dominar na cama que eu domino no restante" e "Doe rins que eu te encubro".
– Extra, extra. A máscara de desumano de Lully Garuzzo dura menos de dois segundos e entra pro livro dos recordes. Historiador e futuro empresário receberá prêmio pelo correio por sentir dores abdominais de origem desconhecida! – Encrencou Helionora. – Tenho orgulho de te ter como irmão mais velho.
– E a sua máscara de mulher de relacionamentos casuais é a que mais dura, não é? – Respondeu o leonino.
– Você devia parar de ter esse sonho idiota de ter o Américo como seu cunhado. – Adivinhou Liô. – Ele é no máximo irmão da sua possível madrasta.
– Como até a tia Silvana arranjou um pretendente, é possível que papai acerte as contas com a ex-amante e tenha uma vida sexualmente ativa antes de você. – Entregou.
– Péra aí. A tia Silvana tem pretendente? – Questionou a capricorniana.
– Às vezes eu recebo umas mensagens no meio da noite... Não vou falar de quem, mas nossa tia está arrasando corações. O amor está no ar! – Debochou o pai de Ágatha.
– Não vamos falar da vida amorosa de ninguém. Isso não nos compete. A nossa única preocupação deve ser com a contabilidade da S.V. Comunicações. – Disfarçou a mãe de Joaquina.
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Luís Cláudio havia se preparado para, um dia, largar sua carreira de historiador e assumir, como primogênito, a presidência da S.V. Comunicações. Porém, isso estava muito próximo de jamais acontecer. Apesar da conversa descontraída com Helionora, no caminho da empresa, o leonino temia o possível destino do maior bem da família: a ruína. Preocupado com a estabilidade da irmã mais nova, e com a sua própria, Luís decidira entrar sozinho na reunião com o contabilista da empresa.
– Alguém precisa manter o psicológico saudável... E preparar o papai para qualquer coisa que possa acontecer. – Justificara.
O coração do leonino se acelerava a cada passo dado para o encontro com o contabilista. Estaria Stella certa ao prever, inocentemente, a pobreza da família Garuzzo antes da doação de rim feita por Luís?
– Eu lamento muito. Seu pai assinou uns documentos se comprometendo a ser fiador da empresa Primavera Brasil, a tal empresa de fachada que você me informou há mais ou menos um mês. – Revelou.
– Sim, se não me falha a memória ele dizia por aí nos corredores que "devia proteger a natureza já que não foi capaz de proteger o seu amor". Tão inteligente, mas tão idiota ao mesmo tempo. – Opinou o historiador. – Qual é o valor da fiança?
– Como eu já disse, lamento muito. São 27 milhões de reais. – Disparou o contabilista. – E vocês devem pagar essa fiança até o dia 31 de dezembro de 2019, se não a S.V. será leiloada.
Com um nó na garganta, Luís Cláudio procurou uma forma de dar a notícia para a irmã.
– Você prefere a notícia boa ou a ruim primeiro? – Perguntou à irmã.
– Essa família recebe tantas notícias ruins ultimamente que é um milagre ter uma notícia boa para contar. Conte-me as boas-novas. – Pediu a Helionora.
– A notícia boa é que meu sogro quer pedir a tia Silvana em casamento. – Confessou o leonino. – A notícia ruim é que só um milagre pode nos salvar da pobreza em 2020.
– O quê? Por que a gente ficaria pobre em 2020? – Indagou Liô.
– Por causa do coração ferido de nosso pai. Ele colocou a S.V. como fiança de uma empresa de mentira. – Concluiu Luís.
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Asia não fora uma mãe exemplar em seus primeiros anos, mas estava tendo a oportunidade de ser a melhor avó possível para Gabriel e Olívia. Era gratificante ser avó de duas crianças inteligentes e especiais: a bruxa conseguia sentir na aura dos pequenos uma energia de outros mundos.
– Vovó, já são 10h00 da noite e a senhora não iniciou nossa seção de leitura. – Cobrou Gabriel. – Não podemos dormir sem nosso ritual! – Esbravejou.
– A tia Maria Marta, quando fica com a gente, lê um livro chamado Bíblia. Já a vovó Ruthy costuma ler O Pequeno Príncipe para bajular o Gabriel. – Reclamou Olívia.
– Ela também falava sobre espíritos, sua mentirosa! – Defendeu-se.
– Calma, crianças! Vamos lá fora. A vovó vai ler as estrelas para vocês. – Sugeriu Asia.
Lá fora, também observando as estrelas, estava Simão Virgínio Garuzzo. Era 22h11 do dia 10 de setembro de 2019. Nas próximas duas horas que viriam seriam completas, aproximadamente, 25 rotações desde a morte de Lúcio Leão, ex-chefe de Asia. Lúcio caíra dentro da piscina do motel em que Asia e Simão estavam, morto, sem pênis e sem testículos.
