Capítulo 05
CAPÍTULO 05
Stellium tinha uma faixa amarela anunciando uma comemoração do dia das bruxas. Não , esta comemoração não ocorreria no dia 31 de outubro. Stella, a dona do estabelecimento, mantinha a tradição de fazer o Halloween Fora de Época há alguns anos e, como o nome diz, ele era fora de época – e bem fora do comum. Além disso, a festa podia se misturar com São João, Carnaval, Natal, Ano-Novo ou qualquer outra coisa. A única obrigação era ter uma fantasia de bruxa, fantasma ou algo semelhante. Naquele ano de 2012, por exemplo, a temática seria em homenagem à profecia maia e envolveria tudo relacionado ao Fim do Mundo.
Gareth, vendo aquilo, rezou para o mundo acabar de fato. E que, se tivesse alguma chance da Terra ficar inteira depois do Fim dos Tempos, todas as suas lembranças ruins cessassem. Como brinde, Asia Adams poderia ter a dignidade de lhe contar a história sobre sua origem e Gareth, assim, poderia perdoar a sua mãe.
– Que chegue logo o Juízo Final! – pediu Gareth.
– Que venham as bruxinhas – continuou Leônidas.
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Embora Marcelo não a tocasse a algumas semanas, Maria Marta não sentia que dormia com um estranho. Ele fora sua razão de viver por muito tempo e ainda era, talvez até mais do que os três filhos. Depois da meia-noite seria seu aniversário e Marta pedia, de presente, que seus cabelos fossem novamente longos e que seus meninos amanhecessem sem nenhuma deficiência. Ela ainda tinha um desejo maior do que aqueles, mas não sabia se era digna de recebê-lo: que toda sua dor, aquela que Marcelo soube em partes, fosse curada para sempre e que seus filhos não levassem mais no sangue as consequências de seus pecados.
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Era dia 28 de outubro, domingo, aniversário da madre degli scorpioni, quando Simonetta recebera uma carta da sua melhor amiga. Maria Marta recebera esse nome não só por ser escorpiana, mas também por exalar um veneno natural. Não que ele fosse uma pessoa ruim, pelo contrário. Era apenas venenosa demais em seus dizeres. Simonetta preferiu esquecer as loucuras de sua tia, por hora. "O dia 21 de dezembro será épico", pensou Simona. A civilização humana como a gente conhecia estava prestes a acabar e Simonetta apressou-se a pensar em qual personagem grego encarnaria desta vez.
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Maria Marta escolheu roupas alaranjadas para descer as escadas de sua casa ao encontro do amor da sua vida, que lhe reservava algumas surpresas. A maior delas foi ter conseguido manter Abel e Caim quietos — o que era um milagre — e Eden sentado no sofá ao lado da família e de um livro — o que era um sinal de que o Apocalipse estava próximo. Marta, agora com 34 anos, não queria mais véus ou qualquer outro santo católico. Marcelo adivinhou, em parte, os pensamentos da esposa e montou um álbum com a retrospectiva da vida da amada.
– Eu vou te amar sejam quais forem seus defeitos e erros – disse Marcelo, antes de dar um beijo discreto na bochecha de Marta. – Inclusive, o Eden me ajudou. – E o primogênito do casal acenou logo em seguida.
– Eu posso pedir a Deus para nunca te perder? – E Maria Marta sorriu, sentindo-se digna de uma alegria que não via há muito tempo.
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A mãe de Gareth jamais o perdoaria pelo que ele fez. Ela mesma dissera isso em alto e bom som. Mesmo assim ela ainda ia visitá-lo, às vezes, fingindo não se preocupar com seu único filho.
– Você me odeia, não é? Eu tirei os seus poderes, foi isso? – dizia Gareth à mãe na infância, enquanto sua mãe se tornava uma bruxa cada dia mais forte.
Talvez tenha sido culpa de Gareth que sua mãe tivesse tentado usar seus dons para enganar as pessoas com falsas profecias – e ganhar dinheiro com isto. O Gareth menino tinha fome, sede e vontade de vestir-se. Era sua culpa a ruína de sua mãe. Era sua culpa a própria ruína.
Por essa e outras que Gareth – apesar de ser filho de uma pessoa que entendia sobre fantasias de Halloween – decidiu ser o "bruxo da garotada" e pediu para Stella reservar-lhe um uniforme de Harry Potter. Ele seria "o menino que sobreviveu" no último dia da civilização humana segundo os maias.
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Fora Simonetta quem apresentara a mitologia grega para Eden. Sua tia Marta enlouquecera com o montante de livros que o garoto levava para casa sobre o assunto. O pior é que o menino, em plenas aulas, estudava a Grécia Antiga por prazer. Depois dos deuses gregos, fora por Pitágoras de Samos que Eden se apaixonara, e só Deus sabia onde aquele garoto pararia.
Agora, invadida pelos questionamentos sobre seu primo, ela procurava um deus grego para representar. Não, ela não ficaria bonita de Hades, deus do mundo dos mortos e nem de Perséfone, esposa dele, que lhe lembrava muito mais a primavera do que uma rainha do mundo inferior. Talvez partisse para a falta de originalidade e fosse de Hécate, a deusa grega da magia. Por enquanto, descobriria mais sobre os desejos sexuais adolescentes e tentaria esquecer do conselho de sua tia beata: "Esforce-se para não cair na tentação do pecado original".
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