60_ Um novo começo.
Algumas lágrimas minhas caíram na carta antes que eu a colocasse de lado na cama. O meu coração estava acelerado. Minhas mãos ainda tremiam e, pela primeira vez desde que voltei, me peguei sorrindo. Sorrindo de verdade.
Eu ainda estava triste, estava mal por dentro. Mas, me lembrei de coisas que havia esquecido no meio dessa escuridão toda. Cadê, Arizona? Cadê sua positividade? Seu otimismo? O Montgomery te proporcionou momentos incríveis, te deu lições incríveis e até te permitiu viver um amor sincero. Um amor que, infelizmente, se acabou mais rápido do que o que eu queria. Mas, eu vivi! Eu vivi um amor, eu me apresentei numa peça em Ny, eu tive um pai, eu tive amigos, eu aprendi. Eu fui feliz. Vivi coisas que jamais imaginei viver na vida.
E... Por mais que tudo tenha terminado, eu precisava acordar. Precisava acordar para a vida. Precisava viver, assim como vivi no Montgomery. Lá eu não tive medo de arriscar. Por mais que eu sinta saudades e queira voltar, precisava aceitar que essa era a minha realidade. Era o meu lugar.
Me deitei na cama e chorei. Chorei tudo o que precisava chorar com o intuito de me levantar diferente. De me levantar sem todo aquele peso. De me levantar decidida a viver de verdade.
Se a saída do Montgomery me fez mal, farei com que a entrada nele tenha me feito bem. Vou fazer com que tenha valido a pena.
Peguei uma das fotos em que eu estava abraçando Mason e sorri passando a ponta do dedo pelo seu rosto.
ㅡ Eu nunca vou te esquecer... ㅡ Sussurrei. ㅡ Obrigada por tudo.
Beijei a foto e a coloquei dentro da gaveta da minha mesa de cabeceira, onde estavam a maioria das minhas coisas. É, eu não tinha tanta coisa assim.
Me sentei na cama, sequei o meu rosto e me lembrei de cada momento no Montgomery. Cada minuto. Cada sorriso. Cada abraço. Cada gargalhada. Cada instante. Sorri sentindo uma gratidão imensa por todos aqueles momentos e decidi que os faria acontecer novamente, mesmo que não com as mesmas pessoas. É claro que... Não me refiro aos momentos com Mason. Eu não conseguiria esquece-lo tão fácil.
Uns gritos vindos do jardim me fizeram encarar a janela. Puxei o ar com o nariz com dificuldade, por conta do choro, e observei as crianças brincando de montar bonecos de neve.
Lembrei-me na hora do momento em que visitamos o orfanato no Montgomery. Daquela garota... De como ela via esse lugar com tanto amor e gratidão.
E ela tinha razão. Esse lugar me acolheu quando ninguém mais me quis. Aqui eu cresci, aprendi a ler, a escrever, a ser quem sou. Graças a esse lugar eu ainda estava viva.
Sequei novamente o meu rosto, respirei fundo e saí do quarto.
ㅡ Feliz Natal! ㅡ Sorri para o senhor que cuidava da limpeza do orfanato.
ㅡ Oh, Feliz Natal, Arizona. ㅡ Ele sorriu, parecendo surpreso com a minha... Animação. Não é para menos, todos notaram o quanto eu estava mal nos últimos dias.
Desci as escadas e saí do orfanato, encontrando as crianças do lado de fora. April ajudava uma delas a montar um boneco que usava um gorro de natal rosa.
Me abaixei, fiz uma bola de neve com minhas mãos e joguei nela.
ㅡ Ei! ㅡ April se virou para mim com um olhar indignado, porém, sua expressão mudou para surpresa quando me viu sorrir. ㅡ Ari...
ㅡ GUERRA DE BOLAS DE NEVE! ㅡ Gritei assim iniciando uma guerra no jardim. As crianças começaram a rir e brincar, April também entrou na brincadeira e eu sorri ao perceber que os funcionários vieram ver o que estava acontecendo, mas acabaram entrando na brincadeira.
Após um bom tempo brincando, todos nós jogamos no chão e começamos a fazer anjos na neve, abrindo as pernas e braços.
