Capítulo 103
CAPÍTULO 103
Eden estivera, nos últimos dias, planejando minuciosamente sua mudança para Vitória. Era difícil saber, oficialmente, que sua mãe não lhe queria mais. Porém isso não era mais difícil que a então frieza de Alasca, seu amor congelante, em relação a ele. Segurando Alice no País do Quantum, um de seus novos livros preferidos, o estudante de Física avistara Asia e pensou em lhe pedir dicas sobre a capital capixaba. Não. Na verdade, ele queria saber sobre Alasca. A mãe de Gareth agora era uma assídua frequentadora da mansão de Simão Garuzzo desde o dia que seu filho fora obrigado a se hospedar por lá, com cortes gigantescos de cirurgia e hastes de titânios alojadas respectivamente em seu fêmur e sua tíbia.
– Olá, tia Asia, se eu puder te chamar assim... – Começou o adolescente. – A senhora está sabendo que a cachorra abandonada na frente da minha casa 'está dando' gatinhos, digo, cachorrinhos?
– Sim. A Samantha fez questão de avisar metade da população de Salvador sobre o acontecimento. Ela está esperando adotar um filhote da parturiente. – Explicou Asia. – E não é preciso ter dons psíquicos para saber que não era este nenhum dos três assuntos que você queria conversar comigo.
– Eu queria estar abraçado com a Alasca e lhe pedir dicas sobre Vitória nesse momento tão imprevisível da minha vida. – Confessou o primogênito de Marcelo. – Minha mãe tomou coragem e deixou bem claro com isso que nunca quis eu e nenhum dos meus irmãos. Será que ela aprendeu técnicas de frieza com a convivência involuntária com o tio Mikhael?
– De uma coisa eu tenho certeza: ela não pode levar três rapazes para dentro de um convento. Ela está fazendo as pazes com ela mesmo, na minha percepção de mulher mais vivida. E você já é praticamente um homem. Gareth, com a sua idade, já estava morando fora da cidade com seu melhor amigo e a Simonetta já era mãe. – Lembrou a virginiana. – Nem sempre a gente pode entender nossos pais porque eles, detentores de suas feridas, ainda não são capazes de se entender. Olha por quanto tempo eu mantive uma relação conturbada com o Gareth e não foi por falta de amor a ele. Meus segredos estavam me consumindo tanto que eu não era capaz nem de demonstrar o amor infinito que sinto por ele. Tenho certeza que... – Dizia a bruxa quando foi interrompida por Samantha.
– Nasceu a minha neném! Finalmente eu sou mãe! – Exclamara a caçula de Ruthy. – Será que Leônidas ficará feliz em saber que se tornou papai?
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Silvana estava contente com a afeição que Maysa passara a sentir por João Muniz. Estava feliz, também, por notar que existia vida fora do convento (embora para Maria Marta sua vida só começaria lá dentro). Era apaziguador a forma como Nathalia lhe adotara como mãe. Ambas tinham o mesmo trauma, mas Nathalia não congestionou sua juventude pelo o que lhe aconteceu. Ela queria ter filhos e superar o trauma de ter perdido seus dois bebês. Sim, ela própria havia abortado o primeiro, porém uma pessoa em sua situação não tinha condições de seguir com o filho de um monstro dentro da barriga. A criança pagara pelo crime que o pai-avô cometera. Pensando nisso, Silvana sentiu-se felizarda por engravidar do homem que a amava e não de seu pai, o homem que lhe tirou o brilho dos olhos. Ali, no início de agosto de 2019, Silvana gostaria de voltar para 1985, sair do convento e criar Donatello da forma com que ele merecia, nem que para isso precisasse ser mãe solteira. Mas, como não podia voltar no tempo, o máximo que ela poderia fazer era se conformar com o que tinha: arranjar uma forma de ser a mãe dos sonhos de Maysa.
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De todas maldições que Gareth passara em sua vida aquela só não ganhava da revelação que Simão Garuzzo era seu pai. Maria Marta enfiara na cabeça a ideia de sua redenção e seu primeiro ato de caridade, segundo ela, seria auxiliar o irmão mais novo em sua recuperação. Para completar o tédio do geminiano, Simão fizera questão de lhe comprar pijamas adolescentes em sua estadia involuntária pela mansão do italiano.
– Ufa, finalmente vou parar de me alimentar com chá de camomila e gelatina! – Exclamara o diplomata. – Suponho que vou ter que reaprender a comer papas. – Observou.
