52_ Recomeço.
( Narrado por Mason )
Acho que nunca havia acontecido tanta coisa de uma vez na minha vida. Quando aceitei tomar conta da Arizona, não pensei que minha vida mudaria tanto. Não pensei que minha visão mudaria tanto.
Olhando aquelas crianças e adolescentes que cresceram sem ninguém e que anseiam todos os dias ter um pouco da vida que eu já tinha, me fez perceber o quão ingrato eu vinha sendo. Quis passar minha vida sozinho, tentando me previnir de não ser machucado, mas no fundo sabia que estava sendo machucado do mesmo jeito, só que por mim.
Eu gostava do Natal quando criança. Quando meu pai, que é um ótimo cozinheiro, cozinhava tantos pratos que mal cabia na mesa. Quando ele ainda era casado com a mulher que o deixou, mas que eu acreditava que cuidaria de mim como filho. Naquela época, eu amava o natal. No dia primeiro de dezembro eu já estava enchendo o saco da mulher para pegarmos os enfeites e fazer a casa virar um carnaval.
Depois que tudo aconteceu, depois que vi o meu pai passar dias apenas sentado naquele banco de madeira de seu jardim observando as montanhas, sem ânimo ou vontade de fazer nada, desejei nunca viver aquilo. Decidi ficar sozinho.
Contudo, no fundo, quando chegava o natal e eu me pegava sozinho no meu apartamento em Nova Iorque, sem enfeite algum, me perguntava se estava fazendo a escolha certa.
Eu não aguentava ficar só e muitas vezes saía para olhar a cidade, porém, era quase impossível ver uma só pessoa sozinha naquela noite. Com toda a cidade enfeitada e com a neve caindo, todas pessoas estavam estavam em família ou entre amigos.
Eu dizia para mim mesmo não me importar e fingia que isso acontecia, mas eu me importava. Infelizmente, era orgulhoso e rancoroso demais para ceder. Continuava com o mesmo pensamento de que se ficasse solitário, não seria magoado.
Arizona não tinha ideia do bem que fez para mim. Ela mudou a minha filosofia e o meu modo de ver as coisas. Acho que hoje, mesmo se eu e ela não dessemos certo ou ela precisasse volt... Enfim, acho que já não teria mais o mesmo pensamento. Eu vivia minha vida com medo e não tenho nem ideia de quantos momentos incríveis eu já perdi por ficar com medo de ser magoado. Hoje eu também tomei uma decisão. Tomei a decisão de viver de verdade.
Após ajudar os rapazes a colocar a árvore de Natal no jardim do orfanato e ajudar a deixa-la em pé, olhei pelo lugar a procura de Arizona. Quando a vi, ela estava junto da outra menina que nos ajudou, brincando com as crianças. Ela estava rindo enquanto todos jogavam bolas de neve uns nos outros.
Observei aquela cena e não percebi quando deixei um sorriso tomar conta do meu rosto. Eu era grato a ela. Grato por ela ter aberto os meus olhos. Grato por ela ter vindo de tão longe, literalmente, para me ensinar a viver.
ㅡ O Sr Ogden? ㅡ Olhei para o lado quando ouvi me chamarem, porém mal tive tempo de responder, pois recebi uma bola de neve na cara.
As risadas soaram e eu vi que eram os rapazes que tive que ajudar. Eu peguei um pouco de neve e fiz uma bola apenas para me vingar, mas quando vi, já estava na brincadeira. Até os adultos ( falei como se fossemos crianças ) que estavam lá para as doações acabaram entrando na brincadeira ao receberem boladas em suas costas.
Tenho certeza que aquele será um momento que nenhum deles irá esquecer.
Eu acabei me cansando antes da galera toda e me apoiei na parede ao lado da porta para descansar. Eu geralmente tinha muita energia, devido aos treinos, mas eu não costumava treinar rindo. Eu ri tanto ali que fiquei sem fôlego.
ㅡ Já cansou? ㅡ Um dos rapazes se aproximou de mim e se apoiou na parede ao meu lado.
ㅡ Não sou mais tão jovem quanto vocês. ㅡComo se tivéssemos muitos anos de diferença, eu devia ser uns 3 anos mais velho que ele, apenas.
ㅡ Nossa, que idoso! Então, senhor de idade, a Arizona é sua namorada? ㅡ Ele olhou na direção de Arizona que ainda brincava com o pessoal.
ㅡ Por que a pergunta?
ㅡ Porque vi como você olha pra ela. ㅡ Ele respondeu. ㅡ E porque ela é muito gata e você seria muito burro se não tentasse nada com ela. ㅡ Encarei o garoto com uma sobrancelha arqueada.
ㅡ Acha ela gata? ㅡ Perguntei curioso.
ㅡ Óbvio, você não? ㅡ Ele cruzou os braços.
ㅡ Sim, por isso ela é minha namorada. ㅡ Respondi atraindo seu olhar.