ㅡ Eu não sei o que aconteceu com você, mas fico feliz que esteja de volta. ㅡ April, que estava no chão ao meu lado, disse encarando o céu.
ㅡ Também estou feliz de estar de volta. ㅡ Encarei o céu e respirei fundo. Esse era... Um novo começo. Algo que eu estava precisando demais. Antes do Montgomery eu não tinha mais ânimo para nada, todos os dias eram um grande fardo na minha vida. Eu mal sorria, para falar a verdade. Talvez, esse fosse o real objetivo do Montgomery.
Me sentei na hora arregalando os olhos.
ㅡ É isso... ㅡ Parei para pensar. ㅡ É isso! ㅡ Afirmei.
ㅡ O que, menina? ㅡ April perguntou assustada.
ㅡ Nada. ㅡ Ri balançando a cabeça e voltei a me deitar, encarando o céu. Era isso... Esse era o objetivo do Montgomery. Ele apareceu para mim porque eu estava precisando de um choque de realidade. Porque eu estava precisando aprender a viver.
Sorri fechando os meus olhos e senti o meu peito se aquecer pela primeira vez desde que voltei.
ㅡ O que vai fazer nesse novo ano? ㅡ April perguntou me tirando de meus pensamentos.
ㅡ Eu acho que vou entrar para a companhia de teatro que tem no centro da cidade. ㅡ Ela se sentou para me olhar no mesmo instante.
ㅡ Está falando sério?? Tem ANOS, literalmente ANOS que falo para você fazer uma audição lá e você nunca quis. Você tem um talento absurdo, Arizona! ㅡ Ri de suas expressões. ㅡ Vai mesmo?
ㅡ Vou, eu... Não quero viver mais com medo. Se aquelas garotas que estudaram comigo quiserem fazer bullying comigo lá, o problema é todo delas. Vou estar ocupada sendo feliz por estar seguindo o meu sonho. ㅡ Ela sorriu.
ㅡ Fico tão feliz de ouvir isso, cara! Até me emociono. ㅡ Ela fingiu chorar enquanto limpava as lágrimas falsas.
ㅡ Deixa de ser boba. ㅡ Ri dela. ㅡ Eu vou tentar uma audição assim que entrarmos em janeiro. Espero que tudo dê certo.
ㅡ Nós duas sabemos que vai. É impossível esse teatro não aceitar você. Até um teatro da Broadway te aceitaria! ㅡ Acabei sorrindo pesando que era verdade. ㅡ Ai, tô até mais empolgada para o ano que vem. ㅡ Ela se deitou na neve totalmente. ㅡ Imagina se você acaba ficando reconhecida e vai trabalhar em Ny? Imagina você morando lá? A gente poderia dividir apartamento, porque eu amaria morar com você. Arrumaria um emprego fácil lá, já que sou muito talentosa. ㅡ Ri de sua última frase, mas parei quando entendi o que ela estava propondo.
ㅡ Eu... Adoraria. ㅡ Assenti.
ㅡ Ótimo. Então, fique rica e famosa e me chame para morar com você em Nova Iorque. ㅡ Ela piscou com um sorriso.
ㅡ Pode deixar. ㅡ Ri dela.
ㅡ Pessoal! A ceia está pronta! ㅡ Todas as crianças gritaram em comemoração e eu sorri me levantando. Todos correram para dentro do orfanato, até April, que gritou que o prato fundo era dela.
Ri observando aquela cena, mas parei de andar, apenas observando o orfanato. Encarei o céu novamente e me perguntei o que Mason estaria fazendo agora. Estaria ele lutando? Sendo rabugento com alguém? Conversando com o pai? Treinando no quarto? Na academia? Olhando o céu de seu terraço?
Eu não sabia, mas ficava feliz em pensar que ele estava bem. Que nenhuma daquelas situações perigosas aconteceram com ele. Que ele estava seguindo sua rotina normal e calmamente.
Voltei a observar o orfanato e respirei fundo.
ㅡ É um novo começo, Arizona. Um novo começo. ㅡ Disse para mim mesma antes de entrar no orfanato novamente.
•••
Continua...
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro