61_ Hype Boy.
ㅡ Não há um só dia em que não me lembre de você. Não há um só instante que me esqueço das coisas que vivemos, das maluquices que fizemos, das horas jogadas fora apenas conversando... ㅡ Abri um sorriso triste encarando a carta que estava escrevendo. Era difícil segurar as lágrimas que teimavam em cair e molhar o papel amarelado. ㅡ Cada toque, cada abraço, cada gesto, cada palavra, cada beijo, tudo isso sempre estará guardado dentro do meu coração. ㅡ Suspirei. ㅡ Nunca vou te esquecer, Jack.
ㅡ Isso foi ótimo! ㅡ Mary pulou do banco com um sorriso. Me levantei da cadeira e sorri limpando as lágrimas. ㅡ Você é muito talentosa, Arizona. Está conseguindo dar vida a minha personagem. Eu estou tão ansiosa pela peça de sábado a noite! ㅡ Ela disse com seu jeito animado e contagiante. ㅡ Uma pausa! Comam alguma coisa, bebam água, café ou seja lá o que vocês gostem. Mas, estejam de volta ao auditório em vinte minutos, ok?
ㅡ Ok! ㅡ Todos dissemos.
Aos poucos o pessoal foi se dispersando, mas eu me sentei na beira do palco e apenas olhei aquele lugar. Ele não era muito parecido com o teatro da Lisa, ele era um pouco mais moderno, apesar de ser menor. Acredito que o teatro de Lisa era um patrimônio histórico, por isso a estrutura e as características eram mais antigas. Esse teatro era bem moderno, com mais coisas automáticas e com mais marketing.
Fazia umas semanas que eu tinha enfrentado meu medo e feito uma audição. Mary pareceu gostar de mim. Ao contrário de Lisa, que era bem na dela, reservada e discreta, Mary é toda extrovertida e animada. Na minha audição mesmo ela disse que tinha amado tudo e que eu estava dentro.
Para minha surpresa, as garotas que costumava praticar Bullying comigo na escola já não estavam mais aqui. Não sei o motivo, mas elas simplesmente saíram. Segundo Tess, era porque não tinham talento.
Eu não tinha me apresentado em nenhuma peça ainda, nas últimas semanas apenas me dediquei em aprender mais. Em observar o estilo de cada um ali, os costumes, o modo como as coisas funcionavam e tudo mais. Mas, agora era a minha hora. Eu me apresentaria no sábado, interpretando uma garota que sofre com a saudade de um amor que perdeu.
Eu também não pude acreditar quando vi que esse era o meu papel. Não vai ser muito justo, já que não preciso interpretar. Eu ainda morro de saudades do amor que perdi.
ㅡ Cause I know what you like boy (ah-ah)
You're my chemical hype boy (ah-ah) ... ㅡ Tess apareceu cantarolando no auditório enquanto fazia uma dancinha. Ri da mesma até ela parar ao meu lado no auditório. ㅡ A Mary está toda empolgada com a peça. Disse que você parece a própria Camily. ㅡ Ela disse se referindo a personagem que eu interpretaria. ㅡ Como está se sentindo? Está animada?
ㅡ Acho que sim. ㅡ Assenti.
ㅡ Acha que sim? Você precisa estar animada! Vai ser sua primeira peça! ㅡ Ela balançou os meus braços me fazendo rir de novo. ㅡ E você vai beijar o gato do Peter nessa peça.
ㅡ Não ligo muito pra isso.
ㅡ O que? Não acha o Peter gato? ㅡ Ela fez uma careta.
ㅡ Sim, ele é muito bonito. ㅡ Ri de suas expressões. ㅡ Mas, estou focada no meu sonho. Então... Sim. Você tem razão. Preciso estar animada. É a minha primeira peça. ㅡ Tecnicamente.
ㅡ Isso aí! ㅡ Ela sorriu. ㅡ Agora vem, vamos do outro lado da rua comprar uns donuts, porque estou morrendo de fome.
ㅡ Você não estava comendo um pacote de biscoitos agora mesmo? ㅡ Desci do palco seguindo atrás dela.
ㅡ Eu?? ㅡ Se fez de sonsa.
ㅡ É! ㅡ Ri dela.
ㅡ Não me lembro. ㅡ Eu tentei dizer mais alguma coisa, mas ela me interrompeu para finalizar o assunto do biscoito. ㅡ Tell me what you want, tell me what you need... ㅡ Voltou a cantar balançando seus cabelos de cor rosa.
Estávamos saindo do auditório quando fomos paradas por Tisha.
ㅡ Preciso de você, Tess. ㅡ Ela cruzou os braços.
ㅡ Agora? Mas, eu preciso muito enfiar um donuts goela abaixo, sinto que posso morrer se não fizer isso agora mesmo. ㅡ Tess resmungou.
ㅡ Eu não estou nem aí pro seu donuts, a sala de figurinos está uma bagunça e preciso que alguém arrume. ㅡ Fiz uma careta.
ㅡ E por que você não arruma? ㅡ Tess cruzou os braços também.
ㅡ Porque estou ocupada com outras coisas. Agora vai! ㅡ Ela direcionou Tess, que praticamente se arrastava no chão, na direção do corredor que levava à sala de figurinos. ㅡ E você... ㅡ Apontou para mim. ㅡ Precisa ensaiar mais. Seu último ensaio não foi nada bom.
ㅡ A Mary disse que fui ótima. ㅡ Expliquei.