ㅡ Ah, então você não é burro, não. ㅡ Encarei o garoto de novo e balancei a cabeça rindo. Olhei para a frente e vi que Arizona se aproximava. ㅡ Fala aí? Eu tô bonitão? ㅡ Passou a mão nos cabelos e me olhou.
ㅡ Sossega, garoto. ㅡ Disse pouco antes da Arizona parar na nossa frente.
ㅡ Oi. ㅡ Ela disse respirando de maneira ofegante. Não me admira, de tanto que ela estava correndo lá.
ㅡ Ele estava falando mal de você aqui. ㅡ O garoto disse com tom de deboche. Ameacei pega-lo, mas ele saiu correndo enquanto ria.
ㅡ Já fez amigos? ㅡ Ela me encarou com um sorriso.
ㅡ Acho que sim. ㅡ Ri. A senhora que nos atendeu, que cri ser a diretora do lugar, passou por nós.
ㅡ Com licença? ㅡ Arizona chamou a atenção dela. ㅡ Será que a gente pode... ㅡ Ela apontou para dentro do orfanato.
ㅡ Claro! Fique a vontade. Quer que eu peça um dos meninos para fazer um tour para vocês? ㅡ A diretora perguntou com um sorriso.
ㅡ Não precisa. ㅡ Arizona sorriu. A mulher assentiu e se afastou de nós, logo Arizona voltou a me olhar. ㅡ Vem. ㅡ A mesma pegou na minha mão e me dirigiu para dentro do lugar. A princípio damos de cara com uma espécie de ala de recepção, haviam quadros nas paredes cinzas e uma escada enorme no fim do lugar. Também tinham duas portas, uma de cada lado. ㅡ Se tudo for igual, para cá fica a sala de televisão. ㅡ Arizona apontou para a porta a esquerda. ㅡ E para cá a sala de jantar e logo depois a cozinha. ㅡ Apontou para a porta a direita. Porém, ela seguiu reto para a escada. ㅡ Lá em cima ficam os quartos, banheiros e umas salas especiais, tipo sala de desenhos e pintura, sala com espelhos para que gosta de dançar e tem até uma sala com um piano.
ㅡ Aqui tem tudo isso? ㅡ Perguntei enquanto subíamos os degraus da escada.
ㅡ Sim, é um orfanato muito bom. As crianças que ficam aqui tem muita sorte. Digo... Não que seja sorte não ter os pais, mas... Acho que você me entendeu. ㅡ Concordei com a cabeça. ㅡ Esse lugar é ótimo e, por muito tempo, eu odiei ele. Odiava acordar aqui, odiava ir dormir aqui, odiava viver aqui. Eu fui muito ingrata por muito tempo.
Observei Arizona. Acho que ambos vivemos nossas vidas de uma maneira errada. Talvez esse fosse um recomeço para nós dois.
Arizona me mostrou praticamente tudo do andar de cima. Quando descemos, ela me levou até a biblioteca. A famosa biblioteca onde tudo rolou. Ela ficou parada uns segundos na porta até ter coragem de entrar.
O lugar era grande. Haviam tantas estantes, tantos livros, tantas mesas, tantas janelas.
ㅡ Eu passava tanto tempo aqui. ㅡ Ela sorriu observando tudo. ㅡ Acho que esse é o único cômodo que não mudou tanto. A decoração é praticamente igual. ㅡ Arizona seguiu na direção de uma estante. ㅡ Foi aqui que o Montgomery caiu. ㅡ Passou a mão por entre uns livros. ㅡ Lembro que April saiu correndo da biblioteca nessa hora. Ela vivia dizendo que esse lugar era mal assombrado. ㅡ Fiz uma careta. ㅡ April era minha amiga no orfanato. Ela tinha quase a minha idade, com a diferença de que tinha conseguido passar para a faculdade e que sairia do orfanato em breve.
ㅡ Consigo imaginar, perfeitamente, você correndo por aqui, no meio de tantos livros. ㅡ Ela riu.
ㅡ Você já me conhece bem. ㅡ Ela se aproximou. ㅡ Obrigada por ter me trazido aqui... É... É bom mostrar um pouco do meu passado para você. É bom que... Que você conheça um pouco da minha verdadeira eu.
ㅡ Te conhecer foi a melhor coisa que me aconteceu, Arizona. ㅡ Suas bochechas começaram a corar e eu sorri com isso. ㅡ Agora acho melhor voltarmos lá para fora.
ㅡ E por que?
ㅡ Porque estamos sozinhos, você está linda e eu estou com uma vontade imensa de te agarrar. Mas, seria antiético, já que estamos num orfanato. ㅡ O rosto dela inteiro ficou vermelho. ㅡ Então... Vamos lá para fora? ㅡEstendi minha mão e ela riu a pegando. Logo saímos dali.
•••
Continua...
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