– Você deveria ser obrigado a comer comida gelatinosa por, pelo menos, um ano. Ah, você deve reaprender a usar seu cérebro primeiro. Até seus filhos, que são bebês, não cometeriam a insanidade de encontrar com leões em plena cova. – Disparou a escorpiana. – Agora coma isso rápido! Não suporto a lembrança de bebês com roupas ensopadas de papa.
– Eu não diria que você saiba usar bem o seu cérebro... Acho que você gosta de ser masoquista, isso sim, pois só assim para entender o porquê de ter aceitado casar, mesmo que tenha sido de mentira, com um certo verme vaidoso. – Retrucou. – Ah, e você não me deve favor algum. Só considero a sequência da Helionora pra baixo.
– E eu ainda considero a sequência da Helionora pra cima... E não, não sou masoquista. Nunca fiquei com o abdômen costurado por preguiça de pensar. – Dizia Maria Marta, pensando em palavras mais ácidas ainda para presentear o meio-irmão. – Ter cabeça é para os vivos, usá-la é um dom... – Completara.
– A que horas mesmo a Simonetta chega e você se manda pro seu terço? – Indagara o filho de Asia, desejando ter paciência para não excomungar ou ser excomungado por Maria Marta até o fim de sua recuperação.
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Mirella não aguentava mais a bondade enrustida de Virgo. Como ela ainda não tinha mandado matar Gareth de novo? Seria medo de sua rival Asia ou receio de assumir a importância histórica de despertar Lilith? Era óbvio que a entidade preferia Mirella a Virgo. Vejamos: Virgo nunca havia transado e parira uma garota sem nunca ter tido relações sexuais com um homem. Regras da Seita ou homenagem à South's Virgo, a maga branca palestina? Enquanto isso a mulher serpente lhe ensinava todos os seus segredos e como desvairar homens sedentos por sexo em troca de poder. Era nítida a preferência. Assim, acompanhada da entidade invisível ao seu lado, a irmã de Mônica invadira o esconderijo de Cássio e Nicholas. Quem ela mataria primeiro? Precisou de poucos instantes para a gananciosa conseguir sua resposta: mandaria Cássio para o inferno e se deliciaria com choro de Nicholas ao constatar a perda de seu amado. "Eu ainda posso sequestrar Nicholas e ameaçar a Virgo... Ela costuma ter sentimentos pelos meios-irmãos da sua filha...", pensou a bruxa.
Foi saboroso ver os miolos de Cássio se espalhando com seu tiro certeiro enquanto Nicholas, o idiota, levantava-se de sua cama para ver o que havia acontecido. Mirella, sabiamente, escondeu-se. Precisava ver aquela cena sem ser culpada pelo acontecido. Infelizmente, não dera tempo de subjugar o filho mais novo de João Muniz: Tarcísio, que havia saído do armário há poucos meses, fugira com o "viúvo".
– Tudo bem, podem fugir! Não tenho tanto nojo do Nich mesmo. – Gritara Mirella para si mesma. – E eu adoro finais felizes.
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Simonetta precisava de conselhos para convencer Gareth a aceitar a proposta de Pietro Altavilla e a primeira pessoa que lhe viera à cabeça era Stella. Gareth, como sempre teimoso, não aceitara bem a interpretação de Alasca sobre a profecia recebida em sua iniciação. Ele acreditava que Simonetta pretendia se refugiar em Gaeta e evitar, assim, qualquer novo ataque a ele. "E eu só sei cinco ou seis palavras em italiano", justificara.
Além disso, Luís Cláudio faria aniversário dali há dois dias. Ela estava com saudades do pai, que sumira um pouco depois que Gareth foi internado. Seria raiva ou vergonha o sentimento que fizera o leonino se afastar da família, agora que seu genro era o novo centro das atenções? E ainda tinha Ágatha! Ela precisava verificar o crescimento de sua irmã caçula. Fora justamente com Ágatha que Simonetta encontrara ao entrar no portão de sua antiga casa. Tantas lembranças, boas e ruins! Nos últimos instantes em que ali morou estava num abismo, lutando pela sobrevivência do filho de seu grande amor.
– Mona! – Exclamara a pequena.
– Ei, minha gatinha, você me ajuda a fazer uma surpresa pro papai? – Pedira.
A resposta para o sumiço de seu Luís Cláudio fora respondida quando Simonetta atravessou a porta: Stella limpava e enfaixava, no sofá, uma grande cicatriz no abdômen do marido.
– Por que vocês não me contaram isso antes? – Perguntou Simonetta, dando-se conta que seu pai salvara a vida de seu marido.
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