A Verdade Escondida
Os olhares dos homens para Antoni demonstravam muito desconforto, exceto pelo ódio visível de Josh, que parecia querer agredi-lo. Antoni, por sua vez, ficava sem palavras, sem esboçar qualquer reação.
"Filho", interrompeu Alexander, "como você subiu até aqui e por que veio?" Ele estava bastante assustado. Alexander não parava de analisar todos ao seu redor.
Engolindo seco, Antoni reuniu forças para dizer suas primeiras palavras: "Só queria ver se precisavam de ajuda, não imaginei que seria tão grave." Ele estava muito confuso com tudo aquilo; sabia que estava quebrando regras, mas aqueles olhares, o que era tão grave que eles estavam falando?
"Você não é assim. Alguém falou para você subir?" questionou Alexander, preocupado com a desobediência do filho.
"Não importa!" berrou Josh, com sua voz atormentadora e rígida, que carregava o peso de sua idade avançada. "Ele deve ser punido como exemplo!"
"Muita calma," interveio Heitor, tentando acalmar todos. "Acho que não é necessário ir tão longe."
"Esse moleque desrespeita as nossas regras e vai ficar por isso mesmo?" questionou indignado Josh, um homem que, durante toda a sua vida, gostava de punir aqueles que julgava culpados.
"Ei, calma," pediu Heitor, colocando-se na frente do velho homem. "Moleque começou a usar gíria depois dos setenta?" Ele deu uma risada descontraída, tentando acalmar a situação, sabendo que teria que agir rápido.
"Ele só estava procurando o pai dele, ok? Talvez seja uma boa ideia Alexander passar mais tempo com o filho, não tem nada demais. A gente tem exigido muito dele. Você não acha?" Perguntou, tentando convencer Josh, que parecia inflexível.
"Para que tudo isso? Ele errou? Sim! Mas não é necessário esse escândalo, não acham? Ou daqui a pouco ele vai pensar que estávamos criando a Estrela da Morte," disse Heitor em um tom bastante descontraído, demonstrando seu talento para lidar com as pessoas.
"Eu levo o Antoni embora e falo com ele, tudo certo? O que vocês me dizem?" Heitor girava com os braços abertos, olhando para todos na sala, querendo convencer a todos de sua ideia. Até Josh, relutante, acabou aceitando a proposta.
"Mas que isso nunca se repita!" Josh deu um alerta rigoroso para o jovem rapaz, embora ele pensasse que isso não era suficiente e gostaria de algo mais severo. E isso era visível na maneira como falava e gesticulava.
"Ok, vamos embora antes que o velho tenha um piripaque," brincou Heitor, fazendo Josh se irritar. Rapidamente saiu daquele lugar junto de Antoni.
"Acho que ele não gosta muito de mim, aparentemente de ninguém," comentou Antoni sobre Josh, que realmente era uma figura amarga com todos.
"É a velhice, ele já está caducando, só isso," brincou Heitor.
"O Álvaro é velho e é bem mais divertido do que ele, não que isso seja difícil. Mas acho que ele teria mais motivo para ser assim," opinou Antoni.
"Álvaro? Foi ele que te deu a ideia de vir aqui?" Perguntou Heitor, encarando-o curioso.
"Não, foi só ideia minha mesmo," disse Antoni, não querendo colocar seu amigo nessa confusão. Ele odiaria colocar alguém que ele gosta em apuros por algo que ele cometeu.
"Fique calmo, ninguém vai ser punido. Esqueça o que o rabugento disse. A propósito, o que você ouviu? Se tiver alguma dúvida, eu posso responder," questionou Heitor.
"Algo sobre o nono planeta, por que só o nono? Álvaro falou algo sobre isso, mas disse que é seu número de sorte," disse Antoni, bastante curioso a respeito disso. Como eles sabiam qual planeta seria habitável e qual não? E se sabiam, por que vasculhar um por um?
"Álvaro, outro supersticioso. Existe uma profecia maia que só encontraremos uma nova casa na nona busca. Eu, particularmente, não acredito. Mas tem gente que leva a sério demais," explicou Heitor.
"A propósito," continuou, "já passamos de nove planetas, pois cada estrela tem vários planetas, não é mesmo? Acontece que só olhamos os mais prováveis, os que estão a uma distância ideal, mas de certa forma não existe uma distância ideal. Você estudou Astronomia, deve saber disso."
"Não," respondeu Antoni, fazendo Heitor olhá-lo com espanto.
"Como assim? Você está no meio do espaço e não estudou Astronomia? Todo mundo já fez isso, é uma ótima matéria. Eu recomendo você estudar, vai se fascinar," comentou Heitor com muito entusiasmo.
"É que sempre preferi biologia. Mas falaram para o meu pai que um planeta a menos não iria diminuir sua culpa. O que isso queria dizer?" Aquilo era o que mais o assustava. Que culpa seu pai carregava?
"Bom, aquilo. Na nossa primeira tentativa, havia um planeta muito promissor. Seu pai achou que poderia fazer melhorias em sua atmosfera, contudo isso teve um efeito contrário." Heitor fez uma leve pausa dramática, como se lembrasse do ocorrido.
"Até que ele se tornaria habitável, mas seria muito mais rápido olharmos para outros planetas. Então desde então seu pai se culpa, querendo achar um novo lugar o mais rápido possível," explicou detalhadamente, parecendo contente por poder contar tudo aquilo.
"Mas este não é habitável?" Perguntou Antoni, pois gostaria muito de pisar em terra firme, sentir o vento no rosto, algo que ele via nos filmes.