ㅡ Pois, eu não concordo. Agora vai! ㅡ E assim ela virou as costas e saiu.
Me apoiei na ombreira da porta cruzando os braços. Eu não conhecia muito de Tisha. Não tinha muita intimidade com ela. A única coisa que eu sabia era que ela era super mandona. Ela não tinha autoridade alguma dentro do teatro, mas era perfeccionista e gostava que tudo saísse do seu jeito. Tinha vezes que eu a entendia, ela apenas queria que todo desse certo nos espetáculos, mas tinha vezes que ela parecia só querer mandar nos outros mesmos. Até o cabelo da Tess, ela já mandou mudar. Disse que o cabelo rosa dela não combina com o ambiente do teatro, sendo que a própria Mary ama o cabelo da Tess, diz que é ótimo para diversificar no elenco.
Enfim, as vezes eu entendo e as vezes não. Mas, prefiro ignorar e focar nos meus objetivos.
ㅡ Deise! ㅡ Tisha apareceu no meu campo de visão e chamou por Deise. Uma garota que passava com uns cartazes. ㅡ Emagreça quatro kilos até a próxima peça. Desse jeito que você está, não dá.
Revirei os olhos e entrei no auditório novamente. Essa era uma das vezes que eu não entendia.
O resto do meu dia foi até que bom para mim. Ensaiei mais, me esforcei no que gostava, escrevi uma carta para Deise dizendo que seu corpo era ótimo, já que percebi o desânimo dela após o comentário, ou melhor, a ordem de Tisha, saí do teatro, comprei um café e voltei para o orfanato. Lugar que eu já não odiava mais. É claro que eu estava batalhando para sair dali, pois já era maior de idade e precisava do meu cantinho, do meu lugar, mas aos poucos eu conseguiria. Ainda mais agora que April já não ficava mais ali, mas sim no dormitório de sua faculdade.
Todas as noites, antes de dormir, eu olhava as fotos que eu tinha guardado. Não queria me esquecer do rosto de Mason. Eu ficava longos minutos apenas o observando e me perguntando como ele estava.
Sempre que eu via um pôr do sol ou a lua, eu me lembrava dele. Eu deseja estar com ele. As vezes eu chorava. Eu não havia superado e não sabia se um dia iria.
ㅡ Espero que você esteja bem, seu rabugento. ㅡ Sorri olhando a foto antes de coloca-la de volta a minha gaveta e me deitar para dormir.
[...]
Sábado - Dia da peça
ㅡ Não é assim, cara! Presta atenção! ㅡ Tisha gritava com uma pessoa a cada dois minutos enquanto tentávamos nos preparar. Já era quase sete da noite, o auditório estava cheio de pessoas e eu estava tentando ficar calma. Tecnicamente, não seria a primeira vez que eu faria aquilo, então, é só respirar. O nervosismo é só no começo.
ㅡ Ai, eu não aguento mais a Tisha! ㅡ Tess apareceu do meu lado. Ela também já estava caracterizada para a peça. ㅡ Ela está um saco.
ㅡ Ela sempre foi assim? ㅡ Tentei me distrair para não ficar tão nervosa.
ㅡ Sim, sempre! Teve uma vez, no meu aniversário, que ela quis controlar tudo. A garota quis escolher para quem eu daria a primeira fatia de bolo, Ari! Ela é maluca! Gosta de mandar em todo mundo. Já falei pra ela fazer terapia. Imagina se um dia ela tiver filhos? Coitados!
ㅡ Oi, meninas... ㅡ Mary se achegou perto de nós duas. ㅡ Como estão? Estão nervosas?
ㅡ Eu estou nervosa com a Tisha. Quase voei nela agora pouco. ㅡ Tess cruzou os braços. ㅡ Ah, você estava falando da peça, né? ㅡ Ela riu. ㅡ Eu to de boa, minha cena é rápida mesmo.
ㅡ Eu estou um pouco, mas acho que é normal. ㅡ Falei abraçando meus próprios braços.
ㅡ É claro que é normal, e levando em conta que um importante dono de um teatro da Broadway está aí hoje... ㅡ Arregalei os olhos.
ㅡ Co-como assim??
ㅡ Ops... ㅡ Ela tampou a boca com uma das mãos. ㅡ Eu sei que não deveria ter dito, já que isso pode te deixar mais nervosa, mas eu não sei guardar nada comigo. Um amigo do meu pai está aí hoje, ele é dono de um dos teatros mais famosos da Broadway, em Ny. Eu não sei o motivo dele estar aqui hoje, mas, geralmente, quando ele visita um teatro pequeno, é para recrutar jovens atores. Então... Boa sorte! ㅡ Ela sorriu como se não tivesse acabado de jogar uma bomba em mim e logo depois saiu.
ㅡ Ui... ㅡ Tess balançou a cabeça. ㅡ Ainda bem que eu não sou você. Beijos! ㅡ Ela saiu cantarolando me deixando sozinha.
Encarei o palco, que ainda estava fechado pelas cortinas e respirei fundo. Aquela poderia ser a minha chance. E se esse tal homem gostasse da minha atuação? E se ele me chamasse? Eu voltaria para Nova Iorque e poderia construir minha vida.
ㅡ Ok, Arizona, não fique criando fanfics na sua cabeça, atue como se não tivesse ninguém lá. Se esforce, que você consegue. ㅡ Acreditei em minhas palavras e ouvi a Mary anunciar que iria começar.
•••
Continua...
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