– Vou falar da constelação de Virgem, a minha constelação. – Começou Asia. – Alguns associam o seu mito com o rapto de Hades à Perséfone, mas eu prefiro falar sobre a encantadora deusa Astreia. A deusa era a personificação da justiça. Andava entre os homens e pregava sabedoria entre eles. Não existiam guerras, fomes ou cataclismos. A Terra era um paraíso. Porém os homens tornaram-se gananciosos e egoístas e como castigo deveriam perder toda fartura que tinham. Daí, estarrecida e magoada com os sofrimentos encontrados pelos homens, Astreia decide fugir para o Céu, sendo transformada na constelação de Virgem.
– Essa Virgem é a mesma da Bíblia da tia Marta? – Indagou Olívia.
– Não sei. – Respondeu a avó da menina. – Eu deveria contar sobre o mito e a missão de Escorpião também, mas amanhã é o aniversário do Gabriel, então, por hoje, só falarei do signo de Virgem. – Explicou. – Os virginianos têm a missão de analisar e apontar os erros feitos com a Criação da Fonte. Mas não é só apontar e pronto. Devem fazer de tudo para manter a Criação pura e aperfeiçoá-la junto à Criatura. Temos, Biel, o dom do Discernimento. É preciso discernir o que é feito por pura maldade do que não é. Quem erra, mas é puro e bom de coração e dos que rejeitam a qualquer custo sua humanidade, entregando-se como um servo de sua maldade. É preciso separar o trigo do joio...
– Discernir! – Exclamara Simão ouvindo a conversa da amada.
Asia estava com os sentimentos à flor da pele. Ela não podia mais ignorar seu coração.
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Gareth tinha dificuldades de olhar pro rosto de Simonetta. Como ela pode lhe esconder algo tão importante por cerca de um mês? "Preciso te revelar a verdade antes do aniversário de quatro anos de nosso menino. O papai foi quem lhe dou o rim", dissera a virginiana.
– Eu deveria estar grato pelo seu pai, mesmo não concordando com a nossa relação, salvar a minha vida. – Confessou Gareth. – Mas no fundo eu estou me sentindo um lixo. Até seu pai foi capaz de me pedir perdão de uma forma tão simbólica... E eu... Sabe, eu senti na pele o que é ser acometido pelo crime, com aquelas balas ultrapassando minha carne. Eu posso até aceitar a proposta de Pietro, mas para isso eu preciso deixar o meu coração em paz aqui no Brasil. Eu preciso pedir perdão, mesmo que eu não receba-o. – Desabafou. – Você pode ir comigo e com as crianças amanhã de manhã para Vitória? Eu devo pedir perdão para a minha maior vítima, o homem de quem tirei a perna, Marcos Lins.
– Claro, meu amor. – Respondera a jovem de 21 anos. – Eu sempre apoiarei as tuas boas decisões.
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Era incrível como Gabriel e Olívia tinham caído no sono. "A leitura das estrelas de Asia foi milagrosa", pensou o italiano. A amada de Simão entendeu que ambos precisavam ter uma conversa séria e colocou, imediatamente, os netos para dormir. Ela lia mentes. Ela lia almas.
– Discernir... – Começou Simão. – Eu devia ter tido o discernimento que havia um caminho muito mais fácil há 25 anos, Asia... Eu não aceitei a ameaça de Maytê apenas para que nós dois não fossemos suspeitos da morte de Lúcio. Afinal, éramos amantes e estávamos no mesmo motel que ele... Um pai faz tudo pelos seus filhos. Infelizmente eu me sentenciei a perder o crescimento e o amor paterno do nosso filho.
– Eu também deveria ter tido discernimento. – Completou Asia. – Privar eu e nosso filho de ter informações sobre a sua família foi um método plausível de mantê-lo a salvo, mas não o melhor. Acabei condenando ele a carregar a maldição de uma noite até a idade adulta. Anda temo que a maldição da noite em que ele foi gerado ainda esteja presente. Junte isso ao histórico de desgraças da família Garuzzo...
– Asia, não se culpe. Você tinha acabado de perder seus pais. E eu perderia o que se lutasse pela justiça e pela verdade? No máximo a fachada de honra que eu e minha família. Vejo agora que se eu tivesse usado minha inteligência não teria magoado nenhum filho meu. Acabei magoando os quatro.
– Mas isso não justifica o fato de eu tentar ser uma mentirosa. – Interferiu a bruxa. – Eu te amo, Simão. Nunca deixei de te amar.
– Eu completei 69 anos no último dia 04, mas ainda estou vivo. Nunca é tarde para viver, sem remorsos, o grande amor de sua vida. – Sugeriu.
Asia entregou-se aos braços de Simão suavemente. O empresário, por sua vez, levou a amada para o quarto. Para o seu quarto. Asia, com os olhos fechados, beijara a ponto dos lábios de Simão e abaixara a parte de cima do vestido, deixando seus fartos seios à mostra. O amor deles era eterno.
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