"Infelizmente, não é o ideal, mas acho que estamos perto. Este e os próximos dois sistemas estelares têm as melhores observações, principalmente os dois próximos," disse Heitor com certo otimismo, querendo que o Antoni sinta o mesmo.
"Então a profecia está correta?" Antoni nunca acreditou nessas coisas, nem nos filmes. Porém, naquele momento, ele começou a questionar.
"Completamente errada. Só neste sistema temos dez planetas. Entenda, já vimos dezenas de possibilidades e isolamos as mais prováveis. E quem garante que no próximo não teremos algo?" Perguntou Heitor, dando um amigável tapa em sua costa, enquanto o conduzia para o elevador.
"Só não queremos contar para ninguém para não perderem a esperança. Seu pai tem razão e você sabe disso. Ficar preso aqui é ruim. Todo mundo quer dar uma volta no novo planeta. Mas não se preocupe, eu anunciarei a todos que não foi dessa vez," disse Heitor enquanto chegavam ao elevador.
"A propósito, como subiu aqui? Foi a Enid?" Heitor estava bastante curioso sobre como alguém conseguiu burlar o sistema de segurança da nave. Para ele, alguém com motivos para fazer isso e habilidade só poderia ser ela.
"Não, senhor," respondeu Antoni, sem jeito e assustado. Era visível que ele não sabia contar mentiras e o modo como falava entregava tudo.
"Já disse, não haverá punição, relaxe. Agora vá estudar Astronomia, é a melhor dica que posso dar hoje," disse Heitor. A porta do elevador se fechava, e Antoni olhava para o rosto amigável de Heitor pela última vez. Por enquanto, aquilo saciava sua curiosidade.
Após um hora do ocorrido, o único doente daquele nave estava comendo sua refeição diária, enquanto uma jovem enfermeira o cuidava. Geralmente quem fazia aquele trabalho era Antoni, mas a pedido do próprio senhor ele foi estudar Astronomia, como Heitor tinha pedido.
Se deliciando com o belo banquete, até que a figura surge na porta, bastante furioso. Alexander fazia algo que raramente tinha costume, sair do seu laboratório.
"Pode sair" falava o cientista "eu cuido dele agora" a enfermeira logo deixava os dois a sós. Porém o clima da sala começava a ficar cada vez pior.
"A que devo a honra de sua visita, depois de vinte anos. Velho amigo" cumprimentava de maneira sarcástica a presença dele. Uma sensação de nostalgia tomou conta de seu espírito, sentido se como antigamente.
"Não sou mais seu amigo e não vim aqui para visitá-lo. Foi você que induziu meu filho a subir lá?" Ele estava muito alterado, com suas mãos na cintura e uma postura muita rígida. Seu olhar parecia atravessar o velho na cama.
"Para que esse mal humor? Heitor gosta do menino, não iria acontecer nada e era a única maneira de fazer você me visitar. Depois de todo esse tempo, nem mesmo um oi? Sabe posso morrer a qualquer momento" lamentou, com uma enorme tristeza nas suas palavras. Pois sua única vista era Antoni, não que isso seja ruim, mas ele gostaria de ver seu velho amigo mais uma vez.
"Bom, eu estou aqui. Agora fala logo o que você tem que falar" falou de maneira grossa com quase nenhuma paciência.
"Você sabe muito bem, o Antoni tem o direito de saber sobre elas. Ele vai fazer vinte anos e você continua com essa mentira estúpida" repreendeu ele.
"E eu falo o que? Hein? Que deixei elas morrerem? É isso? Ele nunca vai me perdoar, eu nunca me perdoei" começava a ficar muito emocionado, enquanto umas pequenas lágrimas surgia em seu rosto.
"Você não deve culpa, nem eu. Eu só fui o mensageiro, não criei aquele regra estúpida, culpe o Josh. Mas parece que não tem coragem, é mais fácil culpar o mais fraco, não é mesmo?" Ele apontava o dedo em sua direção. Esperando alguma resposta.
"Você inventa uma desculpa, é bom nisso, em inventar história. Se tiver dificuldade pede para o Heitor, melhor ainda" zombou de sua companhia. Que parecia desolada, assombrado por velhos fantasmas.
"Não posso!" Falou enquanto rangia seus dentes.
"Virou um covarde, nem sempre foi assim. Eu já estou morrendo, não me importo se não me ver mais. Mas seu filho tem o direito dele, ele podia facilmente te ajuda" sugeria, uma vez que sempre acompanhava seu trabalho e via sua visível evolução.
"Sabe que tem coisa que ele não pode ver, você me ajudou com Anmyni, se ele ficar sabendo.." um leve pausa antes que o velho interrompesse.
"Pelo visto também ficou burro, não precisa contar tudo ou mostra isso para ele. Só seu trabalho rotineiro. Ou sair daquele laboratório dos infernos. Você não pode mudar o passado, mas pode concertar o presente" aconselhava.
"Sabe, eu sinto saudades de como era, talvez tivesse sido melhor eu nunca ter descoberto isso" lamentou-se, uma enorme tristeza afligia ele, algo que gostaria de guardar para só ele.
"Eu também, sinto saudades das nossas conversas. Fui o padrinho de Antoni, gosto dele, nunca faria nada que o prejudicasse. Mas gostaria de te ver uma última vez." Parecia que a tristeza era compartilhada, tornado o clima cada vez mais dramático.
"Quem sabe no próxima vida, temos um destino melhor?" Comentou Alexander.
"Quem sabe?".
Alexander saia daquele lugar, e com um enorme dilema. Seria a hora de contar algumas coisas para Antoni? Seu passado sempre o assombrava, algo que ele gostaria de esquecer para sempre.
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